sábado, 28 de novembro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O casal

O avanço em termos de costumes, com a oficialização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, tem provocado situações insólitas, segundo me contam.  Recentemente, cidadão de seus 65 anos ou mais foi as compras no supermercado acompanhado do filho,  um rapagão de seus 35 anos.  No caixa, o rapaz nem se coçou pra pagar, o que provocou a reação bem humorada do paí:

- Com essa idade mora na minha casa e só me dá despesa.

Foi então que a moça da caixa resolveu interagir com a dupla:

- Eu queria fazer uma pergunta, mas estou constrangida...

Tanto o veterano como o rapagão insistiram para que formulasse a pergunta e ela veio com tudo:

- Vocês são um casal?

O pai quase teve um infarto e o filho estaqueou.  Convém esclarecer que o rapaz é mais parecido com a mãe, daí que  não  seria a semelhança  entre pai e filho o que inibiria o questionamento da moça bisbilhoteira.

Diante do esclarecimento irritado da dupla, a moça tratou de se desculpar.

-  Sabe cumé, tenho visto tanta coisa aqui, que pensei...

O cidadão, visivelmente contrariado, tratou de pagar logo a conta, mas o filho ainda alongou a conversa, perguntando quem a atendente achava que era o lado feminino da relação.  Pediu e levou:

- Olha, quer mesmo saber? Acho  que é tu!

O rapagão saiu bastante perturbado do supermercado, sem saber se ela tinha sido respeitosa com o idoso ou se algum trejeito,  modo de agir e falar dele referendava a opinião da moça.  Por via das dúvidas, decidiu que nunca mais irá compras acompanhado do progenitor.




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Gourmetizaram a pipoca

Acho que já falei que considero alho poró uma das mais sonoras expressões da língua portuguesa. Não canso de repetir: alho poró, alho poró ! Que sonoridade!  Tão sonora como “paradigma”,  “destarte”, “viés”, “elidir”, das quais gosto igualmente sem qualquer razão aparente.  A diferença é que alho poró é materializável e, mais do que isso, é degustável, enquanto as outras servem apenas para adornar editoriais jornalísticos que ninguém lê .

Na real, o alho poró aparece aqui como gancho para falar da mania que tomou conta da gastronomia moderna. Parece que é fenômeno mundial. Qualquer cardápio que se preze precisa estar devidamente gourmetizado, isto é, o que era uma simples e honesta comida, agora ganhou status, senão no preparo, na descrição do prato. 

A revista Superinteressante sacou bem a nova onda e recentemente produziu matéria revelando 15 alimentos simples que foram gourmetizados, entre eles a tradicional pipoca que recebeu ingredientes como flor de sal e perfume de trufas e, ainda, a coxinha com recheio de lascas de limão siciliano e confit de pato;  o brigadeiro, o nosso negrinho, que estão maculando com temperos indianos,  sem contar o cachorro quente que já vinha sendo sendo atolado de porcarias e agora se sofistica com maionese de trufas e queijo gruyère. Com o perdão do trocadilho, o destempero nesses casos não tem limites.

Pior são aquelas reuniões-almoço que me obrigo a frequentar e sou provocado com menus difíceis de decodificar e, por conseguinte, de sabores muitas vezes indecifráveis. Outro dia  serviram de entrada algo como "royal de legumes da estação" que achei parecido com uma seleta de legumes. Depois,  no prato principal,  veio um "timble  de legumes", que fico devendo a tradução e, por fim, na sobremesa,  "marquise de dois chocolates com coulis de frutas vermelhas e gelado de creme", uau! Em outro evento a sobremesa era "sopa de frutas" – suspeito que seja o mesmo que salada de frutas – com sorvete de manjericão.  Também já enfrentei de entrada um "salmão sob leito de aspargos ao molho de laranja polvadre" e na sobremesa um "cheesecake de Oreo com gelato de iogurte com frutas vermelhas".

Podem me chamar de rabugento e preconceituoso diante das inovações culinárias,  mas gosto mesmo é da simplicidade e tenho o respaldo de afamado chef francês, daqueles citados pelo Guia Michelin, que declarou, sem constrangimento, que seu prato preferido é a prosaica a la minuta.  No meu caso, pode até ser temperada com um bocadinho de alho poró.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A estrela solitária me conduz



Em algum lugar do passado ouvi do técnico Ernesto Guedes sobre a situação do Botafogo:  “É uma torcida e um saco de uniforme”.  O exagero do técnico,  que recém havia dirigido o time carioca,  me incomodou muito, eu que sou botafoguense desde pequenino.  A verdade é que o simpático Fogão desafia os astros, a lógica, a realidade e, entre altos e baixos,  sobrevive e se renova.  Só que vivia um dos tantos momentos de baixa quando o Ernesto por lá passou.

