Era eu um aplicado repórter esportivo, nos tempos em que se podia frequentar os vestiários e entrevistar os profissionais depois dos jogos e eis que me deparo com uma escala grudada numa coluna na parte interna do Beira-Rio. Sempre fui bisbilhoteiro para os detalhes com potencial de notícia nos ambientes em que circulava. Por isso, passei a anotar discretamente a escala que o técnico Rubens Minelli havia afixado como lembrança aos jogadores daquele grande Inter dos anos 1970.
Sem fulanizar porque a memória vai me trair, a escala previa que falta na entrada da área devia ser cobrada pelo jogador A; falta à meia distância pelo jogador B; pênalti pelo jogador C; escanteio no lado esquerdo, pelo jogador D; no lado direito, pelo jogador E; a base da barreira era o jogador F; escanteios para o adversário, o jogador G ficava na primeira trave; escanteio para o Inter, o jogador H, devia se posicionar para o rebote e assim por diante, respeitando as características de cada jogador.
Minelli talvez não
fosse um grande orientador tático, mas era um artesão na lapidagem de um time,
mesmo aquele Inter recheado de craques. O futebol de intensidade que se exige
hoje estava começando então, tendo a Holanda de Cruijff como parâmetro, e o experiente treinador sabia que era no detalhe
que muitos jogos se resolviam. Assim, trabalhava o detalhe e colhia bons
resultados.
Passam-se os anos, o
futebol está em constante evolução, mas os fundamentos não mudam e os
confrontos tem, ainda, alta taxa de decisões no detalhe, no lance que foi
exaustivamente treinado. Devia, pelo menos, ser assim, mas como saber se os treinos
dos clubes são fechados? A imprensa já não
tem acesso ao que é executado em termos de ensaio de jogadas ou de repetições
nas cobranças de faltas, como Valdomiro fazia ao final dos treinamentos, até o
anoitecer, e que, depois, garantiriam vitórias importantes para o seu Inter.
Lembrei disso quando vi
a cobrança de pênalti desperdiçada por Robinho contra o América de Cali, que colocou
em risco a classificação do Grêmio em primeiro lugar na chave da Libertadores.
Foi o quarto pênalti não aproveitado pelo Grêmio dos nove assinalados pelas
arbitragens nesta temporada, ou quase 50% de desaproveitamento. Com isso, chego
à conclusão que o time está mal escalado – ou mal treinado - até para as cobranças de pênaltis e a posição na tabela de classificação do Brasileiro
poderia ser outra e não o sobe e desce da
primeira para a segunda página. Haja paciência. Até quando?
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