domingo, 20 de janeiro de 2013

Se Curasal fosse um país ou o que faz a ociosidade

Um plebiscito vai propor a independência de Curasal do Brasil.  A ideia é inspirada na revolução Farroupilha, uma vez que a futura capital, a próspera Âncora, nasceu com o nome de Bento Gonçalves e as seis ruas da localidade ganharam nomes de vultos históricos dos farrapos, como Anita Garibaldi, Antonio Neto, Davi Canabarro. 

O novo país será dividido em dois territórios bem definidos: Curasal do Sul e Curasal do Norte, separados pela principal rodovia da região, a Interpraias, que certamente receberá um novo nome. Outros territórios de menor importância serão  Marambaia, Bom Jesus e Curumim na fronteira com Arroio Teixeira, e Figueirinha e Raiante na fronteira com Arroio do Sal.  As duas fronteiras serão fortemente vigiadas porque Curasal já nasce com pretensões expansionistas e tem ocorrido atos de beligerância nos limites com os dois vizinhos. 
Movimentos radicais se preparam para propor ações bélicas visando a anexação de Arroio do Sal e depois Rondinha e Torres, isso litoral acima, e Arroio Teixeira, Capão Novo, Praia do Barco e toda a Capão da Canoa, litoral abaixo, preservando apenas Xangri-lá porque isso não é nome que se dê a uma localidade.  O critério para anexação será o étnico:  praias com pessoal predominantemente da região serrana correm riscos.  Existe até quem advogue que o novo país se chame Gringolândia.

O problema para o enfrentamento com os vizinhos é que as forças armadas de Curasal se resumem a meia dúzia de salva-vidas que serão nacionalizados, tornando-se cidadãos curasalenses. A verdade é que os futuros adversários estão mais bem equipados e provavelmente o governo de Curasal será obrigado a recorrer a mercenários, a exemplo do que fizeram os farroupilhas com Giuseppe Garibaldi.

A Constituição do novo país validará um regime inédito, que será conhecido como Rodízio Democrático, pronunciado com carregado sotaque de gringo. Funciona assim: de seis em seis meses um dos comerciantes da região assume o executivo, enquanto os outros compõem a Câmara de Representantes, que seria uma espécie de legislativo. É a forma engenhosa de valorizar o empreendedorismo e evitar que se eternizem nos cargos. Só não está definido como esse pessoal será eleito, mas aí já é detalhe.
 A Carta Magna, para reforçar o patriotismo da população, vai exigir que todos os órgãos públicos e grandes empresas agreguem o nome do país.  Assim, teremos a Air Curasal (um teco-teco e dois paragliders),  a CurasalNet (distribuidora de sinal de TV), a Olá Curasal (operadora de telefonia celular), a TeleCurasal (principal rede de TV), a RMC (Rede de Metrôs de Curasal), a Loide  Curasal (marinha mercante à serviço dos pescadores) e por aí vai.

Difícil dizer se daria certo, mas que seria divertido, ah,seria!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Mulheres misteriosas

Conheço um especialista no sexo feminino que tem uma tese interessante. Acompanhe o relato:

Experimente dizer a uma mulher que ela é um tanto misteriosa. Pronto, pode ser a maior deusa, mas você acaba de atrair a atenção dela, que é o primeiro passo para algo mais insinuante e intenso depois. Mulheres, todas elas, adoram parecer misteriosas, sugerindo esconder grandes e pecaminosos segredos. Porém,  diante da sua afirmação, ela vai abrir um sorriso que se pretende enigmático e responderá questionando: “Misteriosa eu? Nada disso sou a pessoa mais simples que existe.”  Em seguida vai emendar uma série de qualidades que a distingue das outras mortais,  uma vez que tanto quanto se considerar misteriosa, mulher adora falar de si mesmo, admitindo : “Sim,sou um pouco vaidosa”, e aí cai a máscara da misteriosa fake. Mesmo assim, é insistindo no lado misterioso que você vai fisgá-la. Insista, jogue iscas sobre segredos que você gostaria de saber, insinue que você sabe o que ela fez no verão passado e a moça está dominada.  
É o que sustenta o nosso especialista.
Para aprofundar tão palpitante assunto, fui ao mestre Google conferir o verbete Mulheres Misteriosas e fiquei pasmo: são mais de 1,4 milhão de resultados, isso há dois dias. Bota mistério nisso. E eu achando que estava sendo original trazendo o tema a baila. Que nada, tem gente muito mais talentosa futricando no tema e falando à respeito.  Tati Bernardi( www.tatibernardi.com ), por exemplo, diz que é fácil reconhecer a mulher misteriosa: ela jamais vai atender o celular na sua frente; se levanta e vai atender bem longe de voce; numa mesa de bar com conversa animada ela se limita a sorrir; numa festa importante ela se limita a aparecer por minutos  e desaparecer em segundos; em um show ela jamais canta as letras, rebola, comemora, fica suada, aliás, quem é que já encontrou ela em algum show?

