sábado, 29 de junho de 2013

O pênalti

Fico com uma pena infinita desses jogadores que perdem pênaltis decisivos e passam carregar nas costas o peso da frustração de uma nação inteira, seja ela representada pela torcida de um time ou a população de um país.  Estou solidário ao italiano que desperdiçou o pênalti na quinta-feira e junto com a bola fora lá se foi a façanha de derrotar os campeões e favoritíssimos espanhóis.

Outro italiano, Baggio maculou sua carreira ao chutar nas alturas a cobrança que deu o tetra mundial ao Brasil, em 1994. O grande Zico também viveu seus piores momentos em uma Copa, a do México em 1986, ao perder um pênalti que poderia ter garantido a vitória contra a França e a passagem às semifinais. Mais tarde a França eliminaria o Brasil de Telê Santana...nos pênaltis!

Dinho e Arce, dois ícones do Grêmio que Luiz Felipe levou a decisão contra o Ajax em 1985, também vão carregar para a vida toda a imperícia e o desperdício dos pênaltis que impediram o tricolor de chegar a mais um titulo mundial.

Infames pênaltis que provocam frustrações e podem arruinar carreiras, mas benditos pênaltis que consagram goleiros, como Júlio César, recentemente contra o México, ou Rogério Ceni, que já defendeu 50 pênaltis e vale incluir Marcos que defendeu 45 pênaltis pelo Palmeiras, embora nada supere o russo Lev Yashin (1929-1990), o Aranha Negra, que somou 150 pênaltis defendidos, além de 270 jogos sem sofrer gol. No Grêmio, Victor tomava alguns gols estranhos, mas se consagrava defendendo pênaltis, como Taffarel na seleção e no Inter.

A história registra que o pênalti foi criado em 1892, mas a primeira cobrança só ocorreu no ano seguinte. Desde então vem atormentando cobradores e goleiros. Tanto assim que Nenén Prancha, o folclórico desportista carioca, teria cunhado a célebre frase: “O pênalti é tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube.”

De minha parte prefiro a versão do Irani, um atacante alto, delgado e de chute forte, que enfrentava com maestria os zagueirões malvados nos campos varzeanos do bairro Petrópolis. Irani era exímio cobrador de pênaltis, a maioria que ele mesmo sofria, e indagado sobre qual era a sua técnica, afirmava peremptório:-

-  Simples, miro no distintivo do goleiro e dou uma bicanca. Sempre dá certo.

Nada como a simplicidade, não?!



domingo, 9 de junho de 2013

Felipão e eu




Qual o mérito de entrevistar o Felipão hoje? Campeão do mundo, técnico consagrado, esperança de formação de uma seleção competitiva para a Copa 2014, Luiz Felipe Scolari é atração midiática em qualquer circunstância. Eventualmente até são produzidas matérias diferentes sobre ele, além do feijão com arroz das coletivas. Foi o que apresentou o Esporte Espetacular neste domingo de jogo contra a França. Foi uma bela e bem trabalhada reportagem destacando a trajetória do homem, do jogador e do técnico, com resgate de imagens e depoimentos enriquecedores. Parabéns ao Mariano Batista, mais um dos tantos talentos gaúchos na Globo, que produziu e editou o material.

O que eu queria saber agora é quem prestava atenção no Luiz Felipe, zagueiro tosco do Aimoré no início da década de 70 do século passado. Respondo: euzinho!  Foi assim: o Felipão, que já impunha respeito na zaga do time leopoldense, foi recomendado para fazer testes no Olímpico. Lá estava eu, recém iniciando no jornalismo, fazendo o papel de um esforçado setorista da Zero Hora no Grêmio - ou seria da extinta Folha da Tarde? Nem foi preciso muito tempo de avaliação no coletivo para chegar a conclusão que o gringão não ia ser aprovado no teste, mesmo que o tricolor daquele ano, treinado pelo Daltro Menezes, fosse um time pouco mais do que medíocre. Luiz Felipe era voluntarioso, porém, muito limitado tecnicamente.

Mas acho que me compadeci da situação e decidi entrevistá-lo no vestiário, fazendo aquela pergunta mais banal impossível: Como se sentia?

- Tem muita panelinha aqui, assim fica difícil, mas não me abate, respondeu, mais amargurado do que decepcionado.

