segunda-feira, 13 de maio de 2013

A pior profissão do mundo


Não existe pior profissão do que técnico de futebol.  É mais estressante do que controlador de vôo, mais exigente do que operador de bolsa de valores, mais vulnerável  do que policial em ação, mais preocupante do que médico de UTI. Cada um na sua função está sempre se deparando com situações limites e tem que estar preparado para reagir a elas.  O treinador de futebol vive isso a cada jogo, quando sua capacidade é avaliada e julgada, e ainda tem que lidar com o emocional do esporte que sempre se sobressai sobre o racional.

A rotina deste profissional é feita de imposição diária de sua liderança sobre o bando de primas-donas que são os jogadores de futebol, um grupo constituído, na maioria,  de vaidosos, desleixados, todos se achando craques e a prontos para brigar, sem qualquer escrúpulo, por  uma das poucas vagas no time titular.  Ou então acomodados, sem comprometimento, o que também é ruim.

E tem os dirigentes inconfiáveis, fazendo tudo para aparecer, que mais atrapalham do que ajudam, com honrosas exceções que justificam a regra.  E tem a torcida pegando no pé,  xingando de “burro, burro”.  Não dá pra sair a rua depois de derrotas sem ouvir as gracinhas dos torcedores adversários e a cobrança da própria torcida. 

E tem a mídia especializada  para qual nada nunca está bom, se intrometendo na escalação e desqualificando o trabalho. E o que dizer sobre  aquelas perguntas imbecis depois dos jogos?  E tem a perseguição dos árbitros que querem aparecer mais que os outros profissionais.  E tem os tribunais esportivos, um bando de ressentidos que aplica severas punições por qualquer coisinha.  E tem o departamento médico que não recupera o craque e os  preparadores físicos que não colocam os jogadores em condições,  gente inconfiável .  E ter que enfrentar esse ambiente hostil  longe de casa, do apoio da família e dos amigos mais chegados. Que dureza!

Agora me responda: você já viu treinador desempregado por muito tempo, a não ser por vontade própria? E o que dizer dos salários, quase sempre cinco dígitos antes da vírgula? Quero essa dureza pra mim.

domingo, 12 de maio de 2013

A guerra das imaginações e outras obras primas

Alguns livros marcam a vida da gente de forma definitiva. São  aqueles que vale a pena ler de novo e que se levaria para uma ilha deserta junto com seu bem querer, ou que provocaram grande mudanças nas nossas vidas.  Amigos mais intelectualizados adoram citar Guimarães Rosa, Joyce, quanto mais indecifráveis melhor, ou  Borges , que tem meu voto, ou ainda aqueles russos chatos.

Leitor  voraz que já fui sou bem mais modesto na minha seleção,  que começa com a Cartilha Sodré, que me alfabetizou no colégio das freiras em Petrópolis.  A lista se completa com mais  livros que foram marcantes e indicaria sem hesitar.  Fui impactado, por exemplo, por Eu Robo, de Isaac Asimov, que apresentou as Três leis da Robótica, quando o termo ainda era palavrão: 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei.Simples e genial, não?
 
Eu, Robo acabou virando filme, estrelado por Will Smith,  mas pro meu gosto sem o mesmo deslumbramento do livro. Na mesma linha o profético 1984 e seu Grande Irmão, de George Orwell, foi como uma sacudida no guri que o leu cerca de 15 anos antes da data que acabou não se consumando com o previra o autor.
 
Depois, já na faculdade, tive acesso a um dos livros que mais gosto de referir, Macaco Nu, de Desmond Morris, um ensaio antropológico que nos leva a entender um pouco mais sobre o estágio atual da civilização e do comportamento humano. Para esse entendimento, uma frase da obra basta : " (...)apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo Sapiens não deixou de ser um macaco pelado.”

É o macaco pelado em toda a sua magnitude e pequenez que aparece na última obra literária que recomendaria e que me chegou as mãos, anos atrás, pela indicação da amiga Lena Ruduit: A Guerra das Imaginações, de Doc Comparato. A sinopse clássica dá conta de que a obra trata de  “Assasinatos, maldições e prazeres criando a obra de arte mais importante do milênio - essa é em essência a trama inovadora deste livro. Por volta do ano 1500, estranhos e inusitados fatos ligaram uma disputa pelo poder no Vaticano ao descobrimento de uma terra paradisíaca”.

