Recomenda-se ler a primeira parte, publicada em 08/04/2010.
Não se conhecem os desdobramentos futuros do caso, mas o fato é que a moça se acalmou e se retirou do ambiente fúnebre, com o Junior a tiracolo. Assim a família e os amigos puderem prantear seu ente querido sem outras interferências. A família, na verdade, estava vexada com o incidente. Todos sabiam que o falecido não era o que se poderia classificar de cidadão e chefe de família exemplar, mas daí a constituir outro lar no paralelo passava das medidas. Certamente o ocorrido já estava na boca do povo e seria motivo de muitas conversas entre as comadres e nas mesas de bares, uma situação insuportável. Já os amigos, testemunhas ou companheiros de algumas farras do falecido, não estavam nem aí para o constrangimento da família. Nessa hora é que a gente sabe quem são os verdadeiros amigos, pensou Sivaldo, com uma ponta de amargura.
Todas essas preocupações não saiam da cabeça do bom Sivaldo cada vez que imaginava como seria sua passagem para outra dimensão. Tinha claro que a família seria a principal vítima se houvesse algum escândalo como o ocorrido com o parente. Coitados, teriam que administrar um legado inconveniente e indesejado. Foi então que começou a fazer uma retrospectiva das vezes em que pulou a cerca, tentando identificar potenciais fatores e pessoas de risco.
Ele tinha certeza de que não apareceria nenhuma ex com filho no colo, a não ser que fosse armação, que um simples exame de DNA desmentiria, embora não evitasse o vexame e o diz-que-diz no velório. “Afasta-te de mim, pensamento diabólico”, dialogava internamente. Sivaldo sabia que uma ex, no oficial ou no paralelo, era encrenca para a vida toda, inclusive na hora da passagem para a vida eterna.
Ao passar a limpo a vida pregressa, registrou poucas transgressões, mas algumas foram bem escabrosas e outras bizarras. Ele lembrava bem o caso com uma contorcionista de um circo mambembe, que conhecera num boteco após a matiné. A moça atuava também como ‘partner’ do domador das feras e nas horas vagas fazia contorcionismos na cama e ronronava como um felino. O caso durara exatos 15 dias, o tempo de permanência do circo na cidade, mas suficiente para encontros diários num hotelzinho barato perto de onde as lonas circenses estavam instaladas. Não, pensou, essa não vai dar trabalho, o circo já deve ter sido desfeito e a moça provavelmente está exercitando seu sotaque castelhano, com viés catarinense, em outras plagas.
Depois veio o caso com aquela ex-freira, carente de afeto e de sexo, que decidiu descontar com ele os atrasados. O caso não prosperou por muito tempo porque a moça, ainda apegada aos preceitos religiosos, recusou-se a atender um fetiche dele para comparecer a um encontro vestida com o hábito de freira. Achava, entretanto, que a ex-freira, até pela sua formação, não se prestaria a um escândalo, mesmo porque agora dividia seus lençóis, devidamente casada, com um ex-seminarista.
Teve ainda aquele caso com aquela garçonete que precisava tomar um longo banho após a lida no restaurante e antes da lida sexual para minimizar o cheiro de fritura impregnado no corpo dela. Mesmo assim, às vezes ele achava que estava transando com uma batata frita ou um filé à parmegiana. Mais tarde, descobriu que ela dividia seus favores sexuais também com o marido de uma amiga, conforme confissão do próprio, o que conduzia a situação a um dilema: quem era o outro da outra? A garçonete talvez viesse a incomodar, mas ele torcia para que o marido da amiga fosse importunado em seu velório antes do que ele.
Registrava, com um misto de saudade e preocupação, o caso com aquela socialite casada, que lhe dava boa vida e todos os prazeres sexuais imagináveis. Foi o único caso com mulher casada e o escabroso da história é que o marido sabia e aparentemente não se importava com o relacionamento extraconjugal da mulher, tanto assim que os encontros eram na bela cobertura do casal. O caso terminou no dia em que o marido invadiu o quarto onde transavam e quis participar da brincadeira, insinuando-se mais para o amante do que para a mulher. Aí já era muita devassidão e Sivaldo tinha valores a preservar. A socialite, com sua coleção de óculos escuros de todas as grifes, era um perigo em potencial.
Começou a pensar em casos mais recentes e as preocupações aumentaram. Entre outros, houve aquele envolvimento com uma amiga mais moça, que ele lutou muito para conquistar e depois viver uma relação de mais de três anos. Foi um relacionamento intenso e tumultuado. Intenso porque se permitiam tudo e tumultuado porque eram muito diferentes em quase tudo e só convergiam mesmo na hora do sexo. O rompimento fora traumático e isso deveria acender o alerta, mas conhecia bem o estilo da moça e ficava mais tranqüilo. Era uma dissimulada e se comparecesse ao enterro o faria com muita discrição e um belo óculos escuros, só para ter certeza de que estava mesmo morto.
Puxa, tão poucos casos e tanta angústia. Mas só de pensar no assunto, começou a sentir fortes dores no peito. “Será que chegou a minha hora?”, apavorou-se. “Vou ter que ligar para os meus irmãos para alertar sobre a mulher de óculos escuros...”
domingo, 10 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
A mulher de óculos escuros - parte 1
*Publicado originalmente em 19/10/2009
“ Não custa alertar: é ficção.”
Sivaldo, funcionário público, meia idade, era muito preocupado com o que escreveriam no seu obituário, se é que mereceria algumas linhas destacando sua trajetória pessoal e profissional. Sabia que não haveria muito a dizer, além dos registros obrigatórios, sua preferência clubística, onde trabalhou, um ou outro projeto em que esteve envolvido, talvez a opinião generosa de algum ex-colega ou familiar. Não, certamente ele não mudara o mundo nem influenciara pessoas.
O que Sivaldo temia, na verdade, era a possibilidade de eventos com potencial de escândalo no seu enterro. Traduzindo: presenças femininas indesejáveis. Por isso, tratou de se prevenir e foi enfático na recomendação a seus irmãos e a um amigo de fé:
- Se aparecer alguma mulher de óculos escuros, que vocês não conheçam, façam o que for necessário para tirar ela do recinto. Não quero escândalo no meu velório.
A preocupação se justificava. Queria preservar a família, a futura viúva e os filhos, de um vexame na hora da dor. Ele não estaria lá para se explicar, a não ser amorfamente como defunto, incapaz de reagir a um potencial barraco. Por isso, insistia com os irmãos.
- Não quero escândalo no meu velório. Cuidado com as mulheres de óculos escuros.
Tinha uma implicância com mulher de óculos escuros em velórios e enterros. Achava que os óculos encobriam olhares irônicos, cínicos ou ressentidos, próprios de uma ex, em relação ao morto e os presentes no ato fúnebre. Olhares do tipo “eu sei que vocês sabem quem sou e o que sei”.
Ainda estava vivo na sua memória o acontecido com um parente, encontrado morto em circunstâncias suspeitas – numa cama de motel, dentro do carro, jogado na rua, eram as versões, mas sempre ressalvando que ostentava um último esgar de satisfação.
