domingo, 23 de setembro de 2012

Habemus Papam


Depois de ter dormido nas exibições dos maus filmes indicados pelo seu o Coisinha,  proprietário da minha locadora, escolhi para a sessão de sábado Habemus Papam, da Nanni Moretti.  Tinha lido boas críticas a respeito e estava curioso para assistir ao filme e não me arrependi.
Nessa comédia dramática, o conclave se reúne no Vaticano para escolher um novo papa. Após várias votações, enfim há um eleito, o cardeal Melville. Os fiéis, amontoados na Praça de São Pedro, aguardam a primeira aparição do escolhido (Michel Piccoli), mas ele não vem a público por não suportar o peso da responsabilidade, e entra em pânico depois de um faniquito.  Tentando resolver a crise, os demais cardeais resolvem chamar um psicanalista, interpretado pelo próprio Moretti, para tratar o novo Papa, que acaba sumindo em Roma, período em que  aflora o seu lado mais sensível, o de ator frustrado.
A proposta do filme é tentadora, instigante até, como diria um amigo cinéfilo. Como católico desgarrado sempre me interessei pelos assuntos do Vaticano,  sou quase um vaticanista, mas  de certa forma fico contrafeito com aquela pompa e circunstância, os rituais de realeza que contrastam com pregação de que é aos pobres que está destinado o Reino dos Céus.

Diferente de Habemus Papam outros filmes recentes sobre o que acontece no Vaticano são mais incisivos em desnudar as mazelas da milenar Igreja Católica. Um bom exemplo é Poderoso Chefão III, nem tanto Anjos e Demônios.
Já o  filme de Moretti  é repleto de alegorias, que permitem variadas interpretações. O que significa, por exemplo, o impensável e hilário torneio de vôlei organizado pelo psicanalista no Vaticano, reunindo os veteraníssimos cardeais? É tudo um jogo? Interessante também o perfil de do novo Papa de Moretti.  Fisicamente lembra João Paulo II (que fez teatro quando jovem), mas com a sensibilidade de seu antecessor, João Paulo I, que morreu apenas 30 dias após ter assumido o trono de São Pedro, porque não teria resistido ao peso do papado.

É disso que trata Habemos Papam , um filme sobre a opressão que o poder exerce sobre os que não estão preparados para ele. O poder não foi feito para os sensíveis, mesmo que haja um deus a protegê-los e guiá-los.  Quantas vezes nos sentimos miseravelmente pequenos diante da grandeza dos desafios que nos são impostos? E quantas vezes, diferente do que ocorreu com o personagem de Habemos Papam, fomos compelidos à luta, sem direito a renúncia, que é um misto de covardia e humildade, mas também exige uma boa dose de grandeza.
O final é emblemático.  O escolhido pelos prelados  renuncia antes mesmo de assumir, enquanto os cardeais escondem o rosto. É uma Igreja perplexa, envergonhada, constrangida, o que resta, tudo a ver com a Igreja dos escândalos que tem vindo a tona e  que a cada dia perde mais e mais fiéis.

 

sábado, 15 de setembro de 2012

Agentes do mal


O momento político é sensível e perigoso. Faltando pouco mais de duas semanas para a eleição municipal as posições começam a se definir e os nervos ficam a flor da pele. Quem está atrás nas pesquisas tende a se exaltar e aí mora o perigo.
Candidato lomba abaixo é como animal acuado: reage com agressividade, quase por instinto. Essa é a fase do “quem não está comigo é meu inimigo”  e qualquer adversário, por mais jaguané que seja, vira agente do mal.  Sei de casos bem recentes...