Mas A Guerra das Imaginações é mais do que isso. Comparato parece antecipar os escândalos que agora atormentam a Santa Sé e que teriam provocado a renuncia de Bento XVI.  Com a experiência de autor de telenovelas, ele mistura ações aparentemente desconexas que acabam se juntando para formar um mosaico daqueles anos entre os séculos XV e XVI Isso  revela porque os portugueses aparecem com destaque no livro,  em vários cantos do mundo, não medindo esforços para obter os preciosos mapas que garantiriam uma navegação mais segura. Com os tais mapas, mais o domínio da navegação pelas estrelas e as rápidas caravelas, o pequeno país ibérico conquistou grandes quantidades de terras além mar, incluindo o nosso Brasil – que o livro sugere ser o paraíso na terra pelo menos na compreensão dos navegadores que retornavam do Novo Mundo. Uma leitura fascinante, que recomendo.

Ah, bons tempos em que me dedicava mais à leitura e menos ao Facebook.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre sopas e caldos

Sempre questionadora e eterna aprendiz, a moça ao lado abandona o computador por um momento e pergunta de supetão:

- Vô, qual a diferença entre dar caldo e dar sopa?

Apanhado de surpresa pela indagação fiquei a matutar por alguns instantes e só me ocorreu um subterfúgio, para ganhar tempo:

- Queridinha, veja bem...

Não tenho vocação para Oráculo nem faço as vezes de velho monge a responder ao Gafanhoto como na série Kung Fu, mas logo me dou conta de que não posso me omitir diante da magnitude do questionamento.
- Veja bem, emendo novamente. Olha o teu caso: sem dúvida pertences a categoria das que dão um caldo, diria mais, é uma caldável premium.

Voces não imaginam a faceirice da moça com sua colocação no mais alto do pódium das caldáveis, mesmo assim sua natureza feminina se manifestou de novo e ela insistiu na indagação;
- E as que dão sopa, vô?

Eu estava claramente fugando de uma resposta mais conclusiva, mas diante da insistência fui obrigado a me posicionar.
- Veja bem, quem dá sopa é, digamos, uma periguete, para usar um termo da moda.

O tom da resposta mostrou todo o meu constrangimento para tratar do assunto, eu que elevo o gênero feminino quase à condição de divindade. Agora teria que reafirmar que existem mulheres que dão sopa, são fáceis de encarar e deglutir, se bem que devem ser quentes como toda a sopa que se preze. São mulheres para um momento.As que dão sopa chamam incomodação.
 Já as que dão caldo são mais encorpadas, aguçam nossa imaginação  e aqui o encorpado deve ser entendido como um valor e não como algo físico porque o que distingue mesmo a caldável é a sua condição de desejável, independente da idade e classe social.  São mulheres para se compartilhar uma grande história. As que dão caldo valem a incomodação!

- Mas não existem caldáveis que dão sopa? insiste a moça com suas inconveniências.

- Jamais, mocinha, jamais. Se der sopa, não dá caldo. Caldável é um estágio superior da condição feminina.

Aí achei que estava na hora de encerrar a conversa e me concentrar em concluir a lista das caldáveis porque das sopáveis não quero saber


sábado, 4 de maio de 2013

Curso Daquilo - III



O sentimento é de marido traído. Estava eu a planejar o Curso Daquilo, já detalhado em dois textos anteriores, quando uma boa, mas insensível amiga, me esfrega na cara experiências já em curso e muito bem sucedidas, quase acabando com o sonho de levar conhecimentos imprescindíveis às novas gerações. Como na canção, meu mundo caiu.

Primeiro foi uma matéria do Uol, matreiramente intitulada  Vida sexual não para na velhice, mas é preciso superar obstáculos,  cheia de observações  óbvias e dicas fajutas, mesmo assim com alto índice de leitura.  O link com  sugestões de posições para ele e para ela  chega a ser ridículo  pelas obviedades mostradas,  a não ser que eu e as moças que consultei  estejamos extrapolando nesse quesito.  Mas chegamos a conclusão conjunta que somos normais.

