sábado, 24 de novembro de 2012

15 coisas para fazer antes do fim do mundo


Já que o fim dos tempos está próximo vou rasgar a bandeira, virar um xibungo, um verdadeiro velho devasso, mas sem perder a ternura, até o dia fatídico: 21 de dezembro. Listei pelo menos 15 coisas que não poderei deixar de fazer e incluir no meu currículo para os tempos que não virão:

1) Voltar a fumar desbragadamente.
2) Beber aquele lote de cervejas artesanais que tenho namorado no supermercado.
3) Visitar pelo menos uma vez a Tia Carmen.
4) Promover pelo menos uma esbórnia na Tia Carmen.
5) Passar um cantada naquela morena que vem me tentando.
6) Passar uma cantada naquela loira que vem me tentando.
7) Chamar de ladrão todos aqueles comerciantes que vem me extorquindo.
8) Mandar a PQP o pessoal do telemarketing.
9) Mandar a PQP os chatos.
10) Jogar na privada todos aqueles remédios que nem sei pra que servem.
11) Passar acima da velocidade em todos os pardais. 
12) Frequentar um restaurante finíssimo e sair sem pagar a conta.
13) Tomar um porre e ser inconveniente em todas as festas de fim de ano.
14) Chamar o corrupto de corrupto.

15) Me arrepender de todos os excessos, ter um acesso de religiosidade, pedir perdão pelos meus pecados e rezar para que essa história de fim do mundo não passe de uma farsa.

sábado, 17 de novembro de 2012

No tempo do P& B


Não lembro se meu bom e competente amigo Márcio Pinheiro produziu algum texto para sua coluna e ZH Dominical (Jogo da Memória) sobre a série de tv inglesa O Prisioneiro. Antes de mais nada, deixem que  lhes diga que eu era fascinado pelas séries  da década de 60, na adolescência da TV no Brasil e,claro, ainda em P&;B. 

Diferente de hoje, quando a maioria das séries são comediazinhas de costumes, confinadas nos canais a cabo e com aquelas claques de risadas, nos anos 60 do século passado as produções primavam por roteiros mais instigantes, exigidos por séries como Os Intocáveis ( que virou filme de sucesso de Brian de Palma com Kevin Costner e Sean Conery ), O Fugitivo (que também virou filme,com Harrison Ford no papel do fujão dr.Richard Kimble),  Além da Imaginação (retratando um mundo paralelo, um clássico  que sobrevive até hoje na TV americana)   e Bonanza ( um faroeste que foi a primeira serie rodada a cores).

Eram todas produções americanas, dubladas e com trilhas musicais bem características que, mesmo hoje, saberia identificar com facilidade. O Márcio me perdoará se cometi algum equívoco, mas sei que ele vai concordar comigo que a série mais diferenciada daquela fase, cult diríamos, era a já citada O Prisioneiro,  cujo remake vem sendo anunciado pelos ingleses, com Jim Caviezel no papel título.

Para quem não teve o privilégio de assistir a serie original, aí vai um remember, direto do Google: “Considerado o Franz Kafka das séries de televisão, Patrick McGoohan criou, em parceria com George Markstein, um universo próprio, sombrio, repleto de dúvidas e inseguranças, tal qual o período sócio-político e econômico no qual a série foi concebida e exibida. Um agente  (interpretado por Patrick McGoohan) pede demissão de seu cargo para logo depois acordar em uma ilha, conhecida como Vila, onde uma nova sociedade o aguardava. Sua casa foi reproduzida em todos os detalhes, mas, da porta para fora, não era Londres que ele via, e, sim, uma espécie de resort para onde, supostamente, agentes do mundo inteiro, aposentados ou afastados, eram levados. Cada um respondia a um número. Nosso agente passou a ser conhecido como Número 6, tendo o Número 2 como uma espécie de governador do local. O Número 2 queria saber os motivos pelos quais o Número 6 tinha pedido demissão, resposta que nem ele e nem o público, conseguiu. Cada episódio era carregado de duplo sentido e metáforas. A série se transformou em matéria de Semiótica em faculdades dos EUA e Inglaterra. Até hoje é possível assistir e descobrir novos elementos, visto que o tempo fez com que símbolos e signos apresentados na série pudessem ter uma nova interpretação”
Na verdade, O Prisioneiro refletia muito daquele período, o auge da guerra fria, e é uma dessas produções, considerada à frente de seu tempo. Arriscaria incluir nessa relação as modernas Twin Peaks. de David Linch, e mesmo Lost, de J.J.Abrams, todas tendo em comum bons roteiros, bons diretores e uma história centrada em um grande mistério.

