*Publicado em 18/03/2024 em coletiva.net
Inspirada em um diálogo real.
Ele foi surpreendido com a manifestação dela em uma roda
animada e de predominância feminina.
- Mas que bonitas as tuas unhas.
Ela referia-se as unhas dos pés dele, unhas à mostra porque
usava uma sandália própria para os dias de verão.
No início ele não entendeu o elogio e ficou olhando para os
pés. Eram mesmo suas unhas, aquela maior
do dedão e as parceiras dos dedos menores, o objeto de admiração da moça? Só
lhe ocorreu uma resposta um tanto vaidosa e, digamos, maliciosa. Afinal, se
merecia elogios por uma parte da extremidade do corpo, normalmente escondida
por meias e calçados, poderia se permitir um exibicionismo:
- Já recebi muitos elogios por outras partes desse corpinho
aqui, mas pelas unhas é a primeira vez.
A frase teve o efeito desejado na elogiosa moça e na pequena
plateia feminina que presenciava a cena. Houve risos das circunstantes e um
leve rubor na apreciadora de unhas bem formadas.
Pintou um clima, pensou ele, enquanto se afastava do grupo. Ficou,
porém, a divagar sobre o que levaria uma pessoa de predicados pessoais e
estéticos, estes sim merecedores de grandes elogios, ter fixação nas unhas
alheias, ainda mais dos pés.
Ele se limitava a manter as suas devidamente limpas e
aparadas, sem outras preocupações estéticas. Não lembrava de problemas que tivessem
gerado desconforto e exigissem cuidados extras nos pés. Diferente de alguns conhecidos, exagerados na manutenção das unhas, apelando para salões
de beleza que oferecem imersão nos pés, esfoliação, corte de unhas, polimento
e, as vezes, até revestimento com um esmaltezinho transparente.
“É muita viadagem”, resmungou baixinho, porque não se
atreveria a uma manifestação tão politicamente incorreta.
Foi então que o celular chamou e ele atendeu de pronto,
quando o visor indicou quem era.
- Oi, sou eu aqui. Eu queria conhecer aquelas outras partes
do teu corpo que tem sido elogiadas..
Além de unhólatra agora a moça de mostrava também muito
curiosa.
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