Às vezes esse comportamento obedece a uma estratégia do marketing da campanha, que busca desqualificar os opositores como forma de estancar a queda e recuperar o terreno perdido. Normalmente não dá certo, mas o pessoal insiste. Também ocorre de o candidato e seus luas-pretas, normalmente gente tranquila e civilizada, ficar transtornada com a rejeição do eleitorado e virar fera disposta a qualquer tropelia. É quando começam as baixarias, a boataria, as difamações,  os falsos  dossiês,  numa ciranda maldosa que não tem mas fim.  Prestem atenção que a guerra já começou.  Nem ex-companheiros de outras jornadas são poupados em nome de uns votinhos a mais. Os parceiros de ontem se transformam nos inimigos de hoje.
Já atuei em campanhas vitoriosas e perdedoras, agressivas e as de “paz e amor” e estou convencido que o conjunto de fatores que leva a vitória  passa necessáriamente por um candidato competitivo, politicamente respaldado,  que inspire confiança, ostente uma biografia que orgulhe, tenha experiência para sustentar os projetos que acena para o futuro, revele sincera indignação com o que está errado e mostre que vai fazer diferença na vida das pessoas e das comunidades.  O resto é trabalho para o marketing.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PSN

O partido que mais cresce neste período eleitoral é o PSN, Partido dos Sem Noção. Mesmo militantes de outros partidos podem integrar o PSN, pois não há necessidade de filiação formal. Para participar é preciso, antes de tudo,  atitude. E aí é fácil identificar os potenciais sem noçãozistas.

É o cara que te interrompe com um assunto menor quando estamos concentrados em resolver aquela questão crucial ou que interrompe a explanação na parte mais complexa para  perguntar uma obviedade.  É aquela pessoa metida a engraçadinha nos momentos em que se exige seriedade e formalidade. É aquele que é apresentado a gente num dia e no outro já se imagina amigo de infância e faz confidências inclusive sobre a vida sexual dele.  É aquele que não distingue gestos e palavras afetuosas e passa cantada até na mãe dos amigos.
O Sem Noção age sem ter noção de hora, lugar ou contexto, com o perdão da redundância necessária. É um inconveniente e um dedicado à causa de atrapalhar a vida dos outros. O Sem Noção é primo irmão do chato
Na política é aquele ou aquela que só critica, em tudo vê terra arrasada e, provocado a apresentar soluções, vira montanha que pariu um rato. É aquele ou aquela que promete o que sabe que não vai cumprir. É aquele ou aquela  que assume compromissos e não entrega. É aquele ou aquela que teoriza sobre o   que não entende porque acredita que todos os outros são sem noção como ele. No caso da política, o Sem Noção é primo irmão do demagogo.

Se me permitem, lanço um veemente apelo: livrem-me dos chatos e demagogos

domingo, 2 de setembro de 2012

Flores da Guerra



Estreei o blu-ray ganho no Dia dos Pais com um belo e instigante filme: Flores do Oriente,  do cineasta chinês Zhang Yimou, o mesmo de Lanternas Vermelhas e de O Clã das Adagas Voadoras. Indicado para a categoria de melhor filme estrangeiro do Globo de Ouro em 2011, o filme conta a história, baseada em fatos reais, ocorrida durante a segunda guerra entre China e Japão, em 1937.  O agente funerário  John Miller (o atual Batman Christian Bale, indicado para o papel por Steve Spielberg) chega a uma igreja católica em Nanjing para providenciar o enterro do pároco local, morto por uma bomba japonesa.  Lá chegando o americano  se depara com jovens estudantes de um convento e prostitutas de um bordel próximo, atraídas pela aparente neutralidade do templo.
A sinopse do filme relata que, inicialmente, Miller se revela um sujeito egoísta e desinteressado com o conflito existente, mas com o passar do tempo assume a responsabilidade de proteger os dois grupos tão diferentes. Ele terá que lidar ainda com o pânico provocado pelos constantes ataques do brutal exército japonês, enquanto pensa numa forma de fugir de lá.
Destacando que preferia a tradução do título original (Flores da Guerra), aqui vai a primeira constatação deste crítico cinematográfico amador:  o filme é chinês, mas parece produção de Hollywood e, assim, não é de se estranhar que o personagem principal seja um cidadão americano e que boa parte da língua falada pelos personagens, incluindo os nativos, é o inglês.   Com um orçamento de 90 milhóes de dólares, adaptado do livro “13 Mulheres de Nanjing”, de Geling Yan, Flores do Oriente foi produzido quase como um épico sobre o episódio que ficou conhecido como o Massacre de Nanjing, que os chineses consideram como tão grave como o Holocausto dos judeus.
 
