sábado, 31 de agosto de 2019

Sirvam nossas façanhas


Se o Brasil não se impor diante das ameaças do presidente francês, Emmanuel Macron, o Rio Grande vai se levantar em defesa da soberania e  dos melhores valores representativos da nossa terra. No cotejo RS  x França  sirvam nossas façanhas de modelo a todo o País:

Laçador x Torre Eifel
Nova Orla x Arco do Triunfo
Churrasco /Carreteiro x Ratatiuille/Cassoulet
Sagu x Petit Gateau
Redenção x Jardim das Tulherias
Hino Rio-Gandense x Marselhesa
GM x Citroen
Espumante x Champagne
Desfile Farroupilha   x Desfile do 14 de Julho
Torres x Côte d'Azur
Zaffari  x Carrefour
Grêmio x PSG
Lojas Renner x Galeries Lafayette
Margs x Museu do Louvre.
Cacetinho x Croissant
(É brincadeira, gente!)



segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Toco, Pauta 500 e passaralho

* Publicada nesta data em coletiva.net

Na  coluna da semana passada   confessei minha ignorância quanto a relação  da palavra toco com a prática, que  já foi bastante disseminada no meio jornalístico, de presentear repórteres e editores com mimos ou mesmo algum por  fora em dinheiro. Continuo sem ter resposta a esse grave enigma que, aliás, é exclusivo da imprensa gaudéria. A denominação, não a prática, porque lá fora atende por outros nomes, como jabá ou jabaculê.

 A outra  indagação na mesma coluna foi sobre a relação do termo Pauta 500 com aquela pauta obrigatória que é de interesse da empresa e vai merecer tratamento especial na edição. O professor  Flávio Porcello, meu bom amigo  e parceiro de outras jornadas,  lançou luzes sobre a dúvida: o 500 era o ramal - de um andar superior -  em importante empresa jornalística da capital de todos os gaúchos, de onde  partiam os pedidos de Pauta 500. Ele mesmo foi premiado com ligações do referido ramal.

A verdade é que o termo se espalhou, tanto assim que  sou testemunha de observar o número 500, de bom tamanho e escrito com caneta verde,  no papel das pautas de repórteres da empresa concorrente. Os profissionais torciam o nariz para a imposição,  mas não escapavam da  versão jornalística do ” manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Sobre o Toco, lembro o que ocorria numa emissora de rádio, das tantas em que trabalhei, em que o programa do meio da tarde ganhou da equipe o apelido de Hora da Serraria tal a  quantidade de recados, elogios,  congratulações no ar, que resultariam em tocos mais tarde para o apresentador.

            Como estou fora  do mercado não tenho elementos  para avaliar o atual estágio nos meios de comunicação do Toco e da Pauta  500. Nem vou me investir de corregedor da mídia. Já tem gente de montão, à esquerda e à direita,  fazendo isso. O que me preocupa mesmo é os efeitos daquele  outro termo dos bastidores do jornalismo,  o passaralho,  que tem sobrevoado redações em todo o país, decepando profissionais qualificados,  encolhendo o mercado de trabalho e  fragilizando o papel da mídia como expressão da sociedade. Não há Pauta 500 que salve dessa verdadeira epidemia. Xô, passaralho.



segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O Toco


* Publicado nesta data em coletiva.net

Toco é uma gíria  jornalística  exclusiva do Rio Grande do Sul. Pelo menos não encontrei qualquer citação em outros estados, a não ser com sentido diferente do que utilizamos. Aqui, Toco (em caixa alta inicial porque se trata de uma instituição) representa uma benesse materializada em presentes ou convites para jantares e almoços das fontes em troca de tratamento positivo nas matérias. O toco deles (em caixa baixa porque é um mero  substantivo) é usado com acepção de rasteira ou constrangimento  à fonte ou desta ao jornalista, quase com o sentido de golpe baixo.

