domingo, 4 de maio de 2014

Um outro Flávio Dutra

Já fui muito elogiado por fotos maravilhosas e textos idem publicados na revista Ícaro, da velha Varig. No começo, confesso que contrariado, tratava logo de desmentir a autoria.  Com tempo passei a não negar e também não assumia ser o autor, limitando-me a um sorriso de satisfação, até para não frustrar o interpelante.   

Mas não consegui controlar  todas as situações, como a ocorrida com um querido amigo que, vendo anunciado na mídia uma exposição do Flávio Dutra, compareceu ao vernissage.  Chegando cedo, acompanhado da mulher,  estranhou não conhecer os outros presentes (“Pensei que o Flávio Dutra tivesse amigos mais fiéis”, admitiu que pensou na ocasião) e ficou aguardando, entre drinques e canapés,  a chegada do principal personagem do evento.  O tempo foi passando e nada do Flávio Dutra aparecer.  Duas taças de vinho e meia dúzia de salgadinhos depois,  nosso amigo se animou a perguntar:  “E o Flávio Dutra quando chega?”
Foi então que descobriu que o Flávio Dutra daquele espaço e momento, conhecido professor na área de Comunicação,  já se encontrava há muito tempo no recinto, recebendo os merecidos cumprimentos pela mostra fotográfica. Só restou ao bem intencionado intruso também cumprimentar o autor e sair de fininho antes que a gafe fosse ampliada.

Que bom que todas as confusões com meu homônimo fossem divertidas assim.   Sucede que além de ser um despossuído de talentos artísticos, parece que não comungo integralmente das mesmas opiniões do outro Flávio Dutra. Nada que abale nossas distantes e respeitosas relações, mas é que tem ocorrido de divulgarem como minhas posições que são do outro Flávio Dutra.  Volto a dizer, nada que constranja ou que provoque conflito, mas a cada um com o que lhe é de direito.
Alô, professor Flávio Dutra.  Precisamos nos conhecer melhor para que não usem mais nosso santo nome em vão. Que tal um happy?

sábado, 3 de maio de 2014

Exigências de um cantor das multidões

Fim de carreira na classe artística é dureza.  Que o diga aquele cantor das multidões no século passado que foi  contratado para abrilhantar, nos dias atuais, um festival em Porto Alegre.  O show seria o ponto alto do festival, eis que os organizadores acreditavam que o veterano intérprete ainda tinha um público cativo – o que era verdade.

Foi então que começaram as surpresas, a primeira delas uma exigência incompreensível para os tempos atuais, feita pela sua empresária – ela ainda mais antiga do que ele.  A empresária bateu pé:  o cantante só viajaria se fosse de primeira classe. Foi preciso muita explicação para a senhorinha entender que primeira  classe em voos nacionais era coisa do tempo da Panair.
Aí veio a segunda exigência: hospedagem em hotel que tivesse bidê no banheiro do apartamento.  Com muita pesquisa, a produção encontrou um hotel que oferecia o equipamento onde o artista poderia refestelar e refrescar  suas já flácidas nádegas.  Não satisfeito com a escolha, cantor e empresária questionaram se o “tradicional hotel Majestic” não contava com os tais bidês.  Foi mais uma batalha verbal de explicações sobre o futuro do Majestic,  hoje Casa de Cultura Mário Quintana e diante disso a dupla perguntou sobre outro ícone hoteleiro da cidade: “E que tal o Grande Hotel, na Praça da Alfândega?”.
Não pararam aí os pedidos pra lá de estranhos. O cantor queria saber se poderia “visitar a casa da  Marli”, após o  seu show. Para quem não sabe,  em décadas passadas Marli seria o que  hoje é a Tia Carmem, mas bota passado nisso.  O que restou como lembrança das sacanagens daqueles tempos foi o batismo popular ao viaduto que fica nas proximidades de onde funcionou a famosa “casa de tolerância”, como se dizia então, na confluência das avenidas Borges de Medeiros e José de Alencar, no Menino Deus. O nome oficial do viaduto é Dom Pedro,  não sei se primeiro ou segundo, o que não vem ao caso.
Diante da negativa, o veterano  se propôs, generoso,  a dar uma canja no Maipu ou na  American Boite, “ que fica ali naquela simpática Voluntários da Pátria, se não me engano”, argumentou, para acrescentar em seguida: “Posso ir até de bonde!”.
Os pedidos e as observações do visitante quase se levaram à loucura as moças da produção, mas a verdade é que o show foi  um sucesso, a comprovar que o cantor que tinha mesmo um público fiel e saudoso do seu talento.
 

