*Publicado nesta data em Coletia.net
Apontamentos históricos dão conta de que o futebol de várzea surgiu no Brasil por São Paulo no início dos anos 1900, junto com a popularização do esporte no país. Os primeiros registros da prática são da região da Várzea do Carmo, na região do Brás, às margens do rio Tamanduateí, já indicando a origem do termo futebol de várzea. A primeira partida oficial em São Paulo – e consequentemente no país – foi organizada por Charles Miller, considerado o pai do futebol no Brasil. Ocorreu no dia 14 de abril de 1895, portanto há exatos 130 anos, reunindo os trabalhadores da Gas Company of São Paulo e os ferroviários da São Paulo Rallway, time de Miller, que venceu por 4 x 2.
A elite passou a praticar o esporte nos clubes fechados, como o Clube Atlético Paulistano que conseguiu da Prefeitura de São Paulo, em 1901,a transformação do antigo velódromo da cidade em um campo de futebol. Clube frequentado pelas elites, o Paulistano só permitia o acesso ao local dos times ligados aos ricos proprietários e industriais emergentes. Já os trabalhadores das periferias batiam sua bolinha nos campos improvisados, terrenos baldios, praças abandonadas, enfim, em qualquer espaço que pudesse congregar os jogadores e uma bola.
Surgiu daí o termo várzea, associado àquela prática dos operários. Várzea vem do latim “vallis”, que significa vale ou planície, sendo utilizada para se referir aos improvisados campinhos de futebol, que ficavam em áreas alagadas ou às margens de rios. Com o tempo, o termo várzea ganhou uma conotação mais ampla e passou a ser usado como referência para os jogos de futebol fora do circuito profissional. Além disso, pode ser entendido também como pelada, incluindo futebol soçaite ou futebol sete, futebol de areia, futsal ou futebol de rua. Entretanto, o futebol de várzea raiz é onze contra onze, em campo gramado ou não, seguindo as regras da FIFA.
Em São Paulo, principalmente os imigrantes italianos e portugueses tiveram um importante papel no início do futebol de várzea. Esses imigrantes, atraídos ao grande centro urbano desde a transição da escravatura para o trabalho livre, passaram a promover partidas informais nos momentos de lazer. Era uma forma de desconectar do trabalho pesado, estabelecer novas amizades e fortalecer laços entre colegas e vizinhos. Havia, ainda, equipes formadas por mulatos e negros que viviam do trabalho informal.
É válido supor que esse processo que favoreceu o crescimento do futebol varzeano em São Paulo tenha se reproduzido, ao final do século 19 e início do século 20, em outros centros urbanos. A instalação de muitas indústrias atraiam contingentes de mão de obra, que seriam potenciais jogadores para a grande quantidade de equipes que passaram a disputar suas partidas nas várzeas.
Com o passar dos anos, o futebol de várzea cresceu e se consolidou como uma tradição nas periferias e bairros de todo o país. Times surgiram, rivalidades locais foram criadas e os torneios começaram a atrair torcedores apaixonados pela agremiação de sua região, fortalecendo os laços comunitários
Em Porto Alegre, bairros tradicionais e com grande concentração de trabalhadores, como Navegantes, Glória, Parthenon e, mais recentemente, a Restinga, foram importantes no surgimento de times amadores, que muitas vezes carregavam nomes e símbolos que refletiam os raízes culturais e sociais das comunidades que representavam.
Texto do livro Viva a Várzea – Segundo Tempo, que será lançado nesta terça-feira, a partir das 18 horas, no Chalé da Praça 15, no Largo Glênio Peres. A obra reúne 16 autores e muitas histórias, além de resgatar competições que movimentaram o futebol varzeano. Essa é a escalação dos varzeanos que participam do Segundo Tempo: Ajax Barcellos, Caio Augusto Klein, Dante Turra Filho, Eduardo Alvarez Rodriguez, Eduardo Battaglia Krause, Felipe Vieira, Flávio Dutra, Juarez Fonseca, Leonardo Contursi, Luciane Lauffer, Mario de Santi, Michelly Nunes Santos, Piero D’Alascio, Sérgio Kaminski, Tadeu Oliveira e Vicente Dattoli.
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