terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mantra do patrono e a nova Playboy

O queridíssimo Evaldo Gonçalves, além de competente editor dos chamados esportes amadores da Zero Hora na década de 80/90 do século passado, era o patrono da Confraria da Caveira Preta, que reunia um bando de jornalistas bandalhos em festins gastronômicos,  etílicos e difamatórios.  Incapaz de compartilhar as maldades dos confrades, Evaldo a tudo ouvia,  mantendo aquele seu jeito generoso e o máximo que pronunciava, mesmo diante do mais escabroso dos assuntos, era uma frase que acabou virando um mantra:

- Que fim de século!

Se ainda estivesse entre nós, o bom Evaldo certamente teria alterado sua frase diante deste desconcertante século 21:

- Que início de século!

Não há mais dúvida de que 2015 vai marcar definitivamente o término de uma era e o início de outra. O marco simbólico desta nova era é o fim da revista Playboy como a conhecemos: sem mulher pelada.  A onda, motivada pela perda de leitores e faturamento,  começa na edição americana e logo deve chegar ao Brasil. Agora só aparecerão os chamados ensaios sensuais.

As peladonas gráficas foram derrotadas pela internet com seus portais para adultos  e a profusão  de vídeos  eróticos e pornográficos em todas as plataformas.  Hugh Hefner, fundador da Playboy nem tem porque se queixar, uma vez que mantém um canal na Tv por assinatura, muito assistido nos motéis. É o que me contam porque já não frequento mais esses estabelecimentos.

A Playboy revista formou gerações inteiras , cumprindo um papel  relevante  na iniciação sexual artesanal, por assim dizer,  entre os rapazes.  Só por isso mereceria teses e teses de mestrado, se é que isso já não aconteceu.  Parece que estou vendo os falsamente intelectuais  elogiando as entrevistas de abertura e os artigos avançadinhos, quando, na verdade, se deleitavam com as histórias picantes do Fórum e as peladonas em geral, com direito à exibição daquela página central dupla.

De minha parte não é a primeira vez que falo da revista aqui neste descaminho do ViaDutra. Da outra vez (Musas na Playboy, em 26/05/2012) lembrei que houve um tempo em a informação de quem seria a garota da capa era tão esperada como o anúncio dos planos econômicos para conter  inflação. Talvez houvesse relação de causa e efeito entre as duas situações, uma impactando fortemente nosso bolso e a outra compensando com verdadeiros colírios para os nossos olhos e provocações para nossa libido.

Agora,  a notícia da mudança na publicação provocou uma onda saudosista e só eu,  um respeitável avô,  já recebi  duas remessas digitais de fotos de ensaios pra lá de sensuais, verdadeiras relíquias do acervo da revista. No primeiro, um lote bem mais retrô, com Cláudia Raia, Sônia Braga, Sandra Bréa, Vera Fischer, Monique Evans, a eterna Luiza Brunet, a Xuxa da era Pelé e Cláudia Ohana com aquela antológica floresta amazônica de pelos pubianos.  O outro lote, mais contemporâneo, contempla caras, bocas e poses de um time de respeito, entre outras,  Grazi Massafera, Cléo Pires, uma tal de Amanda ex BBB, Aline Prado, Carol Dias e Sabrina Sato que não, não tem aquilo atravessado, diferente do que imaginávamos quando começamos a nos interessar pelo tema e discutíamos sobre o formato das japas.  Isso em passado distante.

Com essas máquinas, antigas e  modernas, com ou sem photoshop, a Playboy deixou de ser exclusividade das paredes de borracharia e ganhou espaço nas boas casas de família. Saudosista que sou, vou deplorar a mudança mais pela estética do que pelo erotismo, apelando para o mantra que o nosso patrono Evaldo Gonçalves usaria;

- Se é assim, que lamentável  início de milênio!        


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O Dindo

Criança não mente, por isso é um perigo.  Foi a conclusão a que chegou meu amigo Gunther ao saber do ocorrido com um parceiro da chamada Grande Agronomia.  O sujeito resolveu levar o filho, um piá de seus 7, 8 anos , na festa de fim de ano da firma.  O pai, exibido como só ele, apresentava o guri para todo mundo, especialmente às chefias, certo de que estava agradando.  Até que, reunido com o grupo dos companheiros mais chegados, decidiu questionar o menino e por a prova o quanto constituíam um lar feliz.

