*Publicado nesta data em Coletiva.net
Há mais de 15 anos consulto com o mesmo cardiologistas, que me faz as mesmas recomendações, pede os mesmos exames, receita os mesmos remédios e insiste, em todas as revisões, em saber a causa de uma arritmia que o eletrocardiograma de repouso sempre revela. Como se sabe, a arritmia cardíaca é a alteração no ritmo e/ou frequência dos batimentos do coração. Porém, não sei como o médico consegue entender, no meio daquele sobe e desce de linhas, que há uma inconformidade coronária que precisa ser investigada e, quem sabe, enfrentada com rigoroso tratamento. De imediato, com ar grave, laudo na mão, ele indica a necessidade de mais exames e lá vou eu para mais uma maratona laboratorial.
Menos mal que nas primeiras baterias os resultados são sempre os mesmos, com percentuais que oscilam um pouco abaixo, um pouco acima dos índices de referência para cada pesquisa. Faço esses exames há tanto tempo que aprendi a interpretar, minimamente, os resultados, exceto o do tal eletro.
A maratona investigativa da minha saúde inclui, ainda, aquela abominável esteira, que começa leve e vai acelerando até eu pedir trégua, o que me mantém, mais uma vez, na segunda divisão entre os praticantes do equipamento. Até deveria resistir mais, afinal, sou um dedicado caminhante matinal, de 30 a 40 minutos em passo firme, todo os dias, mas nada que me credencie para exigências maiores em termos de corridas. Cedo da manhã, disputo espaço nas ruas do bairro com os sonolentos estudantes do primeiro turno escolar e com o pessoal que leva a cachorrada para passear. E como tem cachorro no meu caminho!
Terminada a revisão, saio da última consulta sem atingir meu objetivo de, pelo menos, reduzir o número de medicamentos do cardápio diário de um setentão. Hoje são cinco para variadas finalidades. Ainda bem que nenhuma nova droga foi acrescida aos gastos com que, todos os meses, contribuo para a expansão das redes de farmácias nas esquinas da cidade. E também fico sem saber qual a origem da arritmia que preocupa mais o médico que a mim, e que enseja um recado ao diligente profissional: Caro doutor, pare de perseguir minha arritmia. Ela já está aquerenciada no meu coraçãozinho e só se manifesta pra valer diante da intensidade do cotidiano ou frente a uma representante do segmento das caldáveis, duas situações cada vez menos presentes na minha vida. Grato pela atenção e até a próxima revisão. Seu (im)paciente, Flávio Dutra.
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