*Publicado nesta data em Coletiva.net
O “este especialista”
virou figurinha carimbada nos principais telejornais, verdadeira praga
televisiva, embora batam ponto também
nas rádios e jornais. Não é novo o
expediente das editorias de apelar para
um expert a fim de dar embasamento e credibilidade à determinada
matéria, mais ainda se o tema tratado é de natureza técnica. O que mudou foi a
intensidade com que o “este especialista” passou a ser acionado agora. Economia e finanças,
educação, cultura, segurança pública, política internacional, logística e infraestrutura, sexo dos anjos, para todos os
temas sempre existe um especialista de plantão, pronto para despejar suas
verdades sobre nós.
Especialmente na Rede
Globo, que está em guerra aberta contra o governo Bolsonaro, o “este
especialista” aparece em uma matéria sim
e em outra também quando se trata de
questionar alguma politica governamental. No caso, o “este especialista” acaba
fazendo o papel de laranja do editorial da Globo. Não acredito que a
maioria deles se preste conscientemente
a esse papel, mas é assim que funciona. Penso mesmo que o governo Bolsonaro tem
se mostrado tão errático, tão confuso, tão despreparado que nem precisaria do “este
especialista” para desqualificar o que
vem sendo anunciado como propostas de governo.
Recrutados na academia ou nas ONGs, o “este especialista”, acostumado a longas dissertações, acaba
vítima das edições nos telejornais, que reservam poucos segundos – preciosos
segundos televisivos – para aquela solução que vai se contrapor à pauta
oficial origem da reportagem. E o
resultado é um festival de obviedades e de soluções inviáveis, pois os doutos
senhores estão descompromissados com a realidade. Entre
o pensar da academia e o fazer da vida real vai uma enorme distância, que os
vaidosos opiniáticos não levam em conta.
Durante o período eleitoral, vários deles – cientistas
políticos, sociólogos e afins - circularam nos espaços da mídia, tentando
explicar o comportamento do eleitor com teses que não sobreviveram à abertura
das urnas. O pior é quando passam a dar opiniões sobre coisas mais concretas,
obras públicas por exemplo. O “este especialista” consultado sempre tem a
solução mais fabulosa e arrojada para os problemas, não importando se existem
recursos e viabilidade para a execução do faraônico projeto. Mas a ideia
proposta passa a ser definitiva, inquestionável e ai de quem ouse pensar
diferente. O nome desta postura chama-se desonestidade intelectual, pecado dos
sectários e donos da verdade.
A responsabilidade primeira sobre esse processo, vale
reprisar, não é dos tais consultores, mas de quem os contrata e aciona. A mídia
parece envergonhada de assumir determinadas posições e busca respaldo na
opinião do “este especialista” para reforçar o que, na verdade, pretende
passar. Em outros casos, procura dar um verniz erudito a determinados temas, de
forma a valorizá-los. E o que constatamos, na maioria das vezes, repito, é um
festival de obviedades, o primado do achismo, nivelando-se aos piores debates
esportivos. Nestes, pelo menos, permite-se o contraditório.
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