- Conta ai pro pessoal com quem é que a mamãe fica quando o papai não está em casa, - perguntou, levantando a bola para que o filho respondesse algo do tipo “é comigo, papai”.

Mas o guri parece que não entendeu a tabelinha do pai e naquela ingenuidade da infância saiu se com esta resposta:

- Quando o papai não está em casa, a mamãe fica com o Dindo. Mas daí  eu vejo pouco porque daí  eles ficam todo o tempo no quarto e daí eles me mandam jogar bola com os amiguimhos..

Não precisa dizer que acabou ali a festa para os dois. Gunther conta  também que não  foi preciso uma comissão de inquérito para a senhora confessar que, sim,  se refestelava frequentemente  com o Dindo, um simpático e espadaúdo vizinho,  escolhido a dedo  pelo próprio pai, com a aprovação entusiasmada da mãe,  para a nobre missão de apadrinhar o menino.

Vida que segue, o Dindo mudou de cidade, o casal se recompôs, a traição foi perdoada, mas como nas antigas histórias em que o sofá levava as culpas e era retirado da sala, o menino nunca mais frequentou  as mesmas festas do pai, além de receber uma missão especial:

- Meu filho, fica de olho na rapaziada da vizinhança.

Ao saber do desfecho, Gunther não se conteve:


- Certas coisas só acontecem na Grande Agronomia. Que sina!

sábado, 3 de outubro de 2015

As regras do jogo - parte II

                                          Autentico campinho varzeano

Típico alemão de Santa Cruz do Sul, como o próprio nome indica, Horst Knak foi colega na Zero Hora na década de 80 do século passado. Era repórter da editoria de Campo & Lavoura mas, gremistão,  gostava mesmo era de frequentar a editoria de Esportes onde eu labutava e onde ele era vitima frequente do bullyng que reservávamos aos intrusos do nosso espaço.

Agora tenho cruzado eventualmente com o Horst, especialmente em eventos ligados  à produção  primária ( ele edita o jornal da Associação Brasileira de Angus), além dos encontros da Confraria do Cachorro Quente e da “amizade” que mantemos no Facebook.  E foi no Face, na esteira da crônica Sessão Nostalgia : As Regras do Jogo publicada no ViaDutra (http://viadutras.blogspot.com.br/2015/09/sessao-nostalgia-as-regras-do-jogo.html) que o Horst postou sua experiência com as  peladas em campinhos de terrenos baldio. Vale reproduzir:

Em tempos já imemoriais, lá entre os 7 e os 17 anos, jogamos muita bola nos potreiros perto de casa. O arroio demarcava um dos lados e a cerca de arame farpado o outro. Ninhos de cupins ou bostas secas de vacas leiteiras eram usadas para formar as goleiras. Pronto, o campinho estava pronto. Isto era na periferia da minha cidade natal, Santa Cruz do Sul, meio termo entre a zona urbana e rural. As regras que valiam eram parecidas com estas publicadas pelo eminente jornalista e blogueiro Flávio Dutra, recuperadas por um colega de peladas. Anos depois, em tempos de blocos de carnaval, jogamos em um campo da Escola Rural, que carinhosamente apelidamos de "Estádio Bostão", ou "Boston Stadium", para os mais colonizados, rsrs. Isto porque, apesar das firmes goleiras e vistosas redes do campo, as vacas da Escola Rural moravam e faziam suas necessidades por ali, enquanto não eram tratadas e ordenhadas. O desafio era fazer uma jogada em velocidade pela ponta ou dar um carrinho sem lambuzar-se numa bosta ainda molhadas, hahahaha... Em todo caso, havia um arroio e uma torneira ao lado para lavar a sujeira... Não é mesmo, Ricardo Capaverde, Regis Capaverde,Flavio MullerEdison EckertPaulo Luiz KonzenRolf KnakMarcos Edmundo Baumhardt, Bruno Wagner Goghost Ridergo), Percio (Marcia Machado) e muitos outros da turma do futebol do sábado à tarde. Que, invariavelmente, terminava numa cervejada!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Stenio e Marilene & Lennon e Yoko