A verdade é que já não se pratica Toco como antigamente, quando o período de fim de ano era celebrado com mimos de grande valor. Hoje, até panetone está rareando. O jornalismo se profissionalizou - o Toco era herança de um tempo em que a profissão era um bico, subemprego e os modestos ganhos complementados com pixulés por fora.  Desconheço porque a pratica foi denominada Toco, talvez  porque seja coisa pequena, uma rebarba qualquer.
A chamada grande imprensa implantou normas  rígidas em relação à  questão, vedando o   Toco de qualquer natureza para seus ´profissionais.  Outras empresas, menos estruturadas, fazem vistas grossas  ou até estimulam a prática, permitindo o PF (por fora) já que  não podem pagar  salários mais dignos

E tem o Toco empresarial, conhecido como Pauta 500. Vou ficar devendo, também neste caso, o que o 500 tem a ver com a matéria de interesse da fonte e  do  veículo e merecedora de tratamento especial na edição. Talvez o Fernando Albrecht, por antiguidade, saiba informar. A verdade é que a Pauta 500 está disseminada, em forma de matérias e programas direcionados para determinado produto, serviço ou empresa, às vezes transmitidos diretamente da própria empresa com as inevitáveis entrevistas dos dirigentes delas.

O mais novo formato  de Pauta 500, verdadeiro Toco institucionalizado, atende pelo nome de branded content, traduzido por “conteúdo de marca”. É quando determinada  marca passa a ser associada com informação  ou entretenimento e publicado dessa forma, iludindo o respeitável público. A maioria dos  veículos montou estruturas para atender a essa demanda de publicidade mascarada  de jornalismo. A “inovação” atingiu tal proporção que dias atrás flagraram até o Pedro Bial fazendo entrevistas vendidas no  seu programa da Globo, no caso  para a Ambev e a Natura.
Então, vamos deixar de hipocrisia  e parar de tratar como escândalo episódios como o que envolveu recentemente o ex-âncora do Jornal Hoje, da Rede Globo. Donny de Nucci, estrela ascendente no jornalismo da emissora, foi obrigado a se demitir após  a revelação de que faturou R$ 7 milhões fazendo assessoria e vídeos de treinamento para uma subsidiária do Bradesco. O trabalho foi interno, realizado por meio da  empresa do jornalista, mas De Nucci teria  violado o código  de ética da firma, especialmente por  não  comunicar à instâncias superiores as suas atividades extra-Globo. A partir do caso, a Globo decidiu fazer um pente fino entre os seus profissionais e reforçar seu código de conduta. Consta que gente de peso  como a apresentadora  do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos, também estava emprestando seu prestígio para faturar algo mais no mercado.
Como na peça shakespereana  é “muito barulho por nada”. Na verdade, as empresas detestam concorrência, ainda mais de seus funcionários quando eles tem acesso a ganhos de eventuais patrocinadores, considerado um desvio inconveniente das verbas que  deveriam ir para os planos de comercialização dos veículos. É tudo business!  Às favas, os códigos!


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O homem que amava panturrilhas, o retorno


* Publicado nesta data em coletiva.net

Um dos meus textos preferidos e até por isso foi escolhido para o primeiro livro que produzi,  leva o título maroto de “O Homem que amava panturrilhas”. O texto é de 2012 e, para resumir, debocha de um amigo que, ao relatar na mesa da confraria  um encontro casual com jovem e atraente  apresentadora de TV, sentenciou:

- Ela é bonita, mas a panturrilha...

E passou  a discorrer com naturalidade, entusiasmo e riqueza de detalhes sobre seu fetiche em relação à popular batata da perna na  versão feminina. “Amava panturrilhas bem torneadas, sem muita musculatura, mas firmes o suficiente para resistir aos afagos mais enérgicos  e merecidos”, lembro de ter escrito na ocasião sobre o episódio. Só que a moça  da TV  ficava devendo aos ideais panturrilheiros do nosso amigo. Em outras palavras, a panturrilha dela não dava caldo.

O caso era motivo de chacota, eis que foi revelado numa mesa de gente chegada a uma bandalheira. Depois virou folclore e o confrade, a cada encontro, era fustigado sempre com a mesma indagação:

- E aí, tem desfrutado de muitas panturrilhas?

