Definitivamente sou um pessimista e um mau julgador dos meus entes queridos. Imaginava – e escrevi – que deveria receber ou chinelos ou pijama como presente do Dia dos Pais. Até já estava me acostumando com a idéia, levando em conta que tanto chinelos como pijamas tem sua utilidade para um senhor de hábitos caseiros como eu. Mas fui surpreendido pelos meus queridos filhinhos e pela minha santa parceira de mais de 30 anos - afinal sou um pai para ela e não vai aí qualquer conotação freudiana.
Graças a santinha, minha coleção de canecas foi acrescida de um novo exemplar, saudando minha condição de super vovô, que vale também como uma advertência de que preciso assumir essa nova postura, cheia de limites físicos e comportamentais. Da neta Maria Clara recebi uma camiseta customizada com uma grande estampa em que apareço segurando a pequena – ela já com olhar esperto e eu com cara de babão.
Dos filhos veio um abrigo bem transado, com o qual vou desfilar garboso nas minhas caminhadas de fim de semana no calçadão de Ipanema e usar nas cada vez mais raras sessões de academia. (É bem verdade que eu havia insinuado o interesse em ganhar um novo abrigo de presente, mas isso é detalhe).
Recebi, ainda, da pretendente à nora uma preciosa carga de cervejas pretas, alemãs legitimas, que pretendo degustar em alguma ocasião especialíssima. A moça já sabe como me agradar. Tem futuro na família.
Enfim, foi um Dia dos Pais como nunca antes, exceto pela grana preta que gastei no almoço em um restaurante de excelentes comida e serviço, mas preço salgado.
Quanto a outras manifestações relacionadas à croniqueta “Dia de ganhar chinelos e pijama”, quem não é bruxa não tem o que temer...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
domingo, 8 de agosto de 2010
Recomendo
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Dia de ganhar chinelos ou pijama

Confesso que não tenho muito saco para essas datas comemorativas, tipo Dia das Mães, dos Pais e Dia da Criança. A partir do momento em que se tornaram mais um evento comercial do que um tributo aos homenageados, tais comemorações perderam sua dimensão afetiva. Nada contra o comércio, que precisa fazer a roda da economia andar, mas não abro mão de decidir se participo ou não da festa e com quê entusiasmo será minha adesão.
Até porque novas datas comemorativas estão surgindo, todas com grande apelo emocional e sendo estimuladas pelo setor produtivo. O Dia dos Namorados já está consolidado, fazendo a alegria das floriculturas, dos restaurantes e dos motéis. O Dia da Mulher vai na mesma direção e já há quem advogue a criação do Dia do Homem, uma vez que outras opções já estão contempladas no Dia do Orgulho Gay.
Há um forte movimento para implantar o Dia do Amigo que, por enquanto, se resume ao envio de mensagens piegas entre aqueles que se julgam amigos do peito. Está pintando com força o Dia dos Avós e logo a meritória homenagem vai se transformar em obrigação de comprar presentes para os vovozinhos. Menos mal que posso ser beneficiário dessa obrigação,se bem que ainda vai levar algum tempo até que Maria Clara tenha discernimento para presentear seus avós queridos.
É preciso tomar cuidado com os exageros. Conheço o caso de marmanjos que até hoje recebem presentes pelo Dia da Criança. Observo também um esforço, inclusive de escolas, para introduzir entre nós o Halloween, o Dia das Bruxas, uma tradição anglo-saxonica que nada tem a ver com a nossa cultura. Só vou aderir se puder mandar um bouquet de espinhos para algumas bruxas que me atormentam no dia a dia.
E tem ainda essa forçação de barra para instituir o Dia da Sogra. Com todo o respeito à categoria, que nos legou nossas amadas parceiras, a figura da sogra ainda é estigmatizada e temo que, ao invés de homenagens, as respeitáveis senhoras sejam objeto de agravos de parte de genros e noras ingratos. Isso sem contar que podem surgir idéias como a criação do Dia dos Ex que pode englobar um naipe diversificado de figuras: ex-marido, ex-mulher, ex-sogra, ex-patrão, ex-amigo.
