O que seria uma simples consulta ao saldo
transformou-se num desses pesadelos kafkianos que atormentam nosso cotidiano.
Rimou e é verdade. Aconteceu no sábado
quando procurei um posto de autoatendimento da Caixa para conferir o saldo da
conta corrente e a máquina informou que o cartão estava cancelado. Como os terminais da CEF não são os mais
confiáveis troquei de máquina duas vezes o veredito se repetiu: “Cartão cancelado”. Como assim, cancelado? Não pedi e não fui
informado, se a iniciativa foi do banco.
Imediatamente liguei o 0800 do SAC indicado atrás do
cartão. Começava, então, a maratona de
contatos com as centrais de atendimento da Caixa e meu calvário no fim de
semana. No primeiro contato, depois de digitar uma série de números (número do
cartão, ano e dia do nascimento, e os números que direcionavam para os serviços
pretendidos), ouvir quanto devo na próxima fatura do cartão de crédito (não é
muito), qual o meu saldo (por sinal, bem razoável se considerarmos o alto
limite que me oferecem) chego ao atendente, após ouvir a informação
de que a conversa será gravada “para sua segurança”, ou seja, tudo o que estou
relatando deve estar armazenado num servidor – se bem que a Caixa prima pela
incompetência e fica minha dúvida quanto ao arquivamento. Eis que chega o
atendente:
- Central Caixa, Jossiano. Com quem eu falo?*
Informo o nome completo e passo por um rápido
interrogatório: CPF e nome da mãe (começo a me irritar por envolveram a saudosa
dona Thélia neste processo), relato o
ocorrido (“Eu só queria conferir o saldo...”) e levo o primeiro drible:
- Senhor, aqui é o Serviço de Atendimento ao
Cliente. Não tratamos dessa questão aqui. O senhor está falando de uma capital
ou outra cidade? Para Capital ligue 4001.4425. Para essa ligação seu protocolo
é... Tenha um bom dia.
No número indicado foram três ligações e novamente a
maratona de digitações de números até que uma moça atendesse, depois de três
ligações derrubadas intempestivamente na última etapa – a de falar com a
atendente. Numa das ligações foi só eu alterar o tom de voz, já irritado, para
ouvir o tutututu (está tudo registrado no meu celular). Quando consigo falar
com moça, novamente tenho que informar o
CPF e o nome completo da dona Thélia para que a conversa siga adiante, mas não
muito porque a atendente logo informa, com aquela vozinha anasalada:
- Senhor, aqui
só tratamos de cartões de crédito. Com seu cartão de crédito está tudo bem.
Para cartões de débito o senhor deve ligar para 3004.1105 se estiver falando de
uma Capital...
- Mas moça, porque não me informaram já na primeira vez que o número era outro. Me fizeram perder tempo. Qual o número do
protocolo desta ligação?
- Senhor, não
temos número de protocolo para essa ligação. E não podemos resolver aqui o seu problema. O senhor deve ligar para...
E por assim dizer me manda pras cucuias. E lá vou eu
para mais um enfrentamento com os monstros invisíveis das centrais de
atendimento.
Foram duas ligações para o 3004.1105 (que não consta
entre os fones para contato atrás do cartão), mais 29 números digitados porque agora pedem os códigos da agencia e da conta e,
ainda, a minha senha, além do zero, que
é a última opção para chegar a atendente. No meio desse entrevero fico sabendo
novamente do meu saldo, recomendações sobe
segurança e novas ofertas de serviço, até ouvir:
- Cartões Caixa, Kellen. Com quem eu falo?
Informo, dou o número do CPF, repito o nome da
saudosa dona Thélia, explico o que ocorreu, tentando controlar a irritação, e
sou surpreendido com a resposta da Kellen:
- Senhor, este problema deve ser resolvido na sua
agencia, com o gerente da sua conta.
- Isso significa que vou passar o fim de semana sem
poder usar o cartão de débito.
- Senhor, este problema deve ser tratado diretamente
na sua agencia.
- Mas moça, como é que eu faço...
- Senhor, este problema deve ser tratado diretamente
na sua agencia.
Resumo da ópera: foram oito ligações no total para
três números diferentes e entre 25 a 30 números digitados em cada ligação o que
totaliza algo como mais de 200 digitações,
para, ao fim e ao cabo, ficar sem usar o
cartão, além da perda de um tempo
precioso na segunda-feira para explicar ao vivo e a cores (“Eu só queria saber
o saldo...”) e tentar liberar meu cartão
porque as contas não esperam.
Não é o primeiro transtorno que a Caixa me apronta.
Vou poupá-los de mais chateações bancárias. Até aqui suportei resignado, mas
agora deu. Deu pra ti, Caixa – o pior banco do mundo.
* Nomes dos atendentes fictícios porque eles também são vítimas dessa prepotência do sistema financeiro.
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