sábado, 5 de abril de 2014

Meu carro, minha vida

Outro dia assisti na TV  a um  repórter pedir ao filho, guri de seus 10 anos,  que comentasse o que já falavam em família  porque  alguns  motoristas porto-alegrenses eram tão incivilizados,   E o menino, sem titubear, lascou: “Porque tem pinto pequeno!”. Pois é, talvez o garoto despachado tenha razão, assim como existe uma idea consolidada de que aqueles carrões bebedores de combustível são uma forma de compensar os pintos pequenos de seus donos.

Na verdade, o carro deveria se uma extensão das pernas, do corpo do homem, um instrumento para ir e vir de forma rápida, eficaz, econômica e com um mínimo de qualidade. Mas o que se observa nas ruas e nas estradas não é isso, a ponto da psicóloga Ana Verônica Mautner  afirmar (revista Carta Capita, 31/01/2011): “Tem homem que precisa de um motor para carregar seu próprio pinto. A potência é da máquina, e não dele". Afirmação corrobora a tese da relação pinto pequeno x carro grande, pinto pequeno x carro potente.

Poderia aprofundar mais o assunto, destacando a sedução que o carro exerce, ao dar a sensação de que o indivíduo se torna mais potente, menos lento, mais robusto.  Tem até um comercial dirigido aos “apaixonados por carro”. E de outro lado tem as “marias gasolinas”, moçoilas mais interessadas nas qualidades do carro do que nas do seu seu proprietário.
Ainda em relação em gênero feminino, “marias gasolinas” à parte, chama a atenção a preferência por determinados modelos e marcas, tipo Ka, Uno ou Clio e os da linha Citroen. Segundo os estudiosos, elas preferem veículos mais funcionais, práticos e simples, como o fazem também em relação à casa, já que a maioria têm jornada dupla de trabalho, enquanto o homem dedica ao próprio carro atenções que não reserva para nenhum outro objeto.

Chega de teorizar porque sou obrigado novamente a bancar o bisbilhoteiro e revelar um diálogo ouvido recentemente na mesa ao lado:
- Foi tua mulher que escolheu teu carro?

- Não, por que?
- Porque com um carro chinelão desses não vais conseguir ‘pegar’ ninguém.

Para concluir, antecipo que tenho um carro de tamanho médio e de potencia também média.

 
 

domingo, 16 de março de 2014

ViaDutra da bondade

Um irmão mais velho, quando jovem, ansiava ganhar uma bolada na loteria – na época só existiam a Federal e a Estadual – para poder realizar um desejo: desfeitear todos os seus desafetos.  Seriam eles a mãe de uma moça que pretendia namorar e mandava contra a relação, o dono do boteco que  lhe negava crédito,  o velho ranzinza de um sobrado na avenida,  o pai chatésimo de um amigo, enfim, pessoas que mereceriam uns desaforos do jovem que havia enricado e se sentia dono do mundo.

Já um outro companheiro de minhas lidas radiofônicas tinha desejos e planos semelhantes, mas apelaria para a escatologia: iria defecar na porta do gabinete do autoritário diretor da emissora, com um bilhete assumindo a autoria.  E dava risadas quando revelava seu plano, o safado.  Esse negócio de defecar como forma de desagravo não chegava a ser novidade na época, lá pela década de 70 do século passado,  já que o talentoso ponteiro Éder ficou de fora de um Gre-Nal  por ter feito sujeira no sapato de Telê Santana, o competente mas exigente técnico que voltou a fazer do Grêmio um time vitorioso.
Pois eu, na minha infinita generosidade, usaria a grana ganha pelo efeito da sorte para brindar amigos e desafetos.  Uma ação que batizaria como ViaDutra da Bondade!  Os amigos receberiam mais  e seria uma prova de afeto e reconhecimento.  Os outros menos e como tapa de luva diante de alguma insolência, quem sabe uma arrogância em tempo passado.  Não gastaria meu rico dinheirinho com vinditas estéreis.  Porém, como nunca fui bafejado pela sorte – e olha que faço uma fezinha com regularidade – acredito que não é pelo ganho na jogatina que poderei   mostrar o quanto bondoso sou.  Porém, não custa sonhar.

domingo, 9 de março de 2014

Tenho visto e ouvido coisas!

