sábado, 9 de março de 2013

Exagerando na pieguice


Passado o Dia Internacional da Mulher, de tudo o que vi e ouvi, fiquei com a impressão que a celebração esteve reduzida às mazelas que ainda cercam o gênero feminino, um viés cheio de amarguras e cobranças, e de outro às mensagens piegas, apelativas, de um romantismo forçado, como se fosse preciso reafirmar o que não é praticado durante o restante do ano.  Até o caso do goleiro Bruno foi usado em anuncio de uma loja, mas aí já não é caso de mau gosto, mas um autêntico caso de  SN - sem noção.
Toda e qualquer situação, mas especialmente as adversas, tem que conter um aprendizado e, em verdade vos digo, que aprendi muito nestes dias.  Aprendi, por exemplo, que as mulheres ligadas aos movimentos sociais é que detém o conhecimento supremo do que é bom ou ruim, correto ou inválido no que diz respeito as suas iguais. Utilizam ,inclusive ,uma linguagem diferenciada, da qual devemos nos apropriar. Saúdo as militantes e  sou tentado a aderir a sua forma de luta, mas não acho que o reconhecimento do papel da mulher no mundo moderno passe pelo confronto entre militantes x "aquelas outras".
O que eu gostaria mesmo é que hoje e sempre fosse realçado o lado divino, a porção celestial das mulheres, aquilo que tem de  sublime e que nos leva a amá-las com todas as nossas forças e a cometer loucuras de apaixonado em nome desse sentimento, que,  com certeza, merece as benções das divindades.  E vale qualquer exagero porque  é no amor que a mulher se realiza plenamente. Em toda a forma de amor, mesmo a da freirinha que ama a Cristo acima de todas as coisas. Pieguice? Pode ser, mas,  em se tratando das mulheres, ainda prefiro exagerar pela pieguice do que pela chatice. #prontofalei!

quinta-feira, 7 de março de 2013

O homem que eu invejava


Foi o sempre atento Carlos Urbim quem postou no Face a foto da placa de uma rua de Lisboa, que segundo o talentoso escritor, dá medo de passar. Pudera, o logradouro lisboeta chama-se Rua do Capado.
São coisas assim que atiçam a minha imaginação. Quem seria o pobre sujeito que teve extirpado seu órgão? O que teria feito para merecer esse infortúnio? Deve ter sido algo de magnitude para ganhar uma rua só pra ele. É o tipo da homenagem da qual eu abriria mão, primeiro pelo motivo que deu causa ao tributo – o único órgão que admito perder e já perdi é o apêndice; e depois, como bem disse o nosso Quintana, “um engano em bronze é um engano eterno” – no caso do Capado, um engano em azulejo português, menos mal.
A postagem do Urbim remeteu-me quase de imediato para o  nome de um espaço público em Porto Alegre que sempre me intrigou e não poucas vezes foi motivo de piadas de baixa extração. Trata-se da Travessa Mário Cinco Paus! Fica no centro, entre a chamada Prefeitura Nova e um prédio do INSS, ligando o final da avenida Borges de Medeiros ao terminal de ônibus da rua Uruguai.  Em tempos idos, já foi um beco, mas recebeu um trato, foi ajardinado e hoje é local de grande circulação.

Isso posto, eis a pergunta que não quer calar: quem foi Mário Cinco Paus, o homem que sempre invejei desde a adolescência, quando só pensava naquilo? Teria mesmo o nosso Mário cinco órgãos genitais?  Como funcionariam: em paralelo, se completando, como pistões de um carro, uns subindo outros descendo? Era um homem realizado e de bem com a vida com seu instrumental diferenciado? E as parceiras do bom Mário como reagiam diante de cinco espetáculos do crescimento? E as pobres filhas do Mário, com esse sobrenome invulgar,  como devem ter sofrido  com brincadeiras de mau gosto, o antigo nome do bulling, nas escolas e outros locais que frequentavam?