Tati Bernardi sabe o que diz por que é mulher e confessa que sempre quis ser dessas mulheres imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis, mas nunca conseguiu. “Sofri anos com isso. Até que resolvi conviver de perto com algumas mulheres misteriosas para tentar descobrir o que se passa na cabeça e na alma desses seres incríveis que nunca têm nada a dizer (...). E descobri que a coisa era muito mais simples do que eu imaginava: nada. As mulheres misteriosas, tão admiradas e desejadas, não passam de mulheres sem a menor graça. Elas não calam por mistério, charme ou discrição. Calam porque simplesmente não há nada mais sábio que elas possam fazer”.

A descoberta da blogueira vem ao encontro do que sucedeu com amigo nosso que insistia em convidar uma colega para um happy e quem sabe uma esticada depois. A moça era daquelas que adorava citar Marisa Monte ( 'Eu não sou difícil de ler, faça sua parte ,eu sou daqui, eu não sou de Marte (...) Olha minha cara, é só mistério, não tem segredo’ em Infinito Particular)  e sistematicamente recusava o convite, insinuando compromissos noturnos envoltos em grande mistério.  Certa noite o sujeito resolveu conferir in loco os segredos e ficou de campana próximo a casa da moça. De repente, surge ela, olhar distraído, levando seus quatro cães para passear. Ela não era misteriosa, era solitária.

Falamos das tais mulheres misteriosas, agora se você conhecer homens se fazendo de misterioso, ou o cara é flor de bambi ou está devendo pra Justiça.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O homem que amava joanetes

Por alguma razão que desconheço sou procurado por amigos com histórias exóticas ou escabrosas. E sempre envolvendo o sexo oposto, seus atrativos e defeitos e, digamos, seu potencial na hora do vamos ver. Cada história cabeluda. Mas, apesar da insistência dos bandalhos, vou poupá-los de reproduzir as situações menos nobres e civilizadas.

A verdade é que nem as mulheres escapam de uma ou outra intervenção mais liberal, mais contundente, como a provocada por moças de conduta inatacável, próximas ao blogueiro, que revelaram a preferência feminina por homens que usam aliança. A justificativa tem um quê de psicológico, pois está em jogo uma disputa entre a titular daquele dedo aliançado e a lambisgóia candidata a ser” a outra”. Confesso que fiquei pasmo com a explicação, uma vez que sou casado há séculos e não uso o adereço – e a Santa também não – bah, faz tempo. Isso significa que estou blindado contra assédios, eu que até estava pensando em voltar a usar aliança.

Outro parceiro revelou tempos atrás sua tara por panturrilhas femininas, a popular barriga da perna. A revelação ocorreu quando assistíamos a um programa esportivo e ele comentou que conhecera a apresentadora, moça de dotes interessantes, para em seguida desqualificá-la: “A panturrilha é reta, sem encantos”. Em seguida emendou uma série de predicados sobre panturrilhas bem torneadas e a atração que elas exerciam sobre ele. Como diria o Túlio Milmann, não há o que não haja.

Agora me apareceu outro sujeito com, para mim, uma inusitada preferência: joanetes. O cara é um pedólatra assumido, ou seja, tem fixação nos pés femininos, só que sofisticou o fetiche, segmentando sua tara para o joanete. Como se sabe, o joanete é uma espécie de calo na parte externa do dedão do pé, que pode ser dolorido. As mulheres são mais propensas a terem as tais calosidades. O uso de sapatos de bico fino e de salto alto pode causar o aparecimento do joanete. Pois nosso amigo desenvolveu um carinho todo especial por aquele pequeno promontório nos pés femininos, a tal ponto que caminha pela cidade com os olhos fixados no andar das moças e senhoras. "As sandálias rasteirinhas tem ajudado muito na seleção dos melhores joanetes", comemora.