Um companheiro de outras jornadas, coisa das antigas, costumava expressar seu espanto diante das surpresas dessa vida com um “Tenho visto coisas”, que eventualmente também uso em iguais circunstancias.  Só que não estava preparado para a sucessão de desatinos, aberrações e  absurdos em geral que venho observando neste inicio de 2014. Pelo jeito, nesse andar, o ano  vai bater  fácil as maluquices e infortúnios de 2013, do qual ainda estamos nos recuperando de tanto que aprontou.

E eu que aos 6.4 pensei que já tivesse visto de tudo deparo-me agora com um bate boca virtual entre um  renomado deputado e a personagem fake da presidente, a Dilma Bolada. Troca de farpas das boas e olha que a campanha eleitoral ainda nem começou. Ainda no plano nacional continuo  impactado pelo nível dos debates no Supremo Tribunal  em torno do Mensalão. Transformaram o STF em autentica borracharia. Só falta calendário de mulher pelada.   A crise de autoridade do poder judiciário  talvez explique esse movimento calhorda de volta dos milicos ao poder, que começa preocupantemente a ganhar corpo.  Não entiquem com os Homi, vai que eles gostem...
É preocupante também o fato de que viramos o pais das minorias, não essas “minorias absolutas” que um âncora televisivo, metido a descolado,  teria pronunciado  a propósito do Dia Internacional das Mulheres.  Refiro-me as minorias que estão atazanando a vida das cidades, como se já não houvesse problemas suficientes nas grandes metrópoles. Um bom exemplo – na verdade mau exemplo -  veio dos garis que transformaram o Rio numa imensa lixeira e assim garantiram um bom aumento.  Aqui, uma minoria vai pra frente das garagens e para  o transporte coletivo quando é contrariada nos seus interesses.  E as forças de segurança só agem depois de muita pressão.  Mas esperar o quê depois que os bombeiros,  só de birra porque a justiça autorizou os desfiles,  não prestaram assistência ao Carnaval no Porto Seco?

Não pensem que pisada na bola e desvario  é privilégio nosso. No leste europeu, a Rússia simplesmente deu de mão num naco da Ucrânia, e tem a cara de pau de afirmar que não invadiu a Criméia, apesar da visível presença de tropas e blindados na região.  Mais próximo daqui, na Venezuela, o Maduro garante que ainda hoje se comunica  com Hugo Chaves, morto há um ano,...através de um passarinho!
E o que dizer dessas manifestações racistas no futebol? Logo no futebol que tem no talento dos negros um dos seus principais valores. Imaginava que estava bem longe o tempo em que o jogador Carlos Alberto teve que se maquiar com pó-de-arroz para  jogar no Fluminense, que era metido a aristocrata e não aceitava jogadores negros. Aliás, como o Grêmio, que só rompeu essa barreira na década de 50 do século passado, ao contratar o ex-colorado Tesourinha.

Teria muito mais para relatar, mas para pouco mais de dois meses já tem dissabor de sobra. Daqui a pouco, além do “tenho visto coisas”, serei obrigado a aceitar a advertência do meu velho e experiente pai, quando vivo:  “É sinal de que o final dos tempos está chegando!”.  Acho que vou fugar pras montanhas.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Personagens do Facebook

As redes sociais, o Facebook em particular, tem aflorado uma série de personagens que a gente nem imaginava que existiam. Ou imaginava,  mas não percebia no mundo real.  A verdadeira persona estava escondida e o FB  foi um incentivo para ela se manifestar ou, de outra forma, a rede potencializou valores e crenças que o sujeito já defendia.

Observador da cena cotidiana que sou e um frequentador diário do Facebook,  cataloguei alguns tipos que se sobressaem na minha rede preferida, não necessariamente por ordem de importância ou de insistência em se manifestar:
- O patrulheiro de plantão – não interessa de que lado esta, o que importa é contraditar as postagens alheias, carimbando-as com expressões do tipo “é um imbecil”, “pessoal da extrema direita” ou “nova esquerda de Miami” ou o também pejorativo “coxinha”.

