*Publicado nesta data em Coletiva.net
Pensei que jamais veria a
cena que viralizou nas redes sociais na semana passada: um vídeo mostra um robô
humanoide fora de controle, agindo de forma agressiva contra engenheiros em uma
fábrica da China. Durante uma fase de testes, o robô, um Unitree H1, entra em
colapso e começa a se mover violentamente, atingindo um dos profissionais e
derrubando equipamentos. A máquina só foi contida ao ser desligada.
O episódio reacendeu o debate sobre a
segurança dos robôs humanoides em ambientes de trabalho e, sobretudo, sobre o
que o futuro nos reserva na relação homens x máquinas. De imediato, internautas compararam o robô ao
"Exterminador do Futuro" e projetaram
uma revolta das máquinas, hipótese que
os especialistas no tema descartam. Nesse contexto, vale lembrar a advertência de
mais de 300 cientistas, feita há dois anos, sobre o impacto da Inteligência
Artificial no nosso cotidiano e a necessidade de mitigar potenciais ameaças à
raça humana pelas novas tecnologias. A
atitude do Unitree H1 seria um aviso de que o apocalipse está chegando? Existiriam
outros episódios dos quais não tomamos conhecimento?
A verdade é que o robô
amalucado teria contrariado as três Leis da Robótica, formuladas por Isaac
Asimov. No livro “Eu, robô” Asimov já previa - em 1950! - um mundo onde
robôs e seres humanos coexistiriam, sendo as Leis da Robótica formas de
prevenir riscos do avanço da IA sobre a humanidade. As três leis:
1ª lei: Um robô não pode
ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal
2ª lei: Um robô deve obedecer
às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais
ordens contrariem a Primeira Lei
3ª lei: Um robô deve
proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito
com a Primeira e Segunda Leis
Em outra obra, “Robôs e
Império”, Asimov cria uma quarta lei, denominada de Lei Zero, reforçando os
preceitos das leis anteriores:
Lei Zero: Um robô não
pode fazer mal à humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal
“Eu, Robô” chegou ao
cinema em 2004, com Will Smith de protagonista, mostrando robôs usados como
empregados dos humanos em 2035 – daqui a dez anos, portanto. Mesmo dotados de
um código que impede a violência, um importante cientista é morto e as
suspeitos passam a ser os robôs. O filme está disponível no Disney+.
Tive contato com a obra
de Asimov nos anos 1970, na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da
Ufgrs, por indicação do professor Marcelo Casado de Azevedo, um homem adiante
de seu tempo, que introduziu para os futuros jornalistas os fundamentos do que,
na época, se conhecia por Informática.
Mais de 50 anos depois, o
debate sobre o nosso futuro sob o impacto da IA está posto e cada vez mais aprofundado, mas,
por enquanto, gerando mais dúvidas do que certezas. A todas essas, o temor deve
ser com outra lei, a de Murphy e seu teor negativo: “Se alguma coisa tem a mais
remota chance de dar errado, certamente dará”.