*Publicado
originalmente em 26/02/2016; resgatado e atualizado agora diante das
revelações da delação premiada de João Santana e sua atual mulher, Mônica
Moura.
Conheci o
publicitário João Santana em 1998 na campanha para o governo do Estado. Aquela
foi uma disputa feroz, voto a voto, entre Antonio Brito e Olívio Dutra. Brito
venceu no primeiro turno por pequena diferença, mas Olívio acabou levando no
segundo, também por escassa margem, cerca de 87 mil votos, ou 1,5% num universo
de 5,6 milhões de votantes.
Brito
buscava a reeleição, era favorito, arrancou forte, mas foi perdendo espaço e
intenção de votos diante de uma bem sucedida campanha de desqualificação, especialmente
na TV, com programas petistas produzidos por Carlos Gerbase e sua turma. Para
comandar a sua campanha o governador contratou a Duda Mendonça, que enviou a
Porto Alegre um marqueteiro de segundo escalão, o hoje celebrado e encarcerado
João Santana. Ele veio em grande estilo, com uma trupe de criativos,
produtores, roteiristas, entre os quais sua jovem e arrogante companheira de
então, uma lambisgoia chamada Alessandra, que volta e meia levava um corridão
de outra parceira nossa.
Apesar de
todo o aparato, a campanha proposta pelo esquema Duda/Santana não
engrenava. Era muito brilhareco, pouca consistência, soluções usadas em outras
campanhas, mas que aqui não funcionavam e programas desconectados do
ambiente regional. Enquanto isso, a gurizada à serviço do PT dava lições de
como chegar aos corações e mentes dos gaúchos.
Não sei
se o Brito não confiava muito em João Santana, o certo é que um dia chamou a
Bernardete Bestame e a mim, e pediu que ficássemos de olho no trabalho do
marqueteiro. Em seguida nos mudamos para a produtora, que funcionava na rua
Luzitana, bairro São João, num prédio locado a um tio do Tarso Genro, que
ironia!. Trabalhávamos no núcleo de produção de conteúdos de grandes e pequenos
temas que poderiam servir à campanha e deveríamos ser fornecedores desses
conteúdos para os programas de TV. Entretanto, quando nos apresentamos ao
publicitário, explicando que atendíamos a uma demanda do candidato, fomos
recebidos friamente e durante a campanha pouco foi utilizado do rico material armazenado
durante todo o mandato do governador.
No
segundo turno, depois do susto que foi a vitória apertada no primeiro turno, o
então secretário da Fazenda, Cezar Busatto foi praticamente imposto como
interventor junto à equipe de João Santana e a campanha começou a dar uma
virada, reacendendo a esperança de vitória. Antes disso, na renovação do
contrato para o segundo turno, houve uma complicada negociação e o marqueteiro
importado acabou mantido. Apesar dos pesares, seria temerária a mudança àquela
altura do campeonato.
Mas bem
que João Santana merecia um pé na bunda depois de uma inacreditável proposta de
programa para abrir a nova fase da campanha. Com pompa e circunstância ele
apresentou um piloto de vídeo em que pessoas ligadas a vários segmentos apontavam
todas as fragilidades do governo, as mesmas que a turma do PT mostrava em seus
programas. A justificativa de João Santana é de que o momento exigia “assumir
alguns problemas do governo” e a partir daí garantir que esse quadro seria
alterado no novo mandato. Ao assistir ao programa piloto, onde apareciam um
colono reclamando da falta de apoio, um jovem clamando por emprego, um
trabalhador desempregado criticando as privatizações, todos ferrando o governo,
Brito levantou-se e visivelmente contrariado, disparou:
- Desse
jeito vou entrar no segundo turno com mãos ao alto, como se já estivesse
derrotado. É isso, João Santana?
Santana
gaguejou uma explicação, mas teve que mudar toda a sua equivocada estratégia.
O
terceiro e último episódio na minha rápida e desprazerosa relação com o baiano
ocorreu na antevéspera do dia da eleição. As pesquisas mostravam uma reação da
campanha de Brito e uma onda de otimismo percorreu a sede da produtora. Uma
festa foi organizada, com dancinhas e tudo. Mal sabíamos que era uma versão
moderna e gaudéria do baile da Ilha Fiscal, aquele festerê que precedeu a
deposição de dom Pedro II.
Eu havia
bebido umas cervejas e resolvi peitar o João Santana, mas procurei ser
minimamente civilizado:
- Ô,
João, me diz aí. Vamos ou não ganhar esta merda? Afinal, o que vai acontecer?
- Aposto
uma garrafa de uísque como a gente ganha -, garantiu ele, com convicção.
Como não
bebo destilados não aceitei a proposta, até porque preferia que ele ganhasse a
aposta. O resto da história é bem conhecido. Olívio ganhou e pro meu
discernimento quem perdeu foi o Rio Grande. Quem também ganhou – e muito – foi
o João Santana. Deve ter começado lá em 1998 a escalada rumo ao patrimônio que
o levará a devolver mais de R$ 70 milhões aos cofres públicos, entre multas e
recuperação de recursos mal havidos. .
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