Como socializei o episódio no blog ViaDutra e depois no livro Crônicas da Mesa ao Lado, desenvolvi um complexo de culpa em relação ao companheiro. Mais  culpado me senti quando deparei no caderno Vida de Zero Hora (edição de 3 e 4/08/2019) uma página inteira encimada pelo título “Panturrilha, o segundo coração”, com direito a uma ilustração dos referidos músculos destacados em vermelho. E a explicação:  a panturrilha exerce a nobre e vital função de levar o sangue de volta ao centro  do corpo humano, daí o apelido de segundo coração. A matéria, bem embasada cientificamente,  revela como se dá todo o processo, mas vou parar por  aqui no detalhamento enquanto tento me penitenciar por ter fomentado o deboche a um parceiro que, pela devoção a uma parte importante da musculatura corporal com seu parentesco coronário, mostrou-se, na verdade, um romântico merecedor de respeito e consideração.
O coração é um dos símbolos do amor e se a panturrilha é o segundo coração, significa, então, que também ganha  status de símbolo amoroso. Temo que essa especulação se espalhe e prevejo uma onda de declarações românticas, utilizando os músculos  em  baboseiras do tipo “quando estou contigo minhas panturrilhas aceleram o sangue para o outro coração...”. ou filosofadas clichês tipo  “a panturrilha tem razões que a própria razão desconhece.”

Em seguida, o doutor  Dráuzio Varella vai ganhar um quadro no Fantástico para tratar do tema e advertir para os  perigos de forçar as panturrilhas pelo lado cardioamoroso. A monja Coen vai percorrer o país palestrando sobre a influência da panturrilha para o ser zen. Logo  vai ser criado o neologismo panturrilhar e aí ninguém mais segura a ascensão do segundo coração rumo ao primeiro lugar coronário. Nas redes sociais se ferirão grandes embates entre os prós e os contras o destaque dado às panturrilhas enquanto coração.

O mais intrigante é que a moçoila da TV, jovem e atraente, sequer imaginará que tudo começou com sua panturrilha que não dá um caldo,



terça-feira, 6 de agosto de 2019

Da série Perguntas que não querem calar


* Publicado em 05/08/2019 no coletiva.net

O Brasil virou um país de muitas perguntas sem respostas. Aí está uma pequena amostra:
- Quem matou Marielle?
- Quem mandou matar Celso Daniel?
- Onde está o Queiroz?
- Qual o real envolvimento de Manuela D´Ávila  no caso do vazamentos da Lava Jato?
- Os hackers de Araraquara  ganharam ou  não ganharam pelas informações ao Intercept?
- Os  diálogos vazados  da Lava Jato são verdadeiros ou manipulados?
- Até quando Delton Dallagnol vai resistir?
- Quem é o Pavão Misterioso, que hackeou os hackers?
- Tem ministro do STF legislando em causa própria?
- Quem financiou os advogados de Adélio Bispo?
- Por que não te calas, Jair  Messias?
- Por que não te calas, Marco Aurélio Mello?
- Qual o ministro mais  “esquisito”: Damares, Weintraub, Ernesto Araújo, Augusto Heleno?
- A quem pertence o ouro roubado  no aeroporto de Congonhas?
-  Onde está esse ouro?
- Qual o destino de Lula? Continuar na prisão, usar tornozeleira, nova condenação, Lula livre?
- Por que Gleise Hofmann recebeu o codinome de Amante nas operações da Odebrecht?
- Quantas condenações ainda faltam para o Sérgio Cabral?
- Afinal, a Terra é plana ou redonda?
Sem mais perguntas, meritíssimos senhores. Por enquanto...