A entrevista, a única que fiz com Felipão, rendeu uma nota no final da matéria do treino do dia. Deve estar lá nos arquivos da ZH - ou seria da FT?

E nunca mais nos cruzamos, diferente do Grêmio que foi buscá-lo em Caxias para conquistar o campeonato gaúcho de 1987 como treinador, dispensando-o em seguida. Mas o futebol é feito de ironias e seis anos mais tarde o bi rejeitado Felipão voltou ao Grêmio, levando-o às principais conquistas nos últimos anos: a Copa do Brasil de 1994, a Libertadores de 95, a Recopa e o Brasileiro de 1996, além de dois Gauchão. Na decisão do Mundial Interclubes no Japão perdeu o titulo para o Ajax, da Holanda, nos pênaltis. Só o mítico Osvaldo Rolla, o Foguinho, dirigiu o Grêmio mais vezes que Luiz Felipe: 377 jogos contra 322, dois a mais do que seu mentor Carlos Froner.

Ao fazer esse registro fico imaginando se a carreira de Luiz Felipe não teria sido diferente se tivesse permanecido no Grêmio lá nos idos de 70 do século passado. Pensando bem, acho que não. Na rápida entrevista após o mal sucedido teste já ficava evidente que ali estava um sujeito determinado. O resto da história já é bem conhecido.








sábado, 8 de junho de 2013

Os interruptores

Encontrei outro dia um antigo companheiro daquelas tantas confrarias que um dia frequentei. Por razões que desconheço, e já referi essa situação aqui, meus confrades de outrora me tiram para confessionário e com o parceiro desse encontro não foi diferente. Depois da sessão de cinismo inicial, em que cada um jurou que o outro estava em grande forma ("Me dá tua receita pra não envelhecer", insisti, como sempre faço), o  ex-confrade abriu um largo sorriso e com um jeito ligeiramente blasé, disparou:

- Estou de namorada nova e a moça é uma máquina, uma máquina, repetiu.
Ao invés de celebrar a conquista do velho companheiro de tantas batalhas etilicogastronômicas, confesso que fiquei com inveja. Ainda bem que ele não percebeu o meu sentimento perverso, porque logo em seguida desandou a falar em tom queixoso:

- O problema é que na hora do bem-bom tenho sido sistematicamente interrompido por telefonemas de colegas nesta praga que é o celular.

Homem de responsabilidade na firma em que atua profissionalmente, o parceiro não resiste, e no terceiro toque já está atendendo o celular, independente do estágio em que esteja da saliência.

- Sabe como é, pode ser alguma coisa urgente, justifica ele.

Mas completa, pesaroso: “O problema é que a retomada é tão mais difícil....”

Aí fiquei com remorso por causa da inveja anterior. O parceiro estava sendo vítima de uma nova categoria: Os interruptores, agentes de uma forma de bulling sexual, também conhecidos como “os empatadores”.
Na real, são pessoas do bem, mas incluídos na categoria que mais cresce no mundo moderno: os Sem noção.

- O campeão em interrupções é o chefe do jurídico, que me liga sempre quando já consegui engrenar. Acho que como ele não pratica mais agora esta atrapalhando a transa dos outros.

O ranking dos maiores interruptores inclui o vice-presidente, o diretor de marketing e meia duzia de  colegas do mesmo nível, incluindo aquela moça mais expansiva também do marketing.

 A nova namorada estranha a insistência com que ele é procurado, mas tem sido pacenciosa mesmo com as interrupções.  "Mas até quando?", angustia-se ele.

Foi nessa fase da conversa que me comovi e assumi uma atitude solidária com o amigo. Deveria haver uma punição severa para os interruptores. Algo como assistir na primeira fila ao show de Michel Teló ou participar da Dança dos Famosos com a Suzana Vieira ou ser obrigado a torcer para o Ibis.  Interrupção já, aos interruptores.



domingo, 2 de junho de 2013

Expresso da Alegria


Sei lá, acho que estou ficando velho e nostálgico, quase melancólico. Foi o que me ocorreu ao ver a foto  postada no Face pelo jornalista e amigo Caco Belmonte, onde aparece o time de futsal da Rádio Guaíba, nos idos da década de 70, posando antes de um torneio da Associação de Cronistas, a ACEG.  Ali aparecem  o Belmonte, pai do Caco e do Roberto - os dois mascotes da foto -, o falecido  Lupi Martins, grande conquistador, e seu irmão Lasier, ainda com cabelos, e agachados este blogueiro na sua versão grunge, o craque Clóvis Rezende e o meu compadre Edegar Schmidt. As camisas eram em verde e branco para ninguém nos acusar de gremismo ou coloradismo.