O mundo caindo e a nudez do Stenio Garcia e da mulher viraram a polemica da hora nas redes sociais, nos portais de informação e mesmo em veículos da chamada imprensa tradicional.  É recorrente relatos assim, como se a imprensa e o público – que é conivente com essa prática porque consome tais besteiras  – precisassem de uma derivação no viés do entretenimento para suportar a carga pesada (sem trocadilho com o seriado protagonizado por Stenio e Antônio Fagundes) , das notícias do mundo da política, da economia, do dia a dia de violência. Os defensores da teoria da conspiração afirmam que se trata de uma manobra para desviar a atenção da Lava Jato. Não é pra tanto.

A verdade é que o noticiário internacional também está carregado de nuvens sombrias, com seus relatos das  infâmias do Estado Islâmico e de outros grupelhos terroristas, a grande marcha dos refugiados,  as provocações entre Estados Unidos e Rússia resgatando a guerra fria e, ainda, as oscilações das bolsas de valores.   Nesse contexto, só Francisco salva, mas vamos combinar que não fica bem envolver o carismático Papa com a nudez do Stenio.

A propósito, o casal de famosos precisa chegar a um consenso sobre que atitude adotar, pois enquanto o ator leva o assunto numa boa, a mulher Marilene Saade quer ir as últimas consequências para descobrir quem vazou as fotos dos dois em nu frontal. O desacordo ajuda a deitar por terra o argumento de que o assunto ganha destaque porque é preciso preservar a  privacidade das pessoas. Além disso, quem viu as fotos revela que Stenio surpreende negativamente em termos de equipamentos, se bem que deve ter outras qualidades porque vive há mais de seis anos com a atual companheira, 36 anos mais jovem – ele tem 83 anos e ela 47.

Na real, estão tão banalizados esses vazamentos que, às vezes, desconfio que vítimas e algozes são a mesma pessoa e que o berro de indignação faz parte do teatro, Certamente não foi o caso de Carolina Dieckmann, envolvida em um vazamento de fotos, que esperneou o que deu e acabou ganhando lei promulgada em 2012 com seu nome, tipificando os chamados delitos ou crimes informáticos.

Caso emblemático mesmo foi o da  nudez de John Lennon e Yoko Ono em 1968 para ilustrar a capa do álbum Unfinished Music Nº:Two Virgins, como bem lembrou meu amigo Caco Belmonte numa postagem que fiz sobre o assunto no Facebook. O que o Caco não disse foi que as fotos de costas mostraram uma realidade cruel : a derrière dela era mais feia do que a dele, bem mais feia. Vai no Google e confere, porque eu nao tenho coragem de reproduzir. 



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Papos de aposentados

Encontro no supermercado meu velho e querido amigo Belmonte, o João Carlos. Trabalhamos juntos por quase 20 anos nas rádios Guaíba e Gaúcha entre as décadas de 70 e 90 do século passado. Faz tempo isso e há tempos não nos cruzávamos.

Belmonte foi, sem dúvida, o melhor e mais criativo repórter esportivo de rádio que já vi atuando.  Às vezes era chamado a narrar, mas com certeza essa não era a praia dele. Nos últimos anos migrou para o comentário e foi nessa função que se aposentou, depois de fazer parte da geração de ouro do radio esportivo gaúcho,  a geração do Ranzolin, do Lauro, do Ruy, do Lasier, do Milton, do Edegar, entre outros.  Em boa forma aos 72 anos, agora é mais conhecido como o pai do Beto (Roberto),  respeitado ambientalista e professor universitário e do Caco (Ricardo), também jornalista e escritor de texto irretocável.