Antes que vire um ex-qualquer e para que não fique a impressão de que sou um rabugento em tempo integral, admito que estou ansioso pelo presente que vou ganhar dos meus filhinhos. A dúvida é: chinelo ou pijama?
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Almas pequenas
A pequenez humana não tem limites. O ato bom, o gesto generoso, o enlace afetivo se transformam em maldade, oportunismo e desafeição sob a ótica da mesquinhez. Não basta mais ser bem-intencionado e agir com integridade porque esses valores nada significam diante dos pobres de espírito que nos julgam não pelo que fizemos, mas pela miúda compreensão que tem da realidade.
Belos projetos são desqualificados após um simples mas. “È bom, mas...” e aí cabe toda a série de torpedeamentos, alguns até sustentáveis, mas a maioria por conta do humor momentâneo ou da má vontade intrínseca dos críticos de tudo e de todos. “Engenheiros do Não”, segundo sintética e apropriada definição do ex-prefeito Fogaça.
A mídia está infestada dessa gente do contra, do nada presta , ou da bancada dos diferentes porque é isso que dá Ibope. Ou ainda dos que se escudam em questionáveis isenção e independência para fustigar, sem dó nem piedade, quem não reza pela sua cartilha. E ai de quem ouse desafiar esses deuses das opiniões definitivas.
Vale mesmo para os ingratos, incapazes de reconhecer uma bondade. Os ingratos nos frustram em nível pessoal, por isso a ferida que provocam é maior. Os do contra são mais nefastos porque estão em toda a parte e nos bombardeiam a toda a hora com sua onipotência.
Tanto um como outro merecem o nosso desprezo e vai chegar o dia em que serão desmascarados. (Tenho que maneirar um pouco, sob pena de ficar contaminado pela raivosidade desse pessoalzinho).
A todos, lembro que não é preciso ter sensibilidade de poeta para entender o recado de Fernando Pessoa no verso imortal: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena."
Belos projetos são desqualificados após um simples mas. “È bom, mas...” e aí cabe toda a série de torpedeamentos, alguns até sustentáveis, mas a maioria por conta do humor momentâneo ou da má vontade intrínseca dos críticos de tudo e de todos. “Engenheiros do Não”, segundo sintética e apropriada definição do ex-prefeito Fogaça.
A mídia está infestada dessa gente do contra, do nada presta , ou da bancada dos diferentes porque é isso que dá Ibope. Ou ainda dos que se escudam em questionáveis isenção e independência para fustigar, sem dó nem piedade, quem não reza pela sua cartilha. E ai de quem ouse desafiar esses deuses das opiniões definitivas.
Vale mesmo para os ingratos, incapazes de reconhecer uma bondade. Os ingratos nos frustram em nível pessoal, por isso a ferida que provocam é maior. Os do contra são mais nefastos porque estão em toda a parte e nos bombardeiam a toda a hora com sua onipotência.
Tanto um como outro merecem o nosso desprezo e vai chegar o dia em que serão desmascarados. (Tenho que maneirar um pouco, sob pena de ficar contaminado pela raivosidade desse pessoalzinho).
A todos, lembro que não é preciso ter sensibilidade de poeta para entender o recado de Fernando Pessoa no verso imortal: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena."
domingo, 1 de agosto de 2010
Confrades, poupanças e consórcios
Uma das tantas confrarias que freqüento reúne, em almoços ou jantares, um grupo de pessoas de reputação tida como ilibada. São profissionais liberais, jornalistas, servidores públicos, empresários, enfim, gente madura e da melhor qualidade. Ocorre que nos últimos encontros gastronômicos, entre a sobremesa e o cafezinho, tenho ouvido revelações surpreendentes sobre as artimanhas que os companheiros de mesa tem adotado para consolidar potenciais conquistas amorosas.
Um deles, abonado financeiramente, decidiu fazer uma poupança, com a qual espera atrair uma colega que sabidamente está com dificuldades para pagar as contas. O ardiloso faz até um levantamento semanal à moça.
- Nossa poupança já esta em 3,5 mil e agora vou depositar mais 500, garante ele à pretendida.