Só pelo caminhar da futura presa ele é capaz de identificar um joanete que será fonte de muito prazer.  Segundo revela, as que pisam macio não dão caldo, porque provavelmente não sofrem com os joanetes e, assim, não são merecedoras do carinho devotado pelo joaneteiro militante. Fiquei vivamente interessado em aprofundar o assunto, saber como se dava o encontro entre as partes, no caso ele e o joanete, e como se desenvolvia o rola-rola a partir disso. Egoisticamente, o sujeito me sonegou as informações, mas deixou uma mensagem enigmática:


- Melhor que joanete só a massagem tântrica!

sábado, 12 de janeiro de 2013

Quando vale a pena

Semana passada assisti ao encontro do prefeito  José Fortunati com o jovem Guinther Saibro Vieira, 19 anos  que cursou o POP, o  pré-vestibular gratuito da prefeitura, e fez a proeza de conquistar o primeiro lugar no concorrido vestibular de Engenharia Elétrica da PUC.  Como vocês sabem sou um sujeito rodado, mas me emocionou a simplicidade faceira do rapaz,  que se fez símbolo de superação, diante do reconhecimento do prefeito e dos parceiros no POP (União Estadual de Estudantes e Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia).  Mais sensibilizado fiquei  quando soube que todos os 78 estudantes que fizeram o vestibular da PUC foram aprovados.  São casos como esse, em que a soma de esforços garante resultados positivos para uma política pública e muda a vida das pessoas, que fazem valer a pena estar no serviço público.

A  gratificação – e não estou falando em retorno material – por estar a serviço do que é público não chega a ser estimulante diante da abrangência e a proporção das demandas e da impotência para atender a tudo e a todos. Daí a frustração que acomete quem tem consciência do real papel do servidor público e que afeta mesmo os agentes políticos atraídos para o executivo. E é mais frustrante quando se enfrenta outros poderes como a Mídia – acima do bem e do mal e  guardiã de toda a verdade -  e o Ministério Público, que quer governar mais que o governo.  Em nome do papel relevante e absolutamente infalível que se atribuem,  esses dois poderes cometem injustiças, equívocos e sandices que só uma postura arrogante pode explicar.

Até consigo entender o comportamento da Mídia que precisa mostrar que não é oficialista, por isso, se for necessário crucificar alguém a ficha 001 vai para o poder público. Teria vários exemplos para confirmar a afirmativa, mas vou me fixar no mais recente “feito” do MP, em que um dos seus luminares representantes decidiu pedir à Justiça o fim de todas as concessões de táxi em Porto Alegre.  Sem entrar no mérito das situações irregulares que teriam embasado o pedido, vamos combinar que se o pedido fosse considerado pela Justiça – e não o foi, felizmente – provocaria o caos no serviço de táxi da cidade, que já está pressionado para que seja ampliado.   O MP quis dar um choque, justificam os que defendem a judicialização proposta. Bobagem, sandice, despreparo. Remédio que mata o paciente não é remédio, é veneno.
Este desabafo já serve para mitigar o incômodo, dolorido às vezes,  provocado pelas ações dessas poderosas forças externas que, aparentemente, não estão comprometidas com a vida real.  Melhor que isso, só o brilho no olhar do jovem Guinther para renovar nossa confiança e nossa energia. Sim, companheiros, vale a pena.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Esse car... sou eu.

O modelo é 1950, 6.3,  carcaça e peças todas originais, em bom estado de conservação. Ótima série, já está na terceira geração.  Problema antigo, que expelia muita fumaça, já sanado. Pega de primeira, sem  necessidade de aditivos, ainda.Movido a adulações e mimos.  Pronto para novas arrancadas e para proporcionar alegrias e prazer a quem se interessar. Tratar direto com o próprio.
(6 de janeiro de 2013: até aqui, tudo bem!)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Pedidos ao novíssimo Ano

Eis que está chegando um novo ano e é hora de fazer pedidos e assumir compromissos. Modesto que sou, vou acrescentar pouca coisa aos meus pedidos de anos anteriores já que tenho sido privilegiado nas minhas reivindicações pelos Deuses da Terceira Idade. Mas não esmoreço, nem baixo a guarda, por isso trato de avisar ao jovem Ano sobre alguns pedidos de caráter permanente. Vamos que o velho Ano tenha ficado caduco e esqueça-se de passar o serviço.

 Só para lembrar, meu infantil Novo Ano, reitero encarecidamente o pedido já feito: livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os mordedores em geral e os pedintes de favores. Se possível, afaste os hipocondríacos, com suas doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.