Na nossa conversa,  diferente do que possam estar imaginando, não ficamos rememorando o passado – e teríamos tantas coisas para lembrar e celebrar! – mas preferimos colocar o papo em dia, inclusive cometemos algumas maledicências,  como é de praxe em encontro de jornalistas.  Belmonte e eu temos, entre outras afinidades, o fato de sermos aposentados, mas com uma cruel diferença contra mim, que continuo na ativa, ralando para garantir o rancho da semana e o plano de saúde indispensável nesta quadra da vida, enquanto ele goza as delicias da ociosidade e gasta parcimoniosamente a grana que amealhou nos tempos da fama.  Agora até virou consultor, demandado que foi por um ex-companheiro em vias de se aposentar.

- Ele queria saber como eu ocupava meu dia, porque estava preocupado em não ter oque fazer e se entediar, explicou.

Aí, com entusiasmo e num fôlego só, relatou o seu cotidiano, que ele considera movimentado.

- Acordo cedo, desço para apanhar o jornal, volto para fazer o café e preparar as frutinhas para a Liginha (dona Lígia, companheira de anos),  tomamos o café juntos, leio as noticias esportivas, vou ao supermercado,  saio para uma caminhada de uma hora pelo bairro (Menino Deus) ou para a ginástica no CETE (Centro Estadual de Treinamento Esportivo), volto, tomo o banho,  e fico esperando o almoço. Depois faço uma breve sesta, termino de ler o jornal, jogo uma canastra, vejo as novelas e os noticiários até  chegar a hora de nanar  e lá se vai mais um dia. Isso quando não dou uma escapada à praia.

E completou: “ Nunca estive tão ocupado como agora.  Antes era um trabalho só, na rádio, agora são múltiplas atividades no dia a dia.”

Tem sua lógica na ocupação do tempo a rotina diária montada pelo Belmonte, que revelou, ainda,  que só se desloca de ônibus na cidade, provavelmente para economizar combustível e fazer uso efetivo da isenção de tarifa concedida aos idosos.  Evito, entretanto, opinar a respeito.  Na despedida, combinamos de nos reencontrar no lançamento do livro do Lauro Quadros (Olha Gente! no dia 5, na Livraria Cultura) e até pensei que ele reclamaria do preço da obra, mas me enganei.  Vai ver que recebeu uma cortesia...

O mais incrível é que no encontro em nenhum momento se falou em doença e remédios, temas recorrentes entre veteranos. Em seguida chegou o João Padeiro, outro personagem do Menino Deus, que só falou em doenças, mas aí já é outra história.

domingo, 27 de setembro de 2015

Sessão nostalgia: As Regras do Jogo

O título não tem a ver com a nova novela da Globo, mas tudo a ver com um mergulho na infância lá no bairro Petrópolis , entre as décadas de 50 e 60 do século passado.  Na confluência das  ruas Montenegro e Bagé existia o que chamávamos de terreno baldio, uma nesga de terra que lembrava vagamente um triângulo escaleno, se lembro bem as aulas de trigonometria, ou seja com todos os lados desiguais.  O terreno tinha ainda um pequeno declive dos fundos em direção às ruas. Era o Triangulo,um campinho de futebol.

Não havia marcação no campinho, as goleiras eram demarcadas com tijolos ou tocos de madeira e a bola de borracha circulava tanto pelo areão como pelo lado de grama irregular e repleto de guanxumas    Mesmo assim o Triangulo era a nossa grande arena esportiva, o  Maracanã  de um bando de garotos  de 10, 12 anos, por aí, que morava nas vizinhanças.  Ali éramos Messi e Neymar, Luan e Valdivia, ou para ser fiél àquele período, éramos Pelés, Garrinchas, Vavas, Niltons Santos, os campeões mundiais que tanto nos orgulhavam. 

Pelo que sei nenhum de nós virou craque, mas ficou uma lembrança gostosa que não se apaga.  Uma lembrança que foi avivada por um parceiro de então, o Romano Bottin, hoje um bem sucedido engenheiro e empreendedor que, juntamente com o  irmão Sérgio (os filhos do seu Bottini,dono do armazém de secos e molhados na João Abott com Carazinho)  dava suas bicancas no Triangulo. Pois o Romano resgatou no Facebook, de autor desconhecido, As Regras do Campinho de Futebol, que tomo a liberdade de reproduzir como um tributo a todos os que, nos triângulos da vida,  se sonharam craques, e desfrutavam de uma felicidade conquistada com tão pouco - um terreno baldio, uma bola de borracha e a energia inesgotável dos meninos sonhadores.