Não se sabe se a poupança é verdadeira, mas a cada prestação de contas os olhinhos da jovem brilham. Entretanto, nosso amigo reconhece, algo resignado, que o resultado final até agora é zero.
-É uma pena, porque nem quero ter um caso com ela, mas apenas poder espalhar, justifica o investidor mal-sucedido.
Se nada der certo ele vai destinar a poupança a uma instituição de caridade, numa demonstração de que no fundo é um bem-intencionado.
Outro confrade, com menos potencial econômico, está montando um consórcio para fazer frente a uma deusa que, pelo relato dele, vale cada cota. O confrade só não explica como se dará o acesso e a partilha do cobiçado prêmio: sorteio, leilão, maior lance? (Cheguei a pensar num primeiro momento em me associar ao consórcio, mas logo desisti da infeliz idéia). Arrisquei perguntar se a jovem já sabia das intenções dele e a resposta foi tão surpreendente como o processo:
- Isso é detalhe. O que vale é o jogo, a disputa!
Um terceiro companheiro, já sessentão, revelou a estratégia que pretende usar para conquistar uma colega de trabalho que vem adulando há tempos. A cantada que está elaborando é tão inacreditável que pode até funcionar:
- Querida, já estou pensando em pendurar a camisinha e escolhi alguém muito especial para compartilhar este momento histórico. Tu és a escolhida!
Na minha santa ingenuidade, fiquei chocado com as revelações. Sequer imaginava que os considerados confrades fossem capazes de tais vilanias. Acho que estou precisando selecionar melhor minhas companhias...
Um deles, abonado financeiramente, decidiu fazer uma poupança, com a qual espera atrair uma colega que sabidamente está com dificuldades para pagar as contas. O ardiloso faz até um levantamento semanal à moça.
- Nossa poupança já esta em 3,5 mil e agora vou depositar mais 500, garante ele à pretendida.
Não se sabe se a poupança é verdadeira, mas a cada prestação de contas os olhinhos da jovem brilham. Entretanto, nosso amigo reconhece, algo resignado, que o resultado final até agora é zero.
-É uma pena, porque nem quero ter um caso com ela, mas apenas poder espalhar, justifica o investidor mal-sucedido.
Se nada der certo ele vai destinar a poupança a uma instituição de caridade, numa demonstração de que no fundo é um bem-intencionado.
Outro confrade, com menos potencial econômico, está montando um consórcio para fazer frente a uma deusa que, pelo relato dele, vale cada cota. O confrade só não explica como se dará o acesso e a partilha do cobiçado prêmio: sorteio, leilão, maior lance? (Cheguei a pensar num primeiro momento em me associar ao consórcio, mas logo desisti da infeliz idéia). Arrisquei perguntar se a jovem já sabia das intenções dele e a resposta foi tão surpreendente como o processo:
- Isso é detalhe. O que vale é o jogo, a disputa!
Um terceiro companheiro, já sessentão, revelou a estratégia que pretende usar para conquistar uma colega de trabalho que vem adulando há tempos. A cantada que está elaborando é tão inacreditável que pode até funcionar:
- Querida, já estou pensando em pendurar a camisinha e escolhi alguém muito especial para compartilhar este momento histórico. Tu és a escolhida!
Na minha santa ingenuidade, fiquei chocado com as revelações. Sequer imaginava que os considerados confrades fossem capazes de tais vilanias. Acho que estou precisando selecionar melhor minhas companhias...
domingo, 25 de julho de 2010
É difícil resistir aos holofotes

Andy Warhol: 15 minutos de fama para todos
Os grandes casos policiais ou escândalos políticos, que ocupam a mídia de tempos em tempos, trazem para o nosso convívio diário algumas figuras singulares para não dizer esquisitas. No atual caso Bruno quem ocupou esse espaço foi o delegado Edson Moreira, da Polícia de Minas Gerais, um falastrão bossal que transformou suas coletivas em verdadeiros circos. O homem, abusando das caras e bocas, despeja opiniões e explicações sobre tudo, faz blague com os repórteres, julga e condena. Temo pela qualidade do inquérito que ele está realizando.