Sucede que no dia do enterro do parente, um primo distante, apareceu a outra, calça jeans apertada,com os temíveis óculos escuros, dos bem grandes, e um filho no colo, exigindo seus “dereitos”. Não dava para negar a descendência: a criança, com dois ou três anos, era a miniatura do defunto, o mesmo cabelo encaracolado, o nariz levemente achatado e os olhos vigilantes do ex-parente. E a mãe ainda batizara-o de Junior, agregado ao nome do “pai”. Cildo, de Oracildo, Junior.
Então, aconteceu a cena clássica e patética. A mulher se debruçou sobre o caixão, com o Cildinho chorando no colo e gritava:
- Me leva junto, mor. A vida não tem mais sentido pra mim e pro Junior. Nós queremos estar contigo para sempre. Leva a gente, mor! assim mesmo, na forma reduzida de amor.
Não se viu uma lágrima derramada pela moça, talvez por causa daqueles enormes óculos de camelô, certamente um presente do falecido. Mas a dramatização era convincente.
- O que vai ser de mim e do Junior agora que ele nos deixou, choramingava a moça.
O velório virou um fuzuê. A viúva teve um faniquito e os filhos do ex-parente, já taludos, queriam partir para a agressão à incômoda visitante. Como mais alta autoridade presente no recinto, foi chamado a intervir.
- Minha senhora, permita que eu lhe explique algumas coisas, mas fora daqui, abordou jeitoso.
- O senhor não entende. O que aconteceu foi uma desgraceira. O que será de mim e do Junior agora, insistia a inconveniente.
O burburinho do ambiente já tomava proporções incontroláveis e ele negociando com a moça.
- Minha senhora, vamos lá fora conversar. O Oracildo falava muito bem da senhora e deixou instruções para que a gente cuidasse do caso, se ele viesse a faltar, continuou cerimonioso, insinuando providências prévias que nunca foram tratadas.
- Ah, é? Ele falou de mim e do Junior? O que ele disse? O que ele pediu?
A moça agora estava acesa com a possibilidade de algum legado deixado pelo falecido.
(continua)
“ Não custa alertar: é ficção.”
Sivaldo, funcionário público, meia idade, era muito preocupado com o que escreveriam no seu obituário, se é que mereceria algumas linhas destacando sua trajetória pessoal e profissional. Sabia que não haveria muito a dizer, além dos registros obrigatórios, sua preferência clubística, onde trabalhou, um ou outro projeto em que esteve envolvido, talvez a opinião generosa de algum ex-colega ou familiar. Não, certamente ele não mudara o mundo nem influenciara pessoas.
O que Sivaldo temia, na verdade, era a possibilidade de eventos com potencial de escândalo no seu enterro. Traduzindo: presenças femininas indesejáveis. Por isso, tratou de se prevenir e foi enfático na recomendação a seus irmãos e a um amigo de fé:
- Se aparecer alguma mulher de óculos escuros, que vocês não conheçam, façam o que for necessário para tirar ela do recinto. Não quero escândalo no meu velório.
A preocupação se justificava. Queria preservar a família, a futura viúva e os filhos, de um vexame na hora da dor. Ele não estaria lá para se explicar, a não ser amorfamente como defunto, incapaz de reagir a um potencial barraco. Por isso, insistia com os irmãos.
- Não quero escândalo no meu velório. Cuidado com as mulheres de óculos escuros.
Tinha uma implicância com mulher de óculos escuros em velórios e enterros. Achava que os óculos encobriam olhares irônicos, cínicos ou ressentidos, próprios de uma ex, em relação ao morto e os presentes no ato fúnebre. Olhares do tipo “eu sei que vocês sabem quem sou e o que sei”.
Ainda estava vivo na sua memória o acontecido com um parente, encontrado morto em circunstâncias suspeitas – numa cama de motel, dentro do carro, jogado na rua, eram as versões, mas sempre ressalvando que ostentava um último esgar de satisfação.
Sucede que no dia do enterro do parente, um primo distante, apareceu a outra, calça jeans apertada,com os temíveis óculos escuros, dos bem grandes, e um filho no colo, exigindo seus “dereitos”. Não dava para negar a descendência: a criança, com dois ou três anos, era a miniatura do defunto, o mesmo cabelo encaracolado, o nariz levemente achatado e os olhos vigilantes do ex-parente. E a mãe ainda batizara-o de Junior, agregado ao nome do “pai”. Cildo, de Oracildo, Junior.
Então, aconteceu a cena clássica e patética. A mulher se debruçou sobre o caixão, com o Cildinho chorando no colo e gritava:
- Me leva junto, mor. A vida não tem mais sentido pra mim e pro Junior. Nós queremos estar contigo para sempre. Leva a gente, mor! assim mesmo, na forma reduzida de amor.
Não se viu uma lágrima derramada pela moça, talvez por causa daqueles enormes óculos de camelô, certamente um presente do falecido. Mas a dramatização era convincente.
- O que vai ser de mim e do Junior agora que ele nos deixou, choramingava a moça.
O velório virou um fuzuê. A viúva teve um faniquito e os filhos do ex-parente, já taludos, queriam partir para a agressão à incômoda visitante. Como mais alta autoridade presente no recinto, foi chamado a intervir.
- Minha senhora, permita que eu lhe explique algumas coisas, mas fora daqui, abordou jeitoso.
- O senhor não entende. O que aconteceu foi uma desgraceira. O que será de mim e do Junior agora, insistia a inconveniente.
O burburinho do ambiente já tomava proporções incontroláveis e ele negociando com a moça.
- Minha senhora, vamos lá fora conversar. O Oracildo falava muito bem da senhora e deixou instruções para que a gente cuidasse do caso, se ele viesse a faltar, continuou cerimonioso, insinuando providências prévias que nunca foram tratadas.
- Ah, é? Ele falou de mim e do Junior? O que ele disse? O que ele pediu?
A moça agora estava acesa com a possibilidade de algum legado deixado pelo falecido.
(continua)
sábado, 2 de abril de 2011
Não sinto saudades do telex
Olha o telex ai, gente
Outro dia levei um susto aqui em casa quando assistia as emoções de Insensato Coração. Ouvi um som intermitente que me recordou vagamente uma emissão já conhecida. O som insistiu em atrapalhar a atenção que dedico a trama da novela, até que me dei conta do que se tratava: era o telefone fixo da casa chamando. Já havia esquecido da existência do aparelho que, em tempos idos, prestou grandes serviços à família, mas hoje está relegado a receber incômodas ligações de telemarketing ou servir de brinquedo para Maria Clara.
E dizer que precisei usar de um pistolão na Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT, lembram?) para a instalação da linha, quando me transferi em 1983 para a morada da Osmar Meletti, na Aberta dos Morros (o bairro existe, sim). Saibam os mais jovens que o chamado telefone convencional já foi sinal de status e era obrigatório declarar ao Imposto de Renda a posse da linha entre os bens patrimoniais. Até hoje recebo uns R$ 4,00 de bonificação, todos os anos, pelo contrato que firmei com a CRT.
