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sábado, 15 de maio de 2010

O Circo de Petrópolis: o dia em que o Tupy humilhou o Inter



Em 29/10/66, naPraça Tamandaré, mais uma vitória do Tupi sobre o Ararigbóia - 1 x 0. O glorioso time do Tupy: de pé: Fininho, Renato (“cartolas”), Oscar, Flávio, Felipe, Piero, China, Luciano (técnico);Agachados: Geada, Calão, Julinho (mascote), Zé do Burro, Alfredinho, Beto. Detalhe: o time formou com apenas 10 jogadores !?

Já contei aqui alguns episódios esportivos vividos pela turma de Petrópolis na adolescência. Sábados à tarde ou domingos pela manhã e à tarde, ou ainda nos três horários em seqüência porque éramos imortais à época, dedicávamos ao futebol pelo Tupy ou pelo Bagé. A várzea de então era um manancial de times, cada bairro tinha cinco ou seis, rivalizando entre si.

Nosso campo era a praça Tamandaré, entre as ruas Caçapava e a Taquara. O principal rival do Tupy era o pessoal do Ararigbóia, que ficava do outro lado da Protásio Alves e tinha a liderança do Cláudio Furtado, de tradicional família de políticos e gente da comunicação. Pelo Bagé, de azul e branco, a rivalidade era contra o Concórdia, que tinha vermelho na camiseta (algo a ver com a rivalidade grenal?) e que disputava seus jogos num campo após o valão da rua Lavras, onde hoje é a avenida Nilópolis.

Já o pessoal do Ararigbóia era constituído de uma gurizada de boa formação, educada, “bundinhas” como nós desdenhávamos, em contraste com a turma da Tamandaré, um bando de briguentos e arruaceiros, no limite da marginalidade, com exceções, entre as quais me incluo. Jogo entre os times das duas praças era um clássico, cheio de provocações, lances ríspidos, torcidas incentivando a violência e muito trabalho para o coitado do sujeito que se aventurasse a apitar aquela verdadeira guerra. Entretanto, sobrevivemos todos, apesar de alguns jogos terem descambado para a pancadaria, dentro e fora do campo, durante e depois dos jogos.

Pelo campeonato municipal infantil, promovido pela prefeitura, com o Tupy ou representando a Tamandaré, jogávamos em outras praças, diante de adversários bem mais hostis que o Ararigbóia. Ou mais qualificados, como o time do Internacional, treinado pelo grande descobridor de talentos Jofre Funchal. Um dos enfrentamentos ocorreu em novembro de 1967 no campo do Parque 1º de Maio, no IAPI. Foi um jogo duríssimo, que terminou empatado em 1 x 1 no tempo normal, com vitória colorada nos pênaltis, por 5 x 4.

A partida valia uma vaga para a fase seguinte e o Tupy acabou desclassificado. Mas empatar contra o Inter era uma façanha que mereceu muitas comemorações da grande e ruidosa torcida que levamos ao IAPI.

Na época a gurizada do Tupy fazia uma coleta entre todos os simpatizantes e alugávamos um microônibus da Transportes Sentinela para conduzir a delegação e parte da torcida, aí incluída uma banda e seus instrumentos de percussão. E assim chegávamos cheios de bossa, altivos e motivados, nos campos adversários, diferente de tempos atrás quando os deslocamentos eram feitos num caminhão de transporte de adubos (relato já contado aqui).

Pois ocorre que após o embate contra o Inter, de volta para Petrópolis, encontramos seu Jofre, humildemente cuidando do saco do uniforme, e mais alguns jogadores colorados à espera do ônibus numa parada do IAPI.

- Para, para, para o ônibus que nós vamos dar uma carona para esses maloqueiros do Inter, alguém gritou.

O microônibus já estava lotado de jogadores e torcedores, a batucada e as bebidas corriam soltas, mesmo assim abrimos espaço para os caronas, que entraram sestrosos. Era a hora da desforra. Logo começaram as provocações:

- Agora vocês vão levar um pau, ouviu-se lá do fundo.
- Vocês não vão sair vivos desta, ameaçou outro.
- Ganharam no jogo, mas vão perder na briga, prometeu mais alguém.

Seu Jofre sorria amarelo e os guris colorados arregalavam os olhos, assustados, cada vez que um dos nossos gritava alguma coisa ou ameaçava partir para a agressão. Na verdade, tudo não passou de uma brincadeira agressiva, de muitas ameaças e nenhuma ação. E a delegação colorada foi levada até seu destino sem maiores percalços. Estávamos por demais eufóricos com o resultado para provocar confusões. A carona, com toques de humilhação ao grande Inter, era a melhor revanche para os brancaleones de Petrópolis.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O circo de Petrópolis: vaias no Olímpico - parte 1

(Era tanta palhaçada que para virar circo só faltava a lona)

Nos anos 60 havia campeonatos de futebol varzeano para todos os gostos e todas as idades. A Prefeitura promovia o interpraças que reunia equipes representando cada uma das principais praças com campos de futebol. Era competição para a garotada até 15 ou 16 anos. E havia ainda os campeonatos promovidos por empresas, como a Copa Presidente, patrocinada pelos cigarros com este nome, que seria a Copa Paquetá de hoje. Era uma maratona de jogos, tipo mata-mata que empolgava toda a várzea. E havia ainda os campeonatos do Departamento Autônomo Amador da Capital, ligado a Federação, que congregava os diretórios das regiões da cidade.