Vou ser bem sincero: este time era muito ruim, apenas o Belmonte, com seu chute potente e o Clóvis com seus dribles infernais (até perder a bola e armar os contra-ataques...), jogavam alguma coisa. Mas foi o embrião de uma afamada equipe montada pela determinação do Érico Sauer, o Expresso da Alegria, que se apresentou em mais de 100 cidades gaúchas às sextas-feiras e eventualmente aos sábados.

Funcionava assim: a prefeitura interiorana ou uma entidade assistencial fazia o convite, concordando em pagar as despesas de deslocamento em micro ônibus e se ressarcia no evento beneficente em que se transformavam os jogos com equipes locais.  A Guaíba era um canhão na época e a presença do Expresso lotava ginásios por todo o interior. A exigência dos promotores era sempre pela presença do Lauro Quadros, que não jogava nada, mas enchia os ginásios, dava autógrafos e entrevistas como nunca e posava para fotos com madrinhas de festas, autoridades e gurizada em geral. Jogo sem Lauro era duro de explicar e certa vez em uma vinícola de Garibaldi fomos vaiados do começo ao fim e ainda levamos um balaio de gols. Nessa ocasiões só o que nos salvava era a sessão de piadas contadas pelo Clóvis Rezende  após as churrascadas e jantares que nos ofereciam.

Históricas gloriosas aconteceram nas excursões do Expresso.  Certa vez fomos a Santa Rosa e como a distância era grande exigimos avião para o deslocamento e foi num Navajo que seguimos até lá, jogamos num sabado à tarde e retornamos antes do anoitecer, com ameaça de muita chuva.  O Lauro Quadros ficou verde e os outros mortais não escondiam a apreensão, menos o Érico, que na terceira dose de Campari, não estava nem ai para as ameaçadoras cumulus nimbus que nos acompanharam de Santa Rosa à Porto Alegre.  Em outra ocasião, inauguramos o ginásio municipal de Nova Prata sob um frio de zero grau e a equipe ainda não tinha abrigos. Quase morremos de frio e os abrigos foram providenciados para os jogos seguintes.  Em Osório, jogamos num velho ginásio que tinha um degrau na quadra e levamos um saco de gols do adversário comandado pelos irmãos Benfica.

O Erico era um figuraço. Plantão de estúdio dos bons, com seu sotaque de alemão do Vale do Taquari, valia uma enciclopédia pelos histórias e gafes que protagonizou, especialmente no período em que bebia todas - depois virou abstêmio.  Zagueirão do Estrela em tempos idos, no Expresso atuava como goleiro, depois técnico e sempre como cartola.

No auge do Expresso, o técnico passou a ser o Agomar Martins, que recém havia abandonado a arbitragem e era uma atração extra no interior. O time base na época era formado pelo Pedro Boleiro, que também era o motorista do micro que nos conduzia, o falecido Zé Krebs , chefe da técnica da Guaíba, este que vos fala, Clóvis Rezende e ou Laerte de Francheschi e ou Lauro Quadros.  Também participavam o Flávio Martins, eventualmente o Belmonte e quando o adversário era muito forte convocávamos o Adauri Silveira (hoje na Ampla Eventos), que era jovem e jogava muito.

Em varias incursões levávamos  nossas mulheres e até filhos, como o Lauro que se fazia acompanhar da Laurinha, com seus oito ou nove anos e que era a nossa pequena princesa. Como se vê, era uma indiada família. Melhor que o jogo era a confraternização após. Grandes churrascadas, muitas homenagens e dependendo do local, ótimos mimos para os visitantes.

Minha despedida do Expresso foi em 1983 num jogo em Taquari onde reinava o promotor Cláudio Britto, presente no ginásio do jogo. Ao final, recebi todo o uniforme, ainda suado, como lembrança, e confesso que fiquei engasgado.  Nunca mais viveria aquela alegria do Expresso, com o perdão do trocadilho,  e o carinho, mostrados de forma direta e espontânea, pelos ouvintes da Guaíba. Mas até hoje guardo aquela camisa verde  que será peça fundamental no futuro Memorial Flávio Dutra.