Em O Prisioneiro, uma enorme bola zelava para que os exilados na ilha não fugissem e esse elemento dramático se prestava a mil interpretações, assim como uma cena que ficou marcada como uma das mais representativas da polêmica série. Foi assim: o Numero 2 apresentou ao Numero 6 uma máquina fantástica, que poderia responder a todas as perguntas da humanidade (olha o  bisavô do Google aí) e desafia o Número 6 a fazer uma pergunta à geringonça cheia de luzes piscantes. O Número 6 encaminha a pergunta e em seguida a maquina começa a se autodestruir, até explodir de vez. Em pânico, o Número 2 questiona:

- Qual foi a pergunta?

- Por que? responde o Numero 6  e vira as costas para o interlocutor, enquanto sobem os créditos e surge a característica musical da série.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Deu pra ti, Facebook.

Acho que estou curado da síndrome do viciado em Facebook.  É que consegui ler um livro inteiro em apenas dois dias, depois de um longo tempo sem me dedicar a leitura. O responsável pela minha volta ao mundo dos livros foi o Claudinho Pereira e seu Na Ponta da Agulha, embalos da noite de Porto Alegre, conforme o subtítulo da obra. 

Benditas conversas na Feira do Livro do ano passado entre o Claudinho e o Márcio Pinheiro, da Coordenação do Livro da Secretaria Municipal da Cultura (SMC). Foi dessas conversas que começou a nascer a ideia do livro, materializado agora pela Editora da Cidade e encontrável no estande da SMC na Feira do Livro ou no da Palmarinca, que fica próximo ao pavilhão de autógrafos.

Nem lembro quanto paguei pelo exemplar, mas garanto que Na Ponta da Agulha vale cada centavo. O relato do Claudinho, testemunha presencial de praticamente todos os agitos da noite porto-alegrense nas ultimas décadas, é uma delícia de ler e mais ainda pela riqueza de depoimentos de quem participou diretamente de cada avento destacado. E que desfile de personagens! 
A mim chama a atenção o fato de que a noite da cidade já foi mais frenética, mesmo que os grandes eventos, os melhores shows e as principais novidades em termos de casas noturnas tenham ocorrido no tempo da ditadura, quando a repressão era presente no nosso dia a dia.  Talvez a resposta esteja justamente aí, a festa funcionando como fuga da realidade, mas acho que viajei na maionese. A propósito, conta o Claudinho , a expressão “viajar na maionese” seria criação de Sérgio Bini: “Por guardar maconha em um vidro de maionese, ele brincava – ‘Vamos viajar na maionese!’”
Os locais mencionados me soam familiares – Baiuca, Encouraçado Butikin, Le Club, Água na Boca – mas não devo ter frequentado uma décima parte das casas noturnas descritas no livro e quando o fiz foi na condição de convidado para alguma “boca livre”.    Mas tenho saudades da Barlândia, a quadra da Protásio Alves entre a Montenegro e a Palmeiras com inúmeros barzinhos (era assim que se falava) e uma  ou outra casa de show ,  isso a meia quadra da minha casa, daí porque me tornei um habitue nas noites de sábado com uma turma de apreciadores de cerveja e de mulheres bonitas. 

Lembro também de algumas incursões ao Ressaca, do Zé Antonio Daudt, ali na esquina da Luiz Afonso com João Pessoa, na Cidade Baixa.  Comparecia à casa  avalizado pelo meu primeiro editor, um maluco genial chamado Coi Lopes de Almeida, que agitava a redação da Zero Hora a partir da editoria de Esportes nos primeiros anos da década de 70 e que nos deixou tão cedo. Foi no mezanino do Ressaca que assisti a uma cena impensável: companheiros de mesa fumavam maconha sem constrangimento, enquanto o titular da Delegacia de Entorpecentes,  também grande figura ligada ao esporte e amigo de todos, sentado na mesa ao lado, não estava nem aí para o desacato.