Não me tomem por saudosista, apenas registro uma dramática mudança de comportamento provocada pelo avanço tecnológico da telefonia móvel - os celulares e toda a parafernália de equipamentos e serviços que nos encantam e assustam.
Nos tempos em que era um esforçado repórter esportivo na Folha da Tarde e na Zero Hora toda a tecnologia que tínhamos disponível para transmitir nossas matérias ou fotos em viagem era o telex e o aparelho de telefoto. A discagem direta a distância (DDD) recém estava se expandindo e não eram todas as cidades que tinham acesso ao sistema. Era um suplício, nas coberturas do campeonato nacional de então, enviar fotos das capitais nordestinas, por exemplo. A ligação para a redação precisava ser pedida com boa antecedência para possibilitar a transmissão à tempo, antes do fechamento da edição. Os banheiros dos nossos quartos nos hotéis se transformavam em câmaras escuras e infectas pelos produtos químicos que revelariam os filmes fotográficos. Reveladas, ampliadas e secadas, as fotos – cinco ou seis no máximo – eram instaladas na máquina de telefoto e aí começava outro suplício – o bip-bip da transmissão, linha a linha, da imagem. Qualquer interferência na linha telefônica, e isso era freqüente, deixava marcas na foto transmitida e aí era preciso começar tudo de novo. Um estresse.
Transmitir as matérias não era menos complicado. Poucas cidades possuíam telex público, normalmente instalados nos serviços do Correio, então era preciso molhar a mão do telexista para que ele comparecesse no domingo ou fizesse plantão à noite para atender a reportalhada. Menos mal que os operadores eram rápidos e eficientes, rapidez e eficiência que aumentava na mesma proporção da gorjeta. Primeiro a gente redigia a matéria na máquina de escrever (o Google explica do que se trata) e depois o texto era teclado para uma fita picotada em que cada tipo de picote representava uma letra. Os repórteres mais habilidosos e talentosos, que não era o meu caso, redigiam o textos diretamente no telex. Completada a transposição para a fita picotada, a serpentina era transmitida igualmente por linha telefônica, ponta a ponta. Na redação, o material era reproduzido em papel especial que, rabiscado e emendado pelos editores, era” baixado” direto.
Era um jornalismo mais artesanal. Estão aí, bem vivinhos, o Roberto Azevedo, o Emanuel Mattos,o Cláudio Dienstman, o Luis Ávila, o Paulo Dias, o Sérgio Arnoud e tantos outras malas que não me deixam mentir. Hoje até eu, um semi incluído digital, consigo enviar fotos do outro lado do mundo e texto nem se fala. Santa Internet!
Por isso não sinto saudade daqueles tempos heróicos. Agora, com todo o avanço tecnológico, tudo ficou mais fácil, mais ágil, mais eficaz. E uma vez que a tecnologia está ao alcance da maioria, igualando as ferramentas e o processo produtivo, o que continua estabelecendo o diferencial é o conteúdo. Que, como antigamente, deve ser “denso, forte e consistente”, que era a senha para começarmos nossas matérias nos confins do Brasil.
Outro dia levei um susto aqui em casa quando assistia as emoções de Insensato Coração. Ouvi um som intermitente que me recordou vagamente uma emissão já conhecida. O som insistiu em atrapalhar a atenção que dedico a trama da novela, até que me dei conta do que se tratava: era o telefone fixo da casa chamando. Já havia esquecido da existência do aparelho que, em tempos idos, prestou grandes serviços à família, mas hoje está relegado a receber incômodas ligações de telemarketing ou servir de brinquedo para Maria Clara.
E dizer que precisei usar de um pistolão na Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT, lembram?) para a instalação da linha, quando me transferi em 1983 para a morada da Osmar Meletti, na Aberta dos Morros (o bairro existe, sim). Saibam os mais jovens que o chamado telefone convencional já foi sinal de status e era obrigatório declarar ao Imposto de Renda a posse da linha entre os bens patrimoniais. Até hoje recebo uns R$ 4,00 de bonificação, todos os anos, pelo contrato que firmei com a CRT.
Não me tomem por saudosista, apenas registro uma dramática mudança de comportamento provocada pelo avanço tecnológico da telefonia móvel - os celulares e toda a parafernália de equipamentos e serviços que nos encantam e assustam.
Nos tempos em que era um esforçado repórter esportivo na Folha da Tarde e na Zero Hora toda a tecnologia que tínhamos disponível para transmitir nossas matérias ou fotos em viagem era o telex e o aparelho de telefoto. A discagem direta a distância (DDD) recém estava se expandindo e não eram todas as cidades que tinham acesso ao sistema. Era um suplício, nas coberturas do campeonato nacional de então, enviar fotos das capitais nordestinas, por exemplo. A ligação para a redação precisava ser pedida com boa antecedência para possibilitar a transmissão à tempo, antes do fechamento da edição. Os banheiros dos nossos quartos nos hotéis se transformavam em câmaras escuras e infectas pelos produtos químicos que revelariam os filmes fotográficos. Reveladas, ampliadas e secadas, as fotos – cinco ou seis no máximo – eram instaladas na máquina de telefoto e aí começava outro suplício – o bip-bip da transmissão, linha a linha, da imagem. Qualquer interferência na linha telefônica, e isso era freqüente, deixava marcas na foto transmitida e aí era preciso começar tudo de novo. Um estresse.
Transmitir as matérias não era menos complicado. Poucas cidades possuíam telex público, normalmente instalados nos serviços do Correio, então era preciso molhar a mão do telexista para que ele comparecesse no domingo ou fizesse plantão à noite para atender a reportalhada. Menos mal que os operadores eram rápidos e eficientes, rapidez e eficiência que aumentava na mesma proporção da gorjeta. Primeiro a gente redigia a matéria na máquina de escrever (o Google explica do que se trata) e depois o texto era teclado para uma fita picotada em que cada tipo de picote representava uma letra. Os repórteres mais habilidosos e talentosos, que não era o meu caso, redigiam o textos diretamente no telex. Completada a transposição para a fita picotada, a serpentina era transmitida igualmente por linha telefônica, ponta a ponta. Na redação, o material era reproduzido em papel especial que, rabiscado e emendado pelos editores, era” baixado” direto.
Era um jornalismo mais artesanal. Estão aí, bem vivinhos, o Roberto Azevedo, o Emanuel Mattos,o Cláudio Dienstman, o Luis Ávila, o Paulo Dias, o Sérgio Arnoud e tantos outras malas que não me deixam mentir. Hoje até eu, um semi incluído digital, consigo enviar fotos do outro lado do mundo e texto nem se fala. Santa Internet!
Por isso não sinto saudade daqueles tempos heróicos. Agora, com todo o avanço tecnológico, tudo ficou mais fácil, mais ágil, mais eficaz. E uma vez que a tecnologia está ao alcance da maioria, igualando as ferramentas e o processo produtivo, o que continua estabelecendo o diferencial é o conteúdo. Que, como antigamente, deve ser “denso, forte e consistente”, que era a senha para começarmos nossas matérias nos confins do Brasil.
segunda-feira, 28 de março de 2011
O homem que calculava
Conheci um sujeito que reduzia tudo a uma estatística. Sua razão de viver, inclusive e principalmente no momento daquele prazer, era contabilizar, quantificar, estabelecer percentuais, produzir equações, como se todos os processos pudessem ser expressos em números.