No caso Nardoni, o promotor Francisco Cembranelli conquistou o status de celebridade, quase ofuscando em projeção na mídia os réus do traumático episódio. O pessoal do Ministério Público, em geral, parece que descobriu as delicias da popularidade e tem buscado os holofotes mais do que seria conveniente para a atividade que desempenha. Os delegados da Polícia Federal não ficam atrás. Uma nova safra de federais engomadinhos tem freqüentado a mídia com extrema desenvoltura e muitas conclusões prévias.
A exceção é o delegado Protógenes Queiroz e é exceção não pelo comportamento, mas pelo figurino deselegante que contrasta com o de os seus companheiros da PF. Protógenes, com suas roupinhas descombinadas e fazendo o gênero intelectual, alçou-se a paladino da moralidade na Operação Satiagraha, que investiga crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo o banqueiro Daniel Dantas. O juiz do caso, Fausto De Sanctis, também cortejou as luzes, mas com mais discrição.
Já o delegadinho tantas fez, que foi afastado da Polícia Federal e tornou-se réu em um processo que investiga o vazamento de informações da Satiagraha, contaminando todo o processo. Mas graças a súbita popularidade, Protógenes passou a ser figurinha carimbada em todas as manifestações anticorrupção e daí a se lançar candidato foi um passo. O sujeito vai disputar uma cadeira na Câmara Federal pelo PCdoB e até visivelmente já melhorou o figurino.
Suspeito da autenticidade desses agentes públicos e da honestidade de seus propósitos. È difícil resistir às câmaras e microfones, ao reconhecimento das pessoas nas ruas, à súbita distinção entre os demais mortais e são poucos os que tem estrutura e estatura para compreender o que existe de efêmero na condição de celebridade da hora. O certo é que todos estão em busca dos 15 minutos de fama prometidos por Andy Warhol. Estou esperando a minha vez, mas garanto que serei bem comportadinho quando ela chegar.
domingo, 18 de julho de 2010
A última edição

Sou tão antigo que fui estagiário, no início da década de 70, do Diário de Noticias, o jornal dos Associados de Assis Chateaubriand em Porto Alegre. A redação ficava num prédio velho na Rua São Pedro e as mesas, cadeiras, máquinas de escrever e listas telefônicas eram itens muito disputados no final da tarde, quando começava o fechamento da edição. A briga pelas listas telefônicas se explica: as mesas eram muito altas e para chegar a altura da máquina de escrever havia necessidade de acrescer um suporte.
Estagiei na editoria de polícia, constituída do estagiário e um editor. Saia com o jipão azul para o Palácio da Polícia e voltava no fim da tarde com um repertório dos pequenos e grandes dramas da cidade. Certa tarde, afoito e deslumbrado como a maioria dos estagiários, decidi acompanhar até o último andar do prédio um grupo de jovens barbudinhos que acabava de chegar escoltado. No andar, funcionava o temido Dops e ao me apresentar e perguntar porque os jovens estavam detidos, levei um corridão e me fui escada abaixo tratar de assuntos menos perigosos. O que teria acontecido com os barbudinhos? Até hoje não sei que destino tiveram, mas ainda lembro aquelas fisionomias derrotadas à caminho provavelmente da tortura.
Trabalhei por um mês no Diário e não vi a cor do dinheiro. Pudera, o jornal atrasava o pagamento dos funcionários por que pagaria um estagiário? Poucos anos depois dessa minha primeira experiência jornalística, o Diário tirou sua última edição. Foi um baque para mim – o primeiro estágio a gente nunca esquece - , embora o jornal estivesse decadente há bastante tempo. (Celito de Grandi fez um ótimo livro sobre a trajetória do jornal em “Diario de Notícias”, editado pela L&PM)
Mais tarde, já profissionalizado, trabalhei duas vezes na Folha da Tarde, a primeira como repórter e depois como um dos editores (redatores, na nomenclatura do jornal). O ambiente da Folha era ótimo, apesar da permanente disputa com a Folhinha (a Folha da Manhã) que nascera a partir da própria FT, levando alguns dos seus melhores talentos. A Folha da Tarde acabou sucumbindo na esteira da crise da Caldas Junior, mas bem antes já dava sinais de esgotamento do seu projeto em função de que não havia mais espaço para os jornais vespertinos.