Claudinho assistiu  a cenas mais chocantes, como  a do técnico de som que vira uma tocha humana e é aplaudido como se fosse atração do espetáculo, história relatada no capítulo dedicado ao Circo Escaler Voador. O  livro está repleto de outros causos, mais hilários e curiosos, como a estratégia usada por Elaine Ledur e Dirnei Messias para garantir o sucesso do lançamento da primeira boate de Porto Alegre  assumidamente para o público gay, a Flower’s. Conta aí, Claudinho: “Convidaram para um jantar quatro gays,que sempre figuravam entre as pessoas mais queridas e bem relacionadas da cidade. No jantar, contaram a bombástica novidade, em tom de segredo: Vamos abrir uma boate gay daqui a 30 dias, mas vocês não podem contar nada para ninguém. No dia seguinte toda a Porto Alegre já sabia da novidade”.
Por tudo isso, Na Ponta da Agulha é uma leitura prazerosa, que recomendo com entusiasmo. Agora, que venha David Coimbra e sua Uma História do Mundo. Deu pra ti, Facebook.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Na Feira, peremptoriamente.

Nego peremptoriamente, como diria aquela liderança petista, que tenha participado da primeira Feira do Livro na Praça da Alfândega.  O idealizador do evento, realizado pela primeira vez em 1955, foi o jornalista e depois vereador, Say Marques, que era diretor do extinto Diário de Notícias.  Na época, eu tinha cinco anos apenas.

Na verdade, começam pelo visionário jornalista  as minhas afinidades com a Feira, uma vez que ele era amigo do meu pai, que o tratava reverentemente como “dr. Say Marques”;  depois porque tive o privilégio de trabalhar com a filha dele, a competentíssima Rosana Orlandi, primeiro na TVE e mais tarde na RBS TV, onde produz o Galpão Criollo;  e, por fim,  sou obrigado a confessar que estagiei por 30 dias na editoria de Polícia do Diário de Noticias, isso lá no início da década de 70 do século passado, quando o diretor de redação era o Celito de Grandi, hoje consagrado escritor. 
Mas foi quando passei a trabalhar na Folha da Tarde (juro que nada tive a ver com o fechamento do Diário ou da Folha), acho que em 1974, que comecei a frequentar a Feira regularmente.  Da redação na Rua Caldas Junior à Feira era um pulo e não havia como ficar indiferente às barraquinhas instaladas ao longo da praça.  Lembro bem o primeiro livro que comprei. Foi  O Príncipe, de Maquiavel, que ainda faz parte da minha modesta biblioteca e é consultado sempre que necessário,  esse verdadeiro manual da arte da política. Línguas ferinas e adversários invejosos insinuam que adquiri o livro errado, que estaria a procura de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry e me “principitei" (sim, com direito a trocadilho) levando O Príncipe. Nego peremptoriamente de novo.

Com o passar dos anos a Feira cresceu, junto com meu envolvimento em função de minhas atividades profissionais que me levavam a participar diretamente de todo o evento nas edições mais recentes. Cresceu também a minha capacidade e vontade de aquisição de livros.  È quase uma obsessão.  Alheio a tudo o mais,  percorro as barracas a procura dos títulos que me interessam e  esgravato os balaios de saldos em busca de ofertas e preciosidades. Ainda não bati meu recorde de três aos atrás, quando levei pra casa mais de 30 livros, entre lançamentos e saldos, mas este ano já estive duas vezes na praça e adquiri até agora oito livros, sem contar os cinco infantis que a Maria Clara escolheu e mais A Metamorfose, da Kafka, para a Santa.
Na categoria lançamentos, comprei Uma História do Mundo, do amigo David Coimbra, e para outro amigo, o Juremir Machado, não ficar enciumado adquiri o pocket A Orquidea e o Serial Killer e ainda consegui o autógrafo e dois minutos de prosa com o autor.  Encontrei o Claudinho Pereira e sua Preta e ele me indicou onde encontrar seu imperdível Na Ponta da Agulha: no estande da Secretaria Municipal da Cultura, que editou o livro.  Que me perdoem o David e o Juremir, mas vou dar prioridade para os embalos na noite de Porto Alegre, relatados pelo Claudinho, testemunha ocular que não precisa de fiador. Faltou o Cabo de Guerra, do Políbio Braga, que ainda devo buscar na barraca da ARI.