-  O petista aguerrido – andavam sumidos, mas ganharam força com as revisões do STF e agora são capazes até mesmo de arranjarem argumentos para defender o Zé Dirceu.
- O  odiento da Veja e da Globo  – derivação do petista aguerrido; para ele a Veja e a Globo deveriam ser empasteladas e a grande mídia mente, distorce, está a serviço a oposição e deveria ser calada. Seus contraditórios são os odientos da Carta Capital e  dos  blogs de matiz petista.

- O anti petista ululante – é aquele que coloca a culpa na Dilma, no Lula e nos “petralhas” por todos os males do Brasil e do Mundo, mas é constrangida no apoio aos candidatos oposicionistas.
- O saudoso dos milicos – Não se constrange em advogar a volta de um regime forte, porque “nos tempos da Redentora não existia essa bagunça que esta aí”.

- O fidelista&bolivariano – Defende Cuba como sendo o paraíso na terra e Chaves e Maduro como inspiradores da nova era democrática.
- O religioso virtual – está visivelmente em queda, mas volta e meia aparece com apelos religiosos e pedidos para compartilhar orações a seus santos preferidos.

- Os pais dos pets este está em franca expansão, exibem orgulhosos as belezuras e travessuras dos seus cães e gatos. 
- O militante de todas as causas – não sabe bem o que defende, mas adere a todas as causas propostas. Às vezes adotam o nome das causas, como os Guarani-Kaiowas que proliferam na FB

- A periguete virtual – se apresenta como moça de família, ingênua diante das perversidades deste mundo, mas cada vez que muda a foto de perfil parece que esta fazendo strip-tease. No inbox começa com um “oi”...
- O cheff – dos churrasqueiros de fim de semana aos produtores de pratos sofisticados, só pensam e postam aquilo: comilanças.

- O especialista  entende de tudo e dá palpite sobre tudo. Também conhecido como Mr. Google.
- O KKKKK  – não tem muito o que dizer, mas quer participar e aí comenta com essa joia rara e suas variações rsrsrsrs, hehehehe, hahahaha

- O desejoso de compaixão – faz da doença, sua ou de alguém próximo, ou de um infortúnio qualquer, motivo para desencadear uma rede de solidariedade.
- O flautista  - encontrável no âmbito da paixão pelo futebol. São provocadores dos adversários e incentivadores desse ópio do povo.

- O coxinha – não sei bem qual é o perfil e como agem, mas como tem sido citados frequência decidi elenca-lo aqui,
- O trocadilhista – Nem preciso dizer que sinto imensa inveja do Plinio Nunes e suas sacadas.

- O amoroso – está sempre postando fotos de familiares, acompanhados de juras de amor e frases orgulhosas sobre como são bons, bonitos e inteligentes.

Claro que humildemente me inclui no último perfil, ou seja, um vô amoroso.  

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A perda de um homem bom


Um homem bom, assim era o Lairson Kunzler que nós, seus amigos e admiradores, perdemos para o crime. Conhecia o Lairson desde os tempos do bairro Petrópolis – nossos pais foram contemporâneos e igrejeiros na Paróquia São Sebastião.  Depois, encontrava-o eventualmente ao trocar de carro – sempre dos usados – na Gaúcha-Car. Mais tarde firmamos uma sólida amizade quando a agencia da qual era diretor passou a atender a prefeitura.   O tempo havia passado, mas o Lairson não mudara, sempre gentil, cordato, pronto para um gesto generoso, acima do relacionamento profissional que se impunha.
Com frequência caminhávamos nos fins de semana pelo calçadão de Ipanema e aqueles 45 minutos de conversa, repassando os assuntos,  eram prazerosos e um dia ganho. Nossos almoços mensais deixaram um passivo:  por mais que tentasse nunca consegui pagar a conta e olha que existem testemunhas do meu esforço. “Nunca vais conseguir”, gracejava ele.
É verdade, nunca vou conseguir, mas não precisava ser dessa forma, meu bom Lairson.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mistérios do Carnaval

* Reeditada do original publicado em fevereiro/2013.

Já fui um folião militante, do  tempo em que existiam carnavais nos bairros e imperavam os bailes de salão. Lembro como se fosse hoje os blocos e tribos descendo a rua Ijuí, no bairro Petrópolis,  onde o chefe dos correios local e sua mulher promoviam, lá no início dos anos 60 do século passado, um animado desfile. 