O filme me sensibilizou particularmente porque tive oportunidade de visitar em  Nanjing o memorial que reverencia os 300 mil chineses que teriam sido mortos durante a ocupação japonesa. Trata-se de uma construção pesada, com um longo  circuito  encravado  na rocha onde é oferecido um roteiro  dos horrores ocorridos naqueles dias em que a besta estava a solta em solo chinês e era apresentada com os olhinhos puxados dos japoneses. Há fotos de cenas reais, reais até demais, objetos de época como armas e uniformes, simulação de batalhas e de episódios relacionados ao conflito. Mas não consegui passar do terceiro salão do circuito, perturbado com a  brutalidade exposta naquele cenário claustrofóbico. Sim, pode não parecer, mas sou uma pessoa sensível.  Cabe esclarecer que na visita a Nanjing acompanhava o então prefeito José Fogaça em missão oficial à China.  O lado professor de Fogaça falou mais alto e ele cumpriu todo o dramático circuito.  Ao final, comentou os fatos mostrados em uma das últimas estações do circuito, dando conta de que, na versão dos chineses, foram eles os principais responsáveis pela vitória aliada na segunda guerra mundial, pelo menos na região do Pacífico. Nada que surpreendesse em se tratando dos chineses para quem, mais do que outros povos, vale a versão.
Também não surpreende que no filme de Yimou  um cidadão originário de um país inimigo até algumas décadas atrás seja o grande herói, que vai salvar as virgenszinhas chinesas e proteger as prostitutas das redondezas.  Impensável em tempos de guerra fria, o protagonismo do americano corresponde em certa medida aos novos ventos que sopram na China de hoje, de regime político fechado e economia capitalista. “Não importa a cor do gato, desde que ele cace ratos” é o mantra repetido desde Deng Xiaoping, significando que os resultados, mais do que a ideologia, estão em primeiro lugar.  No caso de Flores da Guerra não importa que o filme tenha o estilo de Hollywood, importa o potencial de faturamento no mercado americano e internacional. Se vale como medida o circuito brasileiro, o resultados podem ser considerados positivos: o filme estreou com a nona melhor colocação e mais de 15 mil espectadores na semana de estreia.

domingo, 26 de agosto de 2012

Sim, eu sou gremista


Ainda hoje encontro gente que se surpreende quando revelo minha predileção pelo Grêmio.  Até já ouvi  uns “jurava que tu eras colorado”. Será que consegui enganar tão bem nos tempos em que militei na chamada crônica esportiva, algo como 30 anos de atividades em rádio,TV e jornal? É bem verdade que eu não tinha a visibilidade – e nem a cobrança permanente – do pessoal de microfone e de vídeo, mas era prudente afetar uma neutralidade para o público externo porque o interno sabe quem torce para quem.  

Sim,sou gremista, o único numa família de oito irmãos.  Por sorte, minha infância e adolescência se deram em tempos de Grêmio vitorioso nas décadas de 50 a 60 do século passado e, assim ,não fui muito vilipendiado pelos outros irmãos.

Hoje posso afirmar, cheio de orgulho, que em nenhum momento em minha carreira jornalistica a predileção clubística teve influência para beneficiar ou prejudicar esse ou aquele clube. Talvez até fosse mais severo e exigente com o time do coração. Ou seja, não era neutro, mas buscava obsessivamente a isenção.  Não posso dizer o mesmo de alguns companheiros com os quais convivi, embora a maioria estivesse mais comprometida com o seu trabalho e com o veiculo em que atuava do que pender para esse ou aquele lado. E vamos combinar que isso não era,  e continua não sendo, tarefa fácil num ambiente grenalizado como o nosso e, por isso mesmo, marcado pelo emocionalismo.