Essas indagações, pertinentes e profundas acerca de um personagem da cidade, me acompanharam até os dias de hoje, quando resolvi pesquisar para saber quem foi Mário Cinco Paus.  Aí todas as bobagens que imaginei caíram por terra. O Mário Cinco Paus nada mais era do que um rábula, advogado não formado, que viveu na cidade no século passado. Ficou famoso pelos júris que defendeu e era apreciado pela classe jurídica de Porto Alegre. A alcunha que acompanha o sóbrio nome de Mário seria derivada de sua maestria  no popular jogo do pausinho, que reunia intelectuais, frequentadores da Livraria do  Globo e jovens advogados em animadas rodadas no Chalé da Praça XV. O dr.Mário costumava limpar seus oponentes no jogo do palitinhos. No primeiro governo do prefeito Loureiro da Silva (1937 a 43) esta figura quase folclórica foi homenageada com o pequeno trecho de pouco mais de 30 metros.
A placa de identificação do trecho revela que foi um filantropo, talvez por falta de outros predicados para ser em destacados, além de algo como O Rei do Pausinho ou O Mestre do Palitinho. Convenhamos, não ficaria bem.
E lá se foi minha inveja e meu complexo de inferioridade.

domingo, 3 de março de 2013

O Papa é gaúcho!

 
Imaginem se o colégio dos cardeais escolhesse o gaúcho de Cerro Largo, dom Odilo Scherer, como novo papa. Primeiro resultado da escolha: todos os jornais gaúchos estampariam nas capas do dia seguinte a manchete óbvia, cunhada por João Paulo II, décadas atrás, mas agora sem sotaque: O Papa é Gaúcho! Zero Hora vai mais adiante e uma parente qualquer vai informar à reportagem: “Desde pequenino ele já brincava de Papa”. 

Claro que O Bairrista vai se superar e publicar algo como “Cerro Largo exige sediar o Vaticano” e a Câmara de Vereadores local vai levar a sério a proposta e endossar a exigência, rogando à presidente Dilma que interceda neste sentido.   Na pior das hipóteses vai oferecer ao novo papa o título de Cidadão Emérito de Cerro Largo. Se nada der certo os cerro-larguenses vão se contentar em ganhar uma diocese, com catedral, bispo e tudo o mais. Mas em seguida Curasal reivindicaria as mesmas prerrogativas alegando que dom Odilo, quando criança, teria veraneado na praia e se banhado nas suas águas.

A pequena mas centenária Cerro Largo de pouco mais de 13 mil habitantes seria tomada pelas equipes de rádio e TV com suas parafernálias, para alegria do comércio e das moçoilas locais. A Globo produziria um especial para o Globo Repórter com a “dieta pontifícia”  e seria revelada sua santa preferência por uma costela gorda ou um pernil de ovelha, acompanhada de polenta com queijo.  Glória  Maria entrevistaria, direto da maternidade, os pais da primeira criança nascida logo após o Habemus Papa e que foi batizada como Odilo. Logo surgiriam os  Jaison Odilo,  os Odilo Maiquison, os Neymar Scherer e as Suelen Odila. “Incrível isso”, diria Glória Maria.
Dom Odilo causaria espanto ao escolher seu nome papal: Sepé Tiaraju I. Logo seriam editados livros e trabalhos científicos sobre o indígena guarani, tendo Nico Fagundes como consultor.  A Globo se apressaria em produzir uma minissérie “O Santo Guarani”, com Werner  Schünemann fazendo uma ponta como dom Odilo.

O novo papa incluiria a cuia de chimarrão para ilustrar o seu brasão e introduziria o hábito de sorver o mate amargo na Santa Sé.