Vão entrar na fila para serem lidos, sabe-se lá quando e ainda vão disputar espaço com os não lidos do ano passado, os “sebosos” Minhas Histórias dos Outros, de Zuenir Ventura; Queime Antes de Ler, de Stansfield Turner;  As Ilhas da Corrente, de Hemingway, Ai de ti Copacabana, de Rubem Braga e Infiltrado, de Robert Wittmann. Como se vê, um cardápio variado. Agora só falta eu  vencer a letargia, largar de mão o Facebook e o twitter e retomar o saudável hábito da leitura diária. Dai-me forças, Senhor, que a causa é peremptoriamente boa.

 

 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Dosimetria republicana sustentável

Um dos muitos legados do julgamento do Mensalão foi incorporar ao vocabulário dos  brasileiros o termo “dosimetria”, que vem a ser, no caso, o cálculo da pena a ser imposta a cada um dos quadrilheiros desse escandaloso episódio. Nas TVs e rádios nossos mais abalizados âncoras e comentaristas falam em dosimetria com uma naturalidade de quem já domina há muito tempo o juridiquês básico.

É interessante como a política em geral e, em particular, os grandes eventos que mobilizam a nação, sejam escândalos ou não, tem o poder de introduzir modismos vocabulares no nosso dia a dia.  Não lembro exatamente quando,  mas acho que foi nos estertores da ditadura que surgiu o “casuísmo”, muito bradado pela oposição para denunciar as arbitrariedades e as manipulações dos militares. Não seria tão mais fácil usar “ manobras”?

Mais recentemente ganhou espaço e vários usuários o termo “republicano”, que tem a ver com a forma republicana de governo, e remete ao que é público, ao Interesse da Maioria de que trata o Princípio Republicano. Petista que se preze, na falta de outros conteúdos, adora incluir um “republicano” nas suas argumentações. Junto veio o "factóide”, que serve para desqualificar qualquer iniciativa dos adversários, numa aplicação nada republicana do termo, convenhamos.  E  “cidadania”, que surgiu fulgurante, acabou perdendo espaço ao longo do tempo e sua conotação republicana.
 Entretanto, o campeão de todos os novos vocábulos é o “sustentável”, com a variação “sustentabilidade”. Acredito que a origem  da difusão do termo remonte às pioneiras lutas  dos ecologistas, mas hoje se presta para várias atividades.  Já vi anúncio  de fábrica de cigarros garantindo que exerce uma “função sustentável na economia”.  Outro dia num dos tantos debates eleitorais assisti a um dos candidatos, com ar grave, perguntar a um opositor qual a sua posição sobre “ o desenvolvimento harmônico sustentável  aplicado às cidades”. O adversário, coitado, se embananou todo para responder uma bobagem qualquer, enquanto o questionador fazia cara de “desta vez, te peguei, babaca!”.  Mais incrível foi a cantada que flagrei num happy, numa mesa vizinha: “Quem sabe a gente parte agora para uma prática sexual sustentável”, convocou o sujeito para sua acompanhante, que devia saber do que se tratava porque logo levantou e escapuliu bem faceira com parceiro.

Isso me faz lembrar o já falecido presidente da Federação Gaúcha de Futebol,  Rubens Hofmeister, tão dinâmico como pouco letrado, que denominava os clubes que jogavam em seus estádios como "locatários”, que, na verdade, é quem aluga,ou seja, o inquilino e não o proprietário.  Mas os tais de "locatários” apareciam até nos regulamentos do campeonato.
Como não sou avesso a evolução do idioma e invisto no incremento do vocabulário pessoal, tenho adotado sem restrições todas as novidades. E até me permito a fazer variações, criando conceitos como “dosimetria republicana sustentável” ou “sustentabilidade casuística  locatária” ou ainda “factóide locatário republicano”. Êita , erudição.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Fim de uma era