Aí  me mostram os detalhes do curso de Rita Ma Rostirolla, que se apresenta como especialista em sexualidade e que tem arrastado hordas femininas as suas palestras   -   empresárias, médicas, advogadas,  funcionárias públicas, donas de casas ou simplesmente mulheres.  A loirosa Rostirola ainda dá um caldo e o segredo do seu sucesso,  imagino eu, se resume a uma frase que deve pronunciar na abertura dos seus cursos:  “A partir de hoje  nenhuma de vocês será mais a mesma!”  Uau!  Nada como  dar um  gás na autoestima das mulheres.   

Quem teve oportunidade de conferir  o curso da  dona Rostirolla – sem aulas práticas, vamos deixar claro -  garante que o mulherio não tem qualquer constrangimento em  dar entrevistas sobre sua participação, numa espécie de recado a seus parceiros, digamos,  omissos nos deveres e prazeres da cama. 

Não me peçam  mais detalhes dessa concorrente potencial  do futuro Curso Daquilo.  A  proposta está mantida e o nosso diferencial  serão as aulas práticas.  Quem se habilita?


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Curso daquilo - parte II


Provocou enorme repercussão, rebuliço até eu diria, o despretensioso texto aqui publicado dando conta da sugestão de um grupo de moças para que organizássemos um curso “daquilo”, destinado às novas gerações, tão carentes e tão receptivas à novos conhecimentos. Tive o cuidado de acrescentar que se trataria de um curso com viés absolutamente didático. Mas não adiantou a advertência e levaram para o lado da maldade, da sacanagem explícita.

Vocês não imaginam o que apareceu de candidato a professor, é bem verdade que poucos para as aulas teóricas e um montão para as práticas. Meninas faceiras queriam antecipar suas inscrições temerosas de que todas as vagas fossem ocupadas. As mais espevitadas chegavam a alegar: “Tenho direito a vaga, eu sei que dou um caldo”.  Fui assediado por uma gurizada masculina que antes só imaginava interessada em jogos eletrônicos.  Que nada,  querem descobrir todas as formas "daquilo", além da destreza manual que praticam atualmente.

Recebi até pedidos do exterior e estamos pensando num módulo em EAD (Ensino à Distância), mas, por razões óbvias, sem aulas práticas com os e as interessadas. Os mais rodados, de ambos os naipes, exigem um curso de especialização e para isso já se pensa em uma parceria com o pessoal do chamado “cinema adulto” e a importação de modelos ucranianas para as aulas práticas, com direito a aula magna.

Enfim, está tudo por assim dizer em aberto.  Só o que já está definido é que a Tia Carmem será a paraninfa da primeira turma.

sábado, 27 de abril de 2013

Curso Daquilo, ou Kamasutra vira Sessão da Tarde

As moças que me cercam, todas elas graciosas, altivas, impositivas, já sabem que não resisto a uma pilha. Manipuladoras como só elas, vivem a me dar sugestões no mínimo instigantes, mas algumas delas francamente escabrosas, sendo a última a ideia de criar um curso para orientações sobre “aquilo”. O pudor me impede de definir mais claramente o aquilo, mas vocês estão me entendendo.
 
Seria um curso para jovens de todos os matizes e com viés absolutamente didático, ate porque não poderia ser diferente em se tratando de um cidadão com a minha formação  e valores – vamo se respeitar. As moças sugerem, inclusive, as disciplinas que o vô aqui poderia ministrar, entre elas “Meus Fetiches “, módulos I e II, além da inevitável “Como se tornar uma caldável”.


Haverá vagas para interessados em prover conhecimentos nas matérias "Sedução", “Cantadas infalíveis” "Infidelidade sem culpa", "Descarte sem trauma", "Enrolação & Protelação", "Motelaria", "Namoro nas redes" , "Aquilo Tântrico" e o top do curso que são as matérias "Posições", módulos I e II e "Posições exóticas", com aulas práticas opcionais. São só exemplos, a grade de oferta é muito maior. Diante dessa ousada proposta, Kama Sutra virou Sessão da Tarde.

A imaginação das moças não tem limites. Chego a ficar constrangido, o que no meu caso, como diria outra amiga,  não é pouca coisa.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Amanhecer violento, o filme

O cinemão americano às vezes consegue se superar  no seu ardor patriótico.  Não bastassem as produções de guerra  oscarizadas do últimos anos agora tem surgido filminhos classe B de exaltação ao heroísmo do cidadão americano comum. Exemplo é  Amanhecer Violento a que assisti no domingo na falta de outra opção. Até parece voltamos ao tempo da guerra fria em que os inimigos externos são ameaça permanente à paz interna da grande nação do norte.