Haveria grande curiosidade sobre a preferência clubística do novo papa. Os programas esportivos fariam enquetes: “Grêmio ou Inter?  Para quem torce o novo Papa? Disque....”, até que dom Odilo revelaria candidamente uma discreta preferência pelo  São Luis, de Ijuí, não pela força esportiva do clube, mas pela homenagem a um dos mais importantes santos católicos e também porque remete a São Luis Gonzaga, redução jesuítica onde nasceu o índio Sepé.
Enfim, Cerro Largo e a província de São Pedro nunca mais seriam os mesmos.  Até que começasse a surgir um movimento antagônico, alegando que dom Odilo saiu cedo do Rio Grande, que preferia vinhos italianos aos gaúchos, que não torcia nem pra Grêmio, nem pra Inter e ai...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A convenção das camareiras

Já não se fazem mais motéis como antigamente. A queixa é de uma dileta amiga, moça de boa índole, que resolveu colocar a escrita em dia com o maridão, incrementando com uma escapada a um estabelecimento do ramo. Ao chegarem à suíte que lhes fora destinada depararam com meia dúzia de camareiras em animada conversa.

“Era uma verdadeira convenção das camareiras e nós ali, ansiosos para cumprir os objetivos da nossa estada”, resmungou a amiga, numa explicação um tanto enviesada sobre os tais objetivos. As camareiras informaram que a suíte estava interditada porque recém se consumara ali os objetivos amorosos de outro casal. E continuaram a animada conversa, enquanto o casal se entreolhava pasmo, a ansiedade aumentando, por assim dizer, até que uma das funcionárias se dignou a buscar na portaria a chave de outra suíte.

Discreto que sou não perguntei como terminou a noitada, mas observei na amiga um esgar de prazer e um brilho faceiro no olhar ao relatar que a moça que fora buscar a chave tinha sido muito ágil.

Talvez exatamente pela minha discrição tenho sido brindado com várias histórias envolvendo casais e motéis. Algumas são hilariantes, quase trágicas, como a do sujeito que na pressa de arrastar a parceira para o quarto, bateu a porta do Fuca com a chave dentro – quem já teve Fuca sabe o que isso significa – e precisou voltar para casa a pé, madrugada fria adentro e cinco quilômetros adiante. Menos mal que a parceira era a legítima, que achou tudo muito romântico, ora veja.

Outras histórias são escabrosas como a daqueles casais que se encontram no pátio do motel, um dos mais sofisticados da cidade tempos atrás, mas com o inconveniente de exigir a presença dos “hóspedes” na portaria para os acertos iniciais e finais:

- Que surpresa, vocês por aqui? questionou o homem do casal que chegava ao motel.

- Ué, e vocês também?!respondeu o homem do casal que deixava o estabelecimento.

Sucede que a dupla do naipe masculino era formada por companheiros de trabalho, acatados formadores de opinião, e as senhoras dignas representantes do corpo docente da escola onde estudavam as filhas dos seus parceiros da ocasião.

Após o constrangimento inicial, o quarteto passou a tagarelar animadamente, em pleno pátio do motel, como se estivessem numa verdadeira convenção de camareiras.

É vero, estão todos bem vivos para confirmar, se for o caso.



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ainda Yaoni

Pelo jeito a mãe de todas as batalhas será entre  Defensores de Yaoni x Contrários a  Yaoni. A visita da blogueira cubana ao Brasil, opositora declarada do regime dos irmãos Castro, potencializou o confronto que, a rigor, não existia antes da chegada da moça. 

Autora do livro De Cuba, com carinho e responsável pelo blog Generacion Y, onde relata as mazelas vividas pelos seus compatriotas, Yaoni passaria praticamente despercebida na sua visita não fosse uma parte muito burra da esquerda que decidiu promover manifestações contra a presença dela, hostilizando-a em seus compromissos e impedindo ou atrapalhando atos em que era a principal atração. Pronto, atiçaram a onça e a cubana deitou e rolou falação, elogiando o espírito democrático dos brasileiros  que permitiam tais manifestações, diferente do seu país onde o contraditório é punido com detenção, no mínimo.

A Embaixada de Cuba e parte do PT foram colocados sob suspeita porque estariam por trás das manifestações, bem organizadas e uniformes no material produzido, apesar da diversidade geográfica das ocorrências.  Até mesmo a presidente Dilma acabou envolvida porque um blog que usa  o seu nome– indevidamente? – tratou a visitante cubana como "rola-bosta". Que nível!

