quarta-feira, 21 de outubro de 2020

REFLEXÕES EM TEMPO DE PANDEMIA OU QUASE EX-PANDEMIA

1.      Parece que a disputa dos clubes no Campeonato Brasileiro não é pelos pontos, mas pra ver quem usa as camisetas mais exóticas.

2.      O senador aquele passou a ser conhecido em Roraima como Chicu Rodrigues.

3.      Naquele Estado, os mandatos no senado lembram um antigo comercial da  Dreher: De pai para afilho desde...

4.       Bah, ainda tem gente que confunde sexo anal com sexo anual...E que acha que sexo oral é falar sacanagem pros parças.

5.      Da Postagem Alheia: “Se não quiser uma cidade suja, não deposite  lixo na urna”. (Mário Sérgio Cortella)

6.      Cresce a probabilidade de a Mais Sinistra Mãe de Todas as Batalhas ser a dos Contra x dos a  Favor da Vacina.

7.      Depois da Cloroquina agora ideologizaram a vacina.

8.      De direita e esquerda a vacina só tem interesse em saber em qual braço vai ser aplicada.

9.      Já eu vou ser ficha 001 na vacinação!

10.  Pergunta que não quer calar: demanda reprimida faz terapia? (By Cristina Dutra Bortolozzo)

11.  Da série Perguntas Impertinentes:  Por que o Nhonho, que opina sobre tudo, até agora não se manifestou sobre o senador do seu partido pego com dinheiro na cueca?

12.  Ditado reciclado: Mais omissão do que o silêncio do Papa sobre as igrejas queimadas no Chile.

13.  Manifestantes chilenos relegaram às igrejas ao fogo do inferno.

14.  Leonardo Gaciba, mais rejeitado do que certas candidaturas.

15.  O que tem de candidato “vem comigo” nesta eleição!

16.  Tese eleitoral: a maioria dos indecisos já sabe em quem não vai votar, mas ainda não decidiu em quem votar.

17.  Interessante:  ainda não vi nenhum  candidato médico com o estetoscópio pendurado no pescoço. Isso é um clássico das eleições.

18.  As mais recentes pesquisas indicam quem não vai ser o próximo prefeito de Porto Alegre.

19.  A que ponto chegamos: a esquerda daqui já se contenta com a vitória do candidato do Evo Morales na Bolívia.

20.  Sábado à tarde na Globo é o Horário Político da família Hulk. Com dois anos de antecipação...

21.  Reflexões de hoje mais apelativas do que nunca, né?

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Meu lugar de fala

* Publicado em 19/10/2020 em coletiva.net

Sempre pensei que lugar de fala era a tribuna, o púlpito, a mesa de bar ou em frente ao microfone. Agora descubro que é um conceito que confere autoridade e legitimidade a uma pessoa para discorrer sobre sua condição social por pertencer a um grupo, seja étnico, de gênero, religioso, político e tantos outros representativos de minorias.  O conceito é sociológico e, se aprofundarmos as explicações sobre ele, vamos adentrar num cipoal de termos acadêmicos, daqueles que adornam e dão status às teses de mestrado.

No Brasil, o termo foi popularizado graças a filósofa Djamila Ribeiro, autora do livro “O que é lugar de fala?”  Desde então,  tem sido muito usado por militantes feministas e dos movimentos sociais em geral, mas está chegando com força nas mídias tradicionais, adotado por comunicadores que querem parecer moderninhos.

“Lugar de fala” é, sobretudo,  uma expressão sob medida para o pessoal do campo de esquerda, só que é entre setores menos dogmáticos dessa mesma esquerda que constato nas redes sociais muitas críticas a quem usa o termo como argumento na falta de outros argumentos. A crítica é que se  tornou a um instrumento de exclusão de quem não é representativo de determinado tema, restringindo o diálogo e o debate.  Alegar “lugar de fala” conferiria uma superioridade moral e intelectual sobre as demais pessoas. É mais ou menos como dizer “você não é gordo, portanto não pode falar sobre obesidade comigo que sou gordo”, atacando a pessoa que está argumentando em vez de atacar o argumento que ela está usando.

