Mesmo com o encolhimento de uns anos para cá, não é exagero afirmar que a Feira do Livro é o maior acontecimento anual de Porto Alegre. O encolhimento, pela diminuição de barracas e concentração de todas as atividades na Praça da Alfândega, acho até que foi benéfico para a Feira na medida em que facilitou a circulação e interação das pessoas. De minha parte confesso que gosto tanto da Feira que, se pudesse, passava todos os dias lá, o que ocorria quando trabalhava no Centro Histórico. Sempre dava um jeito de escapar até a praça para esgravatar as caixas de sebos e olhar invejoso para as estantes cheias de livros e, melhor ainda, tomar um chope ali perto no fim da tarde,
Entretanto, nego peremptoriamente que tenha participado da
primeira Feira, em 1955.O idealizador do evento foi o jornalista e depois
vereador Say Marques, que era diretor do extinto Diário de Notícias, da rede
Associada – a Globo da época. Na época, eu tinha cinco anos apenas. Na verdade,
começam pelo visionário jornalista as minhas afinidades com a Feira,
uma vez que ele era amigo do meu pai, que o tratava reverentemente como “dr.
Say Marques”; depois, porque tive o privilégio de trabalhar com a
filha dele, a competentíssima Rosana Orlandi, primeiro na TVE e mais tarde na
RBS TV, onde produz o Galpão Criollo.
Porém, foi quando passei a trabalhar na também já extinta
Folha da Tarde, em meados da década de 70 do século passado, que comecei a
frequentar a Feira regularmente. Da redação na Rua Caldas Junior
à Feira era um pulo e não havia como ficar indiferente às barraquinhas
instaladas ao longo da praça. Lembro bem o primeiro livro que
adquiri. Foi O Príncipe, de Maquiavel, que ainda faz parte
da minha modesta biblioteca e é consultado sempre que
necessário, esse verdadeiro manual da arte da política. Línguas
ferinas e adversários invejosos insinuam que adquiri o livro errado, que
estaria à procura de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry e me
“principitei" (sim, com direito a trocadilho) levando O Príncipe.
Nego peremptoriamente de novo. Mais tarde também incorporei o Pequeno Príncipe
ao meu acervo para que ficasse à disposição dos filhos.
Desde aquela pioneira incursão, minha relação com a Feira
se diversificou. De leitor passei a me envolver mais diretamente com a
organização por conta das minhas atividades profissionais, seja na TVE, seja na
Prefeitura de Porto Alegre. Por fim, o
envolvimento foi como autor, com direito a quatro sessões de autógrafos.
Em todas as formas de relação, a obsessão pela aquisição
dos livros se mantém, embora ainda não tenha batido o recorde de cinco anos
atrás quando levei para casa mais de 30
livros, entre lançamentos e saldos. Este ano já adquiri Um Gato Que Se Chamava Rex, de Lucas Barroso (um exemplar para cada
neta, Maria Clara e Rafaela), Estrada, Meu Humor, do Jorge Estrada,
uma coletânea de histórias e gafes da radiofonia, A Historia de Djalma Beyer,
escrito pelo filho, jornalista Márcio Beyer, sem contar o também biográfico Ayrton Patineti dos Anjos, com a assinatura de Márcio
Pinheiro e Roger Lerina, lançado
pouco antes da Feira. Recomendo todos, assim como a edição
das charges de Sampaio, Ria Por Favor, organizada
pela filha Maria Lucia Sampaio, obra distribuída gratuitamente na barraca da Associação
Riograndense de Imprensa.
Vou revisitar a Feira para levar pelo menos mais duas
obras: O Senador Acaba de Morrer, um
retrato da carreira do senador Pinheiro
Machado por seu sobrinho-neto, José
Antonio Pinheiro Machado, também conhecido por Anonymus Gourmet, e o novo romance da bela e talentosa Letícia Wierzchowski, O Menino Que Comeu Uma Biblioteca, com
autógrafos nesta terça-feira. Preciso
resgatar também Revolução Cidadã,
legado deixado pelo queridíssimo Cezar Busatto. Além disso, fico na expectativa
de mais dois lançamentos, extrafeira: Cavalos
e Armas, terceiro romance, já em pré-venda, de Gustavo Machado, dono de um
dos melhores textos que conheço, e o segundo livro do meu amigo
da adolescência, Léo Ustarroz, o instigante
Resgate em Pamplona, que tive
a honra de prefaciar.
Ainda sobre a Feira, é importante enfatizar que ela transcende a crise do mercado livreiro e o
crescente descaso que o poder publico passou a dedicar aos eventos culturais,
inclusive em Porto Alegre, que se orgulhava da sua efervescência cultural. E já
que o termo está na moda, resistência de verdade é com a Feira do Livro. Longa
vida a ela.
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