Essa vida centrada na matemática atingia o momento mágico, quase orgástico, quando ele entendia ter obtido a relação numérica perfeita, tipo “meu bem, essa é a nossa décima transa, a quinta neste motel, a primeira no horário do meio dia, que seqüência legal!”. Acreditem, era assim mesmo, o cara despejava uma profusão de dados estatísticos, que preparava com antecedência e recitava como se fosse um plantão esportivo. Metódico e obsessivo, ele mantinha um fichário onde anotava as principais incidências do seu dia a dia, pois se torturava com a possibilidade de esquecer um dado que considerava importante ou, o que é pior, falsear uma estatística:
- Se isso acontecer durante uma transa sou capaz de brochar, confessava aos amigos que desdenhavam das suas manias.
Ao fazer essa confidência, deixava explicito que a numerologia durante a relação sexual era um poderoso estimulante. Tanto assim que sua chatice com as estatísticas era relevada pelas parceiras diante do desempenho do nosso Malba Tahan* moderno e vigoroso.
- Foram exatas 55 parceiras até agora e só duas reclamaram, ou seja, apenas 3,63 %. Levando em conta de que nenhuma desistiu durante o ato o índice de acerto é de 100%, rejubilava-se.
Quando não havia estatística para apimentar a relação, no caso de estréias, o cara recitava mentalmente a tabuada, começando pela do 3 e, como ficava muito excitado, mal chega a tabuada do 7, atingindo o orgasmo no 7 x 7.
- ...49..., ái, é agora,meu amor!
Depois daquele momento de relax que se segue aos jogos amorosos, ele retomava a tabuada, porque jamais poderia deixar uma questão matemática incompleta.
- Tá pensando em quê, benzinho, costumam importunar as mulheres nessas ocasiões, mas ele não respondia até completar 10 x 10.
- Cem!, gritava e, diante do espanto da moça, convocava, já excitadíssimo.
- Vamos de novo?
A fórmula, por assim dizer, nunca falhou.
Até que um dia encontrou uma interface tão obsessiva quanto ele. O problema é que nosso amigo, acostumado com as previsibilidades da matemática, foi surpreendido com a declaração da parceira nova, numa quase imitação do ritual tantas vezes empregado por ele e justo naquele momento de relaxamento pós sexo:
- Benzinho, esta foi a quinta melhor transa da minha vida, a melhor neste motel.
Como os iguais se repelem, a relação não prosperou. A concorrência seria torturante para o estatístico do cotidiano, que decidiu mudar de estratégia. Agora ele se especializou em recitar passagens bíblicas, a começar pelos Cânticos de Salomão, cujos versos não perderam o charme com o passar dos séculos:
- Graciosas são tuas faces entre os brincos e o teu pescoço entre colares. Faremos para ti brincos de ouro com filigranas de prata.
Imaginem sussurrar os versos do Cântico dos Cânticos naquele momento de excitação plena! Irresistível! O que as mulheres não entendiam era o complemento no final: ” Salomão, 10-11” (Cântico dos Cânticos de Salomão, versículos 10 e 11).
Um obsessivo como ele não poderia deixar de dar crédito ao autor.
ViaDutra é Cultura:
*Júlio César de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 — Recife, 18 de junho de 1974), mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan, foi um escritor e matemático brasileiro. Através de seus romances foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.Ele é famoso no Brasil e no exterior por seus livros de recreação matemática e fábulas e lendas passadas no Oriente, muitas delas publicadas sob o heterônimo/pseudônimo de Malba Tahan. Seu livro mais conhecido, O Homem que Calculava, é uma coleção de problemas e curiosidades matemáticas apresentada sob a forma de narrativa das aventuras de um calculista persa à maneira dos contos de Mil e Uma Noites.
Essa vida centrada na matemática atingia o momento mágico, quase orgástico, quando ele entendia ter obtido a relação numérica perfeita, tipo “meu bem, essa é a nossa décima transa, a quinta neste motel, a primeira no horário do meio dia, que seqüência legal!”. Acreditem, era assim mesmo, o cara despejava uma profusão de dados estatísticos, que preparava com antecedência e recitava como se fosse um plantão esportivo. Metódico e obsessivo, ele mantinha um fichário onde anotava as principais incidências do seu dia a dia, pois se torturava com a possibilidade de esquecer um dado que considerava importante ou, o que é pior, falsear uma estatística:
- Se isso acontecer durante uma transa sou capaz de brochar, confessava aos amigos que desdenhavam das suas manias.
Ao fazer essa confidência, deixava explicito que a numerologia durante a relação sexual era um poderoso estimulante. Tanto assim que sua chatice com as estatísticas era relevada pelas parceiras diante do desempenho do nosso Malba Tahan* moderno e vigoroso.
- Foram exatas 55 parceiras até agora e só duas reclamaram, ou seja, apenas 3,63 %. Levando em conta de que nenhuma desistiu durante o ato o índice de acerto é de 100%, rejubilava-se.
Quando não havia estatística para apimentar a relação, no caso de estréias, o cara recitava mentalmente a tabuada, começando pela do 3 e, como ficava muito excitado, mal chega a tabuada do 7, atingindo o orgasmo no 7 x 7.
- ...49..., ái, é agora,meu amor!
Depois daquele momento de relax que se segue aos jogos amorosos, ele retomava a tabuada, porque jamais poderia deixar uma questão matemática incompleta.
- Tá pensando em quê, benzinho, costumam importunar as mulheres nessas ocasiões, mas ele não respondia até completar 10 x 10.
- Cem!, gritava e, diante do espanto da moça, convocava, já excitadíssimo.
- Vamos de novo?
A fórmula, por assim dizer, nunca falhou.
Até que um dia encontrou uma interface tão obsessiva quanto ele. O problema é que nosso amigo, acostumado com as previsibilidades da matemática, foi surpreendido com a declaração da parceira nova, numa quase imitação do ritual tantas vezes empregado por ele e justo naquele momento de relaxamento pós sexo:
- Benzinho, esta foi a quinta melhor transa da minha vida, a melhor neste motel.
Como os iguais se repelem, a relação não prosperou. A concorrência seria torturante para o estatístico do cotidiano, que decidiu mudar de estratégia. Agora ele se especializou em recitar passagens bíblicas, a começar pelos Cânticos de Salomão, cujos versos não perderam o charme com o passar dos séculos:
- Graciosas são tuas faces entre os brincos e o teu pescoço entre colares. Faremos para ti brincos de ouro com filigranas de prata.
Imaginem sussurrar os versos do Cântico dos Cânticos naquele momento de excitação plena! Irresistível! O que as mulheres não entendiam era o complemento no final: ” Salomão, 10-11” (Cântico dos Cânticos de Salomão, versículos 10 e 11).
Um obsessivo como ele não poderia deixar de dar crédito ao autor.