Depois, passei a  frequentar clubes de primeira linha e outros nem tanto, sempre à procura de uma colombina para uma noite. Inesquecíveis carnavais no hoje decadente Petrópole Tênis Clube, na Sogipa, no Gondoleiros, no Caminho do Meio, no União e Progresso,  nas sociedades de praia e uma memorável noitada no Rio Branco, de Cachoeira do Sul – espero que as testemunhas silenciem à respeito.  Mais tarde, fuzarquei nos pré-carnavalescos e, à época, o Vermelho e Branco do Internacional, no Gigantinho, era imbatível.

Foi lá que deparei a menos de dois metros com uma Xuxa em início de carreira, seminua, fantasiada de libélula. Era a grande atração daquele ano, providenciada  pelo Salim e o Fernando Vieira, os promotores do Vermelho e Branco. Era bom! Ou nem tanto, pois foi na volta pra casa de um desses bailarecos que capotei meu Fuka Fafa, na curva da Estrada da Serraria que meus detratores apelidaram de "curva Flávio Dutra".  Meu Anjo da Guarda estava de plantão e ele e as mamonas sobre as quais virou o carro garantiram que nada me acontecesse, além do susto.
Agora sou um carnavalesco mais comedido e menos participativo, que vai ao Porto  Seco e torce pela Praiana ou assiste pela TV aos desfiles do Rio, com uma discreta preferência pela União da Ilha e pela Vila Isabel.

Apesar de toda a experiência  acumulada ainda hoje fico intrigado com algumas coisas do Carnaval, verdadeiros mistérios que perduram. É o caso da cuíca. Prá que serve a cuíca? Não faz percussão, não dita ritmo, apenas chora sem ser notada no meio da bateria. E por que nas baterias  só às mulheres são reservados  os chocalhos, aquele instrumentos cheios de rodelinhas de metal? Por que as baterias, diferentemente dos conjuntos que animam os bailes, não usam metais que dão um colorido todo especial às músicas?

Também me intriga o fato de os carros alegóricos quebrarem sempre na entrada da avenida, atrapalhando a harmonia e a evolução da escola. As escolas fazem um enorme investimento e ficam reféns de uns cacos- velhos. Pode isso, Arnaldo? Não consigo entender, ainda, porque determinadas alas insistem em usar fantasias pesadonas, com adereços difíceis de carregar e equilibrar, quando o ideal seria a leveza das vestes para permitir  um desfile sem incômodos. E quem é que sai com aquelas mulatas maravilhosas?  E será que o Rei Momo, findo o Carnaval, devolve ao prefeito as chaves da cidade? Dúvidas, mistérios!
De uns tempos para cá tento entender outro mistério:  porque as moças da Secretaria da Saúde fazem questão de me oferecer camisinhas quando me encontram no Sambódromo. Não que seja contra a campanha, mas é que meu prazo de validade está vencido, tanto quanto um preservativo não usado por muito tempo.  O detalhe é que sempre guardo as camisinhas. Vai que...

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Mazelas da rede

O mundo está virado de cabeça pra baixo, mas uma das mais acaloradas discussões nas redes sociais diz respeito a um jovem ator da Globo, Caio Castro, que ousou dizer, em entrevista à Marília Gabriela, que não gosta de teatro e que só lê por obrigação.  Foi o suficiente para que os patrulheiros de plantão, muitos deles alojados na própria Rede Globo , ou seja, colegas de Caio Castro, bombardeassem o moço com todo o tipo de criticas, como se o que distinguisse as pessoas de bem das sem caráter fosse o gosto pelas artes cênicas e o hábito da leitura.