Promissor Novo Ano, não me leve a mal, mas gostaria de acrescentar outros pedidos. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e daí-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e energia para novos desafios, porque bem sei, minha criança, que algum tropeço há de ter e faz parte da jornada.

Vamos tratar de coisas práticas, meu pueril 2013? No repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável. Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, mas dá uma forcinha para que a Rafaela aprenda logo a me chamar de vô, porque a Maria Clara já evoluiu do “liolô”.

E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2013. Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada, um vinho encorpado para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o gosto feminino. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele restaurante.  Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. Vamos combinar que não é pedir demais.

Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e falar menos, respeitar mais e debochar menos, lembrar o aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e bem-aventurado Novo Ano.

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

O melhor de todos os natais

O Natal e eu temos uma relação de respeito, mas de pouca emoção e de nenhum entusiasmo. Já vivi muitos natais e houve uma época em que curtia a festa, ansiava pela chegada dos dias luminosos que precediam o Natal, porque o melhor da festa é esperar por ela. Aí vinha a noite mágica e a criança que eu era acreditava mesmo, mais do que em Papai Noel,  que o Salvador renascera e que um novo tempo, um tempo mais feliz, se avizinhava . Nem eram os presentes,  modestos naqueles tempos, nem a algazarra do encontro de primos e tios o que fazia a magia daqueles  Natais,  mas a crença, incutida por meus pais e pela escola e a igreja que frequentava, de que era preciso dar glória a deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. E assim seríamos mais felizes. Sim, eu acreditava.

Com o tempo tudo mudou e essa alegria forçada,  esses votos de saúde e felicidade que não convencem, essas promessas que não correspondem a atos,  essa harmonia que não se consuma, banalizaram os meus natais e lá já se vai mais de meio século. Ainda resiste a confraternização com muita gente em volta, mas há um quê de melancolia em tudo isso.  Vai mais uma cerveja... aceita um salgadinho?  Apesar de tudo,  continua o meu mais profundo respeito, quase inveja, a quem dá sentido ao seu Natal e compartilha com seu próximo. Para mim são pessoas especiais.

Talvez eu  possa voltar a ser criança, gostar de Natal e acreditar de novo no Menino Jesus e no Papai Noel. Deve ser realmente mágica e santificada a festa que faz brilhar os olhos e encantar  Maria Clara e Rafaela, minhas netas adoradas.  Os olhinhos brilhantes e a alegria sem fim das pequenas são reprimendas ao velho descrente e uma convocação para que comungue do mesmo encantamento em pelo menos uma noite.   Vou me esforçar crianças e,  se assim for, será uma noite feliz e o melhor de todos os natais .

domingo, 16 de dezembro de 2012

50 anos de TV, meninos eu vivi.



Sou provavelmente o recordista de entradas e saídas na RBS. Foram cinco oportunidades e mais de 15 anos atuando no grupo, incluindo três vezes na Zero Hora, uma vez na Rádio Gaúcha e outra na RBS TV/TVCom. É importante esclarecer que todas as saídas foram por minha iniciativa, o que me fez perder generosas parcelas do Fundo de Garantia. Não é arrependimento, mas um lamento pelo fato de nunca ter sido jubilado, pois o máximo que permaneci numa das empresas do grupo  foram sete anos, na Rádio Gaúcha, ou seja, faltaram três anos para eu receber o troféu e o relógio (ainda dão relógios?).  Também tive direito a poucos PPRs (programa de participação nos resultados) e fiquei de fora do início do RBS Previ, que incorporava ao fundo previdenciário todos os anos anteriores na empresa.  Com isso, mereceria  o título de homem certo, no lugar certo, na hora errada.
Esse passado me vem a lembrança agora que o grupo comemora os 50 anos da RBS TV, da minha ultima passagem pela RBS, isso de 1999 a 2002.  Volto no tempo e vejo o menino de 12 anos fascinado com a inauguração de mais uma emissora de TV em Porto Alegre:  a TV Gaucha, Canal 12, que veio inovar o meio televisivo local dominado até então pela pioneira TV Piratini, implantada em 1959.  As duas emissoras se instalaram no Morro de Santa Tereza, a menos de um quilômetro uma da outra.  Só que, já a partir do prédio e das identidades visuais, a TV Gaúcha já estabelecia diferencias em relação à envelhecida Piratini, atrelada à confusão que era os Diários Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand.  Mas foi uma luta bonita pela audiência, de um lado as modernidades do Canal 12 e do outro a tradição do Canal 5. 