De outra parte, Yaoni é acusada de ser financiada pelos EUA, de ser repetitiva no seu discurso e até de ter cabelo demais e dentes de menos. Agora falam do estranhamento de ter voltado à Cuba e a seus imensos problemas ao invés de desfrutar das benesses da vida que levou por dois anos na Suíça. Quem sabe não está aí o grande valor de Yoani que, ao voltar à Cuba, demonstra todo o amor que tem pelo seu país.
Tenho bons amigos que são defensores ardorosos do regime cubano, que, de fato, promoveu grandes avanços na área da saúde e da educação e, em algum momento da sua longa ditadura, restituiu a dignidade de um povo que tinha seu país como o cabaré dos Estados Unidos. Sou capaz de reconhecer os méritos da revolução cubana, mas não dá para fechar os olhos aos relatos que me chegam de fontes diversas dando conta da penúria atual dos aguerridos hermanos do caribe. Os 50 leitores diários deste blog e os mais de 1,5 mil amigos do Facebook sabem claramente qual é a minha posição. Ela está bem expressa no texto anterior Balseira do Ciberespaço.

Só que é importante esclarecer  que não se trata de Excelência em Saúde  + Desempenho Esportivo x Falta de Liberdade + Miséria, nem de destacar obviedades como a levantada outro dia por Roberto Pauletti – quantos balseiros deixaram Miami rumo à Cuba e vice-versa? É muito maniqueísmo, mesmo para mim. O que está mais do que na hora é de questionar a duração do regime, que chega a mais de 53 anos, remetendo ao conceito do historiador católico e liberal, Lord Action:  “O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”.  Enquanto os novos ventos não sopram na ilha caribenha, pelo menos deixem a Yaoni falar, mesmo que seja uma chata de galocha, como afirma o Prévidi.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Balseira do Ciberespaço

Esse texto foi publicado em janeiro de 2010, mas continua atual, exceto pelo fato de que a blogueira cubana Yoani Sánchez já pode viajar ao exterior. Ela chegou de madrugada em Recife, sendo recebida no aeroporto com manifestações hostis de um grupo de cerca de 20 pessoas, que até as pedras da rua sabem quem organizou.  Segundo a Folha de São Paulo, o protesto não aborreceu a blogueira que disse que gostaria muito que em seu país as pessoas pudessem fazer o mesmo. "Foi um banho de democracia e pluralidade, estou muito feliz e queria que em meu país pudéssemos expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade".  Yoani é autora do livro De Cuba, com Carinho.


Um dos bons presentes que ganhei recentemente foi o livro De Cuba, com carinho, de Yoani Sánchez. Ela escreve um dos blogs mais visitados em todo o mundo, o Generacion Y, com milhões de acessos, mas quase não consegue ser lida em Cuba pela óbvia razão de que o governo não tem o menor interesse em que seus conteúdos sejam difundidos entre a população local. Isso não impediu Yoani foi eleita pela revista Times uma das mulheres mais influentes do mundo e ganhasse em 2007 o prêmio Ortega e Gasset de jornalismo digital – que não pode receber pessoalmente na Espanha!

Formada em Filologia Hispânica, essa balseira do ciberespaço, como ela mesmo se define, escreve admiravelmente bem porque com simplicidade. Cada palavra e cada frase está no seu devido lugar e cumpre sua função, talvez porque a parcimônia nos seus textos reflita a própria Cuba de hoje, que impôs a seus filhos privações de toda a ordem e é preciso saber conviver somente com o essencial, inclusive para se comunicar. Mas diferente da situação do país, o resultado do trabalho de Yoani é harmonioso, mesmo com a dureza com que ela trata dos assuntos, sem meias palavras para criticar os dirigentes cubanos ou para descrever as difíceis condições de vida dos hermanos.

Yoani e Generacion Y são exemplos de resistência ao totalitarismo, clamor por mais liberdade, um grito de esperança, alternando destemor e medo diante das ameaças, tudo isso com muito amor pelo seu país e apesar das imensas dificuldades de acesso à rede e do absoluto controle e restrições governamentais.