O argumento beira o ridículo: numa manhã tranquila um grupo de para-quedistas aterrissa numa pacata cidade dos EUA.  Era o início de uma invasão da Coreia do Norte ao território americano, o que gera pânico nos habitantes da cidade. Decididos a defender o local, oito jovens se escondem nas montanhas e, adotando o nome de sua equipe de futebol, The Wolverine, planejam como revidar à invasão das forças militares inimigas. Simples assim. Claro que os Wolverines vencem usando táticas de guerrilha, que os americanos tem enfrentado em suas intervenções em outros países, olha a ironia. No meio das cenas ação, muitos diálogos exaltando os marines americanos que, ao fim e ao cabo, ajudam a resgatar a América para os americanos.
O interessante é que o filme é um remake, com o mesmo nome, produzido em 1984, no auge da guerra fria. No filme original eram as forças da União Soviética e de Cuba que invadiam os Estados Unidos. A refilmagem pelo menos tem um mérito: a atualidade, vide a crise provocada pelo movimentação militar da Coréia do Norte. 

Em 1987, com o mesmo mote inverossímil do primeiro filme, foi rodada a minissérie  Amerika  que conta a história dos EUA dominado pela União Soviética e é um dos raros casos de séries de qualidade e que mostra a história com outra versão como em A Nação do Medo. O elenco era até estrelado: Kris Kristofferson, Mariel Hemingway, Sam Neill, Cindy Pickett e Robert Ulrich, entre outros.  Desse jeito, teremos um filme sobre invasão estrangeira a cada conflito em que os americanos se envolveram:  vem aí as produções com os afegões,  os iraquianos...

Em Amanhecer Violento os russos estão presentes só como consultores dos coreanos do norte, o que revela que os americanos ainda não mantém suas desconfianças em relação ao  pessoal do leste europeu.  Outra manifestação contra inimigos dos americanos, no caso generalizando,  aparece quando os Wolverines  invadem uma loja da rede Subway e um deles começa a arrecadar lanches com todos os tipos de pão...”menos pão árabe”, faz questão de dizer.

Sutilezas assim fazem de Amanhecer Violento uma peça rara em sua ruindade. Nem a Glória Perez conseguiria  igualar.

sábado, 6 de abril de 2013

Midas redivido - parte 3


* Recomenda-se ler as postagens anteriores. E roga-se ajuda para encontrar um final adequado à história. Desde a primeira publicação da série, em janeiro de 2010, o blogueiro não encontrou uma saída decente para  Midas Revidivo. As contribuições podem ser enviadas para flavidutra@hotmail.com ou aqui mesmo, através de um comentário. Antecipam-se agradecimentos.

Eram tantas as pretendentes ao seu toque mágico que ele passou a ser mais seletivo nas escolhas. Já não havia diversidade nas que compartilhavam a sua cama . Ele claramente optou pelas mais jovens e mais exuberantes, deixando de lado as maduronas, sem os mesmos atrativos das garotinhas escolhidas, mas mais generosas nas contrapartidas materiais. A seletividade - e ele só se deu conta mais tarde - trouxe dissabores. As rejeitadas passaram a hostilizá-lo. Na seqüência, começaram a espalhar boatos e maledicências a respeito dele e do seu desempenho sexual.

- Aquilo? Uma decepção: é muito pequeno.
- Dá apenas uminha e já quer dormir.
- Ouvi dizer que agora está pegando rapazes.
- Achei estranho ele estar usando uma calcinha feminina.
- Só sabe fazer “papai e mamãe”.
- Olha, cheguei a ficar com saudado do meu ex.

A confraria das rejeitadas era formado exclusivamente por mulheres com boa quilometragem, experientes nas tramas que só as mulheres sabem urdir, casadas, descasadas e recasadas, enfim, senhoras a que se deve dar crédito e, sobretudo, temer. Ele não fazia ideia da energia negativa gerada pela rejeição e o estrago na sua reputação que isso provocaria. A injusta má fama logo se espalhou, mas ele não estava nem aí porque ainda tinha uma missão a cumprir. Faltava conquistar a recepcionista da empresa que o evitava, mantendo prudente distância física. Era uma morena sem maiores atributos físicos, mas o fato de ela se manter invicta passou a desafiá-lo.