A minha primeira experiência como editor foi no Jornal do Inter, um projeto independente da Coojornal. Andei cometendo textos também para a edição regional do Pasquim. Tanto um como o outro periódico não sobreviveram.
Que fique claro que não existe qualquer relação de causa e efeito entre a minha passagem por esses jornais e o posterior encerramento de suas atividades. Foi mera e infeliz coincidência, mas cada redação que se fecha macula o sonho e rebaixa a fé dos que fazem do Jornalismo sua vocação, mais do que uma profissão. Também não cabe aprofundar as causas, nestes tempos de internet, que levaram os jornais a perderem espaços e leitores, alguns deles para sempre.
Faço, porém, essas evocações, com um tanto de melancolia, ao receber a informação do fechamento de mais um grande jornal nacional, grandeza proposta até no nome – Jornal do Brasil. E me permito reproduzir o artigo de Ricardo Kotscho, que expressa bem o sentimento de perda que representa para todos nós o fim de uma era no jornalismo brasileiro.
Anunciada a morte do Jornal do Brasil
Só falta marcar a data da morte, aos 119 anos, do melhor jornal em que já trabalhei na vida, um símbolo da imprensa brasileira.
Ainda esta semana, Nelson Tanure, o atual dono da marca, vai anunciar o dia em que deixará de circular o Jornal do Brasil, um dos mais antigos, revolucionários e respeitados veículos já publicados no país. Fosse uma pessoa, era o caso de dizer como antigamente: trata-se de uma perda irreparável.
O necrológio já havia sido muito bem escrito pelo colega Carlos Brickmann, semana passada, em sua coluna no Observatório da Imprensa. Agora, quem anunciou oficialmente o desenlace, em sua edição desta terça-feira, por ironia do destino, foi justamente O Globo, outrora principal concorrente do Jornal do Brasil.
Trabalhei por três temporadas no JB, primeiro como seu correspondente na Europa, na década de 1970, e depois na sucursal paulsita, nos anos 80/90.
Para se ter uma idéia da fôrça e do prestígio deste jornal, quando fui contratado por Dorrit Harazim para ser seu correspondente na então Alemanha Ocidental, ela me alertou para a responsabilidade: “Você vai ser um dos nossos embaixadores na Europa”.
No elegante restaurante da diretoria, onde fui convidado a almoçar para ser apresentado aos meus novos chefes, estava todo mundo de terno e havia tantos copos e talheres à minha frente que não sabia nem por onde começar _ ainda mais depois da advertência da Dorrit, a chefe dos correspondente internacionais do jornal.
De roupa esporte, me senti um verdadeiro caipira sentado à mesa da rainha da Inglaterra. Meses depois, participaria com Dorrit de uma reunião dos correspondentes do JB na Europa, mais de dez na época, convocada para um grande hotel de Paris _ vejam que chique…
O JB nesta época ainda reunia a seleção brasileira da imprensa. Não havia limite de despesas para se fazer uma reportagem. O grande sonho de todo jornalista era trabalhar lá um dia. Tinha vários craques em cada editoria, e ouso afirmar que nunca mais se montou uma redação daquela qualidade.
Não vou me meter a elencar os nomes, como fez o robusto Carlinhos em sua coluna, “O circo da notícia”, porque eram tantas as estrelas que não vou me lembrar de todos os mestres com quem convivi. Basta lembrar, por exemplo, que fui colega de Walter Fontoura, Elio Gaspari e Zuenir Ventura.
O que mais me fascinava no Jornal do Brasil era o ameno ambiente de trabalho e a absoluta independência editorial. Para se ter uma idéia, a dona era uma condessa, a condessa Pereira Carneiro, e o diretor, um lorde, o seu genro Nascimento Brito.
Nunca os vi de perto e jamais recebi uma “ordem da diretoria” para fazer ou deixar de fazer determinada matéria. Mais tarde, as coisas mudariam, e o jornal entraria numa crise financeira e editorias que o levaria à decadência até ser arrendado para o empresário Nelson Tanure, em 2001. Começava ali a sua agonia. Em 2009, Tanure já havia levado à morte outro grande jornal, a Gazeta Mercantil.