Entretanto, aos 35 anos Yoani parece desencantada com o futuro de Cuba, nem tanto pela falta de liberdades ou pela carência dos bens mais básicos, mas pelo fim das ilusões que transformou os cubanos em um bando de embusteiros, diferente do povo que recuperou sua dignidade nos primeiros anos da revolução. Enganar o governo sempre que possível, encontrar formas de burlar as determinações legais para o bem e para o mal, apelar para o mercado negro ou simplesmente dar as costas à Ilha e buscar o exílio é o que move hoje a maioria dos 11,5 milhões de cubanos. Yaoni preferia que toda esta energia fosse direcionada para a luta contra a ditadura castrista, por isso extravasa seu ressentimento em alguns textos. "Medalhistas de Vermelho" é um dos textos que reflete bem como se dão as relações na Cuba de hoje:

Existe entre nós um esporte praticado com freqüência, mas cujas estatísticas e incidências não são mencionadas em lugar algum. Trata-se da modalidade esportiva de devolver a carteira do Partido Comunista, para a qual muitos dos meus compatriotas vêm se preparando durante anos. O mais importante é treinar os sentidos para encontrar o momento adequado de levantar-se na assembléia e dizer "companheiros, por motivos de saúde não posso continuar arcando com a tarefa que vocês me confiaram". Há quem alegue ter uma mãe doente – de quem terá que cuidar – e outros manifestam sua intenção de se aposentar para tomar conta dos netos. Poucos dos testemunhos dos que encerraram a militância contém a confissão honesta de terem deixado de acreditar nos preceitos e princípios que o Partido impõe.

Conheço um que encontrou um modo original de escapar das reuniões, das votações unânimes, dos chamamentos à intransigência e das freqüentes mobilizações do PCC. Como um boxeador, treinado para agüentar até que soe a campainha, compareceu ao que seria seu último encontro com o núcleo partidário de seu local de trabalho. Supreendeu a todos pelo argumento inusitado, um verdadeiro swing de esquerda que ninguém esperava. “Todo o dia compro no mercado negro para alimentar minha família e isso um membro do Partido Comunista não deve fazer. Como devo escolher entre colocar alguma coisa no prato dos meus ou acatar a disciplina desta organização, prefiro renunciar.” Todos na mesa se entreolharam incrédulos, “mas Ricardo, o que você está dizendo? Aqui a maioria compra no mercado negro”. O ‘golpe’ que vinha ensaiando encerrou com chave de ouro o breve assalto: “Ah...então eu vou embora, pois não quero pertencer a um partido de dissimulados, que dizem uma coisa e fazem outra”.

O livrinho vermelho, com seu nome e sobrenome, ficou sobre a mesa à qual nunca mais voltou a sentar-se. A medalha de campeão, quem lhe deu foi a própria mulher quando chegou em casa. “Finalmente se livrou do Partido”, disse ela, enquanto lhe sapecava um beijo e lhe passava a toalha.
"

Não é preciso dizer que recomendo com entusiasmo "De Cuba, com Carinho", de Yoani Sánchez (Editora Contexto).

 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Mistérios do Carnaval

Já fui um folião militante, do  tempo em que existiam carnavais nos bairros e imperavam os bailes de salão. Lembro como se fosse hoje os blocos e tribos descendo a rua Ijuí, no bairro Petrópolis,  onde o chefe dos correios local e sua mulher promoviam, lá no início dos anos 60 do século passado, um animado desfile.  Depois, passei a  frequentar clubes de primeira linha e outros nem tanto, sempre à procura de uma colombina para uma noite. Inesquecíveis carnavais no hoje decadente Petrópole Tênis Clube, na Sogipa, no Gondoleiros, no Caminho do Meio, no União e Progresso,  nas sociedades de praia e uma memorável noitada no Rio Branco, de Cachoeira do Sul – espero que as testemunhas silenciem à respeito.  Mais tarde, fuzarquei nos pré-carnavalescos e, à época,o Vermelho e Branco do Internacional, no Gigantinho, era imbatível.

