Foi então que começaram as surpresas, a primeira
delas uma exigência incompreensível para os tempos atuais, feita pela sua
empresária – ela ainda mais antiga do que ele.
A empresária bateu pé: o cantante
só viajaria se fosse de primeira classe. Foi preciso muita explicação para a
senhorinha entender que primeira classe
em voos nacionais era coisa do tempo da Panair.
Aí veio a segunda exigência: hospedagem em hotel que
tivesse bidê no banheiro do apartamento.
Com muita pesquisa, a produção encontrou um hotel que oferecia o
equipamento onde o artista poderia refestelar e refrescar suas já flácidas nádegas. Não satisfeito com a escolha, cantor e empresária
questionaram se o “tradicional hotel Majestic” não contava com os tais bidês. Foi mais uma batalha verbal de explicações
sobre o futuro do Majestic, hoje Casa de
Cultura Mário Quintana e diante disso a dupla perguntou sobre outro ícone
hoteleiro da cidade: “E que tal o Grande Hotel, na Praça da Alfândega?”.
Não pararam aí os pedidos pra lá de estranhos. O
cantor queria saber se poderia “visitar a casa da Marli”, após o seu show. Para quem não sabe, em décadas passadas Marli seria o que hoje é a Tia Carmem, mas bota passado
nisso. O que restou como lembrança das
sacanagens daqueles tempos foi o batismo popular ao viaduto que fica nas
proximidades de onde funcionou a famosa “casa de tolerância”, como se dizia
então, na confluência das avenidas Borges de Medeiros e José de Alencar, no
Menino Deus. O nome oficial do viaduto é Dom Pedro, não sei se primeiro ou segundo, o que não
vem ao caso.
Diante da negativa, o veterano se propôs, generoso, a dar uma canja no Maipu ou na American Boite, “ que fica ali naquela
simpática Voluntários da Pátria, se não me engano”, argumentou, para
acrescentar em seguida: “Posso ir até de bonde!”.
Os pedidos e as observações do visitante quase se
levaram à loucura as moças da produção, mas a verdade é que o show foi um sucesso, a comprovar que o cantor que tinha mesmo um
público fiel e saudoso do seu talento.
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