Teria mil histórias a contar sobre o meu trabalho no JB, que não cabem num blog, mas podem ser encontradas no meu livro de memórias “Do Golpe ao Planalto _ Uma vida de repórter”, da Companhia das Letras.
Ao ver a notícia do falecimento esta manhã, fiquei muito triste. Foi como se estivessem apagando da paisagem e levando embora para sempre o lugar onde passei a melhor fase da minha já longa vida profissional.
Restavam lá trabalhando apenas 60 jornalistas, a circulação vinha minguando abaixo dos 20 mil exemplares, o jornal já tinha encolhido de tamanho e muitos dos seus antigos craques hoje podem ser encontrados nas páginas de O Globo. A imprensa brasileira deveria decretar três dias de luto.
* Por Ricado Kotscho em seu blog.
sábado, 10 de julho de 2010
Paul, Larissa e uma tese machista

Há algo de errado no reino do futebol. A constatação decorre da supremacia na mídia de personagens extra campo em detrimento dos craques que tem sido maltratados pela Jabulani na Copa da África. A própria Jabulani foi erigida em personagem da Copa pelas ciladas que pregou nos jogadores, enquanto a Vuvuzela ganhou espaço nobre na galeria de ícones pela sua estridente chatice.
Mas a grande celebridade desta Copa, mais do que o holandês Robben ou o espanhol Xavi, foi o polvo Paul. Debaixo d’agua , provocado a escolher a seleção vencedora a cada jogo, o estranho bicho tem acertado todas. Para a decisão, apostou na Espanha. O polvo profeta vive na Alemanha e provavelmente nunca visitará a África do Sul, apesar da súbita celeridade, assim como aquela moça paraguaia que, desde Assunção, conseguiu generosos espaços na mídia graças as suas formas insinuantes e à promessa de se desnudar em praça pública caso a seleção do seu país chegasse ao título mundial. Como os valentes paraguaios ficaram no meio do caminho tivemos que nos contentar apenas com um ensaio sensual da Larissa Riquelme. O bispo Lugo já está de olho.
E tem ainda as musas da reportagem que incendiariam a imaginação dos rapazes na África, a maioria na secura de mais de um mês. Falam maravilhas de uma morenaça costa-ricense e uma não menos atraente italiana teria sido responsável pela falha do zagueiro da seleção,seu namorado, mais preocupado com a presença da moça atrás do gol do que com os atacantes adversários. A Ótima Bernardes é fichinha perto desse time de jornalistas estrangeiras.
Foi-se o tempo em que as copas eram referenciadas por jogadores destaque, como a Copa de Pelé , de Garrincha, ou de Cruiff e Beckembauer, de Maradona e Platini, de Romário e Ronaldo, ou ainda, a Copa de Zidane. A ameaça que paira sobre todos os que gostam de futebol é que 2010 seja lembrada como a Copa do molusco Paul.
A verdade é que mesmo os treinadores ganharam mais destaque que os jogadores, tanto assim que tem direito a uma câmera exclusiva durante as partidas. É o caso de Maradona, porque é Maradona, de Dunga por seu figurino, do alemão Joahim Löw por sua elegância (embora tenha perdido pontos ao ser flagrado degustando uma meleca), do espanhol Del Bosque por sua sisudez, pra citar os mais visados.
O que antes era uma cobertura jornalística focada principalmente no futebol, hoje está mais para o conteúdo das revistas Contigo e Caras. Estão faltando craques para pautar a mídia ou ampliou-se a abrangência do material produzido, com um viés de frivolidade?
Claro que tenho uma tese a respeito. E uma tese provocativa. O crescente interesse das mulheres pelo mundo do futebol, inclusive na reportagem esportiva, é que determinou essa guinada. Nesse contexto, os esquemas táticos, a luta travada em campo, a tensão inerente à disputa, a jogada coletiva ou o virtuosismo do craque, a celebração da vitória e a indignação pela derrota, valores do universo masculino do futebol, foram acrescidos de outros nem tão esportivos – as coxas dos jogadores, os tórax bem delineados pelas camisetas justas, o estilo dos penteados, as barbas que se ficam bem em uns e não em outros, as sobrancelhas depiladas e outros detalhes estéticos que só as mulheres percebem. Foram instituídas listas dos mais bonitos e nem os austeros árbitros escaparam.
