“Todo mundo conta os copos que eu bebo, mas não vê os
tombos que eu levo!”. Foi assim, recordando um dito popular, que o Ernesto
começou a relatar suas desditas amorosas, ele que ganhou fama de pegador, “um
autentico crush” como se auto define, forçando uma linguagem descolada.
Ernesto exemplifica com duas situações em que sua
inabilidade e o palavreado inadequado pesaram contra os finalmente de uma
conquista. No primeiro caso, de nada
adiantou a insistência dele diante de uma colega de aula e depois de trabalho
para que fossem além do coleguismo. E olha que não faltaram
oportunidades, inclusive viagens com a turma, quando o pessoal, de lado a
lado, fica mais flexível e receptivo. A moça em questão era um belo exemplar,
de estilo germânico. Valia o investimento.
Passam-se os anos e os dois voltam a trabalhar juntos,
ambos casados agora, o que não impediu que o Ernesto lembrasse à moça o assédio passado e questionasse,
lastimoso:
- Por que não deu certo?
- Porque tu eras muito incompetente nas abordagens -, fulminou
a moça.
É preciso muito fortaleza moral e grau máximo de autoestima
para não sucumbir a uma sentença dessas. Só que o Ernesto é o que se pode chamar de sujeito resilente, os insucessos o realimentam e funcionam como
energia vital para novas investidas.
Também é verdade que a maturidade não tornou ele mais competente nas suas relações com o naipe feminino,
conforme o próprio admitiu, ao recordar o encontro que teve com
aquela que ele intitulou de “deusa renovadora das minhas
tesões”. Era o primeiro encontro com a moça, pelo menos 20 anos mais
jovem, e o Ernesto estava visivelmente nervoso, tanto assim que cometeu todas
as besteiras que não deveria para uma ocasião tão especial:
- Culpa da ansiedade -, justificou o trapalhão.
Para coroar uma noite que se avizinhava desastrosa,
Ernesto foi direto ao ponto, sem sutilezas, depois da segunda taça de vinho:
- Topas irmos a um motel?
Para surpresa dele, a moça topou, após ligeira hesitação.
- Ela confessou depois que teve pena da minha
incompetência e apesar do atropelo à etiqueta exigida para essas ocasiões, foi misericordiosa comigo. Misericordiosa, teve compaixão, ela
repetiu. Mas confessou também que não se arrependeu pois eu havia
passado com louvor no primeiro teste da cama - , vangloria-se o
Ernesto, que continua se renovando, pelo menos uma vez por semana com a sua
deusa.
Os dois episódios me levam a uma reflexão bem basiquinha: a
incompetência é um valor - ou seria desvalor? – relativo. Depende
das circunstâncias e da parceria. No primeiro caso, faltou flexibilidade à
moça de estilo germânico, enquanto a outra companheira foi solidária
com o Ernesto, relevou seu surto de incompetência e não se arrependeu. Claro que me identifico mais com a segunda que, com seu
gesto magnânimo, acabou vivendo um inesquecível episódio amoroso, enquanto a
outra se privou da incerteza que precede às grandes aventuras. Quem se permite,
tem meu respeito.
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