Quando comecei em rádio, em meados da década de 70 do século passado, a Guaíba dominava o cenário e trabalhar nela era o sonho de todos que, como eu,  amavam o rádio. Pois, por essas oportunidades que a vida nos apresenta, acabei sendo contratado como coordenador de esportes, em substituição ao Antonio Britto que estava assumindo outras funções na então Caldas Junior. Tinha 26 anos na época e passei a vivenciar o dia a dia – e, de alguma forma,  chefiar -  da nata do jornalismo radiofônico esportivo de então: Milton Ferretti Jung, João Carlos Belmonte, Antonio Augusto, Lauro Quadros, Ruy Carlos Ostermann, Lasier e Lupi Martins, entre outros, um timaço liderado pelo grande Armindo Ranzolin. E no Jornalismo tinha ainda o Flávio Alcaraz Gomes, o Adroaldo Streck e surgindo o Rogério Mendelsky.  Entre idas e vindas, na Guaíba, na Gaúcha , na Difusora/Bandeirantes e na RBS TV, calculo que convivi com essas feras por mais de 20 anos. 
Não pensem que é fácil trabalhar com gente tão talentosa, de egos na mesma proporção, ainda mais num ambiente competitivo como o rádio e a tv. Mas fiz grandes amizades e aprendi um monte com eles . Só não aprendi a ser desenvolto no microfone e a  culpa indireta é justamente dessas grandes figuras.  Imaginava que, diante daqueles nomes consagrados, “os artistas” como se autodenominavam,  não teria a mínima chance de me sobressair, então decidi que eu deveria investir para ser um competente profissional de retaguarda. Acho até que alcancei esse objetivo, que me garantiu empregabilidade por muitos anos depois daquele começo titubeante na Guaíba.

Fiz esse nariz de cera não por vaidade, mas a pretexto de contextualizar uma era que está chegando ao fim e cuja mais recente sinalização é a saída de Lasier Martins do programa Gaúcha Repórter. Antes já haviam sido despachados para o limbo o Ranzolin e o Ruy. O Lupi nos deixou muito cedo e o Belmonte estava se aposentando. O Lauro e sua ansiedade ainda resistem no Polêmica e no Sala de Redação, assim como o Milton – que voz!  - que apresenta algumas edições do correspondente da Guaíba.  O Antonio Augusto, ao que parece, também é outro que não se entrega. Mas até quando?  Não vou bancar o saudosista e apelar para o velho chavão “no meu tempo era melhor”, mas apenas constatar que a renovação, mesmo que sofrida, é inevitável .

A verdade é que a esses  setentões ou mais  ficam a dever gerações inteiras de ouvintes formadas nos tempos em que o rádio era mais formal, mas  tinha mais força e muito conteúdo.  E fica também o meu reconhecimento, agora dirigido especialmente ao querido Laserino, que um dia fez a transição do Esporte para o Jornalismo e manteve a performance. Vai um beijo no coração.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Um enamorado na noite alucinada

Impecáveis os textos de Celito de Grandi na série Boletim de Ocorrência, na ZH Dominical.  Jornalista talentoso que está se consagrando como escritor, Celito tem aprofundado, em formato de reportagem, alguns dos mais rumorosos casos policiais ocorridos por aqui. No último domingo, ele recuperou uma dos mais extraordinários acontecimentos vividos em Porto Alegre e que teve igualmente uma extraordinária cobertura jornalística pela Rádio Gaúcha.

Foi assim: no dia sete de julho de 1994, aconteceu uma rebelião no hospital penitenciário, que acabou marcando a vida de muitos gaúchos. Porto Alegre viveu 24 horas de terror com a fuga alucinada dos detentos, comandados por Dilonei Melara e libertados pelas autoridades sob a condição de pouparem os reféns. Tão logo deixaram a Penitenciária em três carros começou  uma perseguição não menos alucinada da Polícia, acompanhada de perto pela Imprensa em geral e pela rádio Gaúcha em especial, com seus melhores repórteres à época, entre eles Diego Casagrande, Oziris Marins e Felipe Vieira. O que aconteceu depois e o desfecho de todo o episódio está bem descrito pelo Celito na crônica de domingo. O que posso acrescentar é a forma como acompanhei o caso,  a partir de Dallas, onde funcionava o Centro Internacional de Rádio e TV da Copa do Mundo dos EUA e onde a Gaúcha tinha uma das suas bases.