O tema é muito sensível nestes tempos de polarização em todas as questões. Por isso, com o legítimo receio de ser rotulado de reacionário, vou me valer do artigo do doutor em Filosofia Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia, para reforçar o uso inadequado e radical do “lugar de fala” (o artigo é “Precisamos falar em lugar de fala”, encontrável na Internet). Para o mestre, assim como a direita fez com o “politicamente correto”, de forma a desqualificar comportamentos de respeito e consideração pelos outros, a esquerda também lança mão de ferramentas conceituais de viés ideológico para uso na luta política e “lugar de fala” é uma delas com destaque, pouco importando as intenções originárias do conceito.

Em seguida, enumera oito argumentos contra o que chama de ferramenta ideológica do “lugar de fala”. Os mais contundentes afirmam que o “lugar de fala” é o novo fundamentalismo político, refúgio dos dogmáticos e intolerantes; que é o lugar do “cale-se” aplicado a todos os que não são como a gente; que é o álibi perfeito para reivindicar monopólio de fala. Em todos os casos, acrescento eu, a posição contrária é taxada de “fascista”.

E conclui Wilson Gomes:  o “lugar de fala” se transformou em mais uma das formas com que a esquerda se autodevora.

Agora, concluo eu, “lugar de fala” vai render, com o perdão da redundância, muita fala ainda, talvez até uma nova “mãe de todas as batalhas” -  Djamila Ribeiro x Wilson Gomes. De minha parte, vou apelar para uma corruptela do termo e  bradar que meu lugar de fala é aqui, no coletiva.net.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

REFLEXÕES EM TEMPO DE PANDEMIA OU QUASE EX-PANDEMIA


 

1.    1.   Interessante: não vi nenhum candidato com final 171 no seu número de  registro.

2.    2.   Pelo que observo nas redes sociais, o grampeador virou personagem na campanha de Porto Alegre...

3.     3.  O caso do senador da cueca é a típica corrupção escatológica.

4.    4.   O filmagem da revista íntima no senador foi liberada para ser exibida, mas só na TV Playboy.

5.     5. Este 2020 será um anus inesquecível para o senador...

      5.1.  ...Mas que foi denunciado porque parecia estar com a barraca armada.

6.      6.O anus está na moda. Título do livro de memórias que o Nelson Motta vai lançar: De cu pra lua.

7.   7.   Trilha sonora no lançamento será na base do Kuduro.

8.    8.  Entretanto, tem quem ache que Kuduro não é gênero musical, mas nádegas sem grana.

9.     9. Da Postagem Alheia: “Médico feliz é o proctologista do senador Chico.,,a cada consulta já retira o pagamento na boca do caixa” (by Andre Freiser)

10.  10.Da postagem alheia: “Depois do PIX governo cria o CUX, novo aplicativo financeiro” 

11.11.  Enquanto estiver sendo liberado, tudo bem para o Robinho. Ele deve começar a se preocupar  com o contrário...

12.  12.;Dependendo, uma nova liberação pode ocorrer só depois de 9 anos!

13.13.  O Grêmio podia aproveitar e, como o Santos, liberar também o seu Robinho...

14. 14.  Certas candidaturas estão como o Imortal tricolor: não decolam.

15. 15. Aliás, o clube está pedindo que o árbitro de sábado VAR PQP...

16.16.  Daqui a pouco vão inventar o Var dos árbitros do Var.

1717..  Por enquanto, o Var do Var são os comentaristas de arbitragem, só que não mudam resultado.

1819.. 18. Tia Carmen parece arrependida de sua vida pecaminosa e aderiu ao PSC – Partido Social Cristão...

19.20.  Sabem por que não atrevo a me candidatar? É que seria tentado a fazer uma rima rica com Dutra no espaço da TV...

20.21  A principal diferença entre a novela e a vida real é que a vida real não tem trilha sonora!

21. 22 O novo programa da Angélica na Globo parece ser programa para a campanha de virar primeira-dama da República.

22.23  Da Postagem Alheia: “ O fio dental é o maior símbolo da democracia, porque separa a esquerda da direita, protege o centro, faz mudar o ponto de vista de casa um e põe o povo todo a olhar para o mesmo objetivo.”

23. 24 Por uma semana ensolarada e produtiva, roguemos com fervor.