Agora, me permitam nesses tempos de supremacia das redes sociais e quando já estou bem longe das redações, extravasar o meu gremismo, o que procuro fazer de forma bem humorada e, às vezes, provocativa, mas sem baixarias e sem radicalismos. E aceito numa boa as flautas, sem as quais, o futebol não teria a menor graça. Mas não perco o sono nem o humor com as eventuais fases ruins do tricolor, que,aliás, tem sido bem frequentes.   Por isso, podem flautear a vontade, mas aceitem as cutucadas em contrário.  Fora desse contexto, vira doença, requer tratamento e, mesmo o futebol, com toda a sua força e encantamento, não vale o prejuízo. Um abraço imortal a todos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Rio Grande no divã

De repente, o Rio Grande amado descobriu que não é  mais o maioral, que aquela história de que somos brasileiros diferentes dos lá de cima, de que as nossas lideranças são as melhores, de que aqui é o lugar dos fortes e justos, enquanto o resto ou é a chatice e soberba dos paulistas ou a carioquice dos demais, que tudo o que nos orgulhava pouco a pouco foi corroído.  Nunca antes na história deste Estado nossa auto estima esteve tão baixa.

O golpe mais recente no nosso orgulho ocorreu com a divulgação dos índices do IDEB, que colocam o ensino público gaúcho em patamares medíocres, logo nós que sempre nos vangloriamos da qualidade do nossa educação, desde Brizola até recentemente o governo Rigotto quando recebemos o reconhecimento de melhores do Brasil na avaliação da Unesco. Em apenas seis anos afundamos para os níveis atuais.

Já havia pressentido a derrocada gaúcha quando descobri que a melhor carne para o nosso churrasco dominical, aquele costela suculenta ou a picanha tenra, era importada do Brasil do Centro Oeste, terra de índios e duplas sertanejas na nossa percepção equivocada. Pior, o honesto churrasco assado em espetos está sendo substituído pelos grelhados, não sei se por influência paulista ou platina.  Mas já ouvi de um ex churrasqueiro de fé, eu disse ex, que “esse negócio de assar carne no espeto é churrasco medieval”.

Invoco  a infâmia perpetrada contra a tradicional gastronomia gaúcha para tirar da cartola uma tese da hora, que é a seguinte: nossa baixa auto estima terá como consequência grandes comemorações farroupilhas, para compensar, com o culto a um passado que seria glorioso, um presente que nos deixa cabisbaixos.

Vou aproveitar e emendar outra tese. A culpa de tudo seria do grenalismo que se instalou nas instâncias públicas de nosso estado, retardando projetos importantes em nome de sectarismos partidários, dificultando conquistas porque a ideia partiu de um adversário político, impedindo avanços porque os dividendos irão para outra facção, colocando interesses pessoais – e pequenos – à frente dos interesses de todos.

Se no futebol a rivalidade não deixa de ter seu lado benéfico porque obriga o adversário a se superar, no âmbito público, que deveria privilegiar o bem comum,  essa  beligerância permanente  é nefasta e joga  todos nós para baixo. E leva o Rio Grande, que agora é grande só no nome, ao divã do analista para entender o que aconteceu. Até parece que estou ouvindo: "Doutor, quero ser grande de novo!".

sábado, 11 de agosto de 2012

O Dia dos Filhos

Reeditado a partir do original publicado em 11/08/2011

Se dependesse de mim, trocava o Dia dos Pais pelo Dia dos Filhos. Parece bobagem, mas o que justifica a paternidade senão os filhos? Filhos são dádivas, sementes que devemos zelar para que cresçam e se transformem em nosso melhor legado para o futuro. Com a certeza de que não errei na receita, celebro então o Dia dos Filhos.

O Dia da Flávia, primogênita, capricorniana como o pai, rebeldia domada pela maturidade, filha e mãe amorosa, solidária e ansiosa com o bem estar dos mais próximos. O Dia do Rafael, o atlético do meio, um romântico escorpião, olhos de bolita e um pouco da sina de rabugento, que agora experimenta as venturas da paternidade. O Dia da Mariana, meu nenê, pequeno dínamo, muita sensibilidade, um passarinho que cedo aprendeu a voar e foi crescer lá longe, mas já voltou ao ninho - até quando?

Talvez não tenha feito justiça, nessas poucas linhas, ao que meus filhos tem de melhor. Mas eles sabem que sinto um enorme orgulho deles e curto a forma como se curtem. E sabem também que o pai que sou foram eles que moldaram. Agora, mais ainda, é eles que me dão o norte e vou estar cada vez mais dependente do rumo que me apontarem.