Minha paixão pelo Botafogo nasceu no dia em que ganhei de Natal um jogo de futebol de botão do tipo panelinha, com aquela estrela solitária aplicada sobre os botões.  Para o menino de 10 anos só uma bola poderia ser um presente melhor.  Era também o tempo em que o Botafogo rivalizava com o Santos  como grande time brasileiro e uma das bases da seleção canarinho, campeã do mundo em 1958 e 62. O Santos tinha o talento coroado de Pelé e o Botafogo a magia de irresponsável de Garrincha e mais meu ídolo  Nilton Santos,  além de Didi, Quarentinha, Zagalo, Amarildo e, antes, o grande Heleno de Freitas, e tantos outros craques que ficaram na história.  Ainda é o clube que mais forneceu jogadores para seleção brasileira em copas do Mundo.

Mais tarde descobri que o Glorioso, como também é conhecido, era o time preferido da maioria dos gaúchos que migravam para o Rio. Não consegui descobrir a razão dessa  preferencia de gremistas e colorados expatriados, mas ela é real e, se precisar, cito quantos exemplos forem necessários. Nos meus tempos de repórter esportivo descobri também que havia uma ativa torcida organizada do Botafogo em Porto Alegre.  Desconheço se ainda existe, mas em se tratando do Fogão, não duvido.

Mantenho uma paixão à distância, quase platônica, pela Estrela Solitária, tanto assim que não me lembro de ter assistido a qualquer jogo da equipe em estádio.  A razão dessa idealização talvez esteja na percepção que o Botafogo passa, nem popularesco como o Flamengo e o Vasco, nem metido a elitista como o Fluminense, mas afetando uma nobreza que o distingue dos seus pares cariocas. Este é o meu Botafogo, que acompanho desde que me conheço por gente.   É uma trajetória  de altos e baixos,  como a venda do patrimônio do estádio de General Severiano e da sede do Mourisco que representaram também  a perda  parte da identidade botafoguense,  as boas fases com os títulos nacionais (1968 e 95) e o recorde de invencibilidade (52 jogos entre 1977 e 78), a queda para a segunda divisão (que sina a minha!) e agora o retorno glorioso, como o cognome do clube, com três rodadas de antecedência.

Por tudo isso, jamais vou perdoar Ernesto Guedes pela avaliação cruel e intempestiva do passado, porque, afinal, como no hino de Lamartine Babo, a estrela solitária me conduz!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Pequenópolis, de novo

Pequenópolis é uma cidade grande com gente que pensa pequeno. Seu povo é alegre e hospitaleiro, mas parte dele, uma minoria enfezada, detesta progresso. Essa minoria prefere que a cidade fique numa redoma, de forma a se tornar imutável, mesmo com prejuízo para todos. E a maioria cala e assiste impassível o presente ser congelado e o futuro exterminado. Por isso, a cidade que já foi Futurópolis trocou de nome na medida em que se apequenou. Era a cidade sorriso, hoje é a cidade rançosa.  ( Publicado em dezembro/2010)

Os representantes da banda do atraso de Pequenópolis voltam a atacar. Qualquer projeto que represente um mínimo de avanço é boicotado com os argumentos mais disparatados.  Travestidos de defensores da cidade, uma cidade idealizada mas inviável, essa turminha  não hesita em apelar para a mistificação para reforçar seus frágeis posicionamentos.  São especialistas em nada, exceto na capacidade de se intrometer em tudo que possa trazer inovação, mas opinam sobre complexas questões técnicas como se tivessem  grande embasamento.  E, reconheça-se,  tem público receptivo, aqueles mesmos que ficaram sem  determinadas bandeiras partidárias e precisam de novas  formas  de mobilizações para se manterem ativos. 

Intitulam-se formadores de opinião e se apropriaram indevidamente da exclusividade de pensar Pequenópolis.  Afirmam representar a sociedade, mas não resistem  a uma pesquisa de opinião sobre a aceitação das melhorias previstas para a cidade.  Não são muitos, mas fazem barulho e, por isso, às vezes preocupam quem tem que tomar decisões. 