Com o passar dos anos, errando e acertando, investindo em bons profissionais, em conteúdos que reforçassem os valores regionais e, sobretudo, com a afiliação à Rede Globo, que começava a tomar conta do Brasil no inicio dos anos 70 do século passado, a TV Gaúcha/RBS TV assumiu a liderança inconteste entre os gaúchos.  Já a Piratini foi definhando junto com os Associados e teve a concessão cassada e entregue a Silvio Santos – hoje é o SBT de Porto Alegre, enquanto as instalações acabaram ocupadas pela minha amada TVE.
Houve ainda um período de liderança da TV Difusora, Canal 10 , no início da década de 70, quando estava associada à Record de Paulo Machado de Carvalho e ousou bancar a primeira transmissão a cores, na Festa da Uva de 1972.  O investimento malogrado dos padres Capuchinhos, que tinham a concessão, na TV Rio e na TV Record levou a Difusora quase a insolvência até ser negociada à Rede Bandeirantes. Trabalhei nesse época lá nas instalações da Delfino Riet, no Partenon, e acompanhei  o esforço dos padres e dos operadores da TV , Walmor Bergesch e Salimem Junior, para manter os salários em dia.

Certa vez, frei Osébio Borghetti,um dos cabeças dos religiosos, pediu ao locutor Flávio Martins que lesse uma mensagem na Rádio Difusora pedindo o retorno de outro dirigente da ordem, que viajava pelo interior, e sem a assinatura do qual o pagamento não sairia.  Flávio, devidamente motivado pelos companheiros, leu a mensagem em tom dramático, durante o programa de esportes do meio dia : “...por favor, retorne o quanto antes a Porto Alegre.”  O tom era tão dramático que depois da segunda irradiação, a nota já foi retirada. O certo é que no dia seguinte o pagamento foi honrado e essa historinha entra no texto como Pilatos no Credo...

Citei Walmor Bergesch e Salimem Junior porque è aos pioneiros da TV no Rio Grande do Sul,  dos tempos heroicos de poucos recursos técnicos e muita determinação, período e nomes  que o próprio Bergesch  tão bem registra no livro Os Televisionários, que rendo minha humilde homenagem agora que a mais antiga das nossas emissoras em operação completa seu cinquentenário.  E vai também meu reconhecimento, igual que fui, aos profissionais que fazem o dia a dia da RBS TV.  Eu sei o que custa se renovar todos os dias, por isso festejo os inúmeros amigos que fiz nas minhas andanças televisivas. A festa mesmo é quando a gente se vê por aí.
 

sábado, 15 de dezembro de 2012

A festa da firma - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de A festa da firma

O cenário contribui para criar o clima que vai funcionar como contraponto e negação às chatices do cotidiano. A música convida ao balanço e a bebida liberada desinibe até o sisudo chefe do RH. Se houver troca de presentes, surge a primeira chance de um amasso naquela colega bem dotada que a sorte reservou para você no amigo secreto. Enfim, está tudo pronto para que a festa descambe para práticas que extrapolam os limites do coleguismo. Olhares, gestos, palavras fazem parte do processo de interação e, aos poucos, as parcerias vão se formando naturalmente, por afinidades, desejos e pretensões fixadas com antecedência. Muitos colegas já chegam emparceirados e a festa é apenas a última etapa para os finalmente.

Na verdade, nada acontece por acaso. Aquela moça que de repente surge a sua frente, no caminho para o bufê, estava de olho em você há muito tempo. E aquela outra que era o seu sonho de consumo está logo ali, olhar pidão, esperando o convite para sacolejar na pista de dança. Você é caçador e é caça. Valeria a pena uma descrição mais detalhada desses momentos que expressam a realização plena da nobre arte da sedução. Mas vamos deixar para outra ocasião, porque agora o mais importante é repassar algumas dicas, especialmente preparadas por experts, que garantirão o sucesso da noitada.

Cuidado com a bebida é a primeira recomendação. Na dose certa ela encoraja; em excesso pode transformar você no bobo da corte com direito a todos os micos. Se ainda assim você conseguir ficar com alguém pode faltar energia na hora do vamos ver. (Lembre-se, existe vida real no dia seguinte).