Foi lá que deparei a menos de dois metros com uma Xuxa em início de carreira, seminua, fantasiada de libélula. Era a grande atração daquele ano, providenciada  pelo Salim e o Fernando Vieira, os promotores do Vermelho e Branco. Era bom!
Agora sou com carnavalesco mais comedido e menos participativo, que vai ao Porto  Seco e torce pela Praiana ou assiste pela TV aos desfiles do Rio, com uma discreta preferência pela União da Ilha e pela Vila Isabel.

Apesar de toda a experiência  acumulada ainda hoje fico intrigado com algumas coisas do Carnaval, verdadeiros mistérios que perduram. É o caso da cuíca. Prá que serve a cuíca? Não faz percussão, não dita ritmo, apenas chora sem ser notada no meio da bateria. E por que nas baterias  só às mulheres são reservados  os chocalhos, aquele instrumentos cheios de rodelinhas de metal? Por que as baterias, diferentemente dos conjuntos que animam os bailes, não usam metais que dão um colorido todo especial às músicas? Também me intriga o fato de os carros alegóricos quebrarem sempre na entrada da avenida, atrapalhando a harmonia e a evolução da escola. As escolas fazem um enorme investimento e ficam reféns de uns cacos- velhos. Pode isso, Arnaldo? Não consigo entender, ainda, porque determinadas alas insistem em usar fantasias pesadonas, com adereços difíceis de carregar e equilibrar, quando o ideal seria a leveza das vestes para permitir  um desfile sem incômodos. E quem é que sai com aquelas mulatas maravilhosas?  E será que o Rei Momo, findo o Carnaval, devolve ao prefeito as chaves da cidade? Dúvidas, mistérios!
De uns tempos para cá tento entender outro mistério:  porque as moças da Secretaria da Saúde fazem questão de me oferecer camisinhas quando me encontram no Sambódromo. Não que seja contra a campanha, mas é que meu prazo de validade está vencido, tanto quanto um preservativo não usado por muito tempo.  O detalhe é que sempre guardo as camisinhas. Vá que...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pequenópolis

*Textos publicados em dezembro de 2010, mas atuais como nunca.

Pequenópolis é uma cidade grande com gente que pensa pequeno. Seu povo é alegre e hospitaleiro, mas parte dele, uma minoria enfezada, detesta progresso. Essa minoria prefere que a cidade fique numa redoma, de forma a se tornar imutável, mesmo com prejuízo para todos. E a maioria cala e assiste impassível o presente ser congelado e o futuro exterminado. Por isso, a cidade que já foi Futurópolis trocou de nome na medida em que se apequenou. Era a cidade sorriso, hoje é a cidade rançosa.

Em Pequenópolis pululam os ecochatos, destacam-se os oportunistas de plantão, ganham espaço os porta-vozes da mediocridade, inflamam-se as falsas lideranças dos movimentos do “não”, todos contra qualquer proposta que impulsione a cidade. Não os reconheço como guardiões do que é certo ou errado para minha cidade.

(...)

Revitalização significa vida nova e é isso que os pequenopolitanos que aspiram chegar a futuropolitanos querem para a cidade.

Importante nesta hora é estar atento porque os que detestam progresso e inovação ainda conspiram para que Pequenópolis se apequene ainda mais até virar Nanópolis. São os mesmos que lideraram o movimento contra o projeto de moradias no Pontal do Estaleiro, decretando que aquela área está destinada a se tornar um deserto após o horário comercial. São os mesmos que torcem o nariz para a construção do Teatro da Ospa, junto ao Parque da Harmonia. São os mesmos também que se preparam para boicotar as propostas para revitalizar a Orla e resgatar o Guaíba.

O Previdi (www.previdi.com.br) tem razão. Essa gente odeia nossa cidade.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Par pefeito

Sabe aquele filme que você leva da locadora por falta de outra opção melhor e ele se revela uma bela e grata surpresa. Foi assim com Rubi Sparks – A Namorada Perfeita, que tem a indicação de comédia romântica, mas que classificaria como uma fábula moderna.