As Regras do Campinho de Futebol:

(1)Os dois melhores não podem estar no mesmo lado. Logo, eles tiram par-impar e escolhem os times. 
(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.
(3) Um time joga sem camisa. 
(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de Catar. 
(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um cata até sofrer um gol. 
(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só pra tentar pegar a cobrança.
(7) Os piores de cada lado ficam na zaga. 
(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador. 
(9) Não tem juiz. 
(10) As faltas são marcadas no grito: se vc foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirás a falta.
(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite "nossa" e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica a "escanteio").
(12) Lesões como destroncar o dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.
(13) Quem chuta a bola pra longe tem que buscar.
(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, no tapa.
(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa. 
(16) Mesmo que esteja 15 x 0, a partida acaba com "quem faz, ganha".



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Fora do mundo

Acreditem, jamais assisti ao Pânico na TV nem ao CQC.  Faço cara de paisagem cada vez que alguém me fala sobre algo que considera interessante desses  programas. Também jamais tinha assistido ao  Studio Pampa, que reúne um bando de loiras sob o comando da Cris Barth,  diversão garantida a partir da meia noite,  asseguram os cultuadores do programa. Dia desses, zapeando os canais, acabei deparando com a atração que de tão trash virou cult e aí entendi quem não perde as  edições do Studio Pampa.

Não me tomem por mal humorado ou de má vontade com as produções locais. E também não tenho gostos televisivos tão refinados. Só fiquei  mais exigente depois que inventaram o controle remoto e a TV por assinatura, que oferecem centenas de novas e boas atrações na palma da mão.

Não vi o show do Paul McCartney  nem o recente  do  Queen do B e nenhum outro com  roqueiros enrugados. Não perco, porém, as boas atrações do Porto Alegre em Cena e era assíduo do Festival de Inverno, que deixou de ser realizado. Fui à inauguração da Arena  e passei  tanto trabalho que não voltei mais. O novo Beira-Rio me acolheu em dois jogos da Copa e agora só passo ao largo, nas idas e vindas de casa ao Centro.  Estádio de futebol é sinônimo de muita muvuca pro meu gosto sessentão.

Em outras frentes de preferencia dos portalegrenses,  dificilmente serei visto no Bric da Redenção aos domingos,  muito menos portando equipamento de chimarrão.  Aliás, nem sou aficionado do amargo e também não me convidem para lanches no Mc Donald e outros estabelecimentos de fast  food e vale o mesmo para qualquer lugar que ofereça no cardápio suhsis, sashimis, temakis  e similares no cardápio.  Outro alias:  daqui a pouco teremos mais temakerias do que pizzarias,  farmácias e academias em Porto Alegre.  Em termos gastronômicos sou mais o velho e bom  churrasco,  onde não falte um costela gorda.    

Suponho que essas preferencias  ficam  por conta da ânsia  de Porto Alegre de virar metrópole. Aí fica replicando modismos, o quê, na verdade, nada mais é do que uma expressão do seu provincianismo. 


Ok, podem me chamar de fora do mundo, ermitão, rabugento. Só não me vejo obrigado a aderir a tais modismos ou ir atrás das preferencias dos outros  ou, ainda,  das causas de fácil apelo, travestidas de manifestações cidadãs.   Efeito boiada não é comigo,

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Ofertas tentadoras

Sei lá, acho que é por causa da idade, tenho sido fustigado com mensagens oferecendo incríveis soluções medicinais para me tornar um leão na cama. A primeira questão que me ocorre é como descobrem que sou um potencial necessitado de aditivos. Será que tem algum dedo duro listando os incautos às empresas que oferecem tais milagres?

A mais recente oferta é um tal de MacaPower 500, que se apresenta como “o mais poderoso afrodisíaco para homens e mulheres. Solução imediata”.  Segundo o anuncio, trata-se de um extrato altamente concentrado da s mais altas planícies  dos Andes peruanos. Por isso é conhecido como o Viagra dos Andes,  com credibilidade sustentada através de uma reportagem de 2013 do Globo Repórter. E eu que pensava que o Globo Repórter só se ocupasse de pautas de alimentação saudável e das viagens da Glória Maria.