Aproveito o nobre espaço oferecido pela coletiva.net para um convite: nesta quinta-feira, 8, no Chalé  da Praça 15, será lançada a coletânea Todos Por Um, reunindo 28 autores numa obra em solidariedade ao José Luiz Previdi, editor  de um dos mais acessados e polêmicos blogs do Rio Grande do Sul, que foi condenado a pagar uma alta indenização em processo judicial movido por outro jornalista. O evento de lançamento contará com a presença  dos  autores e do próprio Previdi, com início previsto para às 18 horas, sem horário para terminar. Por R$ 50,00 leva o livro e vários autógrafos. Todos lá.


sábado, 3 de agosto de 2019

Miniconto dialogado



- Nunca fiz uma menage ou participei de suruba.

- Logo tu que sempre gostou de trabalhos  em grupo,

segunda-feira, 29 de julho de 2019

De perto ninguém é normal


*Publicado nesta data em coletiva.net

A interceptação de conversas privadas das mais altas autoridades  do país  leva a duas conclusões, uma alarmante  e outra positiva. A alarmante: nunca foi tão  fácil hackear quem quer que seja. Quatro chinelões grampearam mais de mil pessoas, do presidente e sua família a membros do Congresso e do Judiciário.    A positiva: a divulgação de conversas hackeadas transformou o Brasil num país transparente por excelência.  Sabe-se de todos e de  tudo na República, onde de tédio não se morre.  

Um dos meus interlocutores nas caminhadas pelo calçadão de Ipanema enxerga neste segundo aspecto o grande mérito da ação – criminosa, é importante que se frise -  dos meliantes envolvidos no caso e atualmente presos na Policia Federal. Entende ele que a população tem todo o direito de saber o que pensam  e como  agem as autoridades, inclusive e principalmente as do mais alto escalão da República. 

No caso do presidente Bolsonaro entendo eu que isso é absolutamente irrelevante. O que pensa, quais suas intenções, suas idas e vindas nas decisões, de quem gosta e a quem rejeita, é expresso claramente pelo presidente nos  seus pronunciamentos e nas frequentes  postagens nas redes sociais. Mais transparência impossível. E que evolução para o país. Estou sendo irônico, esclareço.

Outro interlocutor eventual no calçadão, figura de grande projeção no meio jurídico e, por isso mesmo, com alto potencial de hackeamento, ao ser provocado sobre a interceptação  de mensagens de autoridades, afetou tranquilidade. “Comigo ficariam frustrados com o resultado”, respondeu. Entretanto, o provocador acha que este argumento reforça a posição que defende intransigentemente: se os conteúdos dos vazamentos não são reveladores de questões escabrosas,  não deveriam ser também motivos para queixas e ameaças de censura. Se não há o que esconder, não há o que reclamar.

Sei, não. “De perto ninguém é normal”, canta Caetano Veloso e essa  é uma verdade até para os ministros  do STF, certamente em polvorosa a essa altura com a informação de que  parte da corte teria sido alvo da quadrilha.

Já eu estou de boa, embora me sentindo discriminado e  cidadão de segunda classe por ter sido solenemente ignorado pelo quarteto ou seus asseclas. Mais de mil hackeados e eu continuo invicto, como postei no Face.  Pensando bem, melhor assim. Imagina se vazam  conversas menos civilizadas – mas fora do contexto, como é comum alegar -  com alguma caldável, o que vou ter que dar explicações! Me deixem fora dessa.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O país dos SN


* Publicado  nesta data no coletiva.net

A facção que mais cresce no Brasil é a dos Sem Noção, que passarei a tratar por SN. Começa pelo presidente Bolsonaro, patrono da causa, que a cada semana, às vezes menos, comete um ato digno de SN. Um dos  mais recentes, entre negar que tenha gente que passe fome no  país e provocar os  governadores nordestinos,  foi cogitar o filho Eduardo para embaixador nos EUA. Até  bolsonaristas fervorosos, mas não alinhados aos SN, ficaram com vergonha alheia do seu líder.

Outro que ganha relevo entre os SN no governo é o ministro da Educação Abraham Weintraub e suas dancinhas. Mas engana-se quem acha que o  SN tem ideologia ou partidarismo. Que  nada! Atacam à direita, à esquerda e ao centro.  Aquelas discurseiras da ex-presidenta Dilma nada mais são do que autênticas manifestações  de SN. E o que dizer da deputada gaúcha que esbarrou de propósito num colega da Câmara e saiu acusando ele de agressão? SN de raiz. Só  faltou esbravejar “mas o que é isso?” várias vezes.