Dois exemplos da intervenção maléfica desses oportunistas de plantão se expressam nas campanhas contra o projeto de revitalização do Cais Mauá e o Projeto Orla, ambos do consagrado urbanista Jaime Lerner. Sobre o primeiro afirmam, por exemplo,  que os armazéns tombados irão abaixo, o que não é verdade, mas mostram fotos de um prédio  - não tombado -  em demolição como prova de que a intervenção no espaço é lesiva ao patrimônio histórico. Em relação ao projeto Orla fazem questão de confundir com o do Cais para tumultuar o processo, mas como não tem muito a criticar direcionam a reprovação aos tapumes de segurança. “Escondem a obra e o Guaíba”, é a alegação, que não se sustenta diante do resgate futuro daquele recanto de Pequenópolis. São tantas inconsistências que chega a irritar, como fizeram no movimento contra o projeto de moradias no Pontal do Estaleiro, decretando que aquela área está destinada a se tornar um deserto após o horário comercial. Foi um autentico movimento de lesa cidade! 

Haja paciência com essa gente. Parece que  odeiam a cidade  e, até por isso,não me representam.

domingo, 8 de novembro de 2015

Compulsão por escrever

Tem tanta gente escrevendo e publicando que acho que vai acabar faltando leitores para tantos escritos. Ficou muito fácil publicar, tanto nos blogs como em forma de  livro, cujo processo industrial está mais acessível e simplificado, vale dizer mais barato para os escritores iniciantes e/ou independentes.   Pequenas tiragens, renováveis de acordo com a demanda, viabilizam-se por meio das gráficas expressas.  Assim é possível enfrentar uma sessão de lançamento sem o risco de encalhe e prejuízo.

Aprendi isso depois de velho, após as idas e vindas para a edição do Crônicas da Mesa ao Lado. A negociação com a editora  (Bartblee, de Juiz de Fora-MG)  foi rápida e satisfatória, a impressão demorou  um pouco,  mas nada que provocasse estresse e o problema mesmo surgiu quando chegou a hora de transportar os livros para Porto Alegre.  Resolvido à contento essa logística, chegou a hora da verdade:  o livro tinha que chegar aos potenciais interessados.
Não sei se vocês já perceberam, mas basta entrar numa livraria para verificar que a concorrência é feroz, a começar pelos best-sellers vindos do exterior,  sem contar os autores consagrados, os livros de autoajuda,  as biografias atraentes autorizadas ou não e, ainda, os de besteirol, eis que existe público para isso. É quando o autor recém-lançado se pergunta:  será que alguém vai se interessar pela minha obra?

Devo dizer que, mesmo diante das dificuldades de distribuição, não tenho queixas.  Distribuí  por conta própria,  garantindo aceitação em meia dúzia de locais, especialmente as livrarias mais cults Cinco livros aqui, dez ali, pelo menos duas reposições,  encomendas pelo Correio e o Crônicas me surpreendeu,  vendendo acima do esperado. Claro que as livrarias ficam com 30 a 50% do preço de capa, mas vale pela vitrine e o dinheirinho pingado que entra sempre ajuda a fechar o orçamento. 
E aqui volto a questão inicial, na verdade, mais do que uma constatação, uma angustia: será que haverá leitor para tanta produção literária? Fiz um rápido levantamento e contei pelo menos seis companheiros jornalistas com livros recentes na praça – aqui praça como sinônimo de mercado – e outro tanto anunciando lançamentos para breve, além de lideranças politicas que começam a investir no livro para difundir suas ideias e, de novo, os autores consagrados que tem público cativo.

Acredito que boa parte desse boom de aspirantes a literatos se deve às oficinas literárias que abundam em nosso meio, dando vazão a compulsão por escrever . Mais do que autores zelosos com a suas obras criou-se uma geração de reféns da necessidade de colocar ideias, enredos, cenários e personagens em forma escrita.  É isso, afinal, o que nos move.

"Crônicas da Mesa ao lado" pode ser adquirido  nas livrarias Bamboletras (Shopping Nova Olaria), Palavraria (na Vasco da Gama, 165), Nova Roma (General Câmara, 394), Cultura (Shopping Bourboun Country), Koralle (José Bonifácio,95 e Santander Cultural) e Banca da República,(República quase esquina de João Pessoa). Na Feira, pode ser encontrado também na barraca da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e na da Associação Gaúcha dos Escritores Independentes.

domingo, 1 de novembro de 2015

Não me deixem só

Não precisa relógio, nem calendário.  O ano começa a chegar ao fim quando a Feira do Livro toma conta da Praça da Alfandega.  Mais do que anunciar a primavera e a quadra final do ano – e tomara que  este dramático 2015 vá embora logo -  a Feira é um momento mágico no Centro Histórico, refugio confortável e abrigo seguro de quem gosta de prosa e verso em forma de livro. Me incluo nessa.

Comecei a frequentar a Feira na década de 70 do século passado quando trabalhava nos veículos da então Caldas Junior.  As barraquinhas, mais modestas e em menor número, ficavam a meia quadra da vetusta Caldas e não havia como fugir à tentação de manusear e adquirir os livros em oferta.  Lembro de numa primeira incursão, acompanhado do Nilson Souza (hoje editor de Opinião da Zero Hora) quando comprei O Príncipe,  de Maquiavel, manual de politica ainda atual, que permanece ornando minha modesta estante e é consultado eventualmente.

A Feira cresceu,  acrescentou outras atrações, mas mantem inalterado seu charme e o apelo à leitura, à reflexão, à interação entre leitores e autores. Em razão de cargos que assumi acabei participando mais diretamente do evento, sem jamais  deixar  de ser o consumidor ávido de livros,  que é o perfil do principal protagonista frequentador da  praça nestes dias. Em uma das edições recentes cheguei a comprar mais de 30 livros entre lançamentos e os selecionados nos balaios dos sebos e ofertas.  É bem verdade que o ritmo das minhas leituras diminuiu  sensivelmente por causa das redes sociais, as quais me dedico mais do que deveria.  Isso, aliás, está ocorrendo em grande escala, especialmente entre as novas gerações, impactando no mercado livreiro. No meu caso, porém,  a compulsão pelos livros da Feira continuou e tenho agregado às aquisições as edições infantis, quanto mais coloridas melhor,  que brindo às  netas Maria Clara e  Rafaela,  para que desde cedo gostem de ler e, quem sabe,  escrever.

Nesta semana volto a feira em outra condição. No dia 6, próxima sexta-feira, as 17 horas,  o autor de Crônicas da Mesa ao Lado sobe o estrado do pavilhão de autógrafos para colocar seus  garranchos nos exemplares dos que apareceram.  Confesso que estou preocupado. Sempre fica aquela dúvida angustiante: e se ninguém aparecer?  Já fui a sessão de autógrafos na Feira em que era um dos raros presentes, vendo penalizado o autor desamparado.  Acho que pelo menos os parentes vão marcar presença e felizmente a família não e pequena. Aos amigos e outros potenciais interessados lanço um apelo: não me deixem só!



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desculpas, desculpas

Conheço gente que tem justificativa para tudo.  Um deles, depois de ter experimentado todas as venturas da vida, decidiu realizar um sonho de infância e comprar o ultimo modelo da Mercedes Benz – um conversível flamante.  Já entrado em anos, mas em boa forma, saiu-se com essa  para evitar cobranças familiares pela ostentação desnecessária:

- Pode ser meu último carro...

Quase provocou um vale de lágrimas na família, o cínico gastador.  O episódio vale uma breve e rasteira reflexão,  enquanto  me faz lembrar  a estratégia de um parceiro das antigas, assessor de imprensa de um órgão público que,  diante de uma crise e da cobrança da mídia, pedia apenas:

- Me arranjem uma desculpa, qualquer desculpa,  e deixem o resto comigo.

A desculpa, boa ou ruim, consistente ou fajuta, é isso: uma muleta a nos apoiar nos momentos de aprêmio,  ou uma mentira palatável, eu diria até inofensiva, dependendo da proporção do que tenta  justificar.  Só não vale a mais fácil de todas,  a mais usada nos tempos da escola quando a professora questionava por que o tema de casa não fora entregue:

- Esqueci, fessora.

Tem gente que ainda hoje lança mão dessa autentica desculpa esfarrapada no ambiente profissional,  após a cobrança de uma tarefa ou missão não concretizada. Só muda o interlocutor:

- Esqueci, chefia.

E tem a variação também muito usada, especialmente pelos que não são  chegados ao batente: “Não deu tempo, chefia”

Interessante é que ninguém esquece o dia do pagamento, assim como nenhum jovem chega atrasado aos shows de rock, diferente do que ocorre nos  exames do Enem.  Ouvi cada desculpa da gurizada que ficou de fora!

A desculpa pressupõe condescendência e absolvição, por isso peço  tolerância e perdão a todos,  porque  vou ficar por aqui já que minhas ideias se esgotaram.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mantra do patrono e a nova Playboy

O queridíssimo Evaldo Gonçalves, além de competente editor dos chamados esportes amadores da Zero Hora na década de 80/90 do século passado, era o patrono da Confraria da Caveira Preta, que reunia um bando de jornalistas bandalhos em festins gastronômicos,  etílicos e difamatórios.  Incapaz de compartilhar as maldades dos confrades, Evaldo a tudo ouvia,  mantendo aquele seu jeito generoso e o máximo que pronunciava, mesmo diante do mais escabroso dos assuntos, era uma frase que acabou virando um mantra:

- Que fim de século!

Se ainda estivesse entre nós, o bom Evaldo certamente teria alterado sua frase diante deste desconcertante século 21:

- Que início de século!

Não há mais dúvida de que 2015 vai marcar definitivamente o término de uma era e o início de outra. O marco simbólico desta nova era é o fim da revista Playboy como a conhecemos: sem mulher pelada.  A onda, motivada pela perda de leitores e faturamento,  começa na edição americana e logo deve chegar ao Brasil. Agora só aparecerão os chamados ensaios sensuais.

As peladonas gráficas foram derrotadas pela internet com seus portais para adultos  e a profusão  de vídeos  eróticos e pornográficos em todas as plataformas.  Hugh Hefner, fundador da Playboy nem tem porque se queixar, uma vez que mantém um canal na Tv por assinatura, muito assistido nos motéis. É o que me contam porque já não frequento mais esses estabelecimentos.

A Playboy revista formou gerações inteiras , cumprindo um papel  relevante  na iniciação sexual artesanal, por assim dizer,  entre os rapazes.  Só por isso mereceria teses e teses de mestrado, se é que isso já não aconteceu.  Parece que estou vendo os falsamente intelectuais  elogiando as entrevistas de abertura e os artigos avançadinhos, quando, na verdade, se deleitavam com as histórias picantes do Fórum e as peladonas em geral, com direito à exibição daquela página central dupla.

De minha parte não é a primeira vez que falo da revista aqui neste descaminho do ViaDutra. Da outra vez (Musas na Playboy, em 26/05/2012) lembrei que houve um tempo em a informação de quem seria a garota da capa era tão esperada como o anúncio dos planos econômicos para conter  inflação. Talvez houvesse relação de causa e efeito entre as duas situações, uma impactando fortemente nosso bolso e a outra compensando com verdadeiros colírios para os nossos olhos e provocações para nossa libido.

Agora,  a notícia da mudança na publicação provocou uma onda saudosista e só eu,  um respeitável avô,  já recebi  duas remessas digitais de fotos de ensaios pra lá de sensuais, verdadeiras relíquias do acervo da revista. No primeiro, um lote bem mais retrô, com Cláudia Raia, Sônia Braga, Sandra Bréa, Vera Fischer, Monique Evans, a eterna Luiza Brunet, a Xuxa da era Pelé e Cláudia Ohana com aquela antológica floresta amazônica de pelos pubianos.  O outro lote, mais contemporâneo, contempla caras, bocas e poses de um time de respeito, entre outras,  Grazi Massafera, Cléo Pires, uma tal de Amanda ex BBB, Aline Prado, Carol Dias e Sabrina Sato que não, não tem aquilo atravessado, diferente do que imaginávamos quando começamos a nos interessar pelo tema e discutíamos sobre o formato das japas.  Isso em passado distante.

Com essas máquinas, antigas e  modernas, com ou sem photoshop, a Playboy deixou de ser exclusividade das paredes de borracharia e ganhou espaço nas boas casas de família. Saudosista que sou, vou deplorar a mudança mais pela estética do que pelo erotismo, apelando para o mantra que o nosso patrono Evaldo Gonçalves usaria;

- Se é assim, que lamentável  início de milênio!        