Pois com o MacaPower  constato agora que a Globo quer interferir até mesmo no desempenho sexual dos brasileiros  e já imagino os detratores da rede televisiva exibindo cartazes do tipo “Abaixo a Rede Globo, o Maca é nosso”, se bem que usar o termo abaixo neste caso não cai bem, com o perdão pela bobagem.

Já o Power Potence Mais garante ao  usuário, homem ou mulher, o combate à falta de libido, impotência, prazer precoce e baixo desempenho na cama. O apelo é irresistível: "Obtenha fama de bom de cama". Tenho recebido outras ofertas, todas nessa linha apelativa, mas com diferentes remetentes, nomes bem comuns para simular autenticidade. As chamadas são do tipo: "Acabe com a Impotência definitivamente", ou "Sua noite com mais prazer na sua cama", ou ainda, "Disposição,vitalidade e sua parceira satisfeita". Suspeito que no fundo seja tudo a mesma coisa para enganar os incautos.

A Onlina Phamarcy é mais conservadora  e sem muita apelação, a não ser o preço, oferece Viagra e Cialis a convidativos 0,73 e 1,12  dólares. Olha ai, sugiro aos interessados que comprem antes que o dólar suba ainda mais. Utilidade pública: o endereço é flower@emal.com.


Como estou fora do mercado  penso em oferecer os produtos a alguns amigos que têm sido muito demandados e talvez precisem de uma forcinha para o caso de novas exigências.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sete de Setembro moderno

                              "O Brado do Ipiranga", de Pedro Américo 
O Sete de Setembro dos tempos modernos ao invés de resgatar nossos melhores sentimentos de amor à pátria tem se prestado para protestos contra governos e revisão de fatos históricos. O som dos dobrados das bandas militares são  abafados pelas vaias às autoridades visadas pelos manifestantes.  Enquanto em Porto Alegre a Brigada Militar teve modesta participação no desfile devido ao parcelamento dos salários, em Brasília precisaram erguer uma cerca de metal para proteger o palanque oficial onde estava a presidente Dilma. Só que tiro saiu pela culatra porque o tal tapume foi alvo de colheraços e pichações dos manifestantes, potencializando os protestos.

Lá como aqui as principais lideranças estão em xeque, assim como o papel desempenhado por Dom Pedro I na Independência do Brasil e também a forma como se deram os fatos em 1822.  Começa que até a data comemorativa vem gerando dúvidas – seria 7 de setembro ou 12 de outubro – e o próprio grito do Ipiranga não seria Independência ou Morte mas Independência ou Sorte.  Pior ainda, toda aquela pompa retratada no quadro "O Brado do Ipiranga" de Pedro Américo, que povoou nosso imaginário,  não correspondeu à realidade.  Dom Pedro estaria vestido como um reles tropeiro,  montando uma mula e padecendo de uma disenteria , a popular dor de barriga.

É muita desqualificação para o meu gosto, eu que desde os tempos escolares ansiava pela Semana da Pátria e o Desfile da Mocidade que reunia os colégios públicos e privados marchando na avenida  e promovia uma verdadeira competição entre as bandas marciais das principais escolas. E havia ainda o feriado, que todo o estudante curte mais que gente grande.

Hoje os desfiles escolares perderam em glamour e participação, resistindo apenas pela dedicação dos professores, sendo que este ano foram ainda mais acanhados e menos participativos em função dos protestos do magistério público. E assim a semana da pátria perde cada vez mais seu significado. Parece mesmo que cultuar os símbolos pátrios é vergonhoso e que patriotismo se confunde com militarismo e autoritarismo, legado talvez do longo período dos militares no poder.