Só que agora ela era um homem determinado e autoconfiante, por isso direcionou seus esforços para vencer a resistência da moça. Até que um dia precisou trabalhar além do horário para compensar as escapadas e...

- Fazendo hora extra?

Quem perguntava era a morena da recepção, livros à mão indicando que estava de saída para a faculdade.

- Não, já estou de saída também.

Saíram juntos do escritório e no elevador os dois tocaram ao mesmo tempo o botão para o térreo. Foi o suficiente para que a recepcionista, a exemplo de suas outras colegas, começasse a despir-se enquanto fazia o mesmo com ele, beijando-o de alto a baixo. Dessa vez ele não reagiu e se entregou a transa com prazer, sem se importar com a câmara espiã que espreitava o casal em êxtase no sobe e desce do elevador. Sempre sonhara em transar no elevador e agora estava realizando o desejo, por isso curtiu cada momento. Quando finalmente decidiram que era hora de chegar ao térreo, o guarda da portaria, mais preocupado em jogar paciência no computador do que vigiar as câmeras de segurança, não prestou maior atenção a eles. Despediu-se da moça e ficou com gostinho de quero mais.

(continua ?)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Midas redivivo - parte 2

*Recomenda-se ler a postagem anterior

A saída do banheiro esbarrou na estagiária do Departamento Jurídico e antes que pedisse desculpas foi arrastado pela moça para a sala do arquivo. O local era pouco freqüentado naquele horário e a moça, uma belezinha de 21 aninhos, não demorou muito para despir-se completamente e avançar sobre ele. Acuado e atônito, ele ficou sem reação e se deixou levar pela voracidade da parceira. Entre arquivos poirentos e pastas de documentos se entregaram a uma transa rápida mas intensa. Ao final, sem dizer uma só palavra, ela recolocou as roupas e, parecendo plenamente saciada, se despediu mandando beijinhos. “Que loucura foi essa”, ele se perguntou, enquanto recolhia suas roupas e tratava de se ajeitar minimamente para enfrentar o dia de trabalho.

O episódio logo se espalhou, não por iniciativa dele, mas porque a moça não resistiu em compartilhar as emoções do encontro transgressor, logo ela sempre tão recatada. O resultado é que ele passou a ser requisitado para experiências semelhantes por todo o naipe de estagiárias, dos Recursos Humanos às da Diretoria, passando pelo Marketing e os Serviços Gerais. A fama de garanhão corria solta e já não havia mais hora nem lugar vedado às peripécias sexuais. Sem dúvida era uma nova fase na vida dele e ele estava gostando, até porque seu horizonte de conquistas começou a se alargar.

As secretárias da Diretoria e de outros setores exigiram espaços na sua agenda e ele os concedeu com prazer. Eram moças e senhoras mais sofisticadas, algumas estonteantes, e dotadas de bons conteúdos, mas quem disse que elas queriam conversa? Tudo o que elas desejavam era desfrutar dos prazeres que ele proporcionava e para isso não poupavam recursos, proporcionando ótimos jantares, locações nos melhores motéis e viagens e maratonas sexuais nos fins de semana. Ele dava um jeito de atender a todas, inclusive de outras empresas, além das vizinhas e eventualmente de alguma desconhecida, já a fama estava cada vez mais disseminada por onde transitava.

Envolvido nesse reino de fantasias e prazer, ele já não questionava mais porque tudo aquilo estava acontecendo. Achava que devia se conceder o máximo desfrute, afinal, o que antes era obsessão e sonho, agora se tornara realidade. A única preocupação era manter distância de insinuações indesejadas, como a do diretor financeiro, gay assumido, que propôs trocar seus favores sexuais por um carro zero quilômetro. Aí já era demais.

Foi surpreendente também a investida da mulher do presidente da empresa, uma matrona plastificada dos seus 60 anos ou mais, que passou a persegui-lo de todas as formas e com todas as propostas. Não foi fácil desvencilhar-se dela, mas aos encantos da filha, uma loira descasada e desinibida beirando os 30, ele não resistiu, até para ter um ponto de apoio familiar na casa do presidente, caso a mãe, despeitada, resolvesse intrigá-lo com o presidente.

(continua)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Midas redivivo -1ª parte



* Publicado originalmente em fevereiro de 2010.