* Em memoria aos que nos deixaram tão cedo.

domingo, 19 de maio de 2013

Leis do ViaDutra

Tenho me deparado no dia a dia com situações que me fazem refletir e que me levaram a formular novas leis comportamentais. Generosamente compartilho com os fiéis seguidores deste blog:


Lei do Besouro – "Tem tudo pra dar errado, mas acaba dando certo". - Inspirada no jornalista e amigo Nico Noronha, que era bem fortinho e carregava uma bunda enorme que devia pesar naquele corpanzil.  Mesmo assim tinha uma agilidade e jogava uma bola redonda, ao contrário do que seu tipo físico indicava .  A Lei do Besouro não vale apenas para atividades esportivas, eis que serve também para atividades profissionais (sabe aquele abobado da firma que acaba se revelando um geninho?) ou para a atividade amorosa (o casal tem pouca coisa em comum e entretanto se acerta na cama e fora dela como se nascessem um para o outro).

Lei de Vanderli "Tudo pode acontecer, até mesmo dar certo". – Inspirada em Vanderli Barbosa, ex-chefe de operações da RBS TV, que conheci na mesma função na TVE. Vanderli gostava de “inventar” nas transmissões externas e me obrigava sempre a questionar:

- Mas isso vai dar certo, Vanderli?
- Só quando estiver no ar para saber, chefia.
Também conhecida como Lei do Imprevisível.

Lei da culpa pública  – "Em algum lugar alguém está fazendo merda e você terá que responder por isso".  - Funciona assim: um agente externo ou interno comete uma bobagem, de maior ou menor dimensão, tendo ou não relação com a coisa pública , e o primeiro culpado pelos resultados do malfeito será o serviço público, ou porque não fiscalizou, ou porque não regulou ou porque interferiu onde não devia. Fácil de saber quando está presente: é só acompanhar a matéria na imprensa que tem por chamada “De quem é a culpa?”.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A pior profissão do mundo


Não existe pior profissão do que técnico de futebol.  É mais estressante do que controlador de vôo, mais exigente do que operador de bolsa de valores, mais vulnerável  do que policial em ação, mais preocupante do que médico de UTI. Cada um na sua função está sempre se deparando com situações limites e tem que estar preparado para reagir a elas.  O treinador de futebol vive isso a cada jogo, quando sua capacidade é avaliada e julgada, e ainda tem que lidar com o emocional do esporte que sempre se sobressai sobre o racional.

A rotina deste profissional é feita de imposição diária de sua liderança sobre o bando de primas-donas que são os jogadores de futebol, um grupo constituído, na maioria,  de vaidosos, desleixados, todos se achando craques e a prontos para brigar, sem qualquer escrúpulo, por  uma das poucas vagas no time titular.  Ou então acomodados, sem comprometimento, o que também é ruim.

E tem os dirigentes inconfiáveis, fazendo tudo para aparecer, que mais atrapalham do que ajudam, com honrosas exceções que justificam a regra.  E tem a torcida pegando no pé,  xingando de “burro, burro”.  Não dá pra sair a rua depois de derrotas sem ouvir as gracinhas dos torcedores adversários e a cobrança da própria torcida. 

E tem a mídia especializada  para qual nada nunca está bom, se intrometendo na escalação e desqualificando o trabalho. E o que dizer sobre  aquelas perguntas imbecis depois dos jogos?  E tem a perseguição dos árbitros que querem aparecer mais que os outros profissionais.  E tem os tribunais esportivos, um bando de ressentidos que aplica severas punições por qualquer coisinha.  E tem o departamento médico que não recupera o craque e os  preparadores físicos que não colocam os jogadores em condições,  gente inconfiável .  E ter que enfrentar esse ambiente hostil  longe de casa, do apoio da família e dos amigos mais chegados. Que dureza!

Agora me responda: você já viu treinador desempregado por muito tempo, a não ser por vontade própria? E o que dizer dos salários, quase sempre cinco dígitos antes da vírgula? Quero essa dureza pra mim.

domingo, 12 de maio de 2013

A guerra das imaginações e outras obras primas

Alguns livros marcam a vida da gente de forma definitiva. São  aqueles que vale a pena ler de novo e que se levaria para uma ilha deserta junto com seu bem querer, ou que provocaram grande mudanças nas nossas vidas.  Amigos mais intelectualizados adoram citar Guimarães Rosa, Joyce, quanto mais indecifráveis melhor, ou  Borges , que tem meu voto, ou ainda aqueles russos chatos.