 

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

REFLEXÕES EM TEMPO DE PANDEMIA OU QUASE EX-PANDEMIA

 1.Os Correios voltaram a funcionar. Ontem recebi as contas a pagar de agosto.

2. O Narco Aurelio Melo perde tantas votações no STF que já é conhecido entre seus pares como Joãozinho do Passo Errado.

3. No caso da soltura do traficante, o Fux fucks a decisão do Narco Aurélio.

4. Desse jeito, o Marcocaélio vai pra segunda divisão do STF.

5. O pessoal do Rap não vai reclamar pelo uso indevido do seu artístico nome pelo traficante que fugou por culpa do Maconhélio?

6. Aos que são contra as aulas presenciais: até a Escolinha do Professor Raimundo está voltando.

7. Da série  Nomes Que Não Condicionam o Destino: o Adélio não é bispo, o Eduardo Leite não sabe ordenhar e o Ricardo Lewandovsky nunca foi craque de bola.

8. “Vô, tem um troquinho aí pro almoço?”. Estes garis estão muito abusados.

9. Que  coisa: a cueca passou a desempenhar um papel importante na corrupção brasileira!

10. Eis o que disse em sua defesa o senador flagrado com dinheiro no fiofó: “Nádegas a declarar!” (de vários autores)

11. Eis o que disse o policial federal que fez a revista íntima no senador: “Que m...!”

12. O corrupto levou um pé nas nádegas e deixou a vice-liderança do governo.

13. Agora está com o rabo preso.  

14. Era uma abundância de dinheiro.

15.Teriam os reais algum efeito afrodisíaco?

16. Crise x oportunidade: produção e comercialização de cuecas escondedoras de dinheiro e à prova de Policia Federal.

17. Sacanagem com o profexô Luxemburgo: foi demitido na véspera do Dia do Professor.

18..Animais não votam, mas aparecem como grandes eleitores neste ano. 

19. O que tem de defensor da causa animal! Vai faltar votos para tanta gente.

20. O tal do mercado é parecido com certas pessoas que conheço: sempre variando de humor.

21. Hoje é o dia da santa de todos nós: Santa Edwiges, padroeira dos endividados.

Definitivamente, o Brasil é o país da piada pronta!

 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A volta das reflexões pandêmicas ou quase ex-pandêmicas

  Pela  movimentação que se vê nas ruas, a pergunta da hora é: o que é feito da tal de pandemia?

2.      - Tem gente que fala que pertence a um grupo de risco da Covid como se isso fosse um troféu, credo.

3.    -   As explicações do boçal Narco Aurélio Melo sobre a soltura do traficante é o legítima jus sperneandi.

4.     -  Aliás, o Maconhélio tem a maior coleção de ssss do STF. O que chia o magistrado, entre caras, bocas, gestos e frases de efeito.

5.      - Este primo do Collor está a merecer uma devassa nas suas decisões anteriores. Não existe Corregedoria no STF?

6.     -  Estranho: Narco Aurélio e o Gilmar Mentes, inimigos declarados, aparecem agora unidos na defesa da soltura de traficantes perigosos,

7.      - Ouvido na arquibancada ao lado: “O Grêmio tentou decolar no domingo: o Paulo Miranda abriu a asa e o David Brás deu uma voadora”. (by N.S.)

8.     -  Pelo jeito o Grêmio está precisando é trocar de piloto...

9.      - Os candidatos que dizem “você me conhece” normalmente são ilustres desconhecidos.

10.  - “Povo”, quantas vezes usarão teu nome vão nesta eleição!

11. -  Bah, a propaganda política substituiu as bandalheiras que recebia pelo Whatsapp.

12.  - Aviso aos navegantes: jingle não ganha eleição. Até hoje não consigo lembrar os do FHC, mas recordo sempre o “Lula lá”, duas vezes derrotado.

13. -  Quando ouço as acusações daquele candidato sobre as traições da sua ex-, também candidata, me ocorre que um homem traído é um mero corno; já uma mulher corneada é uma vítima.

14.-   Os programas  eleitorais ficaram tão curtos. Saudade de antigamente! #sqn

15.  - Certas atrizes devem odiar essas reprises das novelas: elas eram tão mais caldáveis antes!

