O professor voltou faceiro pra casa depois de conhecer a bela mãe de sua musa, ser convidado a entrar na casa dela e mais tarde levá-la à festa na casa da amiga Valdirene, culminando com o beijo no rosto recebido em agradecimento pela carona. Além disso, o convívio no carro com a moça proporcionou informações preciosas que poderiam se encaixar no seu plano ambicioso de conquistar o coração e algo mais da querida.
Alexia tinha compulsão por falar e assim disparava revelações e mais
revelações, como a proximidade da mãe com um benfeitor, seu Armando, que nutria
afetividade também pela garota, no que
era correspondido por ela, certamente não com as mesmas intenções. O tal Armando era um bicheiro decadente em
outra revelação de Alexia, que emendou mais uma: o amigo montara o salão de
cabelereiro para Suellen, “a mamis”. O
estabelecimento, com o sugestivo nome de Salão da Suellen (“a mamis pesquisou
muito para usar este nome”), era a principal fonte de renda da família, “porque eu ganho uma
merreca lá no super”, explicou,
queixosamente. “A vantagem é que nas festa aqui na vila eu vou sempre com o cabelo
bem legal e as unha bem bonita, porque a mamis é muito jeitosa com essas coisas
de estética, é isso, né ?, de salão de beleza”, acrescentou, aproveitando para
dar uma alfinetada na outra amiga, a Shayene: “Até a Shay, aquela que se veste com roupa cor de peixe e acha o
máximo, me alogia nas festa. E os cara, então, pira!”.
Apesar dos
atropelos e das discordâncias
gramaticais e de fazer referência aos
“cara” , e foi inevitável lembrar do motoboy andrajoso , Adalberto se
encantava com a tagarelice de Alexia. Só
não conseguia vencer a barreira da aproximação mais direta, declarar suas
intenções, garantir à moça um futuro mais promissor, longe daquele ambiente em
que vivia, cercada por caras como o entregador de pizzas e sob a permanente e
impositiva presença do tal Armando, patrocinador familiar mal-intencionado.
Na adolescência ele tinha sido mais ousado, e logo
veio a recordação de como, ali pelos 16 anos, roubou um beijo da amiga Maria
Antonia, quando subiam de elevador no
prédio dela. Por muito tempo ele se vangloriou para os amigos contando e recontando o episódio do beijo roubado. “De
língua, de língua, e ela deixou”, sem acrescentar que a mocinha, na
inocência dos seus 12 anos, imaginava que poderia ficar grávida
com o beijo. “Perdi a ousadia quando virei professor”, concluiu pesaroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário