segunda-feira, 29 de abril de 2013

Curso daquilo - parte II


Provocou enorme repercussão, rebuliço até eu diria, o despretensioso texto aqui publicado dando conta da sugestão de um grupo de moças para que organizássemos um curso “daquilo”, destinado às novas gerações, tão carentes e tão receptivas à novos conhecimentos. Tive o cuidado de acrescentar que se trataria de um curso com viés absolutamente didático. Mas não adiantou a advertência e levaram para o lado da maldade, da sacanagem explícita.

Vocês não imaginam o que apareceu de candidato a professor, é bem verdade que poucos para as aulas teóricas e um montão para as práticas. Meninas faceiras queriam antecipar suas inscrições temerosas de que todas as vagas fossem ocupadas. As mais espevitadas chegavam a alegar: “Tenho direito a vaga, eu sei que dou um caldo”.  Fui assediado por uma gurizada masculina que antes só imaginava interessada em jogos eletrônicos.  Que nada,  querem descobrir todas as formas "daquilo", além da destreza manual que praticam atualmente.

Recebi até pedidos do exterior e estamos pensando num módulo em EAD (Ensino à Distância), mas, por razões óbvias, sem aulas práticas com os e as interessadas. Os mais rodados, de ambos os naipes, exigem um curso de especialização e para isso já se pensa em uma parceria com o pessoal do chamado “cinema adulto” e a importação de modelos ucranianas para as aulas práticas, com direito a aula magna.

Enfim, está tudo por assim dizer em aberto.  Só o que já está definido é que a Tia Carmem será a paraninfa da primeira turma.

sábado, 27 de abril de 2013

Curso Daquilo, ou Kamasutra vira Sessão da Tarde

As moças que me cercam, todas elas graciosas, altivas, impositivas, já sabem que não resisto a uma pilha. Manipuladoras como só elas, vivem a me dar sugestões no mínimo instigantes, mas algumas delas francamente escabrosas, sendo a última a ideia de criar um curso para orientações sobre “aquilo”. O pudor me impede de definir mais claramente o aquilo, mas vocês estão me entendendo.
 
Seria um curso para jovens de todos os matizes e com viés absolutamente didático, ate porque não poderia ser diferente em se tratando de um cidadão com a minha formação  e valores – vamo se respeitar. As moças sugerem, inclusive, as disciplinas que o vô aqui poderia ministrar, entre elas “Meus Fetiches “, módulos I e II, além da inevitável “Como se tornar uma caldável”.


Haverá vagas para interessados em prover conhecimentos nas matérias "Sedução", “Cantadas infalíveis” "Infidelidade sem culpa", "Descarte sem trauma", "Enrolação & Protelação", "Motelaria", "Namoro nas redes" , "Aquilo Tântrico" e o top do curso que são as matérias "Posições", módulos I e II e "Posições exóticas", com aulas práticas opcionais. São só exemplos, a grade de oferta é muito maior. Diante dessa ousada proposta, Kama Sutra virou Sessão da Tarde.

A imaginação das moças não tem limites. Chego a ficar constrangido, o que no meu caso, como diria outra amiga,  não é pouca coisa.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Amanhecer violento, o filme

O cinemão americano às vezes consegue se superar  no seu ardor patriótico.  Não bastassem as produções de guerra  oscarizadas do últimos anos agora tem surgido filminhos classe B de exaltação ao heroísmo do cidadão americano comum. Exemplo é  Amanhecer Violento a que assisti no domingo na falta de outra opção. Até parece voltamos ao tempo da guerra fria em que os inimigos externos são ameaça permanente à paz interna da grande nação do norte.

O argumento beira o ridículo: numa manhã tranquila um grupo de para-quedistas aterrissa numa pacata cidade dos EUA.  Era o início de uma invasão da Coreia do Norte ao território americano, o que gera pânico nos habitantes da cidade. Decididos a defender o local, oito jovens se escondem nas montanhas e, adotando o nome de sua equipe de futebol, The Wolverine, planejam como revidar à invasão das forças militares inimigas. Simples assim. Claro que os Wolverines vencem usando táticas de guerrilha, que os americanos tem enfrentado em suas intervenções em outros países, olha a ironia. No meio das cenas ação, muitos diálogos exaltando os marines americanos que, ao fim e ao cabo, ajudam a resgatar a América para os americanos.
O interessante é que o filme é um remake, com o mesmo nome, produzido em 1984, no auge da guerra fria. No filme original eram as forças da União Soviética e de Cuba que invadiam os Estados Unidos. A refilmagem pelo menos tem um mérito: a atualidade, vide a crise provocada pelo movimentação militar da Coréia do Norte. 

Em 1987, com o mesmo mote inverossímil do primeiro filme, foi rodada a minissérie  Amerika  que conta a história dos EUA dominado pela União Soviética e é um dos raros casos de séries de qualidade e que mostra a história com outra versão como em A Nação do Medo. O elenco era até estrelado: Kris Kristofferson, Mariel Hemingway, Sam Neill, Cindy Pickett e Robert Ulrich, entre outros.  Desse jeito, teremos um filme sobre invasão estrangeira a cada conflito em que os americanos se envolveram:  vem aí as produções com os afegões,  os iraquianos...

Em Amanhecer Violento os russos estão presentes só como consultores dos coreanos do norte, o que revela que os americanos ainda não mantém suas desconfianças em relação ao  pessoal do leste europeu.  Outra manifestação contra inimigos dos americanos, no caso generalizando,  aparece quando os Wolverines  invadem uma loja da rede Subway e um deles começa a arrecadar lanches com todos os tipos de pão...”menos pão árabe”, faz questão de dizer.

Sutilezas assim fazem de Amanhecer Violento uma peça rara em sua ruindade. Nem a Glória Perez conseguiria  igualar.

sábado, 6 de abril de 2013

Midas redivido - parte 3


* Recomenda-se ler as postagens anteriores. E roga-se ajuda para encontrar um final adequado à história. Desde a primeira publicação da série, em janeiro de 2010, o blogueiro não encontrou uma saída decente para  Midas Revidivo. As contribuições podem ser enviadas para flavidutra@hotmail.com ou aqui mesmo, através de um comentário. Antecipam-se agradecimentos.

Eram tantas as pretendentes ao seu toque mágico que ele passou a ser mais seletivo nas escolhas. Já não havia diversidade nas que compartilhavam a sua cama . Ele claramente optou pelas mais jovens e mais exuberantes, deixando de lado as maduronas, sem os mesmos atrativos das garotinhas escolhidas, mas mais generosas nas contrapartidas materiais. A seletividade - e ele só se deu conta mais tarde - trouxe dissabores. As rejeitadas passaram a hostilizá-lo. Na seqüência, começaram a espalhar boatos e maledicências a respeito dele e do seu desempenho sexual.

- Aquilo? Uma decepção: é muito pequeno.
- Dá apenas uminha e já quer dormir.
- Ouvi dizer que agora está pegando rapazes.
- Achei estranho ele estar usando uma calcinha feminina.
- Só sabe fazer “papai e mamãe”.
- Olha, cheguei a ficar com saudado do meu ex.

A confraria das rejeitadas era formado exclusivamente por mulheres com boa quilometragem, experientes nas tramas que só as mulheres sabem urdir, casadas, descasadas e recasadas, enfim, senhoras a que se deve dar crédito e, sobretudo, temer. Ele não fazia ideia da energia negativa gerada pela rejeição e o estrago na sua reputação que isso provocaria. A injusta má fama logo se espalhou, mas ele não estava nem aí porque ainda tinha uma missão a cumprir. Faltava conquistar a recepcionista da empresa que o evitava, mantendo prudente distância física. Era uma morena sem maiores atributos físicos, mas o fato de ela se manter invicta passou a desafiá-lo.

Só que agora ela era um homem determinado e autoconfiante, por isso direcionou seus esforços para vencer a resistência da moça. Até que um dia precisou trabalhar além do horário para compensar as escapadas e...

- Fazendo hora extra?

Quem perguntava era a morena da recepção, livros à mão indicando que estava de saída para a faculdade.

- Não, já estou de saída também.

Saíram juntos do escritório e no elevador os dois tocaram ao mesmo tempo o botão para o térreo. Foi o suficiente para que a recepcionista, a exemplo de suas outras colegas, começasse a despir-se enquanto fazia o mesmo com ele, beijando-o de alto a baixo. Dessa vez ele não reagiu e se entregou a transa com prazer, sem se importar com a câmara espiã que espreitava o casal em êxtase no sobe e desce do elevador. Sempre sonhara em transar no elevador e agora estava realizando o desejo, por isso curtiu cada momento. Quando finalmente decidiram que era hora de chegar ao térreo, o guarda da portaria, mais preocupado em jogar paciência no computador do que vigiar as câmeras de segurança, não prestou maior atenção a eles. Despediu-se da moça e ficou com gostinho de quero mais.

(continua ?)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Midas redivivo - parte 2

*Recomenda-se ler a postagem anterior

A saída do banheiro esbarrou na estagiária do Departamento Jurídico e antes que pedisse desculpas foi arrastado pela moça para a sala do arquivo. O local era pouco freqüentado naquele horário e a moça, uma belezinha de 21 aninhos, não demorou muito para despir-se completamente e avançar sobre ele. Acuado e atônito, ele ficou sem reação e se deixou levar pela voracidade da parceira. Entre arquivos poirentos e pastas de documentos se entregaram a uma transa rápida mas intensa. Ao final, sem dizer uma só palavra, ela recolocou as roupas e, parecendo plenamente saciada, se despediu mandando beijinhos. “Que loucura foi essa”, ele se perguntou, enquanto recolhia suas roupas e tratava de se ajeitar minimamente para enfrentar o dia de trabalho.

O episódio logo se espalhou, não por iniciativa dele, mas porque a moça não resistiu em compartilhar as emoções do encontro transgressor, logo ela sempre tão recatada. O resultado é que ele passou a ser requisitado para experiências semelhantes por todo o naipe de estagiárias, dos Recursos Humanos às da Diretoria, passando pelo Marketing e os Serviços Gerais. A fama de garanhão corria solta e já não havia mais hora nem lugar vedado às peripécias sexuais. Sem dúvida era uma nova fase na vida dele e ele estava gostando, até porque seu horizonte de conquistas começou a se alargar.

As secretárias da Diretoria e de outros setores exigiram espaços na sua agenda e ele os concedeu com prazer. Eram moças e senhoras mais sofisticadas, algumas estonteantes, e dotadas de bons conteúdos, mas quem disse que elas queriam conversa? Tudo o que elas desejavam era desfrutar dos prazeres que ele proporcionava e para isso não poupavam recursos, proporcionando ótimos jantares, locações nos melhores motéis e viagens e maratonas sexuais nos fins de semana. Ele dava um jeito de atender a todas, inclusive de outras empresas, além das vizinhas e eventualmente de alguma desconhecida, já a fama estava cada vez mais disseminada por onde transitava.

Envolvido nesse reino de fantasias e prazer, ele já não questionava mais porque tudo aquilo estava acontecendo. Achava que devia se conceder o máximo desfrute, afinal, o que antes era obsessão e sonho, agora se tornara realidade. A única preocupação era manter distância de insinuações indesejadas, como a do diretor financeiro, gay assumido, que propôs trocar seus favores sexuais por um carro zero quilômetro. Aí já era demais.

Foi surpreendente também a investida da mulher do presidente da empresa, uma matrona plastificada dos seus 60 anos ou mais, que passou a persegui-lo de todas as formas e com todas as propostas. Não foi fácil desvencilhar-se dela, mas aos encantos da filha, uma loira descasada e desinibida beirando os 30, ele não resistiu, até para ter um ponto de apoio familiar na casa do presidente, caso a mãe, despeitada, resolvesse intrigá-lo com o presidente.

(continua)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Midas redivivo -1ª parte



* Publicado originalmente em fevereiro de 2010.

Ele sempre sonhara em ter nos braços e depois na cama as mais belas mulheres. Nas caminhadas pela cidade, já fazia uma seleção das que lhe interessavam e buscava a diversidade na quantidade. Altas, baixas, magras, mais cheinhas, loiras, morenas, mulheres com cabelos chapinhados ou crespos, ninfetas e trintonas. Na dúvida se escalaria para seu elenco fictício, dava preferência para as de bumbum bem torneados.

Cada uma das selecionadas merecia um enredo e aí a imaginação corria solta. Com a loira de jeans apertado e cintura baixa, sonhou com uma transa naquelas praias paradisíacas do Caribe. Com a morena de lábios carnudos, imaginou mil situações à beira de uma piscina e depois o clímax dentro da água. A baixinha seria personagem de grandes contorcionismos no banco de trás do carro. A mais gordinha teria o privilégio de um pernoite no motel, onde ele poderia percorrer com calma toda a geografia daquele corpo mais avantajado. Para a moça com carinha virginal, reservava os jogos eróticos menos convencionais e para aquela outra, com jeito de safadinha, se entregaria sem pudores, deixando que ela comandasse a brincadeira.

Estava virando obsessão e eram recorrentes os sonhos de conquistas que, na real, jamais aconteceram. Ele achava mesmo que tinha pouco a oferecer: não era bonito, para atlético não servia e ainda penava com o salário magro que o impediria de fazer uma presença às deusas escolhidas. Faltava-lhe, sobretudo, coragem para abordá-las porque não saberia o que dizer depois do primeiro contato. Assim, sem outros predicados, ele queria ser ungido com os poderes mágicos, como os do Rei Midas, o personagem da mitologia grega que recebeu do deus Baco o dom de transformar em ouro tudo o que tocava. Mas seria um Midas moderno porque o ouro de seu desejo seriam as belas garotas que faziam parte da sua galeria de conquistas potenciais. Bastaria um toque, um aperto de mão, um beijo mais carinhoso, e elas se prostrariam aos seus pés, prontas para se transformarem em escravas sexuais, ávidas para satisfazer todos os seus desejos e fantasias, incondicionalmente suas, e sem muito dispêndio de energia na conquista.

No verão, na véspera do seu aniversário, ele passou a noite sonhando que seu desejo se tornara realidade. Foi um sonho contínuo, onde desfilaram todas as mulheres dos seus desejos e mais algumas que o inconsciente ofereceu – celebridades, amiguinhas de adolescência, primas interessantes, atrizes pornôs e até representantes da realeza européia. Acordou banhado em suor e exausto, como se tivesse compartilhado a cama com todas elas, uma de cada vez, é claro. Foi um prazeroso, mas cansativo presente de aniversário, pensou. E ainda havia aquela estranha criatura interferindo no sonho, que se apresentou como Eros e que se vangloriava, porque fora deus na antiguidade, de poder mudar a vida dele para melhor.

O sonho fez dele um homem perturbado a caminho do trabalho. Ele queria entender o significado das imagens que povoaram seu sono e nas divagações de uma manhã num ônibus lotado nem percebeu que sua vizinha de banco passou a pressionar suas coxas e se insinuar por olhares e mais movimentos corporais invasivos do seu espaço. Quando percebeu a movimentação da moça, diferente do usual, ficou constrangido e procurou se afastar. Mas a moça, bonitinha nos seus presumíveis 25 anos, insistia em se aproximar mais e mais e ele começou a ficar preocupado. Temia ser acusado de assédio, logo ele que era a timidez em pessoa. E a moça se achegava cada vez mais e ele estava quase fora do banco quando decidiu descer para evitar maiores problemas. Ao levantar, a vizinha de banco veio atrás e desceu junto do coletivo. Agora ele já estava assustado, certo de que estava sendo vítima de um assalto, na pior das hipóteses, ou de uma pegadinha dessas que ridicularizam as pessoas na tv, na menos pior das hipóteses. A moça veio decidida ao encontro dele no ponto de ônibus, mas ele saiu em disparada e entrou no primeiro táxi que encontrou.

Chegou esbaforido ao escritório e foi direto ao banheiro para molhar o rosto e enxugar o suor. O que viu no espelho foi um homem a beira de um ataque de nervos e precisou de alguns minutos para se recompor.

(continua)

sábado, 30 de março de 2013

O Colecionador


Vou agregar a minha galeria de tipos inesquecíveis mais um: o Colecionador.  Vocês já conhecem o Apaixonado por Panturrilhas, o Tarado por Joanetes, o Deprimido que foi trocado por uma ideologia e o Ritualista, que sempre manda flores para a ex-amada no dia  que marca o aniversario da primeira transa.  Todos circularam aqui no ViaDutra mais ou menos recentemente.

Agora O Colecionador vem trazer ao respeitável público do ViaDutra suas histórias e suas experiências na certeza de que vou socializá-las. O perfil desse personagem se assemelha ao do Ritualista, pois venera a primeira vez, o primeiro encontro, a primeira transa.  Venera tanto que faz questão de marcar o evento com um troféu, daí o apelido que ganhou. Tudo começou quando ele conseguiu vencer a resistência de uma amiga, depois de um longo período de assédio e, emocionado, pediu para ficar com a calcinha da moça. Diante da negativa dela, erigiu sua própria cueca da ocasião como a lembrança daquele momento.  O troféu, agora um modelo fora de moda, está guardado em posição nobre no armário que ele batizou como O Memorial.  Cada peça exposta nessa espécie de sacrário é acompanhada da data do ocorrido e das iniciais do nome da parceira da ocasião. “Não ficaria bem expor o nome completo de interposta pessoa, afinal, alguns dessas situações envolvem casos, digamos, escabrosos”, explica ele, afetando algo de misterioso nas suas relações.

Tem de tudo na inusitada coleção: uma profusão de calcinhas pretas e vermelhas, meias com ligas, soutiens de todos os tamanhos, pelo menos um espartilho, brincos variados, gargantilhas com iniciais no pingente, botas e sapatos de salto alto e até uma cueca  samba canção, que não é a que deu origem ao acervo. Curioso e maledicente, indaguei sobre aquela peça específica, que poderia ser resultado de alguma relação homoafetiva, mas  a explicação foi convincente: “Tem mulher que adora usar as cuecas dos maridos ou namorados”.  Mas ficou ainda uma dúvida:  cuecas  dos maridos ou namorados? Aí tem, mas não espichei a conversa, apenas questionei o que motivaria uma pessoa de hábitos discretos como ele organizar aquele tipo de coleção, com muita diversidade e uma quantidade de peças de dar inveja. “Sou acima de tudo um romântico e custo a me desapegar das pessoas, por isso sempre guardo uma lembrança daqueles momentos especiais que vivemos”, esclareceu, com os olhos quase marejados pelas recordações que vieram naquele momento.

Não tenho porque duvidar da sinceridade de propósitos do meu amigo e quase me comovi também, mas ao fim e ao cabo, fiquei mesmo um tanto deprimido.  Puxa, teria tão poucas peças para colecionar.

sexta-feira, 29 de março de 2013

A pauta da Sexta-feira Santa


* Publicada originalmente em abril de 2012.
Repórter de plantão na Sexta-feira Santa enfrenta uma pauta obrigatória: a cobertura da encenação da Paixão de Cristo no Morro da Cruz, no Partenon, também conhecida como subida ou procissão do Morro da Cruz. O evento ocorre desde 1960, criado pelo padre Angelo Costa, já falecido, e cresce a cada ano, reunindo preferencialmente atores da comunidade. Lá no final da década de 80 do século passado este que vos fala era repórter de geral da Zero Hora, estava de plantão da Sexta-feira Santa e, claro, foi escalado para acompanhar a encenação.
Lembro bem que era um dia quente no final de março e para escapar das obviedades das coberturas tradicionais, decidi escolher dois ou três personagens interpretados por atores locais para, através deles, montar a minha matéria.  Um dos personagens era balconista de uma ferragem e intérprete do soldado romano que passava toda a encenação surrando, com uma espécie de relho, um dos ladrões, que na vida real era motorista de táxi.  É importante esclarecer que a encenação reproduz a Via Sacra  e suas 14 estações ou etapas do suplício de Cristo naquela sexta-feira, há mais de dois  mil anos. Só que alguns atores imprimem demasiado realismo a suas interpretações e era  caso do soldado romano que, volta e meia, pesava a mão contra o pobre e talvez bom ladrão. O infeliz olhava enfurecido para seu algoz, mas nada podia fazer durante a celebração religiosa, mesmo que o sacana legionário revelasse perversa satisfação em maltratar o companheiro de elenco.  Sei lá se não deu o troco após o evento. O soldadinho, um sujeito atarracado e malvado, bem que merecia.
O mais inusitado ainda estava para acontecer naquela encenação do século passado.  O gran finale seria a ascensão de Cristo, a partir da capelinha existente no platô do Morro da Cruz e onde ocorria o final da procissão.  O espetáculo no fim da tarde previa jogo de luzes, uma trilha épica e aqueles fumacinhas de shows,  que acompanhariam a subida do Filho de Deus feito Homem aos céus. Um engenhoso sistema mecânico elevava o ator, com suas vestes brancas, enquanto ele recitava lições de religiosidade. O ator já era o ex-vereador Aldacir Oliboni, considerado a réplica moderna do Cristo, de acordo como mostram as ilustrações que conhecemos.
Pois bem, lá estava o Cristo- Oliboni exortando os fiéis quando, à esquerda do platô, começou uma movimentação frenética. “É ele, é ele, sim!”, repercutia a massa.  Vocês estão autorizados a pensar que era o próprio Cristo redivivo comparecendo ao seu velório, mas na verdade era quase isso, guardadas as proporções e o período histórico. Quem surgia triunfalmente era Sérgio Zambiasi no auge da sua popularidade. O Zamba foi cercado e festejado pela multidão, enquanto Cristo subia ao encontro do Pai,  lentamente e quase de forma incógnita. 
Oliboni ainda tentou atrair a atenção dos infiéis, gritando palavras de ordem pelo sistema de som:  “Cristo está aqui!  Cristo está aqui! Agora é o momento  glorioso da subida aos céus. Venham, venham, é aqui que está o Filho do Senhor! Demos glórias ao Senhor!”, apelava o bom Oliboni. Inúteis apelos.  A massa queria mesmo era confraternizar – e fazer pedidos – a quem mais tinha a oferecer naquele momento.  Entre os consolos espirituais que Oliboni inspirava e os materiais que Zambiasi poderia proporcionar  a escolha do povo pecou pelo pragmatismo, mesmo na Semana Santa.
Confesso que fiquei penalizado com a situação do Oliboni, supliciado durante toda a subida do morro e justo no momento da sua consagração como Cristo e ator o público o abandonava daquela forma, trocando-o por uma situação tão mundana.  De novo, mais de dois mil anos depois, a história se repetia e  o povo renegava Jesus Cristo. 
Insensível público, mas depois fiquei pensando que fatos como o que presenciei talvez expliquem porque Sérgio Zambiasi chegou a senador e Oliboni, mesmo sendo Cristo por um dia, só agora conseguiu assumir como deputado estadual, ainda assim vindo da suplência. Mas aí já é outra história, nada a ver com a Semana Santa.
Boa Páscoa a todos. Que o coelhinho seja mais generoso que a massa que renegou Cristo-Oliboni.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Caldo, ainda