Envergando a gloriosa jaqueta azul e branca do Grêmio Esportivo Bagé, disputávamos o diretório da Zona Leste, contra times como o Clarão da Lua, o preto e branco do Mont Serrat; o Concórdia, vermelho, preto e branco e nosso principal rival que disputava seus jogos no Valão da Várzea; o Universal, time de carroceiros do Jardim Botânico; o Bonsucesso, da Bom Jesus; o Vila América, lá do Mato Sampaio; o Vila Federal, que era o bicho papão, e outros menos votados, como o Rajados, que conseguia ser pior que o nosso Bagé. Minha qualificação não ia além do time de aspirantes e ainda assim era reserva.

No interpraças representávamos a Praça Tamandaré, ali entre a Caçapava e a Taquara, em Petrópolis. O campeonato era aberto para outras equipes e vai merecer que, em breve, recordemos algumas histórias. Grêmio e Inter formavam times B de infantis, infanto e juvenis para disputar esses campeonatos. O Inter, ainda na era dos Eucaliptos, era de uma pobreza franciscana. O Rolinho colorado, como era conhecido, tinha a batuta do seu Jofre Funchal, grande descobrir de talentos, vide Falcão. O treinador do Grêmio era o seu Álvaro, metido a brabo, pedreiro nas horas vagas e apelidado cruelmente de Pneu Furado porque coxeava de uma das pernas.

Certa vez seu Álvaro concedeu a honra ao aguerrido Grêmio Esportivo Tupy de disputar uma pré-preliminar no estádio Olímpico em um jogo do campeonato nacional de então, o Roberto Gomes Pedrosa ( Robertão). O jogo era Grêmio x Palmeiras. A data: 19 de março de 1967. A pré-preliminar começava ao meio dia, quando os primeiros torcedores chegavam ao estádio, mas para nós do Tupy era decisão de Copa do Mundo.O Olímpico era o grande estádio da cidade naqueles anos 60 (o Beira-Rio foi inaugurado em 69) e o adversário seria os infantos do Grêmio, algo como sub 17 de hoje. Imaginem o que isso significava de emoção para a gurizada de Petrópolis.

(continua)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Circo de Petrópolis: Um Jogo Memorável

"Era tanta palhaçada que para virar circo só faltava a lona"

A infância e a juventude são tempos de lembranças, melhores no primeiro caso, nem tanto no segundo. Dos tempos da juventude, guardo com carinho as peladas nas praças Tamandaré e Ararigbóia, quando formava uma dupla de zaga com meu irmão Tadeu. Era uma dupla à antiga, um na caça e outro na espera. Eu, mais velho, porém mais baixo e mais limitado tecnicamente, era o zagueiro da espera. O Tadeu, com mais imposição física, saia à caça e era implacável. E assim conquistamos uma relativa fama na várzes petropolitana como os irmãos Diabo. No meu caso, a designação era totalmente injusta, pois em comparação ao Tadeu, era uma moça para jogar. Mas ficou a fama e ainda hoje encontro companheiros daquele período que me tratam por Diabo, eles que em algum confronto foram vítimas das botinadas mais de um do que de outro.

Convém esclarecer que, afora a vitalidade, éramos não mais do que esforçados boleiros do Tupy ( com y para ficar charmoso) e dos times que representavam as praças municipais nos aguerridos campeonatos promovidos pela prefeitura. Certa vez enfrentamos o Rolinho do Internacional, espécie de aspirantes do time infantil (a nomenclatura era essa, na época), no campo do Ararigbóia. O técnico colorado era o grande descobridor de talentos Jofre Funchal. Apesar disso e da superioridade técnica do adversário, vencemos por 2 x 1 e, se não me engano, foi de virada. Já sem idade para disputar a categoria, aos 16 ou 17 anos, eu era o presidente do Tupy e naquela memorável tarde de sábado tomei o maior porre da minha vida, uma mistura de cachaça, conhaque e vermute. Não satisfeito, desafiei dois brigadianos, chamando-os de “Pé de Porco”. Na época, era o pior dos desacatos - e olha que sou filho de brigadiano. Só fui salvo da detenção graças a intervenção do Luciano, nosso treinador, que segurou os PMs com uma frase:

- Vocês sabem com quem estão falando?

Diante do questionamento, os brigadianos estacaram e o Luciano emendou, enfático:

- Com o presidente do Grêmio Esportivo Tupy.

A intervenção foi suficiente para permitir que fugisse para casa onde vomitei até os doces da minha primeira comunhão.

Anos depois, já repórter esportivo, relembrei o episódio com o velho Jofre que não apenas recordava do jogo, como acrescentou que ficara encantado com o desempenho de um vigoroso zagueiro do adversário, chegando a cogitar de levá-lo para testes no Inter. O perfil se encaixava justamente no Tadeu e eu fiquei imaginando meu irmão fazendo dupla com o Figueroa no grande Inter da década de 70. Mas nada disso aconteceu. O Tadeu trocou a caça aos adversários pelos meandros da justiça, tornando-se um bem sucedido advogado. Perdeu o Inter? Ganharam os clientes? Como saber? O que sei é que aquele foi o jogo da minha vida, tanto assim que, passados mais de 40 anos, ficou guardado na memória. E poderia ter sido o jogo da vida do Tadeu que, além de tudo, é colorado.
(continua)