Instituo, portanto, o Dia dos Filhos e celebro a data, mas aviso: o velho aqui não abre mão dos presentes no domingo. Podem ser até pijamas e chinelos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dúvida cruel: ser Cadinho ou Leleco?

                                                    Ah, a Tessália
Vamos lá, amigo, confesse: você está morrendo de inveja do Cadinho e do Leléco, personagens da novela das 9, Avenida Brasil. Cadinho vive uma ménage à quatre , um seu Queque moderno como o interpretado por Nei Latorraca  na minissérie Rabo-de-saia. Só que,  embora desmascarado, o Cadinho conseguiu recompor a relação com as três mulheres, todas elas desejáveis, cada uma com um tipo de beleza diferente. O núcleo das mulheres corneadas deve estar sendo bem avaliado nas pesquisas porque o autor tem escrito situações para os personagens em praticamente todos os capítulos.  Sacanagem sempre dá Ibope.
Outro dia o Cadinho, em interpretação antológica de Alexandre Borges, explicava como não se confundia, trocando os nomes e os gostos quando frequentava um ou outro lar: “Só quem não trai e que tem fixação nisso é que se confunde”, ensinou o bandalho da ficção, reafirmando sua grande capacidade de amar cada uma e as três simultaneamente.   O cara é profissional e, cá entre nós, as três atraiçoadas sabem que o Cadinho é o cara e que ,apesar de tudo, ele está ali para lhes dar carinho, atenção e sexo, que é o que as  mulheres buscam no seu parceiro .E na novela ainda é o provedor...Que situação interessante criou o João Emanuel Carneiro  com  essa relação complicada em que cada uma das mulheres é a outra da outra e da outra.  Será que acontece algo parecido na vida real? Não duvido.

De minha parte não sinto inveja do Cadinho. Esse negócio de estar lembrando as preferências de cada mulher seria um atrapalho na minha vida, primeiro por causa de minha postura marcada pela austeridade e depois porque a memória é meu ponto fraco e logo estaria cometendo besteiras.
Já o Leleco, ah, o Leleco. O coitado vive angustiado com a possibilidade de levar um par de chifres daquela máquina chamada Tessália (Débora Nascimento) e até mereceria por escalar aquele fortão abobado para tentar a moça.  Ah, a Tessália. O Leleco não se deu conta de que é um vitorioso, porque tem e casa aquele monumento  num corpão, um corpão amoroso, fazendo carinhas e bocas de ingênua,  e de vez em quando belisca a ex, vivida pela Eliane Giardini, que ainda dá um caldo, mas na novela tem nome de treinador de futebol – Muricy – coisa mais brochante.  Nesse caso, a ex vira a outra e o atual namorado dela, um gaúcho chamado Juliano Cazarré é quem acaba sendo chifrado.  Que confusão!  Pensando bem, não invejo nem um nem outro.  É muito complicado esse roteiro de infidelidades e, aliás , acho que a novela deveria trocar de nome, passando a chamar-se Corneada Brasil, com o Murilo Benicio e seu Tufão na comissão de frente.  De minha parte, reafirmo que  não teria energia para tanta tentação. Vade retro, Tessália e Cia.


sábado, 4 de agosto de 2012

Fracasso! Que fracasso?

Ainda me emociono quando um brasileiro sobe ao pódio e exibe orgulhoso sua medalha.  São tão poucas em comparação com as grandes potências olímpicas e tão marcadas pela superação as parcas conquistas  dos nossos atletas que os elegi como meus heróis, aqueles por quem vale a pena  torcer e se emocionar.

 Por isso, não estou entendendo – ou melhor ,rejeito com todas as minhas forças – essa cobrança em cima da Fabiana Murer por ter sido eliminada nas provas de salto com vara.  “Um fracasso” é o mínimo que se ouve na chamada mídia especializada, esquecendo todo o passado recente de grandes vitórias da saltadora brasileira. O campeoníssimo César Cielo também está recebendo cobrança semelhante porque ganhou “apenas” o bronze nos 50 m nado livre, ele que era um dos favoritos. Foi assim também com a nossa Daiane dos Santos, que amargou um quinto lugar em Atenas, quando o ouro era tido como certo por todos os brasileiros.. E teria tantos outros exemplos.
Não posso deixar de ser solidário e me comover com um jovem que chora por ter decepcionado uma nação que esperava dele,  naquele rápido século de duração  das provas, a redenção para suas frustrações cotidianas. Ingrata nação, injusta nação.  Os deuses olímpicos não estão nem aí para os nossos sonhos e preferem ajudar quem se ajuda, quem investe com seriedade em políticas públicas para fomentar o esporte e  que busca através das práticas, de alto rendimento ou apenas recreativas, uma nação mais saudável e não uma forma de propaganda.