Assim sendo, começo a duvidar do meu caráter e da minha infinita e reconhecida vocação para praticar o bem, eis que a última peça de teatro a que assisti foi Medeia, dirigida pelo meu amigo Luciano Alabarse e algumas produções vanguardistas do Porto Alegre em Cena, que o mesmo Alabarse nos brindou.  Em relação a leitura, encarreirei cinco ou seis livros para começar – dos mais de 30 que repousam na minha cabeceira – mas não passei  dos primeiros capítulos, como já confessei envergonhado,  aqui mesmo. Virei, por isso, categoria sujo, bobo e malvado?
Insurjo-me contra essas desqualificações e desde já estou solidário com o galã global, não pelas bobagens que teria dito, mas pelo direito de dizê-las, uma vez que o único prejuízo que poderia causar é pessoal, ao reforçar o segmento que mais cresce no País,  o dos Sem Noção.  Na verdade, meu sentimento em relação ao Caio Castro é de pura inveja pelo personagem que desempenhava na novela Amor a Vida, com direito a tórridas cenas com aquele monumento de mulher, a Maria Casadevall e de quebra beliscava também a bela Carol Castro.  Tudo isso acontecendo só na novela, acho eu.
Essa misturança de ficção e realidade, que às vezes confunde  até a mim, está presente nos debates que se travam, postagem a postagem, nas redes sociais, com prioridade para o Facebook.  E é nesse cenário que se perpetram verdadeiramente as grandes bobagens e as grandes infâmias, as piores ignomínias, traduzidas pela defesa dos tiranos, o endeusamento dos medíocres, a força aos falsos heróis, a suspeição apressada e a desqualificação dos justos.  Todo mundo tem lado e em nome de suas crenças vale tudo.
Está em questão também a função das redes sociais, que se prestam para pautar e fomentar o debate, com a mesma força que abrem espaço para os desatinos.  Mark Zuckerberg   certamente pensava em uma função mais nobre para sua criação. O que me consola é que as redes,  como os veículos tradicionais que tem controle remoto para mudar de canal ou desligar, possuem mecanismos de não-participação para os insatisfeitos. Basta não curtir, não comentar, não compartilhar e, por fim, deletar os inconvenientes.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O rádio esportivo

De todas as mídias o rádio é a que mais me fascina. “Teatro da mente”, na opinião de experts, “divertimento de cegos”,  segundo os insensíveis, o rádio mantém sua vitalidade nestes tempos de pressão da internet sobre todas as forma de comunicação.  Seus principais atributos estão na agilidade, o aqui e agora que nem as redes sociais conseguem superar e a portabilidade que os outros meios ainda ficam a dever.  Experimente assistir  a TV por celular caminhando no Calçadão de Ipanema?

Faço essa rápida introdução louvadora diante do quadro atual do rádio gaúcho, ao qual acredito que tenha dado minha contribuição em mais de 20 anos de atuação nas três principais emissoras  de informação.  Comecei trabalhando na Difusora,  hoje Band para onde voltei como coordenador de Jornalismo e Esporte numa de minhas tantas migrações.  Mas foi na grande Guaíba da década de 70, como coordenador de esportes e  convivendo com um time de cobras amestradas, que consolidei minha formação e me apaixonei definitivamente pelo rádio.  Como sempre, o mundo girou e um dia voltei a Guaíba,  agora como gerente de programação.  Na rádio Gaúcha foram duas passagens também,  primeiro como produtor de programas e depois como gerente de esportes, quando tive a oportunidade de participar de linha de frente de uma Copa do Mundo, em 1994. Tempos gloriosos aqueles.  Fui também diretor da FM Cultura, o que muito me orgulha.
Mas é sobre emissoras jornalísticas, que cobrem futebol, que volto a falar, aproveitando o gancho de que hoje a Gaúcha está completando 87 anos.  E chega a essa etapa com a liderança inconteste e cada vez mais ampliada.  Liderança feita em cima de muito investimento, especialmente em relação aos profissionais que fazem a sua programação .  Cada vez mais me convenço que o fator humano é o principal ingrediente para o sucesso de qualquer empreendimento e mais ainda de um sistema que vive de informação e opinião, como o rádio.

Por isso, saúdo a mexida do momento,  que levou o Luiz Carlos Reche da Guaíba para a Band. Tenho alguma culpa na trajetória do Reche, lá no seu início de carreira, não chego a ser  fã do seu estilo, mas acho que vai agregar muito para a Band, ao mesmo tempo em que pode representar a  oportunidade para uma mexida de fôlego no Esporte da Guaíba, até então demasiadamente dependente de sua chefia.  Uma mexida como essa não ocorria havia anos em nosso meio e, por si só e pelos desdobramentos que provoca , acaba sendo um processo que traz benefícios para todos:  a Gaúcha não se acomoda, a Band se reforça e a Guaíba se renova.
Por fora corre a Rádio Grenal,  do grupo Pampa, que começa a incomodar.  Mas aí é material para outra análise.