Saiba também que mulher detesta bafo de cerveja, mas tem boa tolerância ao vinho e aos espumantes. Ah, os espumantes. Mulher adora dizer que adora espumantes. Então, é por aí. A cautela com a alimentação também é necessária. Nada mais desagradável que uma indisposição estomacal quando você está quase consumando o sonho de arrastar pra intimidade aquela morena dos Serviços Gerais. Pegue leve, portanto.

Pra não alongar mais o papo, o último - e talvez principal - conselho dos especialistas: tenha foco. Escolha o alvo, mire nele e vá em frente. No máximo, tenha um plano B à mão, caso a primeira alternativa não dê certo. Se você ficar dando tiros a esmo, vai gastar toda a munição, afugentar as potenciais pretendentes e, no fim da noite, terá que se contentar com aquela solteirona faceira do Almoxarifado, tamanho GG, mas trajando um modelito 42, vermelho "cheguei". (Prepare-se para ser sacaneado pelos colegas no dia seguinte e em todos os dias até a próxima festa).

Dentro do mesmo sub-tema, cuidado com suas escolhas. Certifique-se de que a parceira pretendida já não está comprometida com outras instâncias hierárquicas da empresa. Não faça como aquele contínuo boa pinta que se assanhou com a secretária da diretoria e no dia seguinte foi demitido pelo diretor financeiro, que tinha mais "cacife" que o afoito jovem. Se pintar um sinal de alerta durante o cerco à colega, saia de fininho e parta para outra. Manter o emprego é mais importante que uma noitada. O mercado de trabalho não está pra peixe e, afinal, sempre há outras opções no elenco feminino de sua empresa. Á luta, companheiros.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A festa da firma - parte 1

De todas as celebrações  de fim de ano a mais esfuziante, sem dúvida, é a chamada festa da firma. Como já passei por muitas firmas e borboleteei por inúmeras confraternizações de final de ano, permito-me reproduzir aqui um texto, originalmente publicado em dezembro de 2009 e devidamente reeditado, sobre esse marcante evento. Aí está:

Fim de ano é tempo de confraternização nos locais de trabalho. Conhecidas vulgarmente como “a festa da firma”, essas confraternizações estão a merecer um estudo sociológico sobre suas implicações, que vão além das afinidades funcionais. Na verdade, o estudo precisaria ser mais amplo por conta das relações perigosas que se estabelecem no ambiente de trabalho, em níveis inferiores e superiores.

Vamos combinar que a prática de sexo no ambiente de trabalho, seja público ou privado, não é coisa nova. Deve ser tão antiga quanto os escritórios ou as repartições e, por certo, teve início quando homens e mulheres passaram a conviver boa parte do dia no mesmo espaço. Só que se acentuou com a liberação dos costumes e os confortos proporcionados pelos escritórios modernos, climatizados e com aqueles sofás convidativos. O cinemão hollyodiano se ocupa do tema com freqüência e "Atração Fatal" (de 1987, com Michael Douglas e Glenn Close) talvez seja o exemplo mais conhecido.

O que chama a atenção é o fetiche que o ambiente de trabalho significa para determinados funcionários e funcionárias. Tive acesso a inúmeros depoimentos de gente que se imagina transando em cima das mesas, entre grampeadores e computadores, relatórios e agendas e, às vezes, a foto de uma cena de família a espreitar os amantes. E conheço também alguns casos em que esse sonho foi realizado e todos garantem que é um momento único, pelo que representa de transgressão. E se for na sala do chefe, melhor ainda. Sei do caso de um contínuo que para se vingar da tirania do chefe transava no escritório dele com a faxineira, que era a garantia que tudo ficaria limpo e em ordem no final.

Mas o nosso foco é essa circunstância que predispõe às relações perigosas, coleguismo à parte, nos escritórios - " a festa da firma". Os congraçamentos servem para liberar alguns desejos sufocados no dia a dia da empresa, que impõe exigências cada vez maiores de produtividade, gerando insegurança quanto ao futuro e muito estresse. A verdade é que nesse contexto fica mais difícil a libido aflorar.

Aí vem o dia da grande festa de fim de ano e um frisson perpassa o ambiente de trabalho. As mulheres se produzem, marcam hora no cabeleireiro ou lançam mão da chapinha e à noite surgem resplandecentes com suas melhores roupinhas. Amigas sinceras me confidenciaram que estréiam peças íntimas, recém adquiridas, nessas ocasiões. Os homens não chegam a tanto, mas também se preocupam em dar um trato no visual.

(continua)