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O Dindo

Criança não mente, por isso é um perigo.  Foi a conclusão a que chegou meu amigo Gunther ao saber do ocorrido com um parceiro da chamada Grande Agronomia.  O sujeito resolveu levar o filho, um piá de seus 7, 8 anos , na festa de fim de ano da firma.  O pai, exibido como só ele, apresentava o guri para todo mundo, especialmente às chefias, certo de que estava agradando.  Até que, reunido com o grupo dos companheiros mais chegados, decidiu questionar o menino e por a prova o quanto constituíam um lar feliz.

- Conta ai pro pessoal com quem é que a mamãe fica quando o papai não está em casa, - perguntou, levantando a bola para que o filho respondesse algo do tipo “é comigo, papai”.

Mas o guri parece que não entendeu a tabelinha do pai e naquela ingenuidade da infância saiu se com esta resposta:

- Quando o papai não está em casa, a mamãe fica com o Dindo. Mas daí  eu vejo pouco porque daí  eles ficam todo o tempo no quarto e daí eles me mandam jogar bola com os amiguimhos..

Não precisa dizer que acabou ali a festa para os dois. Gunther conta  também que não  foi preciso uma comissão de inquérito para a senhora confessar que, sim,  se refestelava frequentemente  com o Dindo, um simpático e espadaúdo vizinho,  escolhido a dedo  pelo próprio pai, com a aprovação entusiasmada da mãe,  para a nobre missão de apadrinhar o menino.

Vida que segue, o Dindo mudou de cidade, o casal se recompôs, a traição foi perdoada, mas como nas antigas histórias em que o sofá levava as culpas e era retirado da sala, o menino nunca mais frequentou  as mesmas festas do pai, além de receber uma missão especial:

- Meu filho, fica de olho na rapaziada da vizinhança.

Ao saber do desfecho, Gunther não se conteve:


- Certas coisas só acontecem na Grande Agronomia. Que sina!

sábado, 3 de outubro de 2015

As regras do jogo - parte II

                                          Autentico campinho varzeano

Típico alemão de Santa Cruz do Sul, como o próprio nome indica, Horst Knak foi colega na Zero Hora na década de 80 do século passado. Era repórter da editoria de Campo & Lavoura mas, gremistão,  gostava mesmo era de frequentar a editoria de Esportes onde eu labutava e onde ele era vitima frequente do bullyng que reservávamos aos intrusos do nosso espaço.

Agora tenho cruzado eventualmente com o Horst, especialmente em eventos ligados  à produção  primária ( ele edita o jornal da Associação Brasileira de Angus), além dos encontros da Confraria do Cachorro Quente e da “amizade” que mantemos no Facebook.  E foi no Face, na esteira da crônica Sessão Nostalgia : As Regras do Jogo publicada no ViaDutra (http://viadutras.blogspot.com.br/2015/09/sessao-nostalgia-as-regras-do-jogo.html) que o Horst postou sua experiência com as  peladas em campinhos de terrenos baldio. Vale reproduzir:

Em tempos já imemoriais, lá entre os 7 e os 17 anos, jogamos muita bola nos potreiros perto de casa. O arroio demarcava um dos lados e a cerca de arame farpado o outro. Ninhos de cupins ou bostas secas de vacas leiteiras eram usadas para formar as goleiras. Pronto, o campinho estava pronto. Isto era na periferia da minha cidade natal, Santa Cruz do Sul, meio termo entre a zona urbana e rural. As regras que valiam eram parecidas com estas publicadas pelo eminente jornalista e blogueiro Flávio Dutra, recuperadas por um colega de peladas. Anos depois, em tempos de blocos de carnaval, jogamos em um campo da Escola Rural, que carinhosamente apelidamos de "Estádio Bostão", ou "Boston Stadium", para os mais colonizados, rsrs. Isto porque, apesar das firmes goleiras e vistosas redes do campo, as vacas da Escola Rural moravam e faziam suas necessidades por ali, enquanto não eram tratadas e ordenhadas. O desafio era fazer uma jogada em velocidade pela ponta ou dar um carrinho sem lambuzar-se numa bosta ainda molhadas, hahahaha... Em todo caso, havia um arroio e uma torneira ao lado para lavar a sujeira... Não é mesmo, Ricardo Capaverde, Regis Capaverde,Flavio MullerEdison EckertPaulo Luiz KonzenRolf KnakMarcos Edmundo Baumhardt, Bruno Wagner Goghost Ridergo), Percio (Marcia Machado) e muitos outros da turma do futebol do sábado à tarde. Que, invariavelmente, terminava numa cervejada!