Esse negócio de “caldo” está dando o que falar. A postagem anterior, A Teoria do Caldo, diferente do que pretendia o autor, lançou poucas luzes sobre a origem da expressão “da um caldo” e gerou mais indagações do que certezas. Eis que minha dileta amiga Cintia Votto, ela mesmo uma caldeável de primeira hora, coloca em contato o professor Ari Riboldi, autor da coluna A origem de palavras e expressões” no site Portoweb Cidadão, da Procempa, que oferece uma detalhada explicação etimológica da palavra “caldo” e por aí vai. Vale a pena conferir:

Dar um bom caldo
 
Caldo, do latim “caldus”, quente, aquecido, derivado do verbo “callere”, ser quente fisicamente ou psicologicamente. Os termos e expressões sempre têm uma origem literal e, por extensão, depois assumem acepções figuradas, por comparação. O caldo é o alimento líquido preparado a partir do cozimento, em água fervente, de carnes e outros produtos. É também o sumo de vegetais, frutas (cana, laranja, etc). Todos possuem alto valor nutritivo.

O caldo (canja) de galinha, por exemplo, é muito recomendado para nutrir em períodos de doença, após o parto, na chamada quarentena), depois de um “porre”. Revigora o corpo, devolve as energias e a capacidade física.

Na linguagem das relações sexuais, há muitos tabus – faço palestras também sobre esse tema para homens e mulheres. Empregam-se muitos eufemismos e metáforas para não ir direto ao assunto. As pessoas têm medo de falar do tema e de dizer os termos anatomicamente normais.  Nesse contexto, aparece também o “caldo”, “dar um bom caldo”. Como sou prático, venho da roça, conheço a lida diária, encontro resposta ali para decifrar palavras e expressões, pois são sempre de origem pragmática, calcadas no fazer cotidiano.

P or submissão histórica da mulher, a linguagem sobre sexo sempre tem a visão do homem, é machista. Fulano “comeu” a fulana. E o homem marcava na parede “mais uma”. Seu valor, no meio dos homens, era marcado pela quantidade. Por isso contar aos outros era essencial. Não sei se anatomicamente é o homem que “come”; parece que o verbo seria mais adequado para o que a mulher faz no ato sexual. O termo de agora é “pegar”. O homem deve ser pegador.

Mulher bonita, jovem, de boas carnes era, em tempos idos, um galeto. Sob o ponto de vista masculino, apetitosa, viçosa para ser comida. Como galeto, cozia rapidamente, dava bom caldo e suas carnes podiam servir também de alimento. Atualmente, o galeto fó substituído por gata, em alusão à beleza dos felinos.