A rebelião ocorreu numa sexta-feira e estendeu-se  por uma das noites mais frias de 1994, daí não ter provocado outras vítimas na passagem do comboio frenético de presidiários, policiais e jornalistas por algumas das principais ruas e avenidas da cidade. Devido ao horário, início da noite, estávamos mais mobilizados nos EUA do que na sede em Porto Alegre – era véspera do jogo Brasil x Holanda e toda a equipe da RBS aportara em  Dallas. Por isso,  foi o Pedro Ernesto, dentro do Show dos Esportes, quem começou ancorando a movimentação da reportagem. A impressionante movimentação da reportagem:  apesar dos riscos, a cada etapa da fuga em seguida surgia um repórter para dar o seu relato e acrescentar informações.

Os presidiários começaram a fuga pelo Partenon e seguiram para o Jardim Botânico e, como conhecia bem a região por ter morado durante  mais de 20 anos no Alto Petrópolis, passei a assoprar ao Pedro a localização do comboio. Até que um dos carros dos bandidos enveredou para a rua Ivo Corseuil e na esquina da Guararapes ocorreu um enfrentamento com a policia, resultando num cerrado tiroteio noite adentro na pacata rua.  Foi quando um dos reféns, o diretor do hospital penitenciário, Claudinei dos Santos, foi baleado com sequelas até hoje. Foi quando também caiu a ficha para mim. Meu pai, o coronel Dastro como era conhecido, morava na Ivo Corseuil e tinha por hábito, apesar da idade – mais de 70 anos – dar um passeio noturno. De imediato, graças a um sistema instalado pela engenharia da Gaúcha, disquei para a casa como se fizesse uma ligação local. Primeira ligação e nada. E eu virado numa pilha de nervos.  Segunda chamada e depois de vários toques,  finalmente o coronel Dastro atende e logo depois de me identificar, o velho soltou o verbo.
- Olha, tenho boas novidades. A Anita aceitou o namoro e vamos marcar a data do casamento.

O velho guerreiro, como Shakespeare, estava in Love. Viúvo, o coronel reencontrara uma namorada antiga e alguns anos mais jovens, fizera a corte, ela aceitara e agora celebravam a renovação do amor.
Enquanto isso, a meia quadra da morada da Ivo Corseuil, o tiroteio seguia firme e o nosso coronel nem aí. Devo ter pronunciado um palavrão quando interrompi o relato do enamorado.

- Pai,tu não tá ouvindo a confusão aí fora?

- Pois é, eu ouvi umas sirenes, mas não sei do que se trata. Como eu estava falando, a Anita...
Interrompi de novo e agora fui enérgico.

- Depois tu me conta do namoro. Agora fecha toda a casa e te protege que presidiários estão tiroteando com a polícia aí perto.
É incrível como eu, mais de 5 mil quilômetros distante dos acontecimentos, sabia mais do que quem estava ao lado do cenário do conflito. Mas essa é a realidade do que aconteceu naquela noite. Meu pequeno drama, pequeno diante da magnitude dos acontecimentos,  terminou na própria sexta-feira, depois que mobilizei os irmãos  em Porto Alegre para darem um apoio ao coronel apaixonado e desatento.

Mas a perseguição seguiu adiante, pela madrugada e toda a manhã de sábado. Os bandidos se refugiaram no hotel Plaza San Raphael e ficamos na expectativa para o término da confusão, quando mais não seja porque no início da tarde começaria o grande jogo Brasil x Holanda, pelas quartas de final da Copa.  Um prenúncio de que os astros começavam a se alinhar naquele sábado, 8 de julho de 1994, foi que meia hora antes da bola rolar os fugitivos decidiram se render, a transmissão da radio ocorreu normalmente e o Brasil  conquistou uma grande vitória por 3 x 2 sobre os holandeses.
Quanto ao nosso coronel Dastro, casou com sua Anita ainda em 1994 e viveram juntos, lépidos e faceiros, até 2010 quando o guerreiro se entregou, aos 95 anos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quase um serial killer

Esse tal de Facebook tem cada uma. Depois da série de postagens com o já falecido humorista Mussun e seu jeito peculiar de falar, agora voltou a mania do perfil com fotinhos antigas, dos tempos de infância.  Impressionante como faceiros bebes, mimosas crianças, verdadeiros anjinhos de carne e osso se transformaram em autênticos tribufus nos dias atuais e isso vale para os naipes masculino e feminino.  Todas as crianças são lindas, adoráveis e talvez esteja na vontade de voltar no tempo e virar mimoso de novo essa compulsão pelas fotinhos à antiga.  