ViaDutra é Cultura:
*Júlio César de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 — Recife, 18 de junho de 1974), mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan, foi um escritor e matemático brasileiro. Através de seus romances foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil.Ele é famoso no Brasil e no exterior por seus livros de recreação matemática e fábulas e lendas passadas no Oriente, muitas delas publicadas sob o heterônimo/pseudônimo de Malba Tahan. Seu livro mais conhecido, O Homem que Calculava, é uma coleção de problemas e curiosidades matemáticas apresentada sob a forma de narrativa das aventuras de um calculista persa à maneira dos contos de Mil e Uma Noites.
quinta-feira, 24 de março de 2011
sexta-feira, 18 de março de 2011
Solteirões à solta!
Todos os sessentões, como eu, deveriam assistir ao filme “O Solteirão”, especialmente os metidos a conquistador, que não é o meu caso. Michael Douglas interpreta um picareta de automóveis falido depois de se envolver em uma fraude com notas fiscais. Enquanto tenta recuperar o negócio e o prestigio que desfrutava, age como um predador sem escrúpulos em relação as mulheres. Seduz até a enteada de 18 aninhos, que aliás vale a incomodação, leva um pé na bunda da mãe da moça, transa com uma amiga da filha e tenta as mesmas vilanias com a namorada de um jovem amigo universitário. Aí cai a ficha: a mocinha rejeita sua conversinha e coloca-o no seu devido lugar. Foi humilhante!
Depois de levar um pau de um capanga do pai da enteada, nosso personagem acaba no hospital e só encontra apoio e redenção na ex-mulher e na filha, que haviam penado poucas e boas com o cara. Cinemão americano é assim: tem que passar uma mensagem positiva no final e o vilão simpático, machucado física e moralmente, volta ao aconchego do lar original - pelo menos é o que induz a última cena.
Na novela Insensato Coração, o personagem do velho canastrão Tarcisio Meira também faz o gênero conquistador de mulheres mais jovens também, se bem que não tão jovens quanto as preferidas de Michael Douglas. Outra diferença é que cabe ao brasileiro o papel de milionário e isso é irresistível para mulheres de qualquer idade, ainda mais em nossas novelas. Já o personagem americano está falido e só tem a experiência acumulada, o charme da madureza e uma convincente conversa para pegar suas presas. Seu cartão de crédito está estourado e se precisar repassar à moça uns 100 dólares para o táxi, por assim dizer, vai passar vergonha, enquanto nosso galã noveleiro pode se dar ao luxo de proporcionar carona num jatinho à dama que conheceu na escada rolante do aeroporto.
Ficção é isso: tornar real o implausível. Mas pergunto: quantos Michael Douglas e Tarcisios Meiras estão à solta por aí, atazanando moças e senhoras e se dando bem muitas vezes? Não importa a estratégia, nem os investimentos empregados, porque esses sujeitos são vocacionados para a conquista e tanto insistem que tem ganhos de escala.
Trato do assunto com um misto de inveja e desprezo. Inveja porque há muito estou fora do mercado (meu lema passou a ser “Era bom!”). Desprezo porque esse pessoal deveria saber envelhecer com dignidade, a exemplo deste recatado blogueiro.
terça-feira, 15 de março de 2011
Quando eu era milionário - final
*Publicado originalmente em 1º/11/209. Recomenda-se ler a postagem anterior
Então, em 1994 veio o Plano Real. E eu que estava cobrindo a Copa do Mundo nos Estados Unidos acabei não sofrendo o primeiro impacto do novo plano. As informações vindas do Brasil davam conta que, depois de sucessivos planos econômicos malsucedidos, havia uma justificada desconfiança da população.
De volta a terrinha, a primeira coisa que fiz ao chegar no Galeão foi trocar dólares por reais e aí tomei contato com aquelas notas feias, diferentes uma das outras, eu que estava quase americanizado depois de 55 dias nos EUA, pagando e recebendo em verdinhas. Economizei uma boa grana em dólares naquela viagem, mas mesmo assim não levei vantagem porque no início do Plano Real o dólar valia tanto quanto a nova moeda brasileira. Era 1 por 1.
E lá se foi mais uma chance de reiniciar a vida de milionário.Fiquei curtindo essa frustração até que descobri no site da Fundação de Economia e Estatística (www.fee.tche.br) um programa que converte os valores monetários, atualizando-os no tempo. E constatei que a minha condição de milionário no passado era pura ilusão, fruto da mágica operada nas trocas de moedas, que perdiam zeros para passar a impressão que o nosso dinheiro se fortificava.
Os mais de 60 milhões que recebi em 1985, na verdade, equivaleriam hoje a pouco mais de 57 mil reais, ou 4,3 mil reais/mês, um salário nada desprezível. Os 5,2 milhões de 1991 seriam, em valores atuais, cerca de 30 mil reais. O Passat que vendi por 2,7 milhões em 1992 valeria hoje, só para efeito de exercício financeiro, uns 6,7 mil reais. A mensalidade da creche que custava 15 mil cruzados ficaria por 194 reais e a escola que cobrava 29 mil cruzados novos receberia hoje, se os proprietários não fossem gananciosos, exatos 208 reais.
Como se observa, nem precisa ser versado em macroeconomia para constatar a equivalência nos valores entre um período e outro, o que me leva a outra constatação: havia muito de efeito psicológico na tal de inflação. Mesmo assim, não sinto saudades daquele tempo. Prefiro a estabilidade de agora que me assegura um amanhã sem surpresas.
No quadro abaixo é possível visualizar melhor o que já enfrentamos em termos de mudanças de padrão monetário. De 1967 a 94 foram sete planos, ou quase uma mudança a cada quatro anos:
Quadro 1 - Mudanças no padrão monetário brasileiro
ANO MÊS MOEDA SÍMBOLO EQUIVALÊNCIA
1942 Out Cruzeiro Cr$ Rs 1$000 (um mil réis)
1967 Fev Cruzeiro Novo NCr$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1970 Mai Cruzeiro Cr$ NCr$ 1,0 (um cruzeiro novo)
1986 Fev Cruzado Cz$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1989 Jan Cruzado Novo NCz$ Cz$ 1.000,00 (um mil cruzados)
1990 Mar Cruzeiro Cr$ NCz$ 1,00 (um cruzado novo)
1993 Ago Cruzeiro Real CR$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1994 Jul Real R$ CR$ 2.750,00 ( 2,750 cruzeiros reais )
Então, em 1994 veio o Plano Real. E eu que estava cobrindo a Copa do Mundo nos Estados Unidos acabei não sofrendo o primeiro impacto do novo plano. As informações vindas do Brasil davam conta que, depois de sucessivos planos econômicos malsucedidos, havia uma justificada desconfiança da população.
De volta a terrinha, a primeira coisa que fiz ao chegar no Galeão foi trocar dólares por reais e aí tomei contato com aquelas notas feias, diferentes uma das outras, eu que estava quase americanizado depois de 55 dias nos EUA, pagando e recebendo em verdinhas. Economizei uma boa grana em dólares naquela viagem, mas mesmo assim não levei vantagem porque no início do Plano Real o dólar valia tanto quanto a nova moeda brasileira. Era 1 por 1.