Leitor  voraz que já fui sou bem mais modesto na minha seleção,  que começa com a Cartilha Sodré, que me alfabetizou no colégio das freiras em Petrópolis.  A lista se completa com mais  livros que foram marcantes e indicaria sem hesitar.  Fui impactado, por exemplo, por Eu Robo, de Isaac Asimov, que apresentou as Três leis da Robótica, quando o termo ainda era palavrão: 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei.Simples e genial, não?
 
Eu, Robo acabou virando filme, estrelado por Will Smith,  mas pro meu gosto sem o mesmo deslumbramento do livro. Na mesma linha o profético 1984 e seu Grande Irmão, de George Orwell, foi como uma sacudida no guri que o leu cerca de 15 anos antes da data que acabou não se consumando com o previra o autor.
 
Depois, já na faculdade, tive acesso a um dos livros que mais gosto de referir, Macaco Nu, de Desmond Morris, um ensaio antropológico que nos leva a entender um pouco mais sobre o estágio atual da civilização e do comportamento humano. Para esse entendimento, uma frase da obra basta : " (...)apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo Sapiens não deixou de ser um macaco pelado.”

É o macaco pelado em toda a sua magnitude e pequenez que aparece na última obra literária que recomendaria e que me chegou as mãos, anos atrás, pela indicação da amiga Lena Ruduit: A Guerra das Imaginações, de Doc Comparato. A sinopse clássica dá conta de que a obra trata de  “Assasinatos, maldições e prazeres criando a obra de arte mais importante do milênio - essa é em essência a trama inovadora deste livro. Por volta do ano 1500, estranhos e inusitados fatos ligaram uma disputa pelo poder no Vaticano ao descobrimento de uma terra paradisíaca”.

Mas A Guerra das Imaginações é mais do que isso. Comparato parece antecipar os escândalos que agora atormentam a Santa Sé e que teriam provocado a renuncia de Bento XVI.  Com a experiência de autor de telenovelas, ele mistura ações aparentemente desconexas que acabam se juntando para formar um mosaico daqueles anos entre os séculos XV e XVI Isso  revela porque os portugueses aparecem com destaque no livro,  em vários cantos do mundo, não medindo esforços para obter os preciosos mapas que garantiriam uma navegação mais segura. Com os tais mapas, mais o domínio da navegação pelas estrelas e as rápidas caravelas, o pequeno país ibérico conquistou grandes quantidades de terras além mar, incluindo o nosso Brasil – que o livro sugere ser o paraíso na terra pelo menos na compreensão dos navegadores que retornavam do Novo Mundo. Uma leitura fascinante, que recomendo.

Ah, bons tempos em que me dedicava mais à leitura e menos ao Facebook.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre sopas e caldos

Sempre questionadora e eterna aprendiz, a moça ao lado abandona o computador por um momento e pergunta de supetão:

- Vô, qual a diferença entre dar caldo e dar sopa?

Apanhado de surpresa pela indagação fiquei a matutar por alguns instantes e só me ocorreu um subterfúgio, para ganhar tempo:

- Queridinha, veja bem...

Não tenho vocação para Oráculo nem faço as vezes de velho monge a responder ao Gafanhoto como na série Kung Fu, mas logo me dou conta de que não posso me omitir diante da magnitude do questionamento.
- Veja bem, emendo novamente. Olha o teu caso: sem dúvida pertences a categoria das que dão um caldo, diria mais, é uma caldável premium.

Voces não imaginam a faceirice da moça com sua colocação no mais alto do pódium das caldáveis, mesmo assim sua natureza feminina se manifestou de novo e ela insistiu na indagação;
- E as que dão sopa, vô?

Eu estava claramente fugando de uma resposta mais conclusiva, mas diante da insistência fui obrigado a me posicionar.
- Veja bem, quem dá sopa é, digamos, uma periguete, para usar um termo da moda.