Meu atento camarada Fabiano Cardoso, garoto de boa índole, se dá ao trabalho de explicar que as tais fotinhos seriam resultado de um movimento do FB pela proximidade do Dia da Criança e uma manifestação contra a violência à infância.  Nobres propósitos, reconheço, mas como explicar a gênese da ação que elevou Mussun a ser citado em vários formatos e situações?  É intrigante esse caso e tantos outros, aos quais o FB, na sua infinita benevolência, dá vazão e consagra.  Será que existe uma central, repleta de nerds, só para bolar esses abobragens? Alô Jandira Feijó, alô Thiago Ribeiro: me ajudem a entender esse processo.

De minha parte reafirmo que não vou na onda. Mantenho a foto convencional que expressa o meu perfil de homem sério, ancorado no seu tempo.  Mas devo confessar que teria muita dificuldade para escolher uma foto da infância. Naquele tempo, mais de meio século atrás,  fotografia era algo complexo, diferente das facilidades do mundo digital de hoje. Além disso, a foto que poderia publicar é muito comprometedora.  Eu devia ter uns dois  ou três anos e apareço, rechonchudo e com um cabelo cacheado e comprido , ao lado de minha irmã Rosa, dois anos mais velha. A primeira vista, eram duas menininhas. O meu cabelo comprido se devia a uma promessa, de minha vó  materna ou minha mãe, cujo teor nunca descobri. O cabelo de guriazinha durou até o dia em que meu avô materno, um despachado cafuso alagoano, se irritou e decretou:  “Cortem logo o cabelo deste menino antes que ele vire um maricas”.  Foi assim mesmo que aconteceu, relatava anos depois a saudosa dona Thélia, minha mãe.

Não virei maricas, mas por pouco não me transformei num serial killler vingativo, devido as gozações dos meus irmãos mais velhos quando descobriram a foto fatídica. Fui atormentado durante toda a infância por causa daqueles cabelos compridos e sonhava com o dia da vingança, que nunca veio. Vocês não sabem o que é ser criado com mais sete irmãos. Sobrevivemos todos ao bulling familiar que, de uma forma ou outra, praticávamos mutuamente, tanto assim que estou aqui, contando com naturalidade esse episódio do passado.  
O quê? Se vou mostrar a foto dos cabelos de mulherzinha?  Nem que a vaca tussa! Podem esperar sentados, bando de sacanas.

 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vida normal


Cá estou eu, livre, leve e solto. Depois do mergulho nas profundezas de uma campanha eleitoral, volto a tona e à normalidade.  Mas a noite que antecede o grande dia é de vigília e  de pura ansiedade, mesmo com a certeza da vitória. Vitoria que vem acompanhada de providências para fazer frente aos militantes que querem – e merecem - festejar e a mídia, sequiosa  e inquieta para primeira entrevista.  Lidar com esses dois públicos, ainda mais simultaneamente,  exige muito traquejo e concentração total, por isso a  ficha que dá conta da grandeza da vitória só cai  quando começam a chegar as mensagens de congratulações, inclusive de adversários, até o telefonema do meu filho, que me deixa engasgado.

Já passou. Agora é retomar as caminhadas, dois ou três dias de academia por semana, uma escapada a Curasal,  reviver as confrarias, assistir aos filmes em DVD sem dormir, voltar ao Fronteiras do Pensamento e resolver o que ficou pra trás, mesmo que seja prosaico, como lavar o carro e trocar a surdina, ou importante, como aqueles exames médicos há muito aguardados pelo cardiologista. Vida que segue.

A normalidade só é quebrada pelos telefonemas, alguns de parabéns, mas a maioria é do querido malario da imprensa em busca de entrevistas exclusivas com Fortunati. Frustração quando informo que já não é mais comigo. Aliás, mesmo grande, vai faltar Fortunati para tanta agenda.