E lá se foi mais uma chance de reiniciar a vida de milionário.Fiquei curtindo essa frustração até que descobri no site da Fundação de Economia e Estatística (www.fee.tche.br) um programa que converte os valores monetários, atualizando-os no tempo. E constatei que a minha condição de milionário no passado era pura ilusão, fruto da mágica operada nas trocas de moedas, que perdiam zeros para passar a impressão que o nosso dinheiro se fortificava.
Os mais de 60 milhões que recebi em 1985, na verdade, equivaleriam hoje a pouco mais de 57 mil reais, ou 4,3 mil reais/mês, um salário nada desprezível. Os 5,2 milhões de 1991 seriam, em valores atuais, cerca de 30 mil reais. O Passat que vendi por 2,7 milhões em 1992 valeria hoje, só para efeito de exercício financeiro, uns 6,7 mil reais. A mensalidade da creche que custava 15 mil cruzados ficaria por 194 reais e a escola que cobrava 29 mil cruzados novos receberia hoje, se os proprietários não fossem gananciosos, exatos 208 reais.
Como se observa, nem precisa ser versado em macroeconomia para constatar a equivalência nos valores entre um período e outro, o que me leva a outra constatação: havia muito de efeito psicológico na tal de inflação. Mesmo assim, não sinto saudades daquele tempo. Prefiro a estabilidade de agora que me assegura um amanhã sem surpresas.
No quadro abaixo é possível visualizar melhor o que já enfrentamos em termos de mudanças de padrão monetário. De 1967 a 94 foram sete planos, ou quase uma mudança a cada quatro anos:
Quadro 1 - Mudanças no padrão monetário brasileiro
ANO MÊS MOEDA SÍMBOLO EQUIVALÊNCIA
1942 Out Cruzeiro Cr$ Rs 1$000 (um mil réis)
1967 Fev Cruzeiro Novo NCr$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1970 Mai Cruzeiro Cr$ NCr$ 1,0 (um cruzeiro novo)
1986 Fev Cruzado Cz$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1989 Jan Cruzado Novo NCz$ Cz$ 1.000,00 (um mil cruzados)
1990 Mar Cruzeiro Cr$ NCz$ 1,00 (um cruzado novo)
1993 Ago Cruzeiro Real CR$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1994 Jul Real R$ CR$ 2.750,00 ( 2,750 cruzeiros reais )
segunda-feira, 14 de março de 2011
Quando eu era milionário - parte 1
*Publicado originalmente em 30/10/2009
Jornalista tem mania de guardar papéis, recortes de jornal, contas pagas, documentos e similares na esperança de que um dia vai organizar tudo e que aquele manancial terá alguma utilidade. Ledo Ivo engano. A papelada acumulada serve apenas para atrair poeira, mofo e traças.
A importância que determinado documento tinha há 15 ou 20 anos se diluiu no tempo e o artigo de jornal que causou tanta polêmica perdeu seu valor. Com os recursos da informática nem faz mais sentido manter um arquivo físico nos moldes antigos.
Pois semana passada decidi enfrentar o desafio de vasculhar meus guardados para uma sessão de descarte e encontrei verdadeiras preciosidades. Descobri, por exemplo, que já fui milionário. A descoberta se deu quando encontrei a declaração de renda de 1985, atestando que eu recebi naquele ano a fortuna de 60 milhões, 286 mil cruzeiros, o que representava, em média, um salário de mais de 4 milhões e 600 mil por mês. Uma Mega Sena acumulada! Só o Imposto de Renda me mordeu em mais de 6 milhões e 700 mil retidos na fonte e ajudei a diminuir o déficit da Previdência contribuindo com 5 milhões e 400 mil.
E havia ainda a confusão com a troca de moedas.Em 1988, por exemplo, pagava 15 mil cruzadosde mensalidade na creche de um dos filhos e, no ano seguinte, 29 mil cruzados novos para outro numa escola particular. Uma verdadeira fortuna.
Devo ter empobrecido com o passar dos anos, pois em 1991 recebi míseros 5 milhões, 279 mil cruzeiros. No ano seguinte fui obrigado, inclusive, a vender um Passat, ano 78, por 2 milhões e 700 mil cruzeiros. Era dura a vida de milionário naqueles tempos de inflação galopante.
O poder aquisitivo ficava corroído da noite para o dia. A moeda ganhava novo nome a cada plano econômico, mas a desejada estabilidade durava pouco tempo ou era mantida artificialmente. Os preços eram remarcados todos os dias e o valor de hoje já não vigorava no dia seguinte. O overnight, uma aplicação bancária corrente na época, dava alguma proteção aos nossos ganhos e fez a fortuna de muitos espertalhões. Para se ter uma idéia de como funcionavam as contas públicas, o governo Collares (1990-94) se financiou graças à inflação alta: era só atrasar, sem correção monetária, o pagamento aos fornecedores por um mês ou pedalar o aumento do funcionalimo e o caixa estava garantido.
A empresa onde trabalhava na época decidiu, para preservar minimamente o poder aquisitivo dos funcionários, pagar os salários a cada 15 dias e depois semanalmente. Um expediente comum era o cheque pré-datado que permitia algum fôlego às finanças pessoais. Era comum também o pedido de antecipação de parte do 13º salário porque o montante no final do ano, com a correção monetária, ficava recomposto e ainda garantia-se um plus nos ganhos.
E assim sobrevivíamos quase numa boa, acostumados a espiral inflacionária, consumindo um pouco aqui um pouco ali, administrando as contas, fazendo ginástica com os salários e até planos para o futuros, na certeza de que mais dia menos dia nossa moeda deixaria de nos envergonhar.
Então, em 1994 veio o Plano Real.
(continua)
Jornalista tem mania de guardar papéis, recortes de jornal, contas pagas, documentos e similares na esperança de que um dia vai organizar tudo e que aquele manancial terá alguma utilidade. Ledo Ivo engano. A papelada acumulada serve apenas para atrair poeira, mofo e traças.
A importância que determinado documento tinha há 15 ou 20 anos se diluiu no tempo e o artigo de jornal que causou tanta polêmica perdeu seu valor. Com os recursos da informática nem faz mais sentido manter um arquivo físico nos moldes antigos.
Pois semana passada decidi enfrentar o desafio de vasculhar meus guardados para uma sessão de descarte e encontrei verdadeiras preciosidades. Descobri, por exemplo, que já fui milionário. A descoberta se deu quando encontrei a declaração de renda de 1985, atestando que eu recebi naquele ano a fortuna de 60 milhões, 286 mil cruzeiros, o que representava, em média, um salário de mais de 4 milhões e 600 mil por mês. Uma Mega Sena acumulada! Só o Imposto de Renda me mordeu em mais de 6 milhões e 700 mil retidos na fonte e ajudei a diminuir o déficit da Previdência contribuindo com 5 milhões e 400 mil.
E havia ainda a confusão com a troca de moedas.Em 1988, por exemplo, pagava 15 mil cruzadosde mensalidade na creche de um dos filhos e, no ano seguinte, 29 mil cruzados novos para outro numa escola particular. Uma verdadeira fortuna.