Dos mesmos roteiristas de Pequena Miss Sunshine, a sinopse básica de A Namorada Perfeira dá conta dos problemas  do romancista Calvin (Paul Dano), que  sofre com perturbador bloqueio criativo a atrapalhar o desenvolvimento de seu último livro. Com problemas também em sua vida pessoal, começa a criar uma personagem feminina que poderia se apaixonar por ele. Daí nasce Ruby Sparks (Zoe Kazan), que inicialmente é uma personagem dentro de uma história, mas que pouco depois ganha vida e passa a conviver e se relacionar com Calvin pessoalmente.
A critica se dividiu em relação ao filme, que mereceu desde cinco estrelas do New York Times ( “...uma comédia romântica polida, belíssima, que parece aterrissar de maneira leve e terna”.)a apenas duas de Zero Hora (“...tenta harmonizar a inventividade com os clichês do gênero – e estes estão bem presentes ...”)

Prefiro fugir dessa  linguagem quase padronizada dos críticos cinematográficos e realçar a forma sensível  e sincera como a solidão e a incapacidade de se relacionar com o sexo oposto são mostradas. São aflições do gênero humano e todos nós que vivemos de encontros e desencontros ansiamos pelo par perfeito,  que seja bonito e amoroso, bom de cama e ainda cozinhe bem. Como Rubi Sparks, que saltou das páginas da ficção para a realidade do escritor.

Mas A Namorada Perfeita é filme e fábula., ficção e metáfora. Pena que seja assim porque seria tão mais fácil imaginar e tentar criar a namorada dos sonhos. Ainda bem que não é assim porque temos que fazer por merecer até mesmo o par imperfeito, aquele que de alguma forma nos completa e é real, mesmo que sua culinária seja sofrível.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

As caldeáveis

Outro dia me dei conta da força interativa do Facebook. Estavam duas das minhas “amigas do FB” trocando “cutucadas” e amabilidades com um bom baiano, quando o rapaz perguntou se elas eram amigas, agora sem aspas, ou seja, não virtuais. As duas revelaram que não se conheciam pessoalmente, mas sim através do Face e que pertenciam ao time das que dão “caldo”. O bom baiano ficou intrigado com a expressão “caldo” e quis saber do que se tratava e as duas se atrapalharam toda para explicar.  Aí tive que intervir, explicando  que mulher que dá um caldo é aquela com uma boa estética, desejável, para resumir e sermos diretos.

Devo admitir que fico faceiro com o poder de agregação das bobagens postadas no meu perfil. Graças a isso já somo 2699 amigos e recebo novas solicitações todos os dias. Não conheço nem 10% dos adicionados, mas é como se privasse diariamente com cada um que curte, comenta ou compartilha os posts. Como as postagens são feitas para terem repercussão, tolero até mesmo os comentários que simulam a onomatopeia do riso, os famigerados kkkkk, hahahaha, rsrsrsrs...
Reconheço que as montagens do Linei Zago e de outros parceiros , colocado o vô aqui em situações inusitadas e impensáveis, tem contribuído para dar um gás no meu perfil, mas é principalmente o naipe feminino que tem bombado e prestigiado esse amigo de vocês.

Às vezes fico encafifado com as adesões, como da brasiguaia que vive nos EUA, da advogada e da psicóloga que através do meu perfil interagem com terceiros, das que cobram minhas posições sobre isso ou aquilo, das provocativas que estão sempre no limite,  das colegas jornalistas, conhecidas ou não, mas sempre instigantes.  Poderia citar nomes,mas arrisco cometer omissões.  As caldeáveis sabem que tem um espaço todo especial nos meus aurículos e ventrículos.  Nós ainda vamos fazer aquele festerê para que todas se conheçam. O problema é encontrar um local em que caibam todas as caldeáveis.  Por enquanto, esse espaço só existe no FB e no meu coraçãozinho.