16.-   Da postagem alheia: “Por culpa de mulheres que fingem orgasmo, o mundo está  cheio de homens que acreditam que são tigres”. (copiado de Jô Moreira)

17. - m Aos que reclamaram que não postei ontem fotos quando criança, ofereço duas versões: em todas as fotos apareço peladinho ou ainda não tinham inventado a máquina de retratos.

18.  - Temo que primeira Mãe de Todas as Batalhas em 2021 seja contra e a favor da vacina!

19.  - Da Postagem Alheia 2: “E no final das contas João não  é de deus, Jair não é Messias e Lis não é flor que se cheire”. (não lembro o autor)

20. -  Devia haver um Prêmio Nobel para Trocadilhos: teria candidatos para indicar.

21. -  Meu protesto: o Globo Repórter não tem apresentado mais programas sobre um exuberante pais, de paisagens maravilhosas, onde encontramos pelo menos uma família de brasileiros felizes..Volta, Inglória Maria.

22.  - Daqui a pouco vai aparecer alguém propondo dar outro nome aos buracos negros, alegando que a designação é racista. O que não sabem é que os buracos negros são poderosíssimos, engolindo até a luz.

23.  - Vocês não acham um exagero anunciar como superedição os magros jornais do fim de semana?

24.  - 13 de outubro, Dia do Escritor. Minha saudação aos escritores de verdade,

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Inocentes úteis digitais

 * Pubicado em coletiva.net em 05/10/2020

Os tempos pós-modernos serão conhecidos futuramente como ARS/DRS , antes e depois das redes sociais. A Era Digital,  que logo será assim batizada, remete, de imediato, para o enorme   impacto da redes nas nossas vidas  e da dinâmica que envolve o processo da comunicação digital.  E aí me dou conta de que sou exemplo vivo da mutação (evolução ?)  deste novo mundo.  Há cerca de seis anos cursei um MBA de Comunicação Digital e, desde então, o que consegui aprender naquele ano e meio de curso  já foi superado por outras inovações, outros procedimentos, outros conceitos.  Está certo que eu era um aluno medíocre,  mas mesmo que fosse CDF seria vencido pela evolução digital.  Basta dizer que o Whatsapp, hoje uma potência, recém estava engatinhando e buscando seu espaço naquele período.

A disputa já  não é pelo espaço, mas pelo nosso tempo, nossa atenção. Como, porém,  prestar atenção, se a cada dia surge um novo processo, acompanhado de novos termos, antes mesmo de termos assimilado os vigentes?  Um exemplo é o processo conhecido como Splinternet, que, pelo menos para mim que sou um tanto desatento,  revela outro termo, a balcanização, referência ao ocorrido nos Bálcãs como a fragmentação dos países que integravam a ex-Iugoslávia. Splinternet, junção em inglês de splinter (fragmentação) e Internet, que alguns países passam a adotar, com controle e regulação da web em seu  território. Assim, concebida para ter uma dimensão global, a Internet passaria a funcionar de forma regionalizada. Convém acrescentar  que o  termo balcanização é usado de forma pejorativa, uma vez que as frações resultantes do processo seriam hostis entre si, como ocorreu  nos conflitos dos Bálcãs.

Entretanto, o documentário O Dilema das Redes mostra que as plataformas digitais conseguiram capturar nossa atenção quase de forma permanente, moldá-la indiscriminadamente   e transformá-la num produto vendável. Produção original do Netflix, top 10 entre nativos e imigrantes digitais, O Dilema das Redes desnuda e amplia o que de alguma forma já sabíamos sobre os impactos do Facebook, do Twitter, do Instagram, do Google e similares sobre nós e nossos filhos.

A produção também poderia se chamar Os Arrependidos porque reúne depoimentos de profissionais que criaram ou atuaram nas principais redes conhecidas e agora, cheios de culpas e constrangimentos, revelam as facetas mais   obscuras e até mesmo práticas condenáveis  envolvendo a operação das empresas de alta tecnologia. O documentário começa com uma sentença dramática de Sófocles (“Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”), prenúncio de  depoimentos e alertas perturbadores, em tom apocalíptico,   que viriam a seguir, tipo:

-  as ferramentas criadas começaram a desequilibrar as relações e o funcionamento da sociedade.