Ele sempre sonhara em ter nos braços e depois na cama as mais belas mulheres. Nas caminhadas pela cidade, já fazia uma seleção das que lhe interessavam e buscava a diversidade na quantidade. Altas, baixas, magras, mais cheinhas, loiras, morenas, mulheres com cabelos chapinhados ou crespos, ninfetas e trintonas. Na dúvida se escalaria para seu elenco fictício, dava preferência para as de bumbum bem torneados.

Cada uma das selecionadas merecia um enredo e aí a imaginação corria solta. Com a loira de jeans apertado e cintura baixa, sonhou com uma transa naquelas praias paradisíacas do Caribe. Com a morena de lábios carnudos, imaginou mil situações à beira de uma piscina e depois o clímax dentro da água. A baixinha seria personagem de grandes contorcionismos no banco de trás do carro. A mais gordinha teria o privilégio de um pernoite no motel, onde ele poderia percorrer com calma toda a geografia daquele corpo mais avantajado. Para a moça com carinha virginal, reservava os jogos eróticos menos convencionais e para aquela outra, com jeito de safadinha, se entregaria sem pudores, deixando que ela comandasse a brincadeira.

Estava virando obsessão e eram recorrentes os sonhos de conquistas que, na real, jamais aconteceram. Ele achava mesmo que tinha pouco a oferecer: não era bonito, para atlético não servia e ainda penava com o salário magro que o impediria de fazer uma presença às deusas escolhidas. Faltava-lhe, sobretudo, coragem para abordá-las porque não saberia o que dizer depois do primeiro contato. Assim, sem outros predicados, ele queria ser ungido com os poderes mágicos, como os do Rei Midas, o personagem da mitologia grega que recebeu do deus Baco o dom de transformar em ouro tudo o que tocava. Mas seria um Midas moderno porque o ouro de seu desejo seriam as belas garotas que faziam parte da sua galeria de conquistas potenciais. Bastaria um toque, um aperto de mão, um beijo mais carinhoso, e elas se prostrariam aos seus pés, prontas para se transformarem em escravas sexuais, ávidas para satisfazer todos os seus desejos e fantasias, incondicionalmente suas, e sem muito dispêndio de energia na conquista.

No verão, na véspera do seu aniversário, ele passou a noite sonhando que seu desejo se tornara realidade. Foi um sonho contínuo, onde desfilaram todas as mulheres dos seus desejos e mais algumas que o inconsciente ofereceu – celebridades, amiguinhas de adolescência, primas interessantes, atrizes pornôs e até representantes da realeza européia. Acordou banhado em suor e exausto, como se tivesse compartilhado a cama com todas elas, uma de cada vez, é claro. Foi um prazeroso, mas cansativo presente de aniversário, pensou. E ainda havia aquela estranha criatura interferindo no sonho, que se apresentou como Eros e que se vangloriava, porque fora deus na antiguidade, de poder mudar a vida dele para melhor.

O sonho fez dele um homem perturbado a caminho do trabalho. Ele queria entender o significado das imagens que povoaram seu sono e nas divagações de uma manhã num ônibus lotado nem percebeu que sua vizinha de banco passou a pressionar suas coxas e se insinuar por olhares e mais movimentos corporais invasivos do seu espaço. Quando percebeu a movimentação da moça, diferente do usual, ficou constrangido e procurou se afastar. Mas a moça, bonitinha nos seus presumíveis 25 anos, insistia em se aproximar mais e mais e ele começou a ficar preocupado. Temia ser acusado de assédio, logo ele que era a timidez em pessoa. E a moça se achegava cada vez mais e ele estava quase fora do banco quando decidiu descer para evitar maiores problemas. Ao levantar, a vizinha de banco veio atrás e desceu junto do coletivo. Agora ele já estava assustado, certo de que estava sendo vítima de um assalto, na pior das hipóteses, ou de uma pegadinha dessas que ridicularizam as pessoas na tv, na menos pior das hipóteses. A moça veio decidida ao encontro dele no ponto de ônibus, mas ele saiu em disparada e entrou no primeiro táxi que encontrou.

Chegou esbaforido ao escritório e foi direto ao banheiro para molhar o rosto e enxugar o suor. O que viu no espelho foi um homem a beira de um ataque de nervos e precisou de alguns minutos para se recompor.

(continua)