Devo ter empobrecido com o passar dos anos, pois em 1991 recebi míseros 5 milhões, 279 mil cruzeiros. No ano seguinte fui obrigado, inclusive, a vender um Passat, ano 78, por 2 milhões e 700 mil cruzeiros. Era dura a vida de milionário naqueles tempos de inflação galopante.
O poder aquisitivo ficava corroído da noite para o dia. A moeda ganhava novo nome a cada plano econômico, mas a desejada estabilidade durava pouco tempo ou era mantida artificialmente. Os preços eram remarcados todos os dias e o valor de hoje já não vigorava no dia seguinte. O overnight, uma aplicação bancária corrente na época, dava alguma proteção aos nossos ganhos e fez a fortuna de muitos espertalhões. Para se ter uma idéia de como funcionavam as contas públicas, o governo Collares (1990-94) se financiou graças à inflação alta: era só atrasar, sem correção monetária, o pagamento aos fornecedores por um mês ou pedalar o aumento do funcionalimo e o caixa estava garantido.
A empresa onde trabalhava na época decidiu, para preservar minimamente o poder aquisitivo dos funcionários, pagar os salários a cada 15 dias e depois semanalmente. Um expediente comum era o cheque pré-datado que permitia algum fôlego às finanças pessoais. Era comum também o pedido de antecipação de parte do 13º salário porque o montante no final do ano, com a correção monetária, ficava recomposto e ainda garantia-se um plus nos ganhos.
E assim sobrevivíamos quase numa boa, acostumados a espiral inflacionária, consumindo um pouco aqui um pouco ali, administrando as contas, fazendo ginástica com os salários e até planos para o futuros, na certeza de que mais dia menos dia nossa moeda deixaria de nos envergonhar.
Então, em 1994 veio o Plano Real.
(continua)
terça-feira, 8 de março de 2011
Os chatos da minha vida
*Publicado originalmente em 30/10/2009
Na antiga redação da Zero Hora, o espaço destinado à barulhenta editoria de esportes ficava apartado do restante. O local era conhecido por Jaula, não sei se porque ali só coabitavam feras ou porque o formato da peça assemelhava-se a um abrigo de animais. Era uma espécie de longo corredor, cercado das mesas de repórteres e editores. Na hierarquia, a mesa do editor de esportes, na época (década de 80) o Emanuel Mattos e depois o Nilson Souza, situava-se ao fundo do corredor. Como eu era um dos subeditores, minha mesa era próxima, também no fundão.
Este preâmbulo, quase um nariz de cera, é necessário para relatar um dos meus penares: a capacidade de atrair chatos. As redações de jornais e a editoria de esportes em particular exercem um fascínio indescritível sobre o malario de todos os matizes - boleiros em fim de carreira, técnicos desempregados, gente dos esportes amadores pedindo espaço, mães e pais de atletas promissores, uma fauna, enfim. Naquela época e naquele cenário não era diferente.
A presença dos chatos proporcionava momentos hilários também. O queridíssimo Nilson Souza era vítima recorrente de uma brincadeira. O mala aparecia na porta da editoria e perguntava quem era o chefe. O pessoal apontava o Nilson, calvo e com tufos laterais de cabelos brancos, fazendo uma advertência;
- Fala alto porque ele é meio surdo.
E lá se ia o chato ancorar na mesa do Nilson, aos berros:
- O SENHOR É QUE É O CHEFE?
Concentrado no trabalho, nas primeiras vezes o Nilson sempre levava um susto.
- Não precisa gritar, meu amigo, que eu não sou surdo.
Imaginem a cena: toda a redação parada, contendo o riso e esperando o desfecho da abordagem.
Porém, mais do que o Nilson, eu era vítima constante dos chatos de redação. O cara adentrava à Jaula, sem cerimônia, percorria todas as mesas e parava na minha, nos momentos mais inoportunos, trazendo as questões mais estapafúrdias e que não me diziam respeito.
Isso sem contar a minha coleção particular de chatos, que não é pequena. Acredito que tenho um temperamento afável, por isso não hostilizo os vocacionados para a chatice, o que lhes passa a idéia de que sou receptivo aos seus papos e vou resolver seus problemas. Cria-se, então, um circulo vicioso: chato bem tratado vira reincidente e nunca mais larga do teu pé, aumentando gradativamente sua freqüência e suas demandas. O chato te adota.
Agora mesmo tenho sido visitado com assiduidade na repartição por um sujeito com o qual trabalhei anos atrás. Não importa o que eu esteja fazendo, ela senta na minha frente e começa um diálogo, que respondo educadamente mas por monossílabos, sem que ele pare de matraquear. Outro dia ele se superou e, quase aos berros, me avisou da porta de entrada:
- Tem um maluco aqui na porta querendo reformar o mundo. Como tem chato nesta vida, tu não achas?
Era só o que me faltava: o chato criticando o mala amalucado.
Até pretendia traçar um perfil com as principais características do chato, mas já acho que isso é dispensável. O chatonildo é reconhecível na primeira mirada ou assim que começa a falar. O que me preocupava, entretanto, era que a atração que exerço sobre essa fauna pudesse ser um indicativo forte de que eu também era um deles. Mas logo afastei a idéia porque chato odeia concorrência de outro chato, como vimos acima. Prefiro pensar que eles grudam em mim em razão daquela lei da física segunda a qual os opostos se atraem.
Na antiga redação da Zero Hora, o espaço destinado à barulhenta editoria de esportes ficava apartado do restante. O local era conhecido por Jaula, não sei se porque ali só coabitavam feras ou porque o formato da peça assemelhava-se a um abrigo de animais. Era uma espécie de longo corredor, cercado das mesas de repórteres e editores. Na hierarquia, a mesa do editor de esportes, na época (década de 80) o Emanuel Mattos e depois o Nilson Souza, situava-se ao fundo do corredor. Como eu era um dos subeditores, minha mesa era próxima, também no fundão.
Este preâmbulo, quase um nariz de cera, é necessário para relatar um dos meus penares: a capacidade de atrair chatos. As redações de jornais e a editoria de esportes em particular exercem um fascínio indescritível sobre o malario de todos os matizes - boleiros em fim de carreira, técnicos desempregados, gente dos esportes amadores pedindo espaço, mães e pais de atletas promissores, uma fauna, enfim. Naquela época e naquele cenário não era diferente.
A presença dos chatos proporcionava momentos hilários também. O queridíssimo Nilson Souza era vítima recorrente de uma brincadeira. O mala aparecia na porta da editoria e perguntava quem era o chefe. O pessoal apontava o Nilson, calvo e com tufos laterais de cabelos brancos, fazendo uma advertência;
- Fala alto porque ele é meio surdo.
E lá se ia o chato ancorar na mesa do Nilson, aos berros:
- O SENHOR É QUE É O CHEFE?
Concentrado no trabalho, nas primeiras vezes o Nilson sempre levava um susto.
- Não precisa gritar, meu amigo, que eu não sou surdo.
Imaginem a cena: toda a redação parada, contendo o riso e esperando o desfecho da abordagem.