- pesquisas apontam que milhões de americanos estão viciados em seus dispositivos eletrônicos;

- a geração Z, crianças que nasceram por volta de 1996 e começaram a usar as mídias sociais na adolescência, é uma geração inteira mais ansiosa, mais frágil, mais deprimida;

- houve um aumento gigantesco na depressão e na ansiedade em adolescentes americanos começando  entre 2011 e 2013;

- esses serviços estão matando pessoas e causando suicídios; mais de 100 mil garotas adolescentes nos EUA se cortaram ou tentaram se machucar.

- a tecnologia deixou de ter o papel de ferramenta para ser tornar um vício e um meio de manipulação.

- você está sendo programado em nível  mais profundo, implantando  dentro de você um hábito inconsciente;

- eles tem mais informações sobre nós do que jamais ocorreu: tudo está  sendo assistido, rastreado, medido;

-  criam modelos que preveem nossas ações e quem tiver o melhor modelo, vence; cada ação sua é cuidadosamente monitorada e registrada;

- nossa atenção é vendida ao anunciante; nos últimos 10 anos as maiores empresas (do Vale do Silício) estão no negócio de vender seus usuários;

- se você não está pagando pelo produto, você é o produto;

- saímos da era da informação para a da desinformação: as informações falsas levam mais lucro às empresas, num modelo de negócios que lucra com a desinformação;

- “Existem apenas duas indústrias que que chamam seus clientes de usuários: a de drogas e a da software”. (Edward Tufte)

- as redes  buscam três objetivos: o do engajamento, para aumentar seu uso e manter você navegando, o do crescimento, que  faça você convidar outros amigos, e o da publicidade, para garantir que, enquanto tudo acontece,  estejam lucrando o máximo possível com anúncios.

Ao fim e ao cabo o que interessa mesmo é gerar lucro aos acionistas e não valor à sociedade. E assim a mudança que se requer virá pela  vontade coletiva e  regulações governamentais, como propõem alguns especialistas em seus depoimentos,  mas sobretudo por uma nova motivação financeira, como a que provocou agora a degeneração das redes sociais . Neste  caso, qual a garantia de que não vai se estabelecer um novo círculo vicioso, a nos manter como inocentes uteis digitais dos grandes e manipuladores conglomerados? Aí só restará seguir a recomendação do maior  dos arrependidos, o ex-executivo do Google, Tristan Harris : “Se puder  sair das redes, saia”.

  

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Da série Histórias Curtas

 * Publicado em coletiva.net em 28/09/2020

Três histórias inspiradas em fatos reais

1.Os piscineiros

Aos 16 anos, Guita teve um sonho perturbador. Sonhou que conseguira construir na casa da praia  uma piscina de águas azuis e quem fizera a obra  foram dois rapagões, que trabalhavam só de bermuda, sem camisa, tostados pelo sol litorâneo. A imaginação da moçoila viajou nas relações com os dois operários.

Vinte anos depois, com Guita ainda em boa forma apesar da passagem do calendário, o sonho poderia se concretizar. A piscina encomendada estava pronta e fora construída por dois rapazes, como imaginara no sonho. Só  que...

- Olha, eram uns guris de bom porte, mas quando abriam a boca faltavam dentes e do que diziam nada se aproveitava, além dos detalhes da construção. Assim ficou difícil ser feliz.

E Guita voltou a sonhar, porque era bem mais prazeroso do que a realidade obreira.

 

2. Diálogo impertinente

Na rede social:

- Oi.

- Olá.

- Tudo bem?

- Tudo.

- Me chama no meu Zap,  (...)

- Pra quê?

- Lá vou te apresentar meu trabalho. Vamos ver se vc se interessa.

- Que tipo de trabalho?

- Eu vendo  vídeos e fotos minhas. Sensuais...

- Não tenho interesse.

- Na vdd eu queria sair disso. Queria um companheiro.

- Minha faixa etária não combina com a tua.

- E daí? Eu não quero um novinho, que só quer sexo. Quero um homem maduro, responsável.

- Conheço um local onde tem um monte. Ali onde jogam dama na Praça da Alfândega.

