terça-feira, 12 de março de 2019

Tite, Mourão e Bolsonaro


* Publicado em 11/03/19 em Coletiva.net

Algumas das principais figuras publicas do país estão penando não pelo que  fazem ou deixam de fazer, mas pelo  que falam. Não me  refiro apenas à turma do Bolsonaro que, a cada dia, nos brinda com alguma pérola em termos de declaração, mas incluo no time dos mal falantes e  mal falados, o técnico da seleção.

Com seu estilo professoral e muita inspiração na neurolinguística,  Tite sempre tem uma novidade  nas coletivas, como na última convocação ao elogiar o “torque” de determinado atacante. Conheço bem o pessoal da mídia esportiva e já vou avisando que, de inicio,  ele reverbera positivamente  as novidades linguísticas, mas em seguida perde o entusiasmo com essas explicações que  fogem aos jargões do futebolês.  E o técnico  passa a ser contestado,  mesmo que seu trabalho tenha sido superior,  até  agora, em relação  aos  seus  antecessores recentes. Claro que tudo muda  em caso  de vitória  na Copa  América. Aí o Tite vai se puxar nas coletivas.

No futebol, como na política, somos movidos por resultados. De preferência, positivos a nosso favor. Mas resultados ruins e declarações no mesmo nível não    o que salve.

De outra parte, surge uma surpresa no cenário de entrevistados importantes.

Outro dia assisti à participação do vice-presidente Hamilton Mourão na Globo News e fiquei positivamente impactado com a forma e os conteúdos do general, que tem provocado encantos até mesmo em hostes esquerdistas. Mourão  fala claro, com uma lógica aprendida  na caserna e, assim, as  respostas tem começo, meio e fim  e  atendem aos questionamentos.  É bem verdade que a bancada de entrevistadores não  era das  mais  hostis, mas o bom general, com alguns momentos de humor castrense, não deixou nada sem explicação, sempre sob o seu ponto de vista, as vezes com direito a réplica e tréplica. Passou a ser o novo queridinho da mídia, uma vez que  Bolsonaro  tem  conhecidas dificuldades para enfrentar entrevistadores em geral.  

Mais tarde, soube que o que contribuiu para a mudança de postura do vice, do  general gênero linha dura, sem papas na língua, para o papel de bem articulado e contido porta voz governamental, foi um processo que está ao alcance de qualquer liderança: um media training. Sim, um treinamento para aperfeiçoar a capacidade de se relacionar  com jornalistas.

Mourão se deu conta de que comunicação, sobretudo no âmbito do governo,  requer profissionalismo e, vestindo as sandálias da humildade,  nas últimas três semanas de 2018 frequentou o serviço de Comunicação do Exército. Lá  submeteu-se à rigorosas sabatinas em sessões com duração de 30 minutos, nas quais  nenhum tema era tabu.

Não se tem informação se Bolsonaro participou ou mesmo cogitou de um processo semelhante. Precisaria, e de forma urgente, pois do jeito como se  comunica em seguida estará empatando e talvez superando a ex-presidenta Dilma em termos de bobagens.

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