Nós gaúchos, pelo menos, temos uma boa desculpa para o desinteresse.  Estamos guardando nosso fervor cívico para o 20 de setembro, a data Farroupilha,  e aí se sobressai uma nova controvérsia:  celebramos uma revolução em que fomos derrotados, enquanto não damos maior ênfase aos vitoriosos movimentos de 1930 com Getúlio Vargas e à Legalidade liderada por Leonel Brizola.  Vá entender esses gaúchos. 

domingo, 6 de setembro de 2015

Os irmãos da Rosa

A propósito do Dia do Irmão, comemorado em 5 de setembro, com um dia de atraso resgato um texto de maio de 2010 que exalta - não me ocorreu nenhum verbo melhor - nossa irmã mais famosa, a Rosa Maria. O Luiz, o Telmo, o Tadeu e a Cristina vão entender a homenagem e assinariam embaixo com certeza.


Luiz Vicente, este que vos fala, e Rosinha, junto a placa que tenta mascarar nossa origem açoriana.
  
Já fomos nove e hoje somos seis, os irmãos Vieira Dutra, filhos da dona Télia e do coronel Dastro. Herdamos da saudosa dona Télia o espírito irreverente, debochado, expansivo nos gestos e nas palavras, quase inconveniente, resultado da união entre o meu avô alagoano e minha avó calabresa. O coronel Dastro, que está completando 95 anos, era justamente o oposto, oriundo de uma família de gente muito séria, ensimesmada, tímida, de humor contido, talvez por causa das raízes insulares dos Açores. Deu no que deu: somos uma mistureba étnica e de genes antagônicos que resultaram numa espécie rústica, de comportamento que oscila entre o extremamente efusivo à rabugice no limite do tolerável, do afável às posições inflexíveis. Apesar dessa dissociação, ninguém se desgarrou e, menos mal, hoje as festas de família são saudáveis e ruidosas confraternizações, de muita troça e pouco ranço.

Essa fauna familiar abriga uma pessoa muito especial, pelo menos para mim que tenho grandes afinidades com ela, até porque venho logo após na escadinha de filhos e a nossa diferença de idade é de um ano e pouco. Tanto assim que temos uma foto da primeira infância em que aparecemos os dois de cabelo comprido até os ombros– a mesma cara, o mesmo jeito. (O meu cabelo comprido seria efeito de uma promessa feita por minha mãe ou minha avó e resistiu até o dia em que o avô nordestino ordenou que fosse cortado, temeroso que eu virasse “um maricas”. A foto sempre foi motivo de gozação dos outros irmãos, por isso eu abominava aquele instantâneo).

A Rosa está mais para dona Télia do que para o coronel Dastro. Solteira por opção, ela sempre levou a vida numa boa e colecionou uma legião de amigos e admiradores. Formada no Curso Normal, nunca exerceu o magistério, mas dá lições de vida com seu bom humor, alto astral e generosidade. Os sobrinhos são seus fãs, apesar de consideram-na uma tratante por causa de rodadas de pizzas prometidas e nunca cumpridas. Desde a infância foi uma moleca, de pregar peças nos outros, ao mesmo tempo em que está sempre disponível para proteger os mais frágeis e ajudar a quem precisa. Era uma esportista nata, jogando vôlei e futebol de igual para igual com os meninos, mas depois fixou-se como goleira. Foi uma das pioneiras na disseminação do futebol feminino no Estado e acabou virando cartola do Internacional, da qual é torcedora fervorosa.

Por um longo tempo, assessorou políticos na Câmara de Vereadores e no executivo, onde colocou sua rede de relacionamentos e capacidade para resolver problemas à serviço dos assessorados. Quando decidiu se aposentar, choveram convites para ela continuar, mas resistiu porque já tinha tomado um fartão do mundo da política. Ainda hoje é lembrada com carinho por onde passou. Apesar de alguns irmãos terem conquistado uma projeção maior na sociedade, a Rosa é a referência da família e é comum ouvirmos nos encontros pela cidade:

- Tu não és irmão da Rosinha?

Sim, somos todos os irmãos da Rosa, cuja fama já ultrapassou fronteiras. O testemunho é do Luiz Vicente, irmão mais velho, que foi abordado por um assessor parlamentar na biblioteca do Congresso, em Brasília, com a pergunta:

- Doutor, o senhor não é irmão da Rosa?
Só o que falta é a Rosa ser convidada para uma cerimônia junto com o Lula e um popular indagar ao companheiro próximo:

- Quem é aquele barbudinho ao lado da Rosa?