- Vc é muito mau educado, ridículo, grosso.

 

3. O vaidoso

O consagrado escritor, tão talentoso quanto vaidoso, encontra em meio a praça o amigo incauto e depois da saudação inicial, passa a orgulhar-se dos seus feitos literários.

- Meu último livro vai ser traduzido em mais três países. Agora já são cinco versões no exterior. Não é pouca coisa para um escritor da província. O romance foi muito bem recebido pela crítica e até já tenho propostas para que vire filme ou minissérie. Olha, acho que mais  uma vez acertei a mão. A história é realmente interessante, mais do que isso, instigante. Os livros anteriores também tiverem ótima aceitação de público e de crítica, inclusive o de poesias, com meus sonetos preferidos.  Penso que chegou a  hora de pleitear uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Não me tomes por vaidoso, mas acho que já mereço ser um imortal!

A conversa seguiu unilateral por mais um tempo, até que o nosso personagem se deu conta de que estava diante do que deveria ser um interlocutor. Aí fez uma pausa  e disparou:

-Bah, já falei demais. Gostaria de te ouvir também. Então, me diz: o que achas da minha obra. Seja sincero.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Seis roteiros para filmes policiais e uma comédia

* Publicado em 08/09/2020 em coletiva.net.

Assim que passar a pandemia e forem retomadas as produções cinematográficas ouso sugerir alguns temas para roteiros de ficção. Acredito que resultariam em movimentados e instigantes  trailes policiais e até comédia.

Roteiro 1:

Título sugerido: A pastora assassina

Num pais não identificado,  uma pastora evangélica, eleita deputada federal, casa com um filho adotivo, mais jovem do que ela, mas quando ele toma conta das finanças  da família sem prestar contas ou compartilhar os ganhos obtidos em cultos junto aos fiéis, a mulher decide matá-lo. Primeiro tenta envenená-lo, depois não foi difícil  arregimentar entre os numerosos filhos adotivos e naturais quem estivesse disposto a dar cabo do avaro chefe do clã, com a promessa de benefícios monetários pelo êxito da missão. A execução é consumada, mas deixa rastros e evidências da autoria. Ao final a trama é descoberta, mas sem dar spoiler, é possivel antecipar que vários membros dessa família  nada santa estão envolvidos no assassinato a mando da pastora. Recomenda-se Classificação para Adultos por causa das cenas de sexo,  inclusive com troca de casais.

 

Roteiro 2:

Título sugerido: Uma família muito esperta

O presidente de um país da América Latina, em meio a uma crise sanitária sem precedentes, é denunciado porque um ex-assessor fez sucessivos depósitos na conta da esposa do mandatário, sem que haja uma explicação razoável para a origem do dinheiro.  Ao mesmo tempo, os filhos do mandatário também estão enredados em esquemas envolvendo dinheiro de natureza duvidosa ou em relações com milicianos. Destaque para o roteiro: as manobras da primeira família  para escapar das garras da Justiça. Sugestão de chamada para o filme: Presidente, por que depositaram os cheques na conta da primeira dama? Vale advertir que o filme terá linguagem  pesada e palavrões em vários diálogos entre os personagens, por isso a classificação deve ser para Adultos.

 

Roteiro 3:

Título sugerido: O magistrado que virou de lado

Um magistrado pouco conhecido da população é eleito mesmo assim para governar um dos mais importantes e violentos estados de um país latino-americano. O estado é dominado por traficantes, milicianos e uma polícia corrupta, assim como a maioria  dos líderes políticos. Na campanha eleitoral e no discurso de posse, a principal promessa do governador eleito foi varrer a corrupção que dominava o Estado e que envolvia os governantes anteriores. Pouco mais de um ano depois de assumir, ele  é afastado do cargo por denúncias de recebimento de milhões em propinas através das contas da sua mulher. As investigações descobrem o envolvimento de outros auxiliares e de representantes do legislativo, entre eles um pastor. O roteiro deve resgatar o histórico de corrupção dos antecessores, seis deles presos ou com passagens pela prisão.

Roteiro 4:

Título sugerido: Vítimas ou vilãs?

