Entramos na reta final para a Olimpíada do Rio e eu,
como a maioria dos brasileiros, está torcendo para não passar a chamada
vergonha alheia. Já demos vexames suficientes com os problemas da Vila
Olímpica, as declarações infelizes do prefeito do Rio, os serviços básicos que
não funcionam, a podridão das águas reservadas aos esportes náuticos, a ameaça
terrorista tupiniquim, tudo isso ganhando uma dimensão na mídia que de certa
forma abala nossa confiança na capacidade realizadora do país. Havia o mesmo
sentimento pré-Copa do Mundo de 2014 e, apesar da torcida do pessoal do contra
e à parte as obras superfaturadas e o 7 x 1, fizemos uma competição bem sucedida
em termos de organização. Participei
diretamente do trabalho realizado em Porto Alegre e testemunhei o esforço para
que tudo desse certo.
A Copa mostrou que tínhamos condições de superar novamente
o complexo de viralatas, do qual falava Nelson Rodrigues, inconformado com o
sentimento de inferioridade que nos acometia diante dos grandes eventos esportivos.
¨O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. (...) não
encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima¨, reclamava o
mestre. Assino embaixo.
Faço essas constatações depois de ler as postagens no Facebook
dos múltiplos jornalistas esportivos José Alberto Andrade e Sérgio Boaz,
recordando os 20 anos da cobertura da Rádio Gaúcha nos Jogos Olímpicos de
Atlanta, nos Estados Unidos. Foi a primeira
grande cobertura olímpica da Gaúcha e o evento passou a fazer parte do
calendário permanente da emissora. Na postagem dos dois ex-colegas e amigos de
sempre, lembrei que de alguma forma contribui para essa investida ao visitar Atlanta,
num trabalho de percursoria, logo após a Copa de 94, também realizada nos
Estados Unidos. A ideia foi do grande Armindo Ranzolin que queria consolidar o
novo conceito adotado pela Gaúcha – ¨a rádio de todos os esportes¨- e ampliar o leque de produtos oferecidos pelo Departamento
de Esportes.
E lá fomos, Cézar Freitas, da RBS TV, e este que vos
fala para Atlanta, capital da Geórgia, sede da Coca Cola e da CNN, mas uma
cidade com um terço da população de Porto Alegre. Graças a ajuda do pessoal da TVE espanhola
que organizava as comunicações da Copa do Mundo e estava envolvida também com a
Olimpíada, fomos muito bem recebidos pelo Comitê Organizador, visitamos todos
os locais disponíveis e levantamos os dados necessários para a cobertura
prevista pela Gaúcha.
No ano seguinte deixei a RBS e não acompanhei a
evolução do projeto, que foi bem-sucedido e, confesso, me deixou emocionado quando
começaram as primeiras transmissões. Diferente,
porém, da cobertura da Gaúcha os Jogos Olímpicos de Atlanta foram marcados pela
desorganização, especialmente nas questões logísticas, sem contar que um
atentado à bomba no Parque Olímpico matou dois e feriu mais de 100.
A opinião negativa sobre Atlanta 96 não é minha, mas
do competente repórter da Globo, Marcos Uchoa, que cobre Olimpíada desde Seul,
em 1988, em recente depoimento no Sport TV.
Os jogos de Montreal em 1976 também foram um fracasso, só que
financeiro, quase levando a cidade canadense à insolvência. Montreal só se recuperou
do baque depois de 20 anos. Em compensação,
Barcelona, 1992 é reconhecida como o melhor exemplo de Jogos bem sucedidos contribuindo também para recuperar uma
parte degrada da cidade. Aliás, foi
naquela competição que a Gaúcha fez seu primeiro investimento em Olimpíada
enviando à Barcelona o então repórter Antônio Carlos Macedo, numa dobradinha
com a Cláudia Coutinho, da Zero Hora.
A contagem regressiva para os jogos do Rio já começou
e mesmo quem não queria a Olimpíada no Brasil parece se alinhar na torcida para
que sejamos mais Barcelona e menos Atlanta ou Montreal. Apesar de tudo, o Brasil merece o lugar mais
alto no pódio. Xô, complexo de viralata!
Nenhum comentário:
Postar um comentário