E vamos combinar: a classificação da Fabiana Murer ou a medalha com metal mais valioso do Cielo não mudaria,  nem pra mais nem pra menos, o nosso dia a dia. É nessas horas também que gosto de recuperar, por oportuno,  uma crônica antológica do Drumond – Perder, ganhar, viver – publicada no dia seguinte à derrota do Brasíl para a Itália, na Copa de 82, quando fomos eliminados. Selecionei alguns trechos:
"Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.
(...)
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.

E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?"


 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Na Moral e outros equivocos

A nova (?) programação da Rede Globo esta me deixando tonteado.  Os recém-estreados “Encontro com Fátima Bernardes”  e o “Na Moral”, com Pedro Bial, não conseguiram emplacar e dificilmente isso acontecerá, a não ser que haja uma virada de 180 graus nas produções, uma virada capaz de trazer os diferenciais que as chamadas dos programas prometiam.

O caso mais grave é o do programa da Fátima, preparado há quase um ano e que se revela um equívoco monumental, não fazendo justiça ao talento da apresentadora.  Uma regrinha básica quando se cria uma nova atração – e isso vale para todas as mídias e para outras formas de entretenimento – é focar no público alvo do horário ou pretendido. Ou muito me engano ou o público das manhãs é constituído de donas de casas e crianças, mas o que vi num dos primeiros programas foi o futebol como tema central.  A rigor, o equívoco mastodôntico foi estrear um programa para adultos em horário de público infantil em plenas férias escolares. A coisa é tão tediosa que outro dia uma senhora do auditório foi flagrada dormindo durante o programa. Aliás, a nova mania televisiva são esses mini auditórios, que servem de claque, jurados e cenários, sem o menor critério.

Tenho prestado mais atenção ao Pedro Bial do que a Fátima Bernardes e conto pra vocês a síntese do programa: muito ritmo, pouco conteúdo; muito discurso, pouca profundidade. É um tal de entra e sai de convidados e assuntos que resta pouco recall.  Parece que os luminares da programação global ficaram reféns de uma fórmula que vou chamar de Jornalismo Revista Contigo e sua variação Revista Nova, ou seja, uma mistura de temas comportamentais da hora,  alguma coisa  pretensamente polêmica, uma pitada de sexo,  a presença de alguns artistas globais e cantores do hit parade e mais um auditório adestrado, tudo isso costurado por um âncora famoso . Nessa linha, sou mais o Serginho Groismann. O resto está mais pra fake e o público, que está amadurecendo e sabe o que quer, reage com indiferença.
Lastimo a posição em que ficaram a Fátima e o Bial, mais pelo que representaram no passado e menos pela guinada equivocada que deram em suas carreiras.
Para não dizerem que tenho má vontade com a Globo, admito que na teledramaturgia a rede esta acertando em cheio. “ Avenida Brasil” vai entrar para o rol das melhores novelas de todos os tempos, não tanto pelo enredo, mas pelo desempenho superior de todo o elenco, exceto o canastrão Murilo Benicio. E arrisco dizer que o remake de “Gabriela” é tão bom ou melhor que o original, com aquele luminosidade e cenários baianos, seios e bundas à mostra e,  de novo, uma grande  atuação de todo o  elenco, ai incluída até a Ivete Sangalo como Maria Machadão. Só implico com aqueles figurinos masculinos que não dispensam o colete no tórrido sertão da Bahia. Até a novela das sete, Cheias de Charme,  misturança de ficção e realidade, acertou na fórmula e também vai marcar época.

A essa altura do campeonato, se eu fosse a Fátima e o Bial pedia transferência para o núcleo das novelas.