Agora só falta aquela ligação para oferecer um emprego maravilhoso. Parece que o Obama está a minha procura...

sábado, 6 de outubro de 2012

Hora da escolha


Estou dividido entre aquela melancolia de fim de festa e uma euforia crescente pela certeza da vitória e porque valeu a pena. ´São os mesmos sentimentos que parecem afetar os outros companheiros e companheiras da jornada que está chegando ao fim.  Ficamos confinados a maioria do tempo e condenados a tratar dos mesmos assuntos todos os dias, todas as horas. Mas insisto, valeu a pena, mesmo para este jornalista já escolado de outras campanhas políticas, lanhado pelas derrotas, recompensado com as vitórias. Desta vez, já fomos recompensados com um ambiente de harmonia e alto astral que envolveu a campanha da coligação Por Amor a Porto Alegre desde o início.  Falo com a autoridade de quem fez parte do primeiro pelotão da campanha.
Também é  verdade  que já gostei mais de política, que esteve no mesmo nível das minhas preferências com a prática “daquilo” e as coberturas radiofônicas. Interessante como o passar dos anos tem mudado meus hábitos, inclusive quanto “aquilo”. Em relação a política, minha iniciação começou muito cedo, lá pelos 10 anos, quando meu pai instalava perto de casa, no bairro Petrópolis,  uma banquinha para distribuirmos material de meu tio que disputava uma cadeira na Câmara Federal - foi um dos mais votados e mais tarde elegeu-se  senador. Éramos muito politizados a escadinha de oito irmãos e lembro que na disputa pelo governo do estado , em 1958, meu irmão Telmo instalou em casa um comitê para  o Brizola e minha irmã Silvia um para o Perachi, com farto material de campanha que buscavam nos comitês de verdade.  Os dois não tinham mais de 15 anos!

Depois nos envolvemos de alguma forma nas campanhas eleitorais de meu irmão Luiz Vicente para vereador, bem sucedidas,  e para deputado, nem tanto.   Eu, particularmente, sempre dava um jeito de participar das coberturas eleitorais nas emissoras onde trabalhava. Memoráveis coberturas eleitorais, “urna a urna, voto a voto” que demoravam até uma semana e que as urnas eletrônicas vieram para acabar com o fascínio e a trabalheira daqueles tempos. As rádios Guaiba e Gaúcha montavam enormes estruturas para uma apuração paralela à do TRE e normalmente cantavam vantagem de terem errado por pouco em relação aos números oficiais.
A disputa pelo anuncio do primeiro voto era feroz e lembro que numa das eleições o Edison Moiano, da Guaíba, que acompanhava  em Canoas a abertura de uma das primeiras urnas, transmitiu  do ginásio onde ocorria a apuração:  “Atenção, saiu o primeiro voto no Estado. É para Alceu Collares”. Foi uma vibração incontida na Central de Eleições da então Caldas Junior e aquela “vitória” diante da concorrência serviu de emulação para toda a cobertura.  Indagado mais tarde como conseguira o furo, Moiano teria confessado que viu de relance o voto que seria de Collares caindo da urna para a contagem e decidiu antecipar o tal primeiro voto.  “E, afinal, um voto para Collares teria que ter naquela urna”, justificou.
Durante a ditadura, vivemos um período de trevas e carência de eleições. Veio a redemocratização e a primeira eleição para presidente. Como sempre, assumi minhas posições e meu fervor cívico, acumulado desde a infância, e escolhi os que considerava melhores: Covas no primeiro turno e Lula no segundo. Deu Collor.  Nas duas votações, graças a boa vontade dos mesários, foram meus filhos, Flávia primeiro e Rafael depois, ambos ainda pequenos, quem teclaram os números dos candidatos que indiquei. Mesmo sem ter muita noção do que estavam fazendo, os dois se sentiram muito importantes. Hoje, bem crescidos, continuam escolhendo seus candidatos conforme minha orientação e  isso acontece não porque votem à cabresto, mas certamente porque sabem da importância que dou ao processo político e a responsabilidade que cerca as escolhas que faço.

Neste domingo não será diferente. Nem preciso justificar: escolhi Fortunati, o melhor e ponto. E para vereador, João Bosco Vaz, um voto de reconhecimento pelo magnífico trabalho que promove de inclusão social pelo esporte.  Garboso, lá vou eu perto do meio dia votar no coleginho da zona sul e quando entrar no recinto da urna ainda vou me questionar se estou fazendo a escolha certa. Mas em seguida estarei teclando o 1, o 2...