A juíza que liberou os traficantes presos em flagrante com quase cinco toneladas de drogas é um exemplar incontestável de SN Jurídica. Algumas decisões dos egrégios magistrados das cortes superiores flertam com atos de SN, assim como o pessoal envolvido na Lava Jato que trocou mensagens sobre o que devem e o que não devem,  expondo operações e  decisões pelas redes sociais. Aliás, as redes sociais estão infestadas de SN. Pior é o pessoal da SN do crime que envolveu suas mulheres e filhos numa fracassada e trágica operação na cidade de Cristal para resgatar outro criminoso preso

Os SN invadiram com força agora os eventos culturais e o caso mais recente foi o desconvite à jornalista Miriam Leitão e seu marido, o sociólogo Sérgio Abranches,  para participarem da Feira do Livro de Jaraguá do Sul (SC).  A alegação é de que o casal corria riscos porque foram registradas mensagens agressivas nas redes sociais e uma petição  online com mais de 3,5 mil assinaturas de SN locais pedia que Miriam Leitão fosse cortada da programação por não concordarem com as posições dela. Vale lembrar que, anteriormente, ela  fora  vítima  agressões verbais num vôo doméstico por SN identificados com o lulismo, confirmando novamente que a classe não tem ideologia, ou tem todas. E aqui, novamente, surge  uma opinião SN presidencial, com direito a  editorial da Globo em defesa da jornalista.

Meu bom amigo  Gustavo  Machado, jornalista e  escritor de muita noção, postou um oportuno comentário nas redes sociais, a propósito do episódio ocorrido com a jornalista global e seu marido, creditando o ocorrido à uma “jequice tenebrosa”. Num apelo pela tolerância, elenca outros exemplos que ele entende como “jequice explicita”, principalmente na aldeia. (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2309986082607406&set=a.1377807539158603&type=3&theater).  Me alinho ao arguto companheiro quanto à  tolerância, mas me permito humildemente discordar quanto a comparação com atitudes jecas. O jequismo brasileiro, que teve sua origem no imortal personagem de Monteiro Lobato, o Jeca Tatu, é, na verdade, a representação de um sujeito ingênuo, o caipira simplório, símbolo do brasileiro que vive no campo. Aos que produziram os atos condenáveis descritos pelo Gustavo Machado não concedo o benefício da ingenuidade. Ao contrário, são conscientemente partidários  dos SN e, sim, o autor da postagem tem razão e assino embaixo na ideia de que o retrocesso de civilidade constatado poderá  nos levar à perda de mínimos freios sociais a ponto de nos  tornarmos um ambiente fértil para o surgimento de seitas. A dos Sem Noção já está bem ativa e cresce cada vez mais.


terça-feira, 16 de julho de 2019

Um quê a mais



* Publicado em 15/07/2019 na coletiva.net

Meus sensíveis ouvidos  doem quando ouço os repórteres  e apresentadores gaúchos sapecarem  nas perguntas aos entrevistados um  “como quê é” ou um “qual quê é”.  Acredito que seja um legado do paulistês, importado e  aculturado via programas de TV. Pior ainda quando vem com aquele “onde quê” ou o similar “aonde quê”,  usados para situações em  que o  advérbio que indica lugar não se aplica,  ainda mais com apêndice do quê.

Observo também outro vício oral (nada a ver com aquilo!)  dos nossos  mais dedicados repórteres e qualificados âncoras: um “aí” como muleta nos finais de frase, em textos  de improviso. Neste caso nem me dói tanto, embora considere que esse vício pode ser corrigido facilmente. Basta o profissional ficar atento ao que vai falar e se policiar quando for para o ar, recomendam os especialistas. 