Uma galinha velha não ferve na primeira fervura. Pode dar bom caldo, mas precisa de muita lenha no fogo, precisa de muito gás para manter a panela em alta fervura, em alta temperatura, por um longo tempo. Vai render uma boa canja, um bom caldo. A carne, possivelmente, deva ser desprezada, atirada aos cães, porque dela se extraiu tudo e ainda ficou dura para nossos dentes.  Dar um bom caldo, portanto, é ser atraente fisicamente, ter carnes esbeltas, esguias, atraentes aos olhos.

Com a emancipação da mulher, a linguagem sobre sexo tornou-se um pouco menos machista. Antigamente o homem era o lobo, o caçador. A mulher tinha que esperar, ficar bem composta, para não parecer oferecida e promíscua. Hoje ela tem o direito e a liberdade de também ser “caçadora”, embora ainda existam porco-chauvinistas e machistas reacionários.

Caldo, canja, galinha, alimento, sexo, comer, palavras que possuem um fundo cultural que retrata os costumes, o pensamento vigente em determinada época. São as palavras que “tecem” o “tecido” social de um “contexto” maior. Quem ainda possui vestígios de beleza, apesar dos anos, ainda dá um bom caldo. Como se verifica, caldo é uma metáfora, uma comparação direta. Já escrevi demais. Fico satisfeito se algo acrescentei para esclarecer o tal “caldo”.

Espero não ter entornado ainda mais o caldo. Meu intuito foi o de trazer mais luz aos já brilhantes comentários sem ferir suscetibilidades. Quem “ainda” pode dar um bom caldo está em decadência, pois o “ainda” é terrível. O “ainda” retrata algo que está por findar, no ocaso, no crepúsculo, com os dias contados.

PS: Sou um “expert” em galinhas. No programa Jô Soares, da TV Globo, fiz uma galinha dormir na frente do Jô e de sua plateia. Era uma franga paulista que conheci durante a entrevista. Portanto foi uma hipnose sem truques. Um abraço a todos.

Professor Ari Riboldi

sábado, 23 de março de 2013

A teoria do Caldo

Tenho sido provocado com frequência para explicar melhor o que significa o tal de "caldo", que serve para homenagear moças e senhoras das minhas relações pessoais ou virtuais. O que não falta é provocador no Facebook, mas não me intimido diante dos seus reptos,  até porque falar de "caldo é falar em algo prazeroso.

Acho que ouvi a expressão pela primeira vez lá pela década de 80 do século passado na redação de esportes da Zero Hora, que abrigava um time de cobras – e aí cobras pode significar tanto gente talentosa como malévola, algumas incorporando os dois conceitos na mesma pessoa. Pois, foi naquele ambiente que o Ademir dos Santos Fontoura, o Chimba, mestre na arte da diagramação e da sacanagem, cunhou a frase, referindo-se a uma colega de notáveis atributos físicos:  “Fulana dá um caldo!”.  Confesso que até perguntei o porquê da relação "caldo" x atributos físicos, mas fiquei tão impactado pela expressão usada,  justo no momento em que desfilava a nossa frente aquele monumento de mulher, que não gravei qual foi a explicação do Chimba
Lembro que anos mais tarde usei a expressão para saudar minha boa amiga Ana Fagundes, a Guiga e, com todo o respeito, constatei que ela gostou do que ouviu. Ou seja, “caldo” passou a ter a força de um elogio  e, vamos combinar, nenhuma mulher resiste a um elogio, mesmo quando comparada a uma alimentação basicamente aguada. Quando passei a comentar com um “Dá um caldo!” as aparições das minhas amigas no FB, não imaginava a proporção que o elogio ganharia, a ponto de ser disputado por umas como se fosse um troféu e repelido por outras como se fosse uma ofensa, até que recebem a explicação devida no caso das ofendidas.  Vale socializar a explicação:  "caldo" é uma designação reservada às desejáveis!

Criou-se, então, o movimento das "caldeáveis", que cresce dia a dia, inclusive em outras cidades, no país e até no exterior, a ponto de não conseguir reuni-las todas em uma grande confraria como pretendia. Por isso a confraria se reúne no meu coraçãozinho, onde sempre cabe mais uma.
Agora se me perguntarem o que tem a ver "caldo" com tudo isso, respondo peremptoriamente: não sei.  Só sei que funciona.