terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mantra do patrono e a nova Playboy

O queridíssimo Evaldo Gonçalves, além de competente editor dos chamados esportes amadores da Zero Hora na década de 80/90 do século passado, era o patrono da Confraria da Caveira Preta, que reunia um bando de jornalistas bandalhos em festins gastronômicos,  etílicos e difamatórios.  Incapaz de compartilhar as maldades dos confrades, Evaldo a tudo ouvia,  mantendo aquele seu jeito generoso e o máximo que pronunciava, mesmo diante do mais escabroso dos assuntos, era uma frase que acabou virando um mantra:

- Que fim de século!

Se ainda estivesse entre nós, o bom Evaldo certamente teria alterado sua frase diante deste desconcertante século 21:

- Que início de século!

Não há mais dúvida de que 2015 vai marcar definitivamente o término de uma era e o início de outra. O marco simbólico desta nova era é o fim da revista Playboy como a conhecemos: sem mulher pelada.  A onda, motivada pela perda de leitores e faturamento,  começa na edição americana e logo deve chegar ao Brasil. Agora só aparecerão os chamados ensaios sensuais.

As peladonas gráficas foram derrotadas pela internet com seus portais para adultos  e a profusão  de vídeos  eróticos e pornográficos em todas as plataformas.  Hugh Hefner, fundador da Playboy nem tem porque se queixar, uma vez que mantém um canal na Tv por assinatura, muito assistido nos motéis. É o que me contam porque já não frequento mais esses estabelecimentos.

A Playboy revista formou gerações inteiras , cumprindo um papel  relevante  na iniciação sexual artesanal, por assim dizer,  entre os rapazes.  Só por isso mereceria teses e teses de mestrado, se é que isso já não aconteceu.  Parece que estou vendo os falsamente intelectuais  elogiando as entrevistas de abertura e os artigos avançadinhos, quando, na verdade, se deleitavam com as histórias picantes do Fórum e as peladonas em geral, com direito à exibição daquela página central dupla.

De minha parte não é a primeira vez que falo da revista aqui neste descaminho do ViaDutra. Da outra vez (Musas na Playboy, em 26/05/2012) lembrei que houve um tempo em a informação de quem seria a garota da capa era tão esperada como o anúncio dos planos econômicos para conter  inflação. Talvez houvesse relação de causa e efeito entre as duas situações, uma impactando fortemente nosso bolso e a outra compensando com verdadeiros colírios para os nossos olhos e provocações para nossa libido.

Agora,  a notícia da mudança na publicação provocou uma onda saudosista e só eu,  um respeitável avô,  já recebi  duas remessas digitais de fotos de ensaios pra lá de sensuais, verdadeiras relíquias do acervo da revista. No primeiro, um lote bem mais retrô, com Cláudia Raia, Sônia Braga, Sandra Bréa, Vera Fischer, Monique Evans, a eterna Luiza Brunet, a Xuxa da era Pelé e Cláudia Ohana com aquela antológica floresta amazônica de pelos pubianos.  O outro lote, mais contemporâneo, contempla caras, bocas e poses de um time de respeito, entre outras,  Grazi Massafera, Cléo Pires, uma tal de Amanda ex BBB, Aline Prado, Carol Dias e Sabrina Sato que não, não tem aquilo atravessado, diferente do que imaginávamos quando começamos a nos interessar pelo tema e discutíamos sobre o formato das japas.  Isso em passado distante.

Com essas máquinas, antigas e  modernas, com ou sem photoshop, a Playboy deixou de ser exclusividade das paredes de borracharia e ganhou espaço nas boas casas de família. Saudosista que sou, vou deplorar a mudança mais pela estética do que pelo erotismo, apelando para o mantra que o nosso patrono Evaldo Gonçalves usaria;

- Se é assim, que lamentável  início de milênio!        


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