As história de uma deputada e pastora evangélica acusada de encomendar aos filhos a morte do marido, que era filho adotivo dela; o caso  da mulher de um mandatário nacional, que precisa responder por que recebeu altas quantias, de procedência duvidosa, na sua conta bancária; a tentativa de encobrimento, pela mulher  de um governador, do recebimento de propinas destinadas ao seu marido.  Um roteiro cheio de intrigas familiares e de detentores de poder,  e uma questão crucial envolvendo as três mulheres: eles foram vitimas de homens inescrupulosos ou agiram conscientemente, cooptadas pelo crime e pela corrupção? As histórias podem render um atraente seriado, com o fio condutor inspirados para as narrativas: eram elas vítimas ou vilãs?

Roteiro 5:

Título sugerido: Senhores  supremos

No tribunal supremo de um certo país, as histórias envolvendo os 11 magistrados da corte: as tramoias,  as relações  comprometedoras, o favorecimento a  familiares e amigos,  sentenças beneficiando condenados, atropelos à legislação do país e muitas decisões controversas. Um destaque deve ser dado à origem de cada um dos julgadores e quem apadrinhou a indicação. Ótimo roteiro para quem gosta de filme de tribunais, embora a canastrice dos principais personagens e o excesso de jurisdiquês nas longas sentenças, por isso é importante o  suporte de especialistas  à produção. Recomenda-se, ainda, um cuidado especial no tratamento da história pra evitar que algum capa preta do Tribunal verdadeiro censure a exibição do filme.

Roteiro 6:

Título sugerido: Os Guardiões do Alcaide

Roteiro na medida para uma comédia dramática: na ex-capital de um país latino-americano, o alcaide, às voltas com as críticas da mídia e da população, reage contratando uma brigada de defensores. Batizados de Guardiões do Alcaide, os brigadistas se posicionavam preferencialmente junto aos hospitais públicos, hostilizando quem criticava o chefão municipal pelo mau atendimento dos serviços de saúde.  Depois de muitas trapalhadas,  a virada no roteiro deve ocorrer a partir do momento em que os Guardiões decidem encrencar com  as entrevistas dos repórteres da principal rede de TV do Pais e a ação deles vira assunto nacional. Descobre-se que eram pagos com dinheiro público, a mando direto do comandante mor, o alcaide. No lançamento do filme nessa capital a segurança deve ser reforçada porque os Guardiões podem ser reativados para tentar algum tipo de manifestação junto as salas exibidoras,

Importante esclarecer nos créditos de todos os filmes que se tratam de enredos ficcionais e que qualquer semelhança com pessoas e fatos conhecidos será mera coincidência.

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

REFLEXÕES, OBSERVAÇÕES E DICA EM TEMPO DE PANDEMIA...

1. Sobreviver ao agosto de 2020 já é um feito!

2. Dá uma melancolia passar pelo Parque da Harmonia e não ver os piquetes sendo erguidos, a fumaceira e o cheiro de churrasco no ar.

3. Às vezes fico com a impressão que o governo Bolsonaro faz algumas nomeações só para receber críticas e poder retaliar.

4. As histórias da Flordelis, do Witzel, dos cheques bolsonaristas, que roteiros prontos para serem filmados! Alô, Padilha.

5. A primeira conclusão da investigação sobre os cheques depositados na conta da sra. Bolsonaro: todos tinham fundos.

6. Da postagem alheia: Tradições cariocas - Reveillon, Carnaval, Prisão de Governador . (Copiado de Renato Marsiglia)

7. O maior problema do Rio não são os governadores, são quem elege eles...

8. Só falta quem for julgar o governador afastado do RJ pedir witzel do processo...(Ai,ruim essa, né?)

9. Novo sinal do fim dos tempos: terremotos de magnitude na Bahia!

91. Bah, nunca os baianos foram tão ágeis para escapar dos eventuais perigos...

10. O corretor automático escreve sempre um palavrão quando digito a palavra pauta..

10.1. Gente maldosa insinua  que até meu corretor é sem-vergonha.

11. Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. (by Paulo Motta)

12. Pessoal que foi flagrado fazendo festa  em motel na zona norte de Porto Alegre vai reivindicar o Guinnes de Suruba. Eram 25 participantes ou mais!