Porém, mais do que o Nilson, eu era vítima constante dos chatos de redação. O cara adentrava à Jaula, sem cerimônia, percorria todas as mesas e parava na minha, nos momentos mais inoportunos, trazendo as questões mais estapafúrdias e que não me diziam respeito.
Isso sem contar a minha coleção particular de chatos, que não é pequena. Acredito que tenho um temperamento afável, por isso não hostilizo os vocacionados para a chatice, o que lhes passa a idéia de que sou receptivo aos seus papos e vou resolver seus problemas. Cria-se, então, um circulo vicioso: chato bem tratado vira reincidente e nunca mais larga do teu pé, aumentando gradativamente sua freqüência e suas demandas. O chato te adota.
Agora mesmo tenho sido visitado com assiduidade na repartição por um sujeito com o qual trabalhei anos atrás. Não importa o que eu esteja fazendo, ela senta na minha frente e começa um diálogo, que respondo educadamente mas por monossílabos, sem que ele pare de matraquear. Outro dia ele se superou e, quase aos berros, me avisou da porta de entrada:
- Tem um maluco aqui na porta querendo reformar o mundo. Como tem chato nesta vida, tu não achas?
Era só o que me faltava: o chato criticando o mala amalucado.
Até pretendia traçar um perfil com as principais características do chato, mas já acho que isso é dispensável. O chatonildo é reconhecível na primeira mirada ou assim que começa a falar. O que me preocupava, entretanto, era que a atração que exerço sobre essa fauna pudesse ser um indicativo forte de que eu também era um deles. Mas logo afastei a idéia porque chato odeia concorrência de outro chato, como vimos acima. Prefiro pensar que eles grudam em mim em razão daquela lei da física segunda a qual os opostos se atraem.
quinta-feira, 3 de março de 2011
Carnaval da mesmice
*Publicado originalmente em 12/fevereiro/2010, mas está valendo
Está aí o Carnaval, que os antigos chamavam de Tríduo Momesco, e já me preparo para a repetição das mesmas imagens, dos mesmos chavões, nas coberturas televisivas. As telinhas serão invadidas por aqueles horrorosos bonecos gigantes de Olinda e o repórter Francisco José, na sua aparição anual na TV, vai fazer os mesmos comentários sobre a empolgação do Galo da Madrugada, a história do Homem da Meia Noite e da Mulher do Dia, e por aí vai. O cabeça branca Francisco José já deve ter decorado o texto, de tanto repetir as mesmas ladainhas sobre as mesmas imagens.
Corta para Salvador e lá aparece a procissão de Trios Elétricos e as mesmas figurinhas carimbadas sacolejando sobre os palcos móveis com a massa frenética pipocando lá embaixo, suando nos seus abadás. E muita louvação ao Chiclete com Banana, Osmar e Dodô, Timbalada, Olodum e outros menos votados.
No Rio e em São Paulo, o repeteco não é muito diferente. Os enredos mudam e mostram novidades, mas a cobertura televisiva não apresenta diferenciais. Ao contrário, evoluiu em tecnologia, mas falta aquela sacada, aquele algo mais. Com um agravante: o naipe de comentaristas, gente da melhor estirpe, não consegue emitir uma opinião conclusiva ou mais contundente, como se avaliar criticamente o resultado do trabalho dos carnavalescos fosse um crime de lesa cultura. E o que vemos é uma profusão de efeitos especiais para mascarar a mesmice da transmissão burocrática, que não expressa a verdadeira dimensão da grande festa popular.
Aqui, vou ser obrigado a conviver com duas pautas obrigatórias que se repetem todos os anos. Uma é a do Rebanhão, aquele pessoal que prefere fazer retiro durante o Carnaval e orar pela redenção dos pecadores e bota pecado nisso. Parece que estou vendo o repórter fazendo seu boletim na igreja ali do Cristal, tendo ao fundo os fiéis, mãos erguidas aos céus, entoando hinos sacros e muitas rezas. A outra é o Carnaval no barro, de Santa Bárbara do Sul. Vocês já devem ter visto as cenas do pessoal todo enlameado, por isso vou me abster de outras considerações.
Diante deste quadro estou pensando em sugerir aos pauteiros, chefes de reportagens e editores que poupem energia e recursos. Busquem nos arquivos as imagens desses eventos em anos anteriores e coloquem no ar, pode até repetir o texto, que vai dar na mesma.
De minha parte, já decidi: este ano vou me refugiar e curtir minha rabugice em Curasal, uma prainha entre Curumim e Arroio do Sal.
Está aí o Carnaval, que os antigos chamavam de Tríduo Momesco, e já me preparo para a repetição das mesmas imagens, dos mesmos chavões, nas coberturas televisivas. As telinhas serão invadidas por aqueles horrorosos bonecos gigantes de Olinda e o repórter Francisco José, na sua aparição anual na TV, vai fazer os mesmos comentários sobre a empolgação do Galo da Madrugada, a história do Homem da Meia Noite e da Mulher do Dia, e por aí vai. O cabeça branca Francisco José já deve ter decorado o texto, de tanto repetir as mesmas ladainhas sobre as mesmas imagens.
Corta para Salvador e lá aparece a procissão de Trios Elétricos e as mesmas figurinhas carimbadas sacolejando sobre os palcos móveis com a massa frenética pipocando lá embaixo, suando nos seus abadás. E muita louvação ao Chiclete com Banana, Osmar e Dodô, Timbalada, Olodum e outros menos votados.
No Rio e em São Paulo, o repeteco não é muito diferente. Os enredos mudam e mostram novidades, mas a cobertura televisiva não apresenta diferenciais. Ao contrário, evoluiu em tecnologia, mas falta aquela sacada, aquele algo mais. Com um agravante: o naipe de comentaristas, gente da melhor estirpe, não consegue emitir uma opinião conclusiva ou mais contundente, como se avaliar criticamente o resultado do trabalho dos carnavalescos fosse um crime de lesa cultura. E o que vemos é uma profusão de efeitos especiais para mascarar a mesmice da transmissão burocrática, que não expressa a verdadeira dimensão da grande festa popular.
Aqui, vou ser obrigado a conviver com duas pautas obrigatórias que se repetem todos os anos. Uma é a do Rebanhão, aquele pessoal que prefere fazer retiro durante o Carnaval e orar pela redenção dos pecadores e bota pecado nisso. Parece que estou vendo o repórter fazendo seu boletim na igreja ali do Cristal, tendo ao fundo os fiéis, mãos erguidas aos céus, entoando hinos sacros e muitas rezas. A outra é o Carnaval no barro, de Santa Bárbara do Sul. Vocês já devem ter visto as cenas do pessoal todo enlameado, por isso vou me abster de outras considerações.
Diante deste quadro estou pensando em sugerir aos pauteiros, chefes de reportagens e editores que poupem energia e recursos. Busquem nos arquivos as imagens desses eventos em anos anteriores e coloquem no ar, pode até repetir o texto, que vai dar na mesma.
De minha parte, já decidi: este ano vou me refugiar e curtir minha rabugice em Curasal, uma prainha entre Curumim e Arroio do Sal.
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