O tom da resposta mostrou todo o meu constrangimento para tratar do assunto, eu que elevo o gênero feminino quase à condição de divindade. Agora teria que reafirmar que existem mulheres que dão sopa, são fáceis de encarar e deglutir, se bem que devem ser quentes como toda a sopa que se preze. São mulheres para um momento.As que dão sopa chamam incomodação.
 Já as que dão caldo são mais encorpadas, aguçam nossa imaginação  e aqui o encorpado deve ser entendido como um valor e não como algo físico porque o que distingue mesmo a caldável é a sua condição de desejável, independente da idade e classe social.  São mulheres para se compartilhar uma grande história. As que dão caldo valem a incomodação!

- Mas não existem caldáveis que dão sopa? insiste a moça com suas inconveniências.

- Jamais, mocinha, jamais. Se der sopa, não dá caldo. Caldável é um estágio superior da condição feminina.

Aí achei que estava na hora de encerrar a conversa e me concentrar em concluir a lista das caldáveis porque das sopáveis não quero saber


sábado, 4 de maio de 2013

Curso Daquilo - III



O sentimento é de marido traído. Estava eu a planejar o Curso Daquilo, já detalhado em dois textos anteriores, quando uma boa, mas insensível amiga, me esfrega na cara experiências já em curso e muito bem sucedidas, quase acabando com o sonho de levar conhecimentos imprescindíveis às novas gerações. Como na canção, meu mundo caiu.

Primeiro foi uma matéria do Uol, matreiramente intitulada  Vida sexual não para na velhice, mas é preciso superar obstáculos,  cheia de observações  óbvias e dicas fajutas, mesmo assim com alto índice de leitura.  O link com  sugestões de posições para ele e para ela  chega a ser ridículo  pelas obviedades mostradas,  a não ser que eu e as moças que consultei  estejamos extrapolando nesse quesito.  Mas chegamos a conclusão conjunta que somos normais.

Aí  me mostram os detalhes do curso de Rita Ma Rostirolla, que se apresenta como especialista em sexualidade e que tem arrastado hordas femininas as suas palestras   -   empresárias, médicas, advogadas,  funcionárias públicas, donas de casas ou simplesmente mulheres.  A loirosa Rostirola ainda dá um caldo e o segredo do seu sucesso,  imagino eu, se resume a uma frase que deve pronunciar na abertura dos seus cursos:  “A partir de hoje  nenhuma de vocês será mais a mesma!”  Uau!  Nada como  dar um  gás na autoestima das mulheres.   

Quem teve oportunidade de conferir  o curso da  dona Rostirolla – sem aulas práticas, vamos deixar claro -  garante que o mulherio não tem qualquer constrangimento em  dar entrevistas sobre sua participação, numa espécie de recado a seus parceiros, digamos,  omissos nos deveres e prazeres da cama. 

Não me peçam  mais detalhes dessa concorrente potencial  do futuro Curso Daquilo.  A  proposta está mantida e o nosso diferencial  serão as aulas práticas.  Quem se habilita?


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Curso daquilo - parte II


Provocou enorme repercussão, rebuliço até eu diria, o despretensioso texto aqui publicado dando conta da sugestão de um grupo de moças para que organizássemos um curso “daquilo”, destinado às novas gerações, tão carentes e tão receptivas à novos conhecimentos. Tive o cuidado de acrescentar que se trataria de um curso com viés absolutamente didático. Mas não adiantou a advertência e levaram para o lado da maldade, da sacanagem explícita.

Vocês não imaginam o que apareceu de candidato a professor, é bem verdade que poucos para as aulas teóricas e um montão para as práticas. Meninas faceiras queriam antecipar suas inscrições temerosas de que todas as vagas fossem ocupadas. As mais espevitadas chegavam a alegar: “Tenho direito a vaga, eu sei que dou um caldo”.  Fui assediado por uma gurizada masculina que antes só imaginava interessada em jogos eletrônicos.  Que nada,  querem descobrir todas as formas "daquilo", além da destreza manual que praticam atualmente.

Recebi até pedidos do exterior e estamos pensando num módulo em EAD (Ensino à Distância), mas, por razões óbvias, sem aulas práticas com os e as interessadas. Os mais rodados, de ambos os naipes, exigem um curso de especialização e para isso já se pensa em uma parceria com o pessoal do chamado “cinema adulto” e a importação de modelos ucranianas para as aulas práticas, com direito a aula magna.

Enfim, está tudo por assim dizer em aberto.  Só o que já está definido é que a Tia Carmem será a paraninfa da primeira turma.