13. Ditado moderno: Mais constrangido que gremista comemorando o título do Gauchão.

14. Eu queria ser Isentão, mas do Imposto de Renda.

15. Setembre-se, alaranje-se e rumo ao amarele-se.

- Dica de filme – Se você é assinante da Amazon não deixe de assistir a “O Escândalo” (Bombshell) que conta como as âncoras do da rede Fox dos EUA denunciaram o chefão do canal de Murdoch por assédio sexual, pelo envolvimento em vários casos também conhecidos como “teste do sofá”. De quebra ficamos sabendo como age a mídia engajada dos EUA no processo eleitoral do país e o que está em jogo. Ótimas interpretações de Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot  Robbie e John Lithgow como o assediador.

Lei de Benford, o real e o falso

* Publicado em 31/08/2020 em coletiva.net

Fui apresentado a Lei de Benford e a suas aplicações na série A Era dos Dados (Netflix), episódio Dígitos, como relatei na coluna da semana passada. A tal lei, que envolve até os chatíssimos e complicados cálculos logarítmicos, prevê que em conjuntos de números o primeiro digito significativo será baixo. Assim, a distribuição mostra que o dígito 1 tem 30,1% de ser o primeiro à esquerda (zero fora) em qualquer lista de números de um conjunto escolhido aleatoriamente, o 2 aparece com 17,6%, o 3 com 12,5% até o 9 com apenas 4,6%.

O preceito também poderia ser conhecido como Lei Antifraudes, porque uma das suas principais aplicações é na detecção de resultados numéricos manipulados. Por isso, é considerada um antídoto eficaz contra a corrupção e pode ganhar relevância neste ano de eleições municipais.

Aqui recorremos novamente ao episódio de A Era dos Dados, para examinar os casos do uso das redes sociais em campanhas eleitorais, que no Brasil geraram muitas polêmicas e ações judiciais no pleito presidencial de 2018. O episódio Dígitos mostra uma pesquisa da professora Jennifer Golbeack, da Universidade de Maryland (EUA), realizada no Twitter e em outras redes sociais, onde todos os perfis que não se encaixavam na Lei de Benford eram de contas falsas (bots).  Foram identificados mais de 150 mil desses perfis - de origem russa -,  com fotos  de bancos de imagens e que postavam emojis, frases de livros, manuais e outros itens,  davam likes uns nos outros, se seguiam e se retuitavam. A suposição da especialista é que essa “movimentação” entre os perfis era para lhes dar aparência de legitimidade e depois serem utilizados influindo em alguma campanha, como aconteceu na eleição americana e na votação do Brexit no Reino Unido.

O mesmo episódio revela também um efeito reverso quando a lei foi aplicada para identificar fraudes na tecnologia deepfake, que usa inteligência artificial para criar vídeos  falsos, mas realistas. São aqueles vídeos de pessoas, de preferência celebridades,  fazendo coisas que nunca fizeram ou fariam na vida real.  É tal o “parece, mas não é”. Um exemplo que viralizou nas redes sociais mundo a fora  foi o do vídeo em que as palavras de Barack Obama são substituídas pelas do diretor e ator Jordam Peele. Você jura que é o Barack falando.

Existem plenas condições para mostrar que as imagens verdadeiras de uma produção em vídeo  apresentam dados numéricos compatíveis com a lei, mas com o deepfake tudo, vídeo ou áudio, pode ser falso. E o alerta da série veio pelo cientista da computação Harry Farid, dos EUA, sobre o efeito reverso dessa constatação. É  mais do que um alerta, passa a ser uma ameaça quando a nossa mente não consegue mais distinguir o real do falso. E aí surge o problema maior, que não é achar que o falso é real,  mas que o real é falso. Efeito reservo e perverso.

 

Os especialistas não tem ilusões de que serão capazes de acabar com a disseminação de montagens falsas na internet, mas trabalham para aumentar o grau de dificuldades para que circulem nas redes, ainda mais em campanhas eleitorais, e a Lei de Benford é um instrumento eficaz nesse processo.

 

Tão eficaz e disponível que deveríamos rebatizá-la de Lei da Lisura Eleitoral ou, ainda, Lei da Transparência Democrática.