Não me tomem por um intransigente corretor da linguagem. Sem formação para isso, admito que cometo meus pecados gramaticais com mais frequência do que gostaria. Faço, porém, um esforço danado para contrariar aquele amigo que me acusa, o maledicente, de  ter faltado às aulas  de virgulas e crases e, ainda, diz que está sendo generoso na avaliação.
Porém, isso que  chamo de vícios, de tanto serem repetidos,  acabam se incorporando à língua falada, empobrecendo o nosso já maltratado idioma.  A mídia reverbera, dá expressão e alcance aos tais vícios.

Um exemplo de pobreza vocabular que ganhou relevância na mídia eletrônica é o “por conta de”, que veio a  substituir o “a nível de”. Pelo menos não está errado, mas nem por isso precisa ser repetido à exaustão para explicar o acidente no trânsito, a falta d’agua, a sinaleira que não funciona, as mudanças no clima e outras tantas incidências do dia a dia.

Ao mesmo tempo “um conjunto de” (expressão que já esteve mais na moda) palavras não usuais foi incorporado às discurseiras das fontes nas mídias e fazem a festa dos que se consideram moderninhos.  É distopia pra cá, disruptivo pra lá, mais a concertação,  o ressignificar, o pertencimento, sem contar os importados coaching, digital influencer e o campeoníssimo spoiler. Coisas do Internetês. E, em qualquer circunstância, se faltar vocabulário, tacam-lhe um “fascista” que sempre   se encaixa.

Já o “empoderamento” feminino elevou ao podium um trio de respeito: feminicídio, misógino e sororidade! Reconheço que são palavras atraentes pela sonoridade, que nada tem a ver a sororidade aí de cima.    O trágico episódio de Brumadinho colocou na moda por um tempo o “descomissionamento” referente a barragens desativadas e não aos funcionários exonerados dos cargos  em comissão no serviço público. O termo inundou as matérias dos repórteres na cobertura do acidente, sem que explicassem do que se tratava.  Diferente dos debatedores esportivos que se esmeram, para sustentar suas teses, em dar vazão a chavões  do tipo “copo meio  cheio, meio vazio”, “medido pela régua...”, “fora da curva”, “a banca paga e recebe” e a maior obviedade de todas, a consagrada “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

O pior dos cenários é quando os que não sabem o que estão falando se entregam aos modismos, empregando fora de seu contexto palavras e expressões novas. Isso bem que mereceria outra crônica. Mas chega de aspas e quês. De minha parte, sou pela simplicidade e por tudo o que facilite a comunicação. É a minha “expertise”, com o perdão pela contradição.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Assim é se lhe parece

*Publicado nesta data em coletiva.net
-  Moro arrasou na Câmara!
- Moro foi desmascarado na Câmara!
- Bolsonaro foi ovacionado no Mineirão e no Maracanã!
- Bolsonaro foi vaiado no Mineirão e no Maracanã!
- O Maia está apoiando a reforma da Previdência
- O Nhonho mais atrapalha do que ajuda a reforma da Previdência.

- A Globo agora é comunista.

- A Globo apoiou o golpe.

- A Veja agora é comunista.

- A Veja sempre foi golpista.

- O Antagonista...

- O Intercept...

O povo saiu as ruas por Moro e a Lava Jato.

-  A manifestação foi um fracasso, tinha menos gente do que nos desfiles LGTB.

- A delação de Palocci envolvendo Lula e Dilma é muito grave.

- O Palocci é um traíra; o  cara é o Zé  Dirceu.

- O Léo Pinheiro, da OAS, confirmou as propinas para o Lula.

- O Léo Pinheiro está é com medo que não validem a delação dele.

Acordo Mercosul- União Europeia foi uma vitória do governo Bolsonaro.

- Bolsonaro era contra o Mercosul e o Acordo vai acabar com a nossa indústria.

- O corte de verbas  está inviabilizando as universidades.

-  Universidades com bandos de esquerdistas e desordeiros.

O Reinaldo Azevedo se vendeu pros lulopetistas.

- O Reinaldo Azevedo agora está do lado  certo.

- Não levem o Flávio Dutra a sério. A idade, sabe como é...

- Este Flávio Dutra é como vinho: quanto mais velho...