O belo ressurge no futebol, mas com outro olhar e expresso de outra forma que não a virilidade machista. Daí para a frivolidade foi um passo.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Teses e mais teses
A melhor análise sobre a atual Copa do Mundo ouvi, via Rádio Gaúcha, do cineasta José Pedro Goulart. Além de talentoso diretor de comerciais e filmes, Zé Pedro é gremista fanático, o que não contamina suas observações, sempre muito lúcidas, mesmo quando envolvem seu clube do coração. Pois bem, ouvi o Zé Pedro afirmar que a seleção brasileira se germanizou, enquanto a seleção alemã se abrasileirou.
Interpretei a observação a partir da forma de jogar das duas seleções nesta Copa: o Brasil apostando no coletivo, no jogo duro, sem muito espaço para as brilhaturas pessoais, tanto assim que quem apareceu como grande talento individual foi um zagueiro, Lúcio, enquanto os craques Kaká e Robinho ficaram aquém da fama e dos seus potenciais. Já a Alemanha apresentou um futebol leve, bonito de se ver em que despontam individualidades como o centroavante matador Klose e as revelações Muller e Özil.
A explicação para essa aparente contradição pode estar na globalização do futebol, que atingiu dimensões que outros setores da economia ainda buscam. É incalculável o número de jogadores brasileiros atuando em todos os quadrantes do mundo, sendo que os mais qualificados estão no futebol europeu. O Brasil, como potência futebolística, em termos de desenvolvimento econômico ainda não é páreo para os países do Euro, por isso tornou-se um grande fornecedor de craques para os principais clubes europeus e até mesmo para algumas seleções, vide os três brasileiros de Portugal e o afro-brasileiro-alemão Cacau.
O intercâmbio técnico por certo ocorre nos clubes e é inevitável que os brasileiros no exterior passem a assimilar hábitos, esquemas, táticas, métodos e posicionamentos adotados pelos europeus que, por sua vez, com tantos companheiros latinos, acabem adquirindo um certo jeito abrasileirado de jogar. Os resultados da Copa até agora indicam que os europeus e notadamente os alemães, levaram vantagem no troca-troca.
Por falar nisso, considerava a Alemanha favoritíssima para conquistar o título, até a derrota para a seleção de outro país, a Espanha, que recebe muitos craques brasileiros. A Espanha é a queridinha da vez, mas continuo torcendo pela Holanda. Sou o mais novo holandiano desde pequeninho.
Interpretei a observação a partir da forma de jogar das duas seleções nesta Copa: o Brasil apostando no coletivo, no jogo duro, sem muito espaço para as brilhaturas pessoais, tanto assim que quem apareceu como grande talento individual foi um zagueiro, Lúcio, enquanto os craques Kaká e Robinho ficaram aquém da fama e dos seus potenciais. Já a Alemanha apresentou um futebol leve, bonito de se ver em que despontam individualidades como o centroavante matador Klose e as revelações Muller e Özil.
A explicação para essa aparente contradição pode estar na globalização do futebol, que atingiu dimensões que outros setores da economia ainda buscam. É incalculável o número de jogadores brasileiros atuando em todos os quadrantes do mundo, sendo que os mais qualificados estão no futebol europeu. O Brasil, como potência futebolística, em termos de desenvolvimento econômico ainda não é páreo para os países do Euro, por isso tornou-se um grande fornecedor de craques para os principais clubes europeus e até mesmo para algumas seleções, vide os três brasileiros de Portugal e o afro-brasileiro-alemão Cacau.
O intercâmbio técnico por certo ocorre nos clubes e é inevitável que os brasileiros no exterior passem a assimilar hábitos, esquemas, táticas, métodos e posicionamentos adotados pelos europeus que, por sua vez, com tantos companheiros latinos, acabem adquirindo um certo jeito abrasileirado de jogar. Os resultados da Copa até agora indicam que os europeus e notadamente os alemães, levaram vantagem no troca-troca.
Por falar nisso, considerava a Alemanha favoritíssima para conquistar o título, até a derrota para a seleção de outro país, a Espanha, que recebe muitos craques brasileiros. A Espanha é a queridinha da vez, mas continuo torcendo pela Holanda. Sou o mais novo holandiano desde pequeninho.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Boca santa!
Que que eu tinha que escrever que só temia a Holanda nesta Copa? Não deu outra: fomos solenemente encaçapados. Adeus, hexa. Agora o País inteiro vai se dedicar a outro esporte preferido dos brasileiros: apontar culpados pela eliminação. Foi o mau humor do Dunga que contagiou a seleção? Foi o destempero do Felipe Melo? Foi o pífio desempenho do Kaká? Ou foi a afonia do agourento Galvão Bueno que deu azar?
Neste momento, pelo menos 180 milhões de brasileiros discutem a questão. E certamente existem pelo menos 180 milhões de teses, vale dizer, 180 milhões de culpados. No local onde assisti ao jogo, meus parceiros culparam uma manta amarela que ganhei de brinde e usei pela primeira vez. Quase fui linchado por causa da inocente mantinha, quando na verdade, o meu sentimento foi de que o azar emanou das pipocas e amendoins, acepipes que substituíram o pão de queijo da vitoriosa jornada contra o Chile.
Humildemente me atrevo a teorizar que no jogo contra a Holanda o vilão brasileiro foi o condicionamento. O time estava muito condicionado à vitória, aos escores de vantagem e foi só o adversário equilibrar o jogo com aquele gol espírita, que a nossa seleção se desestabilizou. Não havia experiência anterior na Copa de enfrentamento de igual para igual. E o Brasil sucumbiu mais por seu mérito – a fixação em estar em vantagem – do que pelos seus defeitos. É o meu pitaco, minha contribuição ao grande debate nacional do momento. A ironia em tudo isso é que o setor mais qualificado e elogiado do time brasileiro, a defesa, falhou nos dois gols dos holandeses. Julio César, Lúcio e Juan, especialmente os três, não mereciam esse triste desfecho.
A verdade é que investimos uma enorme energia na torcida pela seleção, mesmo que o time de Dunga não fosse de entusiasmar. Agora precisamos administrar a ressaca. Ou como diria o mestre Drummond, na memorável crônica "Perder, Ganhar, Viver", após a eliminação brasileira na Copa de 82, em circunstâncias muito semelhantes: “A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos. E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?”
Neste momento, pelo menos 180 milhões de brasileiros discutem a questão. E certamente existem pelo menos 180 milhões de teses, vale dizer, 180 milhões de culpados. No local onde assisti ao jogo, meus parceiros culparam uma manta amarela que ganhei de brinde e usei pela primeira vez. Quase fui linchado por causa da inocente mantinha, quando na verdade, o meu sentimento foi de que o azar emanou das pipocas e amendoins, acepipes que substituíram o pão de queijo da vitoriosa jornada contra o Chile.
Humildemente me atrevo a teorizar que no jogo contra a Holanda o vilão brasileiro foi o condicionamento. O time estava muito condicionado à vitória, aos escores de vantagem e foi só o adversário equilibrar o jogo com aquele gol espírita, que a nossa seleção se desestabilizou. Não havia experiência anterior na Copa de enfrentamento de igual para igual. E o Brasil sucumbiu mais por seu mérito – a fixação em estar em vantagem – do que pelos seus defeitos. É o meu pitaco, minha contribuição ao grande debate nacional do momento. A ironia em tudo isso é que o setor mais qualificado e elogiado do time brasileiro, a defesa, falhou nos dois gols dos holandeses. Julio César, Lúcio e Juan, especialmente os três, não mereciam esse triste desfecho.
A verdade é que investimos uma enorme energia na torcida pela seleção, mesmo que o time de Dunga não fosse de entusiasmar. Agora precisamos administrar a ressaca. Ou como diria o mestre Drummond, na memorável crônica "Perder, Ganhar, Viver", após a eliminação brasileira na Copa de 82, em circunstâncias muito semelhantes: “A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos. E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?”
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